domingo, 28 de outubro de 2012

Política (depois das eleições)


As eleições municipais acabaram hoje. De certa forma a vida volta ao normal, pelo menos a vida de muitas pessoas, porque para algumas o normal da vida é a agitação política. Confesso que os resultados me deixaram um tanto melancólico, pois apesar de nunca ter me filiado, a imensa maioria dos meus votos até hoje, inclusive alguns dos primeiros, foram para candidatos do PT. E, apesar da vitória marcante do Fernando Haddad (o qual, para mim, deveria ser o próximo candidato a presidente da República pelo que fez no Ministério da Educação), aqui no Paraná a única vitória a ser comemorada é de um ex-tucano... Mas, tento manter uma certa distância emocional para tentar refletir de forma mais isenta.

Uma primeira coisa que gostaria de anotar é que as campanhas da televisão mostraram uma certa homogeneidade nas propostas dos candidatos, independente do partido a que pertença. Todos prometeram que vão resolver os problemas da saúde, da educação, do trânsito, das drogas, do lixo etc. E muitas das propostas eram praticamente iguais, diferenciando-se pelas siglas que os candidatos deram aos seus projetos. Como não havia diferenças substanciais nas propostas, o convencimento dos eleitores passou pela confiança que supostamente passavam como administradores capazes, honestos e sensíveis na condução da coisa pública. E nisso também acabou por resultar numa certa equalização. O que restou: o peso dos apoiadores, a experiência pessoal, o visual... Ou seja, estamos em uma época em que parece não haver mais ideologia, importando, sim, chegar ao poder, mesmo que, para isso, a campanha esconda certos símbolos que marcam uma determinada ideologia. Esquerda e direita parecem não mais importar para o público, até porque,  a ideologia parece pouco importar para os dirigentes das campanhas, para os marqueteiros de plantão. Quando os partidos não passam de siglas de nomes bonitos o personalismo se torna a marca da campanha.

Impossível não lembrar da democracia eleitoral dos Estados Unidos, o qual, sempre insisto, tem muito a nos ensinar. Voto facultativo; empresas, inclusive de comunicação, escolhendo e defendendo os seus candidatos; mas, o que é mais significativo, dois grandes partidos com ideologias claras, opostas, cujos candidatos têm dever com seus respectivos programas. Creio que é isso que falta, ainda, no Brasil. Acho mesmo que aqui o eleitor é tutelado pelo Estado, e, portanto, a falta de uma maturidade eleitoral gera campanhas muito mais personalizadas do que ideológicas. Claro que as pessoas são importantes, claro que um candidato tem que ter carisma, competência e seriedade, mas tornar essas qualidades independentes de uma ideologia é, na minha visão, problemático.

Finalmente, falando ainda das campanhas, é impressionante como quanto mais quente for a campanha, mais um certo maniqueísmo toma conta dos militantes e simpatizantes das candidaturas. Discussões, convencimentos, argumentos são normais, mas o problema são as agressões, pois algumas delas acabam se estendendo para depois da eleição. As agressões, as intolerâncias tem como base o princípio de que um está a favor do bem e o outro está com o mal; um faz política com o coração e o outro com o bolso, e por aí vai... Penso que a política deve ser feita com o coração sim, mas não com o fígado, afinal, como já disse alguém, em política a água sobre a cachoeira....


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Professor Osmar

(Este texto foi feito a pedido da comissão organizadora da Semana da Pedagogia da UEM - 2012 - para homenagear o professor Osmar José Klock, por ocasião de sua aposentadoria)




Quem não se lembra de ter entrado em alguma sala de aula do curso de Pedagogia e sentido um cheiro forte de álcool, ter perguntado, um tanto preocupado, o motivo daquele odor, e ter descoberto que se tratava de uma prova rodada no mimeografo, e isso em plena época das impressoras? Quem não se lembra de algum relato feito em reunião departamental, datilografado em máquina escrever, e isso em um tempo em que o computador já era algo comum em nossas vidas? Sim, estou falando do prof. Osmar José Klock e sua rebeldia contra a massificação da tecnologia. Talvez o mimeografo e a máquina de escrever tenham sido, para ele, duas metáforas de valores que eram cultivados naturalmente pela sociedade e que não deveriam ser perdidos.

Osmar sempre foi muito respeitado pelos alunos e pelos colegas de trabalho, por aquilo que deveria ser absolutamente natural, ou seja, pelo seu compromisso com a ciência e com a universidade pública. Seriedade, pontualidade, camaradagem, solidariedade foram as marcas do profissional Osmar, pois são atributos da pessoa Osmar. Talvez ele seja um dos últimos de uma era do curso de Pedagogia daqueles que o construíram, da Era dos Edificadores... ele se junta ao Balduíno, ao Jean, à Lízia, à Guara, à Zélia, dentre outros tantos; ele se junta a todos aqueles que devem ser sempre homenageados por nós que, em meio a competências, conflitos, objetivos em comum, continuamos seu trabalho.

Um sinal de respeito em muitas culturas é uma pessoa se curvar diante de outra em virtude da competência e do que ela representa. Professor Osmar José Klock, neste momento o que podemos fazer de mais significativo é fazer a nossa reverência a você. Obrigado!!!!


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Fio de Ariadne

Conta o mito que Teseu, príncipe de Atenas, se colocou como voluntário para ir até a ilha de Creta, onde jovens atenienses eram entregues a um terrível ser, metade touro e metade homem, o Minotauro, que morava num imenso e intrincado labirinto, que os devoraria, compondo uma espécie de rito religioso. Ariadne, jovem princesa cretense, filha do rei Minos, se apaixonou por Teseu e lhe entregou uma espada e um novelo de fio para que, depois de matar o Minotauro, o herói pudesse achar a saída do labirinto, desenrolando o novelo e achando o caminho de volta. E, assim se deu, graças ao fio de Ariadne o herói Teseu conseguiu encontrar a saída depois de acabar com o monstro.

Pois bem, quantas vezes na vida não nos achamos metaforicamente em um labirinto imenso no qual andamos, andamos, passamos pelos mesmos lugares, e não encontramos saída? E, quantas vezes nesse intricado labirinto não encontramos um igualmente metafórico monstro que nos parece terrível e que nos quer devorar, quer tomar conta de nosso corpo e de nossa alma? O Minotauro da lenda é touro da metade para cima e homem da metade para baixo, ou seja, no lugar da razão, do cérebro humano, está o irracional, pronto para devorar aquilo que para ele é incompreensível. Quantas vezes convivemos com labirintos e monstros e temos a sensação de não encontrar saída? E, nesses momentos, como desejamos algo que nos ajude, que nos auxilie a voltar a viver, como queremos, metaforicamente, um Fio de Ariadne para nós, simples mortais que de heróis, que de Teseu, temos tão pouco!!

Alguém sempre pode nos ajudar dando-nos um pouco de si, dos seus conselhos, dos seus ombros, dos seus ouvidos, mas penso que poucos são aqueles que nos podem fornecer o nosso Fio de Ariadne. Amigos; pessoas mais vividas e, portanto, com mais experiência de vida; terapeutas etc., podem ser aqueles que nos devolvem à razão e nos dão coragem para enfrentarmos nossos monstros irracionais e nossas confusões mais íntimas e anímicas. Mas eles não podem e nem devem entrar no nosso Labirinto e enfrentar, por nós, nosso Minotauro, pois se admitirmos isso, estaremos "terceirizando" a resolução dos nossos problemas e, a rigor, não os estaremos resolvendo no nosso íntimo. Certas lutas têm que ser travadas solitariamente, por nós mesmos, sem recorrer a "muletas". Nossas crises, nossos medos, nossas culpas têm que ser resolvidas por nós mesmos, mas, para isso, devemos contar, sempre, com Ariadnes que nos emprestam sua razão, seu senso e, especialmente, sua distância, necessários para nos ajudar a enxergar os contornos e a dimensão dos nossos problemas.

Ariadne deu o estratagema, deu o instrumento, deu o Fio... Mas, quem teve coragem de entrar no Labirinto, do qual ninguém antes havia escapado, quem teve coragem de enfrentar o monstro devorador de carne humana jovem, quem se manteve destemido e calmo suficiente para ir desenrolando o Fio para voltar ao caminho da saída foi Teseu... sem sua coragem não adiantaria o Fio... Temos amigos,  terapeutas e outras pessoas para ajudar, mas somos nós que temos que enfrentar a nós mesmos, enfrentar nosso Labirinto e nosso Minotauro interior. Só assim, a sensação da vitória será plena... até, pelo menos, entrarmos em novas confusões e nos depararmos com novos monstros a serem enfrentados.