sábado, 24 de dezembro de 2016

Somos quem fomos!!!!


Nós somos somente o nosso passado!! É esta a ideia que vou apresentar hoje.

Se definirmos o passado como o que aconteceu e que, a rigor, não temos como mudar, o presente é um momento tão rápido, infinitesimal, que não conseguimos ter a consciência dele, pois tudo, absolutamente tudo, o que falamos, pensamos, vivemos se torna, imediatamente, passado. O que passou não pode ser mudado. Podemos, sim, fazer algo, falar algo que seja diferente do que foi falado ou feito, mas, efetivamente mudar o que já havia sido falado ou feito não é mais possível. A história pessoal é o registro do que já se foi.

Se não temos presente, será que temos futuro também? Enquanto projeção, sim; mas enquanto realidade, não. Como diz Epicuro, "o futuro não é nem totalmente nosso e nem totalmente não-nosso, para não desesperarmos se algo não acontecer e nem sermos obrigados a esperá-lo", ou seja, o futuro é algo, a rigor, não existente, mesmo coisas simples como pensar no almoço do dia-a-dia só se torna realidade quando estamos, de fato, almoçando; mas, enquanto estamos comendo, esse ato já se torna, imediatamente, passado.

É engraçado que achamos que vivemos no presente e no futuro. Não é à toa que estes dias que vivemos são tão significativos para nós, pois sempre desejamos para todos os amigos e familiares várias coisas boas para o próximo ano: paz, saúde, dinheiro, amor etc. Claro que os desejos são sempre legítimos e feitos de coração, mas, não passam de desejos e não de uma realidade em si. A passagem do ano não é, infelizmente, uma espécie de armário para Nárnia, como se, num passe de mágica, nos tornamos aquilo que não somos na realidade: reis, príncipes, guerreiros, destemidos, corajosos, bonitos, desejados, líderes... No dia 01 de janeiro continuamos sendo que nós somos: o nosso passado!!

Mas, esta constatação não é pessimista; é apenas uma realidade. Talvez, se tivéssemos em conta que não passamos do que fomos, iríamos valorizar mais aquilo que chamamos de presente, para não termos que tentar, quase sempre e quase inevitavelmente, mudar o passado com atos que passam, também, a compor o nosso vastíssimo passado. Os gregos antigos valorizam a justa-medida (ou o meio-termo, presente na Ética de Aristóteles), ou seja, evitar os radicalismos. Tolo é tanto o covarde quanto o valentão, pois ambas atitudes são temerárias, são motivadas pelo fígado e não pela razão; o corajoso é o desejado, pois baseado na razão. A justa-medida se estende para praticamente todos os nossos atos, pensamentos e palavras.

Somos nosso passado!! Presente e futuro não existem!! Portanto, pensemos nas nossas palavras e ações para que no nosso passado, ou seja, na nossa vida, tenhamos mais coisas a comemorar do que se envergonhar. E, assim, cheguemos no final de 2017 e possamos dizer: tive um ótimo 2017 e minha vida vale a pena de ser vivida!!!!

Assim, feliz 2016 a todos!!!!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Chapecoense: futebol, tragédia, emoção, solidariedade


Antes de mais nada, acho que tudo o que já foi dito sobre a recente tragédia envolvendo o time da Chapecoense é mais do que suficiente para entendermos e sentirmos o que aconteceu. No entanto, eu gostaria de tornar público aqui o que ficou para mim de tudo isto.

Qualquer tragédia envolvendo acidentes aéreos é sempre comovente, pois são muitas vidas que se perdem de repente. No caso do desastre com o avião que levava jogadores, comissão técnica e jornalistas para a final da Copa Sulamericana não poderia ser diferente. Ficamos chocados, tristes, angustiados mesmo com a morte de tantos trabalhadores. Confesso que chorei muito esses dias, com as reportagens sobre o assunto, especialmente quando os corpos chegaram ao Brasil para os seus respectivos velórios.

Mas, para mim, o que mais impressionou foi o fato de que o bom, velho e um tanto desrespeitado futebol emociona muito mais as pessoas do que eu imaginava. Foi emocionante ver todas as homenagens que foram feitas ao time da Chapecoense mundo afora, inclusive fora dos campos de futebol, como o basquete americano, grupos de rock etc. E, convenhamos, apesar do recente sucesso do time no campeonato brasileiro, a Chapecoense é um time de, no máximo, terceira grade de importância no futebol brasileiro (os primeiros são os chamados grandes de São Paulo, Rio, Rio Grande do Sul e Minas Gerais; depois os times médios mais tradicionais, como Coritiba, Atlético, Avaí, Figueirense, Bahia, Sport etc; e só depois os times no meio dos quais a Chapecoense se encaixa). E isto torna a solidariedade de todo o mundo algo mais comovente ainda. Na minha opinião, foi o futebol que mobilizou as pessoas e instituições. E isto, para quem é boleiro como eu e torce muito para meus times e pela seleção canarinho, é muito significativo.

O futebol já foi taxado como o novo ópio do povo, como algo alienante e que, por isso mesmo, deveria ser dado bem menos importância para ele. Reconheço, é claro, as mazelas atuais do futebol, especialmente o brasileiro. Torcidas organizadas, dirigentes corruptos, desrespeito aos torcedores com estádios sujos e desconfortáveis, são alguns exemplos. Sei que, como torcedor, a última coisa que devo é achar que o jogador do meu time é torcedor do meu time; ele é um empregado e, como tal, se outro time pagar melhor e oferecer melhores condições de trabalho é claro que ele vai mudar de patrão, opa, de time; mas isto para mim, hoje, não é problema, pois enquanto ele for jogador do meu time vou torcer muito por ele.

Algumas pessoas que me conhecem já me ouviram falar que, para mim, talvez a única coisa imutável na vida de uma pessoa é o time que ela escolheu para torcer, pois muda-se de profissão, de religião, de partido político, de cônjuge, de sexo, menos o time de futebol. O exemplo que gosto de dar é da torcida do Santa Cruz que, em um ano que não me recordo mais, vendo o time na quarta divisão do brasileiro foi a recordista de público em todas as quatro divisões do nosso futebol.

Por isso, o trágico acidente ocorrido com o time da Chapecoense me fez ter a certeza de que, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, o casamento entre o povo brasileiro e mundial com o futebol não vai morrer nunca. Por isso é que os bravos jogadores que perderam suas vidas na Colômbia também serão para sempre lembrados!!!

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

American way of life: Trump, Hilary, Obama e Michele...

(microconto baseado livremente na série House of Cards)



QUARTA-FEIRA, 09 DE NOVEMBRO DE 2016.

Chega a notícia, via celular, de que o inacreditável tinha acontecido: Trump ganhou de Hilary e se tornou o presidente número 45 dos Estados Unidos da América. A notícia deixou todos na Casa Branca estarrecidos, chocados, tristes e desanimados. Todos queriam consolar Obama, Michele e, especialmente, Hilary e Bill. Hilary ligou para Trump parabenizando-o pela vitória, mas não conseguia se desligar de um pensamento que passou a ser absolutamente repetitivo: "como isto foi acontecer? Como eu perdi na Flórida, com todo o discurso anti-imigração do Trump?". Depois de tomarem champanhe, pois como dizia Napoleão Bonaparte antes das batalhas "deixem a champanhe no ponto, pois iremos tomá-la, pois se ganharmos mereceremos, se perdermos precisaremos", o casal Clinton de despediu do casal Obama. Barack e Michele foram para o seu quarto para tomar mais champanhe e, desta vez, para comemorar...

"Que vitória apertada a nossa hein Michele? Cheguei a imaginar que não conseguiríamos virar os votos na Flórida". "Barack, você foi perfeito, pois ninguém, absolutamente ninguém, irá desconfiar da manobra que fizemos para que a Hilary perdesse no estado menos provável disso acontecer. Ela estava tão confiante na Flórida que afrouxou a vigilância". "Pois é Michele, o golpe fatal tinha que ser lá mesmo. E o Trump deve estar achando que ele ganhou com méritos em Miami... inocente ele!!". "A avaliação que o Sr. K. fez estava correta mesmo Barack". "Sim, estava Michele. Se a Hilary ganhasse agora, e  iria ganhar com as cadeiras da Flórida, ela governaria por 8 anos e, depois, inevitavelmente, o próximo presidente seria um republicano. E aí, meu amor, você seria presidente somente daqui 16 anos, ou mais provavelmente, nem seria presidente, pois o tempo passa e novas pessoas aparecem". "É verdade. Aqui na América os presidentes ficam na grande maioria das vezes por dois mandados, como lembrou o Sr. K. Além do mais, um partido fica no poder por, no máximo, 4 mandatos. Os americanos gostam do rodízio no poder entre os democratas e os republicanos. Aliás, como bem avaliou o Sr. K: isto é essencial para a preservação de nossa democracia...". "É isto Michele, então para que nosso projeto se torne realidade dentro em breve, a Hilary não poderia ganhar mesmo. Você vai ser a primeira mulher presidente deste país!". "A única coisa que me incomoda Barack é o fato dos Estados Unidos ser governado por um cara tão tosco, moralista e conservador como o Trump". "Michele, nós já fomos governados pelo Reagan, Bush pai e Bush filho, e sobrevivemos... vamos sobreviver ao Trump também...". "Então, brindemos ao sucesso de nosso planos Barack!!". "Bridemos a você, meu amor, que será a Miss President dos Estados Unidos da América!!". "Vamos dormir porque amanhã temos que fazer cara de decepcionados e dar muitas entrevistas tentando explicar o inexplicável...". "Além do que Michele, temos que começar a trabalhar sua candidatura desde já...".

SEGUNDA-FEIRA, 20 DE JANEIRO DE 2025

"Você está linda meu amor!!. "Obrigado Barack!!". "Chegou o grande dia, um dia importante para a América e para o mundo todo, pois o nosso país terá, daqui a pouquinho, a primeira mulher presidente da sua história!. Você será empossada a presidente de número 46. Levamos séculos para que isto acontecesse, mais agora é realidade. Parabéns minha querida!". "A responsabilidade será grande! Mas tenho certeza que darei conta, afinal, aprendei muito contigo nos 8 anos em que já moramos na Casa Branca. Nosso projeto deu certo!!. Bridemos!!". "Brindemos presidenta Michele".
Ao chegarem no Capitólio o casal Obama ouviu a multidão gritar entusiasmada: God save Michele Obama!! God save America!!.




terça-feira, 18 de outubro de 2016

O caminho longo-curto



Lendo o livro A Alma Imoral de Nilton Bonder me deparei com uma história/metáfora muito interessante. Bonder relata que o rabi Ioshua, filho do rabi Hanina, disse: "Certa vez uma criança arrebatou o melhor de mim. Eu viajava e me encontrava diante de uma encruzilhada. Vi então um menino e lhe perguntei qual seria o caminho para a cidade. Ele respondeu: 'Este é o caminho curto e longo e este, o longo e curto.' Tomei o curto e longo e logo me deparei com obstáculos intransponíveis de jardins e pomares. Ao retornar, reclamei: 'Meu filho, você não me disse que era o caminho curto?' O menino então respondeu: 'Porém lhe disse que era longo!'

Quantas vezes a vida nos coloca diante da escolha de caminhos que nos levem a algum lugar diferente de onde estamos? Caminhos que podem ser literais, mas, como no caso da história acima, caminhos metafóricos, simbólicos. Decisões a serem tomadas, decisões muitas vezes difíceis, que nos colocam muitas vezes em encruzilhadas. Qual caminho escolher? Como enfrentar o peso da decisão? Muitas vezes temos dois caminhos a seguir: um que se apresenta mais breve e outro mais longo. Mas, o menino da história mostra que muitas vezes, talvez na maioria delas, o caminho curto se apresenta longo e o caminho longo se mostra o mais curto. E como se dá isto? Na prática, acho que grande parte das pessoas já sentiu isto na pele.

"Troco de emprego por um outro que me traga mais satisfação mesmo ganhando menos [caminho longo e curto] ou fico no mesmo emprego em que ganho mais [curto e longo]?"; "Estudo para a prova que vai ser difícil sacrificando meu final de semana [caminho longo e curto] ou faço uma cola no domingo a noite para fazer a prova segunda de manhã [caminho curto longo]?"; "Me arrisco a terminar meu relacionamento sem colocar ninguém no lugar, enfrentando a solidão e a carência [caminho longo curto] ou continuo no relacionamento, mesmo que ele não me realize mais, por medo da insegurança [caminho curto longo]?". São tantas as decisões que temos que tomar de vez em quando na vida pessoal, familiar, profissional, estudantil etc., que acabamos, mesmo sem refletir muito, optando por um caminho.

E o caminho que é mais tentador, porque aparentemente menos trabalhoso e menos sofrido, é o caminho curto, porque temos pressa de resolver as coisas, temos pressa de "chegar ao destino". Mas, o problema é que o caminho curto acaba por se tornar mais longo, pois as coisas geralmente não se resolvem de imediato na nossa vida, as coisas que aparentemente nos trazem prazer momentâneo  se mostram angustiantes com o passar do tempo e o arrependimento por não ter tomado o outro caminho bate à porta. A escolha pelo caminho longo é mais difícil mesmo, é, às vezes, um "pulo no escuro", é um arriscar constante em que podemos contar, essencialmente, somente conosco mesmos, é um caminho que vai exigir muito mais e que vai ser marcado pela renúncia ao prazer imediato.

O caminho curto se torna longo, pois logo vai ter que voltar ao ponto de origem e se perguntar de novo. O caminho longo se torna curto porque ele é decisivo, é o único que pode nos levar a algum destino, o qual, a partir daí, pode se tornar ponto de partida para outros caminhos. Desejo que aqueles que estão em alguma encruzilhada na vida optem pelo caminho longo, deixem o medo que paralisa para trás e se aventurem a andar muito para que quando chegar não tenha que voltar e, sim, seguir adiante. A vida é para ser vivida com intensidade e coragem!!


Ps: agradeço a Amanda Lemes por ter-me apresentado Nilton Bonder, um escritor judeu com o qual estabeleço um diálogo muito proveitoso.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Não entendo nada de política


Quero, aqui, fazer uma rápida avaliação da campanha para vereador na minha cidade, Maringá-PR, para explicar a(s) razão(ões) que me levam a concluir, hoje, que não entendo nada de política.

Como os meus leitores do blog sabem fiz campanha de vereador para uma mulher (não vou citar o nome dela aqui, pois não estou mais fazendo campanha e não quero que as pessoas confundam este post com um panfleto político). O projeto por ela liderado, e que expressava a sua visão de mundo, tinha por base, essencialmente, a discussão verticalizada acerca da necessidade do respeito às variadas identidades que compõem a nova sociedade. O combate ao machismo, pelo empoderamento feminino, a defesa intransigente das pessoas LGBT e dos negros, a necessidade de se pensar uma sociedade que se paute pela sustentabilidade, a cultura como algo que deve se espraiar para toda população como meio eficaz de combate à miséria humana, foram as marcas de uma bela campanha, que exigiu coragem da candidata e de todos os que estavam à sua volta para defender, com muita propriedade, profundidade e coerência um projeto, e não um pragmatismo.

Mas, por que este projeto não vingou como esperado, ou mesmo, por que ele não foi melhor acolhido em termos de quantidade de votos? Minha candidata alia teoria à prática, pois, como policial civil, se dedica aos crimes de violência doméstica contra as mulheres, e, nem assim, a campanha sensibilizou a maioria das mulheres, pelo menos as de esquerda. Quais os motivos? Alguns me ocorrem.

A campanha para vereador passa, ao que parece, por uma base. Seja uma base institucional (igrejas, universidades etc.), ou de movimentos, segmentos, bairros etc., e isto sem falar na cultura da venda de votos, que ainda faz parte, infelizmente, da nossa vida política. As pessoas têm uma identidade prévia com candidatos que as representam, mesmo que tais pessoas não demonstrem, objetivamente, ter condições teóricas e práticas para o exercício, "a plenos pulmões", da representatividade. É o que minha candidata tinha, e de sobra. O voto para vereador é muito mais "bairrista" do que eu imaginava. Parece que não importa, de fato, uma visão de mundo mais abrangente, que englobe demandas várias, pois os segmentos desconfiam de pessoas que não pertencem, de fato, a eles. A campanha de minha candidata "bombou" na internet, tanto no face como no whats, pois as postagens foram de muita qualidade e sensibilidade, especialmente os videos, o jingle (original) e a ideia do "diário de uma candidata", que mostrou a campanha por dentro e tocou em assuntos delicados com muita coragem. As postagens, fotos e videos, tiveram, em média, mais de duas mil visualizações, dando a impressão que a campanha havia "pegado"; doce ilusão!! A internet parece que não é o meio ideal de campanha para vereador (talvez seja para prefeito, governador e presidente), pois faltou a base... Faltou?? Acho que não!!! As "bases" não se abrem, ou dificilmente se abrem para visões de mundo mais complexas, mais abrangentes.

Todos os candidatos que se elegeram vereadores em Maringá o fizeram a partir de uma base; vide, por exemplo, o primeiro colocado, que se elegeu por representar o movimento nacional, e local, que deu sustentação para o impeachment da presidenta Dilma. Mas, muitos candidatos, e bons candidatos, não se elegeram pois seus segmentos não conseguiram se unificar em torno deles. Penso, no entanto, que se quisermos, de fato, pensar em uma nova forma de ver e fazer política, é necessário vermos as visões de mundo mais abrangentes, as visões de mundo que acolhem demandas setoriais, mas não ficam a elas restritas. Quem sabe da próxima vez consigamos ir além; avaliar pessoas profundas e complexas, que aliem teoria e prática, independentes de quais setores elas fazem parte. Mas, confesso aqui que minha desilusão com a política, pelo menos por ora, só aumentou...

Em tempo: em Maringá, minha cidade de adoção, que eu amo muito, nenhum dos 15 vereadores eleitos é mulher... estamos longe, ainda, de colocarmos em prática, de forma refletida e organizada, uma cultura que, por exemplo, combata o machismo...


domingo, 7 de agosto de 2016

Jogos Olímpicos no Brasil - e os deuses gregos vieram!!!




Por Zeus, que coisa mais linda!! Como valeu a pena ter vindo para o Brasil!!! Você não acha Dionízio??
Claro que sim, valeu muito Atena!!
E pensar que foi tão difícil convencer meu pai de que presenciar a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro iria ser uma viagem muito prazerosa.
Eu, então, que já gosto de festa pela minha própria natureza, estou me realizando aqui. Como este povo gosta de festa!! Mas, porque Zeus não queria vir? Só ele ou Hera e os outros também resistiram?
Os outros também, tanto Hera, como Poseidon, Hades, Crono... Eu acho que era preconceito deles. Sabe essas coisas de que o Brasil era um povo ainda criança perto dos nossos povos antigos, de que eles não tinham condições econômicas para realizar um empreendimento tão grande, de que eles jamais cultivaram os deuses antigos, sejam nós ou nossos irmãos escandinavos, indianos, orientais..., enfim, eles se parecem, na verdade, pelo que ouvi falar por aqui, com uma parcela dos próprios brasileiros que não acreditava que o país deles, que a sua cidade mais linda, pudesse ou devesse organizar o maior evento esportivo do mundo.
Eu falei para eles, especialmente para meu pai, já que se ele decidisse vir os outros o acompanhariam, de que os jogos inventados pelo nosso povo iriam acontecer pela primeira vez em um país de um continente conhecido como América do Sul, em um país de gente guerreira, criativa, cordial; claro que eles têm problemas, falei para Zeus, problemas sociais, econômicos, de corrupção, têm até um tal de "jeitinho brasileiro" que muita gente critica; mas, pense bem papai, continuei, qual país não tem esses problemas? Vamos lá poderoso Zeus, vamos lá ver o esse povo cheio de problemas, com uma auto-estima bem baixa, consegue fazer para nos surpreender?
Nossa Atena, eu nem precisava de tudo isso para me decidir ir. Ainda bem que você conseguiu convencer a todos. Mas, e aí, já conversou com eles para ver se eles gostaram de ter vindo?
Ahhhh, Dionisio, todos eles adoraram, até o ranzinza do meu tio Hades!! Ficaram deslumbrados com a história contada na abertura; ficaram encantados com os efeitos, dignos de nós, ficaram encantados com a música, com a dança, com as pessoas, com a alegria que contagiou a todos no estádio. Teve até uma hora que Zeus sumiu, e ainda bem que Hera não viu, pois, quando eu o procurava, lá estava ele ao lado da Gisele B, Bu, Ban, não me lembro do sobrenome dela..., lá estava ele ao lado daquela mulher linda, que parecia uma deusa como nós... temi que ele assumisse uma forma humana e quisesse, ali mesmo, na cara da ciumenta Hera, seduzir a Gisele.
Realmente Atena, aquela mulher iria ser o centro das atenções de qualquer festa dionisíaca dos velhos tempos!
Teve muita coisa que a gente não entendeu, porque, infelizmente, não sabemos da história deste belo pais. Parece que realmente eles não tiveram deuses como nós em sua história antiga, mas tiveram um povo aqui antes da chegada dos europeus. O resultado de todo o desenvolvimento deste povo foi, pelo que entendi, uma mistura de povos como não existe em nenhuma outra parte do mundo. Uma mistura que tem na raiz da sua cultura a música de origem africana, mas que conseguiu agregar coisas do mundo todo.
Eu vi, Atena, que o último de nós a sair, de novo, do estádio foi Prometeu, como aconteceu em Atenas há 12 anos atrás, e desta vez teve a companhia de Hefesto. Os dois não conseguiam tirar os olhos daquela geringonça que representava o sol, com a pira olímpica no meio.
É, meu caro Dionísio, Prometeu faz questão de estar presente em todas as aberturas dos Jogos Olímpicos só para ver como cada cidade-sede vai usar a criatividade para acender a pira olímpica. Ele acha que a dita civilização é herdeira sua e vê com um símbolo de agradecimento a ele as chamas dos jogos. E, cá prá nós, ele tem razão...
E agora Atena, vocês já estão indo embora para casa?
Papai, Hera, meus tios e meus avós já foram, pois todos estavam com saudades do bisavô Urano e da bisavó Geia, que não vieram porque estão muito velhinhos. Eu vou ficar aqui mais alguns dias, vou curtir esta cidade maravilhosa e conhecer um pouco mais deste país fascinante. Quero ver o impacto que a belíssima abertura dos jogos teve nas pessoas em geral; vou me disfarçar de turista, vou arranhar um pouco do meu inglês, pois fiz um curso rápido pela internet, e conversar com o povo. E você Dionísio?
Eu, claro que vou ficar aqui também. Quero ir em muitas baladas, quero conhecer todos os bares da Lapa, que é um lugar que ouvi falar que tem muitos, como eles chamam mesmo aqui... ah, muitos bares. Quero ouvir e aprender a dançar samba; quero ouvir todos os variados e quentes ritmos que este povo tem aqui. Vou viajar também e me esbaldar; quero conhecer, de perto, meus seguidores aqui...
É, como vi uma vez um escrito em algum lugar: "A abertura destes Jogos Olímpicos foi digna de homens e deuses!!"

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Este post é minha homenagem à abertura dos Jogos Olímpicos da última sexta-feira. Foi uma festa linda, sensível, competente e emocionante. Ao contrário de alguns (e de talvez muitos) sinto um baita orgulho de ser brasileiro; sinto um enorme orgulho de que o Brasil, apesar do complexo de vira-lata que existe na cultura brasileira, organizou a Copa do Mundo de futebol dois anos atras e agora as Olimpíada e Paralimpiada de 2016. Parabéns aos cariocas e parabéns aos brasileiros!!!!


quarta-feira, 20 de julho de 2016

50 anos!!!

UMA VIDA EM 12 ATOS NO PRETÉRITO PERFEITO


I - INFÂNCIA

Chorei!!!
Andei, corri, pulei, brinquei
Mudei (de cidade), estudei
Corri, pulei, brinquei, joguei, briguei, chorei 
Me encantei, me apaixonei, venci.

II - ADOLESCÊNCIA

Mudei (de casa)
Pulei, brinquei, joguei, briguei
Me assustei, me emocionei 
Mudei (de casa, de novo)
Estudei, aprontei, conheci
Assisiti (muito)
Brinquei (muito)
Joguei (muito)
Ganhei, perdi, beijei, sonhei.

III - JUVENTUDE

Trabalhei, me machuquei, entristeci, 
Rezei, me encontrei, participei
Cantei, ri, brinquei, me apaixonei 
Conheci, sonhei, liderei
Namorei, beijei, chorei
Trabalhei, estudei, li, sonhei.

IV - IGREJA

Mudei (de cidade), rezei, meditei, estudei
Militei, reuni, liderei, viajei
Conheci (pessoas e lugares), organizei, disputei
Entrei (em crise), me angustiei, amadureci
Sorri, brinquei, briguei, chorei
Depus, esclareci, senti medo, me fortaleci
Me apaixonei, militei, viajei
Mudei (de cidade), namorei, noivei, casei.

V - PROFESSOR

Ensinei, li, estudei, me tornei (professor)
Pesquisei, dissertei, me doutorei
Viajei, conheci, me diverti
Me apaixonei (pelos gregos)
Me apaixonei (pelos jesuitas)
Fiz (amigos), respeitei, imitei, lutei, desisti, resisti
Mudei, amadureci, farreei.

VI - ESPOSO E PAI

Casei, vivi, festei, viajei (muito), conheci (o exterior)
Me organizei, churrasqueei, reuni, comemorei
Discuti, emburrei, ri, compartilhei, me diverti
Adotei, fui (pai), me emocionei, me apaixonei
Curti, acompanhei, troquei (fraldas), banhei
Temi, chorei, ri, sorri, me encantei
Brinquei, cantei, assisti (animações), me realizei.

VII - AMIZADES

Conversei, escutei, me expus, me abri
Aconselhei, contei (piadas), discuti
Festei, bebi, encontrei, ri
Me embriaguei, me irritei, irritei, exclui
Churrasqueei, cantei, acrescentei, aplaudi.

VIII - FAMÍLIA(S)

Convivi, me alegrei, joguei, escutei
Me irritei, briguei, brinquei, 
Ri, chorei, falei, cuidei
Dormi, acordei, comi, bebi, me embriaguei
Me diverti, viajei, acompanhei, conciliei, ajudei.

IX - BOLA

Joguei, comemorei, me irritei, briguei 
Fiz (gols), festei, resenhei, ri
Participei, organizei, secretariei, me envolvi
Ajudei (a construir), fiz (muitos amigos)
Venci, perdi, empatei
Perdi (amigos), me desesperei, entristeci, chorei.

X - POLÍTICA

Participei, ocupei (cargos), coordenei
me candidatei, apoiei, servi, me envaideci
Ganhei, perdi, trabalhei
Liderei, vibrei, me entusiasmei 
Aprendi, me espelhei, respeitei.

XI - LEIP

Me reuni, estudei, pesquisei, criei
orientei, conversei, ouvi, aprendi
Festei, apresentei, coordenei, organizei
Ensinei, fiz (amigos), ri, sorri
Me realizei, vivi, intensifiquei.

XII - HOJE

Mudei (de casa), mudei (de vida)
Fiz (terapia), procurei (me encontrar)
Vivi (a crise), me angustiei, deprimi
Entristeci (a mim), entristeci (a outros), magoei
Mudei, decidi, fiz
Desafiei, caminhei, (quase) morri
vivi, e,

Continuo vivendo... 
Até aqui valeu a pena?
Sim, com certeza!
Aprendi as dores e as delícias 
De ser quem sou!
Até porque, minha alma nunca foi e nunca será pequena!!


(todos os verbos utilizados são relacionais, pois a vida só tem sentido quando é relacional)



quinta-feira, 7 de julho de 2016

Curso de Pedagogia EaD da UEM - hora de passar o bastão

(Aviso aos meus leitores que este post ficou bem maior do que o normal. Mas não poderia ser diferente, como poderão ver)



Depois de quase 8 anos a frente do curso de Pedagogia a distância da UEM chegou a hora de me afastar, pelo menos por um tempo... Iniciei minha função de gestor, na condição de coordenador do curso, em outubro de 2008, quando tivemos a primeira turma do convênio/modelo Universidade Aberta do Brasil (UAB). De 2008 a 2012 tive como coordenador ajunto/coordenador de tutoria o professor Carlos Alberto Mororó da Silva, o nosso saudoso Mororó. De 2012 até agora fui coordenador ajunto/coordenador de tutoria do professor Jorge Cantos. Mas, chega um momento em que é preciso oportunizar que outros tenham a mesma experiência que eu tive e enfrente, com peito aberto, os desafios desta recompensadora função.

Minha sincera avaliação desse tempo todo: absolutamente positiva!! Tivemos e temos seis turmas diferentes, que nós demos nomes para não confundirmos: turma 2009 (a primeira), turma 2010, turma Parfor, turma Vizivali (aliás, duas turmas), turma 2014 e turma 2015; ao todo, mais de cinco mil alunos que passaram ou estão passando pelas minhas "mãos virtuais". Quanta responsabilidade!! Quanta emoção!! Para além da rotina das turmas, o que, em si, já é muito trabalho, ousamos fazer três jornadas pedagógicas, três cursos de cinema e educação, implantamos o Processo de Avaliação Interna (que, depois, foi estendido para todos os cursos a distância da UEM), revimos a grade curricular do curso, aumentando o tempo para quatro anos e meio, com três cursos de aprofundamento básico; enfim, fizemos a nossa parte. Mas, não fizemos sozinhos, ao contrário, o projeto EaD é, necessariamente, coletivo e, se quisermos que dê certo, com responsabilidade e rigor acadêmicos, todos os atores têm que desempenhar seus papeis. E eu tive a sorte de contar com pessoas que fizeram seus papeis muito bem, as quais, passo a agradecer.

Primeira aos milhares de alunos e turmas passadas e atuais. Vocês são a razão da existência do curso! Vocês são a razão da UEM entrar neste projeto de EaD com toda a coragem e energia! Sei que não é fácil ser aluno desta modalidade, pois requer auto-disciplina, vontade acima da média, disposição e energia quase que solitárias. Mas vocês sabem, por outro lado, que vale a pena. Muitos de vocês, talvez a grande maioria, sabem que não teriam a oportunidade de fazer um curso sério como o nosso se nós não fôssemos até vocês em suas cidades e em suas casas. Valorizem sempre a oportunidade que tiveram e tenham orgulho do diploma que receberam ou vão receber.

Aos coordenadores de polo e seu pessoal administrativo. Obrigado pela parceria de sempre! Vocês têm muita responsabilidade no cotidiano do curso e, no diálogo constante, nas avaliações rotineiras, nas visitas que fizemos, tivemos a oportunidade de ter em vocês o compromisso necessário para que o projeto tivesse sucesso.

Aos tutores presenciais. Costumo dizer que os tutores presenciais são nossa extensão concreta junto aos alunos nos polos. Vocês que sempre tiveram a responsabilidade de auxiliar os alunos, de acompanhar de perto o seu desempenho, de incentiva-los a continuar seus estudos. A vocês, grandes parceiros, meus sinceros agradecimentos!

Ao pessoal do PET/Pedagogia/UEM. Pela parceria nas etapas do nosso curso de Cinema e Educação, obrigado! Foram três cursos, com dez etapas cada um, aos sábados pela manhã, em que, acima de tudo, nos emocionamos com os filmes e documentários que tanto ajudam a refletir sobre a Educação nos dias atuais.

A todos os funcionários do NEAD/UEM, especialmente sua diretora, a professora Maria Luisa, meu profundo respeito pela dedicação, trabalho cotidiano, ousadia e lutas, muitas lutas em favor da EaD da UEM! Costumo dizer que dos setores da UEM que eu conheço (e, com respeito a todos eles) o NEAD é o local em que todos, absolutamente todos, trabalham a todo vapor e, o mais especial, com alegria. Solange, Rose, José Luis, Erivelto, Jairo, Volpato e, especialmente, Maria Luisa, vocês são especiais, corajosos, ousados, e tenham certeza que sempre foram e serão fonte de inspiração para mim, na UEM  e na vida. Me desculpem aqueles que eu não citei o nome, mas saibam que todos vocês merecem meu respeito e admiração!

A todos os secretários que o curso teve, obrigado pela dedicação a um trabalho tão complexo, cheio de nuances administrativos e exigências formais. Nas pessoas do Caio e do Guilherme, atuais secretários, quero agradecer a todos e os outros que passaram pela secretaria todos esses anos e que sempre se dedicaram ao máximo. A todos o meu respeito!

Aos professores do curso que se dispuseram a trabalhar, mesmo que tal atividade não contasse em seus encargos didáticos (o que continua sendo um contra-senso na UEM), meus agradecimentos, pois sem o comprometimento de vocês, desde a organização dos livros didáticos e da redação dos capítulos, o curso jamais teria existido. Obrigado colegas e companheiros de trabalho!

Ao Marcos Pereira Coelho e à Giselma Serconek pelo trabalho incansável junto aos professores e alunos do curso. Vocês foram, por um bom período de tempo, meus braços esquerdo e direito, especialmente nas dependências e nos estágios do curso. Valeu!

Ao Mororó, para o qual já dediquei um post aqui no meu blog (clicando no nome dele acima abrirá um link para o post) somente quero reforçar o quanto aprendi com ele como pessoa. Sua humanidade, seu otimismo e seu desapego me fascinaram sempre!

Ao meu querido companheiro Jorge Cantos. O que falar de você além daquilo que você já sabe? Orgulho de estar ao seu lado nesse tempo todo (ah, não vá corrigir este texto, ok!). Parceiro, cúmplice, terminamos o que começamos, e sempre com nosso propósito inicial: "morremos abraçados, se for preciso". Não precisou. Vivemos intensamente; nos emocionamos; reclamamos; comemoramos; e, continuamos vivos para contar nossa história. Jorge, você é uma das almas mais privilegiadas que conheço. Obrigado por tê-la partilhado comigo!!

Aos tutores a distância, os quais deixei por último, pois concluo, depois de todos esses anos, que eles são os principais atores desta peça, desta novela que se chama vida. A vocês meu profundos agradecimentos pela parceria, pela cumplicidade, pela dedicação, pela paciência e, é claro, pelo árduo trabalho, nem sempre adequadamente recompensado do ponto de vista financeiro. Vocês são, de fato, professores, responsáveis pela mediação do processo ensino-aprendizagem. A organização dos cursos na modalidade EaD os chama de tutores, ótimo nome se considerarmos a etimologia da palavra: quem cuida, quem protege, quem zela pela sua formação integral de alguém. Portanto, tenham este significado como sinônimo, de fato, de sua função, pois ela é a mais essencial no formato de nosso curso. Aprendi muito com vocês e sei que, acima de tudo, o que fica para nós, e entre nós, é o carinho e o respeito mútuos!

Claro que nem tudo foi perfeito no curso. Erramos muito também. Eu errei muito nesse tempo todo. Deixei de cumprir certos protocolos, não fui exigente o suficiente e fui relapso em muitas coisas. Mas, sei, também, que meus acertos foram muitos também, e disso muito me orgulho. Meu trabalho sempre foi levar muito sério a EaD na UEM e fazer o que estivesse ao meu alcance para que nosso curso primasse, sempre, pela seriedade, pelo rigor e pelo compromisso com a universidade pública.

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena", como diz o poeta. A todos, alunos, tutores, professores que, como eu, teimaram em não apequenar a alma, esses anos todos valeram a pena. Ah, como valeram!!

À Elaine a à Ruth, que vão coordenar o curso de agora em diante, meus votos de sucesso e, especialmente, meu desejo que vocês experimentem um pouco de todas as boas sensações que eu experimentei. Que vocês possam, ao final de seu trabalho, afirmar como eu hoje: valeu a pena!!

Obrigado a todos!! E saibam que têm mim alguém que sempre vai se dedicar à EaD na UEM. Deixo a coordenação e volto a ser professor do curso de Pedagogia a distância da UEM. Volto com todo o entusiasmo que me é característico. Como sempre disse, vamos fazer nossa parte, vamos fazer a diferença, vamos fazer a história acontecer sempre!!!


terça-feira, 14 de junho de 2016

Black Mirror


Uma das séries mais sensacionais de todos os tempos!! É assim que eu (e muita gente) define a série inglesa Black Mirror. Ela é espetacular porque é, na verdade, assustadora, pois é uma visão nada romântica do que a tecnologia pode fazer com as pessoas. Ao assistir esta série me lembrei da primeira vez que assisti Blade Runner, o caçador de andróides, pois foi uma espécie de "ducha de água fria" na confiança num futuro sem problemas, em que a tecnologia iria resolver os problemas da humanidade.

Black Mirror é uma série que tem no Netflix (infelizmente não ganho dinheiro para fazer propaganda!!), foi produzida entre 2011 e 2014, tem 7 episódios espalhados por 3 temporadas. As histórias não são conectadas, com enredos e atores diferentes. O primeiro episódio é, no mínimo, corajoso, pois se trata de um sequestro de uma princesa inglesa e o resgate é que o primeiro-ministro inglês deve fazer sexo com uma porca na TV, ao vivo, em horário nobre. Mas, o que parece algo nojento é, na verdade, uma crítica ao mundo midiático. Crítica ácida, inesperada, chocante, com um simbolismo perturbante. Mas, de forma metafórica, é à realidade que se está referindo.

Os episódios seguintes retratam, primeiro a sociedade do espetáculo e o que as pessoas fazem para dela fazer parte e se destacar, e, depois, uma visão de um futuro próximo em que as pessoas colocam um chip atrás da orelha e podem assistir suas memórias a qualquer momento. Ambos episódios são igualmente chocantes, começam aparentemente despretensiosos, mas, depois escancaram onde as pessoas podem chegar para conseguir atingir seus propósitos. Novamente a tecnologia é apresentada de início como algo interessante, mas, depois, o uso que as pessoas dela fazem  a tornam uma verdadeira prisão.

A segunda temporada é, ainda, mais perturbadora. O primeiro episódio é sobre a volta de alguém que morreu; o segundo é sobre uma pena, uma punição, que se repete todo dia; a terceira é sobre a radicalidade e a boçalidade da propaganda. Em todos eles novamente está o uso da tecnologia como um espetáculo, individual ou coletivo, que expõe, na verdade, as mazelas, tanto individuais como sociais.

A última temporada tem apenas um episódio, que é, sem dúvida, o melhor de todos. Com 3 pequenas histórias conectadas, mostra até que ponto a tecnologia pode nos prender em um mundo a parte, sem conexão com as pessoas, com culpa e, especialmente, numa espécie de eterno retorno. O ultimo episódio leva o simbolismo, a metáfora da perda da identidade pessoal ao extremo.

A tecnologia em si, na minha opinião, nunca é problema. O uso que fazemos dela é a questão. O uso que já fazemos do face, do whatsApp e de outros aplicativos e redes sociais já indica que estamos cada vez mais solitários e sem conexão concreta e real com as pessoas. Black Mirror nos alerta que podemos nos afundar ainda mais na nossa desumanidade, demasiada humana!! É o encontro (ainda bem que virtual, pelo menos por enquanto) com um futuro que pode ser ainda mais individualista, egocêntrico e doente. Quem sabe não possamos refletir sobre isto e perceber que podemos construir um futuro mais decente!!

Para alento dos admiradores da série, há notícias de que a quarta temporada está sendo gravada, com 12 episódios. Já estou ansioso desde já...


terça-feira, 31 de maio de 2016

mulheres aladas


Ah, essas mulheres que têm asas!
São fortes, destemidas
São corajosas, valentes
Enfrentam os desafios,  jamais se entregam.

Ah, essas mulheres aladas!
Paradas não ficam
Dominadas não são
Medos não as paralisam
                   os enfrentam.

Ah, essas mulheres que têm asas!
Avançam sempre
Olhos adiante
Coração pulsante.

Ah, essas mulheres aladas!
Dominar não querem
Se expressar querem
Viver pedem
          intensamente

Subjugar essas mulheres aladas?
Jamais!
Dominar essas mulheres que têm asas?
Perda de tempo
Elas são assim:
Livres, decididas, amantes
Delicadas, firmes, independentes.

Mulheres assim são poucas
Por isso sofrem
Homens e outras mulheres
Invejosos de seus vôos
Querem cortar as suas asas
                        as asas da liberdade!!

Não se entreguem mulheres aladas!
Não se entreguem mulheres que têm asas!
Jamais desistam de ser quem são
Mostrem para todas
               para todos
Quem voa vê tudo sempre do alto!


quinta-feira, 12 de maio de 2016

Death Note (Livro da Morte)


Death Note é um mangá que foi produzido como anime e que está disponível no Netflix. Resumidamente, a história é sobre um jovem japonês que, sem querer, pega um livro que caiu na terra por descuido de um Shinigami, um deus da morte. O livro tem a característica de levar à morte quem tem seu nome escrito nele. O jovem começou a escrever nomes de criminosos, primeiramente japoneses, depois do mundo todo, adotando o apelido de Kira. Personagens cativantes como L, N e o próprio jovem Ligth Yagami, o Kira, que começou a matar muita gente por ser o "dono" do livro, são o cerne de uma história profunda, enigmática, com um ótima lógica interna e, acima de tudo, que leva a pensar sobre o que o poder pode fazer com as pessoas. Enfim, recomendo o anime, pois é uma história com 37 episódios de 20 e poucos minutos cada um, em que não tem nada que sobra, onde tudo tem sua razão de ser.

O grande lance de Death Note é que o personagem que possui o livro sente um poder inusitado, um poder de acabar com toda violência do mundo, colocando os nomes de todos os criminosos, dos mais perigosos aos mais simplórios, acabando com todos. E, com todo este poder, Ligth Yagami passou a se sentir um deus, um deus que iria construir uma nova era, nova era em que ele seria o protetor dos fracos e desprotegidos e seria, é claro, idolatrado por todos. Como um deus, ele esperava o reconhecimento de todos, e muita gente passou a defender Kira como aquele que estava trazendo a paz para todos. No entanto, a polícia, ajudada por experts (L e depois N), passou 6 anos procurando por Kira para prendê-lo. A discussão social que está presente no anime é sobre se Kira, ao matar os criminosos, muitos que aguardavam julgamento e/ou que estavam cumprindo suas penas, também era um criminoso ou uma espécie de salvador da pátria. O anime mostra que muita gente o achava um herói, mas a polícia e parte da população o achava um assassino cruel. O problema é que Kira passou a matar não somente criminosos, mas, também, pessoas que estavam no seu caminho. Não vou aqui contar o final para não estragar a surpresa dos que sentirem com vontade de assistir o anime, pois a parte final do enredo é de tirar o fôlego.

Mas, sem contar o final, é possível fazer uma reflexão a partir do anime. A reflexão, é claro, é sobre o poder. Acho mesmo que o Death Note é uma grande metáfora sobre o uso do poder. No caso do anime se trata de um poder quase que absoluto de vida e morte das pessoas, mas, podemos pensar em qualquer forma de poder. É atribuída a Solón, legislador ateniense dos séculos VII e VI a.C., uma das frases mais significativas da história: "O poder revela o homem", ou seja, só conhecemos de fato as pessoas quando elas têm alguma função de poder sobre seus semelhantes, pois ela pode, se for sua índole recôndita, usar, abusar, instrumentalizar as pessoas. Penso no poder não somente no sentido de cargos de responsabilidade sobre pessoas, mas, também, no poder de uma pessoa sobre outra, pois numa relação amorosa, por exemplo, um pode exercer um poder sobre o outro, um pode dominar o outro, pode usar, abusar e instrumentalizar o outro em seu benefício próprio, e, neste caso, tal forma de poder pode se revelar pelo famoso "mi, mi, mi...", pelo ciúme, pelo drama etc. Quem usa o poder da forma como o Death Note mostra, e como metaforicamente estou tratando aqui, tende a se sentir uma espécie de "deus", que não pode se sentir contrariado, pois, afinal de contas, a relação que ele tem com o(s) outro(s) é sempre como se o(s) outro(s) fosse seu(s) subordinado(s), uma relação desigual, tida por ele como naturalmente desigual.

Para terminar:
- assinar o Netflix: R$20,00 por mês
- comprar uma TV bacana para assistir o Netflix: R$3.000,00
- ver um anime que sua filha indicou e assistir com ela todos os episódios, comentando, se angustiando, rindo... NÃO TEM PREÇO

Este post eu dedico, é claro, à SOFIA FURLAN COSTA, minha filha da qual tenho um baita orgulho!!!

terça-feira, 3 de maio de 2016

Síndrome de Medusa







A história de Medusa é relativamente conhecida pelas pessoas em geral. Um breve resumo: ela era uma mulher extremamente bonita, virgem, que era sacerdotisa do templo de Atena e, portanto, deveria continuar com sua virgindade intacta; Poseidon, deus dos mares, um dia a possuiu contra sua vontade; Atena, a deusa, quando descobriu, ao invés de se vingar de Poseidon castigou Medusa transformando-a num ser abjeto, tenebroso, com cobras como cabelos e com o poder de transformar em pedra quem olhasse diretamente em seus olhos (para saber um pouco mais clique aqui). Penso que assim como outros tantos mitos gregos, este possibilita reflexões atuais, que eu, livremente, dou o nome de Síndrome de Medusa, e não tem a ver com a análise psicanalítica sobre a castração feminina e nem sobre cabelos quebradiços, mas tem a ver com uma ligação que quero fazer com a violência contra a mulher.

As mulheres que sofrem violência por parte de homens, especialmente física, como estupro por exemplo, têm sua vida marcada para sempre, pois elas acabam por carregar uma culpa que não deveria ser delas. Aqueles que estudam ou convivem com casos como esses sabem que a mulher estuprada sente vergonha pelo que aconteceu e geralmente têm dificuldade para falar sobre a violência que sofreram, sentindo-se, inclusive, intimidadas em denunciar seu agressor. E por que disso? A nossa sociedade é herdeira de uma cultura centrada no homem, uma sociedade que, no geral, acaba por culpar a mulher pela violência que sofreu. "Também, usando esta saia curta, queria o que?"; "Se usasse roupas mais apropriadas não seria violentada!"; "Quem mandou sair sozinha aquela hora!"; "Mulher que bebe como ela deveria saber que isto poderia ocorrer!". Estes são alguns poucos exemplos do que pessoas pensam (ou dizem!!) sobre os estupros que acontecem; ou seja, culpabilizam as próprias vítimas da violência. Por isso que as mulheres violentadas de alguma maneira se sentem culpadas, elas introjetam o que eu estou chamando de Síndrome de Medusa.

A Síndrome de Medusa leva as mulheres agredidas a achar que elas poderiam ter evitado a violência se elas tivessem "se comportado" adequadamente, ou seja, sendo "belas, recatadas e do lar". A Síndrome de Medusa leva as mulheres a baixar sua auto-estima no rodapé; leva as mulheres a se acharem feias, abjetas e, simbolicamente, monstruosas; se sentem não participando mais da sociedade, ou melhor, não merecendo fazer parte do convívio social. A violência sofrida pela mulher acarreta uma violência interna que se eterniza e que praticamente a impede de voltar a ser quem ela era, e isto pelo julgamento que dela é feito, e que ela sabe que as pessoas fazem. A própria Atena, uma deusa mulher, condenou Medusa ao suplício, a julgou como culpada pela violência de Poseidon.

Está na hora de encarar isto de frente para que não só a violência acabe, mas que a Síndrome de Medusa também desapareça. As mulheres precisam continuar mostrando sua força, precisam continuar a se empoderar e exigir respeito ao seu corpo, às suas roupas, à sua liberdade de saírem, de tomarem, se assim quiserem, suas bebidas, e não serem julgadas por isto. É necessário que as mulheres e aqueles que se sentem sensibilizados por esta situação enfrentem a cultura machista, centrada na figura masculina, que faz com que as mulheres violentadas continuem, elas próprias, a se violentarem quotidianamente, por se considerarem culpadas por aquilo que, de fato, não é sua culpa.



segunda-feira, 28 de março de 2016

Crise



Normalmente associamos crise a coisas ruins. Crise na economia, crise na política, crise na escola, crise psicológica, crise financeira, crise existencial... enfim, quase todas as vezes que nos referimos a crise é negativamente. Portanto, evitamos ao máximo entrar em uma crise. Não gostamos e não queremos ter crise e com ela conviver. Mas, a maioria das crises não são desejadas e nem provocadas intencionalmente, mesmo aquelas geradas por uma mente com problemas, pois as crises nunca são intencionais ou racionalmente planejadas. Ou seja, a crise vem sem ser convidada... No entanto, há crises que, na minha opinião, não devem ser evitadas, não devem ser cortadas. Devem, sim, ao contrário, ser vivenciadas, especialmente aquelas pessoais que nos levam a repensar nossas convicções.

A crise, quando é vivenciada e não silenciada, abre um caminho para o autoconhecimento. Caminho difícil, é verdade, com dores, sofrimento e angústia, mas um caminho que se abre e que deve ser trilhado. O problema é que não é um caminho curto, breve, pelo contrário, e isto, num mundo em que a gente quer resolver tudo rapidamente, só torna as coisas mais difíceis. A crise normalmente expõe aquilo que não queremos ver, que nos incomoda, que nos trás angústia, dúvidas e tristeza. Nós queremos sempre ser felizes, sempre nos realizar nas nossas relações, sejam pessoais ou profissionais, e estamos certos de queremos, de buscarmos isto; no entanto, há momentos em que é necessário pararmos um pouco e tentarmos ouvir o nosso íntimo. A crise pode ser justamente isto: a necessidade de ouvir atentamente nosso eu interior e avaliarmos a situação em nos encontramos.

A crise, assim, não deve ser evitada, não deve ser camuflada e não deve ser anestesiada. Deve, sim, na minha opinião, ser encarada. Depende como encaramos estes momentos difíceis, saímos mais inteiros, saímos mais nós mesmos. Pode ser uma caminhada lenta, cansativa, angustiante, mas, depois, o caminho se torna mais denso, mais confiável, porque nós nos tornamos mais fortalecidos. Se a crise vier vamos vivê-la, afinal, não é toa que os gregos, em sua sabedoria, cunharam a frase que foi eternizada por Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo"!, que é tão fácil de entender, mas tão difícil de realizar...



segunda-feira, 21 de março de 2016

A continuidade da discriminação da EaD na UEM


Estou há algum tempo sem escrever no meu blog, pois, como alguns amigos mais próximos devem saber, estou num momento de profundas reflexões pessoais e achei mais conveniente deixar um pouco de publicar minhas opiniões aqui. No entanto, um fato que tomei conhecimento ontem e confirmei hoje não poderia me fazer ficar calado, pois se trata de mais um golpe contra a Educação a Distância (EaD) da UEM, muito semelhante, ou talvez até pior,  ao que aconteceu há dois anos atrás quando da eleição para reitoria da UEM (para quem tiver curiosidade favor acessar o link Educação a Distância da UEM: momento de luto).

Desta vez se trata de uma outra eleição interna da UEM, para direção do CCH (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes), centro que abriga três cursos na modalidade a distância (História, Letras e Pedagogia). A comissão eleitoral, designada pelas portarias 001 e 002/2016-CCH, decidiu, não sei se por unanimidade ou por maioria (o fato é que decidiu) que os alunos dos cursos da modalidade EaD terão, se assim o quiserem, que votar presencialmente no bloco H-12 do campus da UEM. O interessante é que a última eleição para os mesmos cargos, ocorrida em 2012, os alunos da EaD votaram eletronicamente. Até quando, sempre me pergunto, esta modalidade continuará sendo discriminada na UEM? São momentos como este, em que um poder está em jogo, que tal discriminação ocorre sempre. Por que? Será que o medo do voto dos nossos alunos é tão grande assim? Na eleição para reitor em 2014, se aos alunos da EaD tivesse sido dado o direito de votarem eletronicamente por computador (o que já havia ocorrido para a eleição de reitor em 2010), é muito provável que haveria mudança em uma das chapas que chegou ao segundo turno.

A questão institucional que fica é sobre a aceitação ou não, de fato, da EaD em nossa universidade. Os alunos, como todos sabem (e, reitero, todos sabem mesmo!!), fazem o curso onde melhor escolherem e têm no ambiente virtual de aprendizagem MOODLE sua "sala de aula"; eles vão aos polos de apoio presencial obrigatoriamente somente para fazer as provas e/ou para alguma atividade avaliativa; eles moram, em sua maioria, em cidades distantes (de 10 a 100 km) das cidades dos polos, pois, afinal, eles fazem um curso A DISTÂNCIA; eles são alunos regularmente matriculados na UEM, com RA e todos os direitos e obrigações que qualquer aluno tem; os cursos que eles fazem são lotados em seus respectivos departamentos, com professores coordenadores que, como tal, fazem parte dos conselhos CI-CCH e CEP-UEM; os alunos, como quaisquer outros, votam para os cargos eletivos na UEM. Assim, para que eles fossem estimulados (realmente estimulados!!) para participar da eleição para direção do CCH dever-se-ia reconhecer suas características próprias de alunos da modalidade EaD, por meio do voto eletrônico, o qual (insisto) já foi utilizado em várias eleições internas da UEM, inclusive para reitor e direção do CCH. Por que, então, determinar que eles devem votar PRESENCIALMENTE no campus da UEM? Alunos que moram a 30, 40, 50, 100, 200, 300, e até 500 Km de Maringá virão votar aqui? Claro que não!!

Diante de tal fato (absurdo em sua essência), podemos acreditar que acabou a discriminação da EaD na UEM? Infelizmente, friso bem, infelizmente, não!! Alguém já disse, acertadamente, que a melhor e mais apropriada forma de se praticar a igualdade, de se favorecer a isonomia, é tratar de forma diferente os diferentes, e não tratar de forma igual aqueles que não o são, pois assim só se favorece uma parte, a parte dos iguais. Continuaremos denunciando toda discriminação que nossos alunos da modalidade EaD sofrem, até porque, é a própria modalidade que se está atacando.

Ah sim, para terminar, lamento muito por aqueles que, num impulso político pragmático, festejaram, mesmo que discretamente, o alijamento ao voto que os alunos da EaD sofreram no CCH.