domingo, 20 de maio de 2012

Ser e não ser

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Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração." (Drummond)



Confesso que:
Não sei rimar, 
e, quando tento, pobres as rimas serão sempre
Não sou poeta,
e, quando, timidamente, tento, só o confirma 
Não sou escritor, 
a preguiça me domina e a grandeza dos que leio me intimida
Não sou artista,
minha formação, meio escolástica e meio cartesiana, me limita.

Sou, sim, 
alguém que quer ser um livre pensador
Sou, sim,
um escrivinhador dos meus pensamentos
Sou, sim,
um professor, por gosto de passar para os outros o pouco que sei
Sou, sim,
alguém que é inconformado com as explicações simples,
num mundo que é tão complexo quanto complexo é o ser humano.

Portanto, não sou crítico daquilo que não pretendo ser
Sou crítico, sim, do que me proponho
Elogios são bem vindos, mas não escrevo para isso
Críticas são bem vindas, aprendi a conviver com elas e as desejar
Se incomodo, melhor
Se contribuo com algo, melhor ainda
Se não for nada disso, continuarei do mesmo jeito.

Eu sou eu,
e mais ninguém!!!!


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Disfarce

(ou porque estou demorando para postar coisas novas)


Tanta coisa prá escrever
Tantas idéias por compartilhar
Tanta polêmica por levantar
Tanto a defrontar

Mais de mim, para escrever
Mais do que penso,  por compartilhar
Mais do que concebo, por levantar
Mais do que nego, para defrontar

Mas,
Falta o que escrever
Falta vontade de compartilhar
Falta entusiasmo para levantar
Falta força para defrontar

Então,
É hora de, apenas, um
Disfarce!!

domingo, 6 de maio de 2012

Dois lados da mesma moeda: Capitão James Kirk, liderança e comando

Ao assistir novamente a versão original de Jornada nas Estrelas, produzida entre 1966 (por coincidência, ano que nasci) e 1969, mas que teve muito sucesso na década de 1970, me deparei com um episódio muito interessante e, como metáfora, muito atual. Trata-se do quinto episódio da primeira temporada intitulado The Enemy Within, algo como Inimigo Íntimo. Na história, durante o teletransporte (aliás, algo que eu continuo sonhando em presenciar...) do capitão James T. Kirk, após uma falha no sistema, foi gerada uma cópia sua, mas com um grave problema: a versão criada era do seu lado mal, do seu lado egoísta, cruel, racional ao extremo. O mais interessante é que quanto mais a versão má do capitão Kirk se desenvolvia, mais a versão original perdia sua capacidade de liderar e de tomar decisões difíceis no comando da nave Enterprise. Na continuidade da história o Senhor Spock (lendário meio humano e meio vulcano por sua capacidade lógica e racional) descobre que as duas versões de Kirk eram, na verdade, os dois lados dele mesmo, e que por detrás da gentileza que era sua característica, o seu lado mau era o que permitia que ele tomasse decisões rápidas, difíceis e impessoais. E, mais ainda, que se a cópia fosse morta, ele também morreria, pois ele não conseguiria viver somente com metade de sua personalidade.
Bem, creio que a história pode ser usada como uma metáfora bem interessante para nossa vida em geral. Tentarei explicar. Há pessoas que parece que têm uma habilidade natural para a liderança, seja no âmbito familiar, de amizade, de trabalho etc. Pessoas com liderança geralmente acabam desenvolvendo uma habilidade política e passam a ocupar cargos ou funções de chefia, o que é muito natural. Ocupar posições de comando representa o exercício da autoridade e, por consequência, ter os bônus e os ônus de tal situação. Pois bem, é aí que eu acho que o episódio pode nos ajudar. 

Exercer o comando de algo, representa, geralmente, o comando de pessoas, representa tomar decisões as mais das vezes impessoais, representa  desagradar portanto. E está aí o que de mais difícil há no exercício da autoridade, pois agradar as pessoas atendendo sempre o que elas pedem é fácil; ser respeitado pelo fato de que ninguém fica decepcionado com suas decisões é igualmente fácil; ser sempre simpático e não colocar os limites que devem ser respeitados numa relação em que um exerce algum tipo de comando sobre alguém é, de novo, fácil. O difícil é aguentar os ônus das decisões, das chamadas de atenção, de distinguir amizade e camaradagem para ter que definir as coisas de forma impessoal.

Voltando à metáfora, usar somente o lado bonzinho para exercer o comando, ter autoridade, é correr o risco de enfraquer-se na função, é correr o risco de se tornar marionete nas mãos de outros. O lado "mau" nos completa, nos faz inteiros, mesmo que, por vezes, as pessoas nos vejam como cruéis, desumanos, autoritários etc. Mas é assim que os principais líderes construíram seus comandos e foram respeitados. O comando é para gente forte, que tem coragem, inclusive, de assumir seu lado extremamente racional; claro que ser líder com humanidade, ser democrático, ser atencioso é sempre preferível (assim como o capitão Kirk o era), mas ser apenas um líder bacana e legal, isso é para fracos.

Ah (1), qualquer semelhança com o exercício da autoridade paterna, materna e docente, não é mera coincidência!!!

Ah (2), acho que cuspi para cima, pois a sensação que me ocorre é que estou distante do líder que descrevi como o mais difícil e, portanto, o melhor...

terça-feira, 1 de maio de 2012

Professor: vocação ou profissão??


Há alguns anos tenho me debatido (e expressado, sempre que possível) com a idéia muito corrente de que o trabalho de professor está ligado à uma vocação específica. Para mim, aí está uma das chaves para se compreender as razões da desvalorização do trabalho docente. No facebook, por exemplo, há um sem número de postagens mostrando que a remuneração é baixa, o desrespeito cada vez mais crescente, inclusive com piadinhas, na minha opinião, sem graça nenhuma, como uma em que o assaltante aborda uma professora, fica com pena ao saber, e acaba por dar dinheiro, ao invés de roubar, à pessoa. Lamentável tudo isso!! Parece haver, por trás das piadinhas peçonhentas, uma certa naturalização de que o trabalho docente é de segunda categoria na sociedade. Horrível isso tudo!!

Mas, mais do que constatar (o que é feito mais do que à fartura) a desvalorização do trabalho docente, especialmente aquele ligado à educação básica (pois na educação superior, apesar de tudo, a situação não é tão lamentável assim...), devemos investigar as suas razões. Como são várias as causas, me detenho aqui em uma, que é, digamos, intrínseca aos próprios professores, isto é, algo que eles próprios (nós!!) depõem contra si: professor por vocação!!

Vocação está ligado na nossa cultura não só às aptidões para algo, mas a uma finalidade quase que religiosa. Quem está vocacionado para algo o está para uma missão, para um trabalho de salvação, para uma espécie de sacerdócio e, portanto, se compromete, interiormente, com uma atividade em que pouco importa a remuneração, mas, sim, a uma ação que diz respeito à satisfação mística de contribuir para um mundo melhor. Esta noção está presente, por exemplo, em vários filmes, como Escritores da Liberdade, Ao Mestre com Carinho, Sorriso de Monalisa (apenas para citar alguns), pois a sensação que temos é o que os protagonistas conseguiram educar seus complicados alunos porque, diferente de seus colegas (que sempre estão presentes para exibir o contraponto), eles demonstram ter vocação para a docência. E a vocação se completa, ou se traduz na verdade, na concepção de que cabe à escola educar, no sentido mais amplo do termo, as crianças e jovens; não basta, simplesmente, instruir, ou seja, não é suficiente apenas passar para o aluno o conteúdo das matérias; cabe à escola transformar a criança em cidadão e, com isso, acaba sendo repassado à escola o papel que seria da família e de outras instituições da sociedade.

Um tanto desanimado, confesso, eu termino esta breve reflexão afirmando que enquanto os professores tratarem sua profissão como vocação, passando a ser psicólogos, nutricionistas, padres/pastores, assistentes sociais etc., deixando de se preocupar com o aprendizado contínuo daquilo que se refere à sua função, estaremos longe de ver a sociedade e, especialmente os governantes, respeitarem o professor como profissional e, a partir daí, como talvez o profissional mais importante para a sociedade.