domingo, 29 de julho de 2012

Autismos


Segundo a definição do site Ciências Médicas, o autismo é definido como  "uma perturbação psicológica grave caracterizada pelo facto de toda a vivência do indivíduo estar centrada nele mesmo, apresentando uma indiferença aparente para com a realidade que o rodeia, observando-se com maior frequência em crianças com idade inferior a três anos de idade." Mas, não é sobre o autismo como doença que quero tratar aqui, mas do autismo que chamo de simbólico e, portanto, de vários tipos de autismos. Dentre eles quero destacar o político, o intelectual e o emocional.

O autista no sentido político é aquela pessoa que tem algum cargo ou função de relevância e que não tem poder de autoavaliação de sua atuação. As coisas podem estar desmoronando ao seu redor, a insatisfação daqueles que o rodeiam é crescente, as críticas à sua gestão são generalizadas, mas ele consegue dar ouvidos apenas para os que só querem saber de "puxar o saco", ou aqueles que o elogiam por meras circunstâncias políticas. O político deste tipo realmente só consegue acreditar nos elogios e, portanto, vive uma realidade só sua, tem uma avaliação da situação que é só sua e que, portanto, não interage com a realidade caótica que está ao seu redor. Este tipo de político, arrisco a afirmar, é o que há de mais nefasto para qualquer instituição.

O autismo intelectual é, creio, uma das propriedades do arrogante intelectual. Este tipo de pessoa só se interessa, na verdade, por aquelas coisas que a ele dizem respeito e, especialmente, pelos elogios que lhe fazem. As críticas são avaliadas como coisas de gente inferior que não está no mesmo patamar dele, aliás, a rigor, ninguém está no seu patamar e, por isso, também cria um mundo só para si, em que ele consegue interagir de igual para igual apenas com seu próprio ego. Um profissional da educação com tais características é, arrisco novamente a afirmar, algo tremendamente pernicioso.

E o autismo emocional é característico da pessoa que não consegue perceber que a relação por ela vivida com outra pessoa só faz sentido para ela mesma, não importando, de fato, se a outra pessoa está presente de corpo e alma na relação. Para o autista emocional o seu amor é suficiente para os dois e, portanto, a relação deve continuar, a qualquer custo. Há, nesta forma de autismo, uma relação de poder e de submissão ao mesmo tempo, por mais contraditório que possa parecer. A crise para o autista emocional é sempre superável pois, de fato, ela nem existe, pois a realidade que importa é somente aquela criada pela pessoa.

O autismo, como fenômeno biológico, é uma doença visível, que requer enorme cuidado e atenção por parte de pais e de profissionais. Já os autismos simbólicos são mais difíceis de se detectar e, portanto, muito mais complicados de se tratar, pois eles vêm travestidos, em muitos casos, como "atenção", "competência", "amor" e "dedicação". Engodos difíceis de enfrentar...




domingo, 22 de julho de 2012

HOSTEL

(Este post é dedicado à Ariele, à Luciana, à Raquel e ao Gilmar, companheiros maravilhosos de viagem...)


Quando planejávamos nossa viagem para Portugal eu deixei por conta dos "meninos" a escolha e reserva dos hotéis em Lisboa e Coimbra. Me comunicaram, depois, que em Lisboa ficaríamos em hostels (para quem não sabe, é o nome moderno para os antigos albergues da juventude). Confesso, só agora, que fiquei um tanto preocupado... Me imaginei num quarto com mais quatro ou cinco pessoas, usando banheiro coletivo, com as manias que cultivei ao longo de 45 anos de vida, com meus hábitos pontuais, e confesso que fiquei quase apavorado. Mas, como havia me comprometido com eles, resolvi entrar no clima e, partilho agora, foi muito legal a experiência.

É preciso saber viver em coletividade, cujas condições são favoráveis muito mais aos jovens. Aliás, me senti sempre o tiosão da parada nos hostels, pois a média de idade me pareceu em torno dos vinte anos. Mas, como já afirmei, foi uma experiência muito interessante. Alguns requisitos se tornaram necessários: cumplicidade, respeito, nenhuma vaidade, mínimo de organização, dentre outros. Não sei ao certo se o fato de ficarmos juntos nos hostels favoreceu a nossa convivência ou se a nossa convivência fraternal favoreceu o clima legal nos hostels, mas o fato é que não tivemos um problema sequer, e olha que estávamos em cinco, o que, por si só, já é digno de nota.

O fato de ficarmos juntos quase o tempo todo, com exceção feita ao hotel (tenebroso!!) em Coimbra, contribuiu para que ficássemos mais ligados, e, sem dúvida, os hostels contribuíram para isto. O respeito e a dedicação que temos reciprocamente entre nós só fez aumentar e, para além dos elos acadêmicos que nos ligam, o que foi reforçada com liames muito especiais de carinho foi nossa amizade.

Obrigado a vocês, meus alunos, orientandos e, acima de tudo, amigos, por me propiciarem uma experiência que eu, no algo dos meus 46 anos, pensei que não desfrutaria mais. Valeu!!!



quinta-feira, 19 de julho de 2012

Portugal

Emoção. Talvez esta seja a palavra que melhor defina minha viagem para Portugal... Estudo a sociedade lusitana dos séculos XVI, XVII e XVIII desde 2001 e só agora tive a oportunidade de conhecer a Terrinha. De certa forma, foi como se já conhecesse muita coisa pessoalmente, de tanto ler sobre, de tanto ver imagens e de tanto acompanhar a "fala" de importantes atores históricos. Lisboa, Sintra e Coimbra me pareceram tão próximas, tão estranhamente próximas, que parece que eu, na verdade, revi muita coisa, ao invés de ver pela primeira vez...

Uma das primeira imagens foi a do Rio Tejo, tão importante para nós brasileiros como a costa baiana, pois se na segunda os portugueses aqui chegaram pela primeira vez, do primeiro eles partiram. Tentei imaginar as naus e caravelas lusitanas zarpando do Tejo para aventura por terras d'além mar, descobrindo novos lugares, novas rotas. Como estava escrito num grande mural no magnífico Portugal dos Pequenitos, em Coimbra, "E se mais mundo houvera, lá chegara"... chegaram a vários lugares, dentre eles, às terras tupiniquins. Grandes homens, grandes feitos... A Torre de Belém, no mesmo sítio, que guardava a cidade dos inimigos, é um monumento nem tão grande, mas de um significado impressionante, pois ao passarem pela Torre, logo chegavam as naus ao imenso mar oceano, que foi "domado" por homens valentes...

Respirar os ares mais frescos de Sintra foi como acompanhar a família real portuguesa subindo para o palácio no quente verão lusitano. Andar pela ruas tortuosas hoje pavimentadas com cimento me fez imaginar as pessoas, os coches, os cavalos andando pelas ruas batidas de terra ou pavimentadas por pedras irregulares. Pena que um incêndio no parque não nos possibilitou conhecer o Castelo dos Mouros...

Coimbra, ah Coimbra!! Subir as suas ladeiras para, no cume da colina, conhecer de perto a Universidade mais antiga de Portugal foi uma sensação indescritível. Um novo amigo foi feito, destes que os deuses colocam na nossa vida e se encaixam com perfeição. Valeu Mateus pela acolhida mais do que carinhosa; um maringaense que já é quase um conimbricense e, por isso, pode nos apresentar a cidade de forma muito mais serena e, ao mesmo tempo, empolgante. D. Dinis, D. João III, reis de Portugal, cujas simples estátuas parece que sussuravam ao meu ouvido... E a Portugal dos Pequenitos? Uma das coisas mais belas que vi; um sentido de preservação do passado de forma alegre, quase que infantil, mas que faz dos visitantes, a maioria de portuguesinhos, integrantes da história que sempre é viva...

E as pessoas? Tive o prazer de conversar com muitas delas, tanto em Lisboa, como em Sintra e Coimbra, pessoas do povo e, com exceções que somente confirmaram a regra, são  atenciosas, cultas (jovens e velhos) e que gostam muito de nós brasileiros. Já fazia muito sentido antes, mas agora, depois de visitar Portugal, faz um sentido muito mais especial as palavras de um dos maiores lusitanos, Fernando Pessoa:

"Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu"





sábado, 7 de julho de 2012

Eu não acredito






Eu não acredito em:
rápidas conversões religiosas e políticas,
pessoas sempre sorridentes,
humildade excessiva,
arrogância em pessoas jovens,
luto sem dor e tempo,
(como disse Caetano) em que não bebe.




Pois,

conversões rápidas e ardorosoas podem representar que o que se acreditava até então era, de fato, muito superficial;

quem sorri o tempo todo é por engano,  por alienação, ou por desespero;

quem se diz humilde está pedindo louros, os quais, são incompatíveis com a humildade;

quem acha que sabe tudo quando se é, ainda, um adulto jovem,  pode estar escondendo medos e ignorância;

a superação e aceitação só vem com o tempo, depois da indignação e da dor;

quem não bebe não se solta e se aproveita da língua solta de quem bebe...