domingo, 23 de dezembro de 2012

Natal e Ano Novo


Meus leitores, escrevo para desejar a todos vocês um Feliz Natal e um ótimo 2015!!

O Natal que comemoramos todo 25 de dezembro é uma festa cristã, mas cada vez mais as pessoas pensam menos no seu significado histórico cultural e mais no sentido comercial. Penso que para além da óbvia religiosidade que marca o natal, ele pode ser encarado como uma espécie de renovação, já que todo ano nós comemoramos esta data. Época de renovar esperanças religiosas para alguns, relembrando o nascimento de Jesus Cristo, época, para outros, de trocar presentes, incentivados pela figura do Papai Noel (figura, aliás, que a sociedade consumista agradece imensamente), o natal emociona a todos. Mas, como ia dizendo, acho que todos podemos ver esse dia especial como um momento de renovação daquilo que de melhor nós somos, e hora de compartilhar essa renovação com nossas famílias e amigos. Presentes são (ou deveriam ser) homenagens, agradecimentos aos outros por partilharem de nossa vida.

A passagem de ano, por sua vez, sempre me passa a impressão de que podemos mudar alguma coisa em nós. Mais do que renovação, é época de invenção, época de tentarmos ser melhores do que somos. Por isso é muito comum fazermos promessas de mudanças pessoais. Porém, mais do que isso, acho que é tempo de refletir sobre o que foi o ano que passou e o que poderá ser no que está começando. Por isso, a passagem de ano é de comemoração também. Sou da opinião (concordando com House) de que as pessoas não mudam o que são na sua essência, não mudam o que a personalidade delas as definem, mas podemos mudar algumas atitudes, alguns ideais, enfrentar algumas coisas. Podemos tentar projetar nossa vida de forma que ela valha mais a pena ser vivida.

Desta forma, a todos os meus leitores, família, amigos (velhos e novos), colegas, conhecidos, pessoas que passaram a fazer parte da minha vida neste ano, pessoas que, por algum motivo, se afastaram de mim este ano, pessoas que se tornaram mais íntimas, enfim, especialmente a todos aqueles que fizeram parte, mesmo que pequena, da minha vida neste 2014, desejo que tenham um ótimo Natal, com presentes, mas, especialmente, com presenças, e um 2015 repleto de saúde, trabalho, dinheiro, de bons projetos e com ótimas oportunidades de se tornarem ainda melhores.

E, para terminar, deixo a vocês um poema de Fernando Pessoa que ilustra o tão esperado período de férias (menos para meus orientados que vão passar as férias terminando seus trabalhos, é claro... kkkk):



LIBERDADE


Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.



O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...



Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.



Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!



Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.



O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Fredi



Se a minha memória estiver em dia, conheci o Fredi Teles de Silva, nosso popular Fredão, em 1992. Coincidência ou não, ele nasceu em 1946, tinha 46 anos quando o conheci e hoje eu é que tenho 46 anos. O conheci em algum torneio de futebol que, prá variar, ele é que organizara. Dali em diante, o Fredão passou a fazer parte da minha vida, pois nos encontrávamos toda semana para nosso bate bola, depois a cervejinha e o bate-papo descontraído. Nós, os boleiros da UEM, brincávamos sempre com ele que o que para nós era divertimento para ele era profissão, pois o Fredi era professor de Futebol no curso de Educação Física da UEM.

Foi o idealizador do torneio de futebol Intercentros (hoje torneio Gentil José Vidotti, homenagem a outro baita companheiro que nos deixou há três anos e três meses atrás). Pela sua habilidade na organização dos campeonatos e pela sua busca de conciliação dos interesses e evitar os conflitos, pois para ele futebol sempre foi sinônimo de diversão e não de agressão, nós o chamamos (maldosamente, diga-se de passagem) de Caixa D’Água, em alusão a um dirigente do futebol carioca que sempre intevira nos resultados dos jogos. Para se ter uma ideia da habilidade que o Fredão tinha neste quesito, teve um torneio Intercentros, ocorrido talvez em 1998 (mas pode ter sido em outro ano) em que nós do CCH (Centro de Ciências Humanas) disputamos a final com o CCS (Centro de Ciências da Saúde), justamente o time em que o Fredi jogava. Depois de um empate no tempo normal (2x2 eu acho) o campeonato deveria ser decidido nos pênaltis, como sempre acontece. No entanto, o nosso Caixa D’Água foi aos times e disse para um que o outro time não queria a disputa por pênaltis, desencorajando a rivalidade e a competitividade extremas. O problema ocorreu depois, pois quando estávamos num churrasco de encerramento do torneio ficamos sabendo que, na verdade, os dois times queriam decidir pelos tiros livres na marca da cal, e ficamos sabendo que fomos todos enganados pelo Fredi. Rimos muito daquilo e sempre lembramos desse fato. Talvez ele sintetize um pouco do que foi nosso Fredão para todos nós: um amante do futebol, mas um amante maior dos amigos, os quais ele queria sempre vê-los unidos e se divertindo.

O Fredi ocupou distintos cargos na UEM. Terminou seu mestrado este ano e já se preparava para ingressar no doutorado, fato que emocionava a todos, pois depois de certa idade ele resolvera continuar sua qualificação na academia. Sempre envolvido em política, tendo sido vereador em Jandaia do Sul em sua mocidade, participamos de campanhas para reitoria da UEM no mesmo lado e em lados distintos. Mas, as diferenças políticas nunca se tornaram obstáculos para a convivência fraternal que sempre tivemos. E, nesse sentido, o campo de futebol, com as atividades lúdico-etílicas posteriores, sempre favoreceram o fato de que o que nos unia era nosso amor pela UEM e o carinho que sempre nutrimos um pelo outro.

Assim como o Gentil, o nosso Fredão morreu (dia 13/12, no final da tarde) fazendo aquilo que mais gostava, jogando bola. Nos deixou como um exemplo a ser seguido e, com isso, com uma grande responsabilidade: honrar sua memória fazendo dos nossos jogos de futebol momentos tão-somente de divertimento e de prazer. Que assim consigamos, especialmente eu... valeu Fredi e obrigado por tudo!!!


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Apaixonar-se



Recebi uma linda e inesperada homenagem dos meus alunos do curso de Pedagogia hoje. Foi emocionante, especialmente se levarmos em conta que este segundo semestre foi muito prejudicado por vários "eventos" que ocorreram as quartas-feiras. Fiquei pensando cá com meus botões o que será que mais marcou meus alunos neste ano de filosofia, filósofos, questionamentos, reflexões, crises... talvez tenha sido a paixão que demonstro por aquilo que eu faço. Então, se for isso, quero desejar a todos meus alunos, meus amigos, meus conhecidos, meus leitores... apaixonem-se!!

Tenho várias paixões: mitologia, Grécia antiga, filosofia grega, cristianismo primitivo, literatura, jesuítas, LEIP, Marx, Freud... enfim, tenho o coração grande que permite me apaixonar por várias coisas e pessoas ao mesmo tempo. E quando a gente se apaixona a gente vive intensamente a paixão; há vibração, entusiasmo, dedicação, diálogo, aprendizagem... enfim, passa a existir uma relação viva, forte, de coração e de razão, mesmo com aqueles que não existem mais de forma corpórea. Quando temos uma relação apaixonada com, por exemplo, Platão ou Aristóteles, nos permitimos ouvi-los com mais atenção, conversar com eles e, especialmente, aprender, por meio deles, sobre a vida, sobre a sociedade e sobre nós mesmos.

Meus alunos (os que são, os que foram e os que serão) se permitam apaixonar-se por aquilo e por aqueles que vocês encontraram e encontrarão pela frente. Vivam com intensidade a vida acadêmica; aprendam, ensinem, dialoguem, se inquietem, critiquem, elogiem, entrem em crise, enfim, vivam no sentido mais amplo que a palavra permite. Não se contentem com pouco, procurem mais; encontrem, percam (especialmente o medo e a vergonha),  exijam, corram atrás; não passem pelo curso,  apenas, mas deixem que o curso passe por vocês, se permitam transformar-se, mesmo que, na essência, permaneçam como são.

A paixão é que nos move, nos impulsiona, nos desaloja... Se a paixão for pouco científica, me permito afirmar: que se dane a ciência e que viva a vida!!



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Trans(enforma)ação - Haicai(?)

                                                                           

Como na natureza
tudo flui, mas não muda
assim, a vida.

domingo, 25 de novembro de 2012

Cisne Negro


(escrevi este poema há algum tempo, depois que assisti o filme Cisne Negro. Relutei muito em colocar no blog por achar que se trata de algo, digamos, de quem deseja, mas está muito longe, de escrever, de fato, um poema profundo. Resolvi deixar que os meus leitores julguem...)




Meu pobre e querido Cisne Negro!
Predestinado foste para isso
Desde que teu bico e tuas garras
Tiveram que ser afiadas nos ossos de seus pais
                                                                   (e nos de sua mãe mais)
Desde há tempos vive assim
Entregando-se com sofreguidão
para te encontrares nos braços alheios
                                                     (que nunca lhes são suficientes)

Meu pobre e querido Cisne Negro!
Vives com intensidade as coisas em que é centro
Alimentas tua vaidade pela admiração que causas
Em tudo a tua volta em torno de ti
                                              (os homens e as mulheres que conquistas)
Tua arma é a sedução
Tua apresentação é a simpatia
Teus dotes são físicos
                                (e, também, intelectuais)

Meu pobre e querido Cisne Negro!
Não consegues ter parada
Por mais que não queiras é impulsionado
Tua arma é a sedução
                               (os outros alimentam tua vaidade)
Te apaixonadas com intensidade
Te entregas com volúpia
Te mostras inteiro
                         (mas não se sentes inteiro)

Meu pobre Cisne Negro!
Buscas a recíproca do apaixonado
Para aumentares teu amor-próprio
Tua arma é a sedução
                             (teu estômago é a tua vaidade)
Tu és profundo, não raso
Tu és complexo, não simples
Tu és belo, sorriso farto, olhar penetrante
                                                            (armas perfeitas para te manteres como és)

Meu pobre e querido Cisne Negro!
Ama e odeia com paixão
És amado e odiado com paixão
És admirado e até seguido
                                     (teu poder é a sedução)
És obstinado com o que queres
Estabeleces planos, táticas e estratégias
Fazes das tuas idéias as idéias dos outros
                                                      (seduzes, para alimentares a vaidade)

Meu pobre e querido Cisne Negro!
Poucos são aqueles que acreditas saberem mais da vida do que ti
Poucos são os que, a teus olhos, têm mais coragem que ti
Arrogas, portanto, ser superior
                                          (por mais que da humildade vistas a capa)
Tens orgulho de seres tão inteligente
Tens orgulho de seres tão bonito e decidido
Tens orgulho de seres líder natural
                                               (acabas por te tornares orgulhoso)

Meu pobre e querido Cisne Negro!
Deves ser poeta de alto calibre
Deves ser poeta porque consegues entender a alma humana
Consegues entender a alma humana porque partilha suas contradições
                                                                        (a poesia seria para ti um espelho)
Tu és da cepa de Carmem
De Madame Butterfly, de Marguerite
De Sherazade e de Helena
                                      (encanto, sedução, paixão e tragédia)
  
Meu pobre e querido Cisne Negro
Não consegues ser branco por mais que queiras
Não consegue ser simples por mais que desejes
Não consegue ser fiel por mais que te esforçes
                                                                (estás condenado a seres o que tu és,
                                                                 um pobre Cisne Negro!!)

Mas se te consola, meu querido Cisne Negro!
Nem tudo de que tu és te é consciente
Estás preso a uma escolha que fizestes há longo tempo
Às vezes te é clara, outras tantas obscura
                                                            (de se trocar a brancura de tuas penas de infância
                                                             pelas negras plumas que hoje carregas).


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Palmeiras e a vida

Como a maioria dos meus leitores sabem sou palmeirense de coração. Mas, torcer para o Palmeiras ultimamente significa mais frustar-se do que alegrar-se a cada campeonato, especialmente no brasileirão deste ano em que novamente meu time será rebaixado novamente para jogar a segunda divisão do futebol brasileiro. Mas, como escrevi no meu blog outro dia, penso que talvez a única coisa que é realmente permanente na nossa vida é o time que torcemos. Explico: mudamos de partido político, mudamos de religião, mudamos de ideologia, mudamos de parceiros, corremos o risco de nossos amigos e filhos nos ignorarem, mudamos até de sexo, mas dificilmente mudamos de torcer para o nosso time depois que tal paixão entra na nossa vida. Nos tempos de alta e nos tempos de baixa continuamos amando e odiando o time do coração. Portanto, mesmo com raiva e desgosto, continuarei torcendo pelo Palmeiras em 2013, mesmo não estando mais na elite do esporte bretão nacional.

Mas, fico pensando também que todos os times grandes que caíram ultimamente para a segunda divisão  (Corinthians, Botafogo, Grêmio, Atlético Mineiro, Vasco e o próprio Palmeiras) quando voltaram para a elite, o fizeram de forma diferente, mais fortes, com a torcida mais animada, com mais investimentos e, geralmente, ganhando outros títulos. Ou seja, descem ao fundo do poço, mas retornam à superfície diferentes, mais fortalecidos. Que assim seja com o Palmeiras... novamente... Mas, porque escrever sobre futebol se a tônica de meu blog é um tanto diferente?? Porque penso que se pode fazer uma analogia para entre este fato e a vida.

Às vezes estamos jogando tão mal o campeonato da vida que acabamos por ser rebaixados para experiências menos importantes. Saímos da superfície da vida e caímos num poço. Entramos em uma crise tão profunda que deixamos de lado a criatividade, a pulsação da vida, o enfrentamento dos problemas, a respiração de  novas expectativas , o planejamento de novos desafios; deixamos a vida no "piloto automático" e, sem competitividade, vamos para a segunda divisão da vida. Caímos!! Mas, tal como os grandes times, podemos usar a experiência (as vezes necessárias) da crise para sair do poço mais fortalecidos, mais valorizados, mais competentes para o jogo da vida.  A vida realmente é um jogo, e, portanto, merece ser jogada com estilo!!

O problema hoje é que o Palmeiras vai descer pela segunda vez, e vai ter que se levantar novamente. Na vida,  às vezes acabamos por cair mais de uma vez e, teimosamente devemos nos levantar sempre.... quantas vezes for preciso!!


domingo, 4 de novembro de 2012

Ciranda!!



Viver,
Curtir, amar, jogar
Arriscar, ganhar, perder
Decidir, parar, voltar

Viver,
Chegar, conhecer, dialogar
Escutar, falar, compreender
Esperar, pedir, calar

Viver,
Acalentar, sonhar, cantar
Crer, desiludir, querer
Caminhar, correr, parar

Viver,
Brigar, acalmar, beijar
Prometer, quebrar, colar
Começar, voar, morrer!!!


domingo, 28 de outubro de 2012

Política (depois das eleições)


As eleições municipais acabaram hoje. De certa forma a vida volta ao normal, pelo menos a vida de muitas pessoas, porque para algumas o normal da vida é a agitação política. Confesso que os resultados me deixaram um tanto melancólico, pois apesar de nunca ter me filiado, a imensa maioria dos meus votos até hoje, inclusive alguns dos primeiros, foram para candidatos do PT. E, apesar da vitória marcante do Fernando Haddad (o qual, para mim, deveria ser o próximo candidato a presidente da República pelo que fez no Ministério da Educação), aqui no Paraná a única vitória a ser comemorada é de um ex-tucano... Mas, tento manter uma certa distância emocional para tentar refletir de forma mais isenta.

Uma primeira coisa que gostaria de anotar é que as campanhas da televisão mostraram uma certa homogeneidade nas propostas dos candidatos, independente do partido a que pertença. Todos prometeram que vão resolver os problemas da saúde, da educação, do trânsito, das drogas, do lixo etc. E muitas das propostas eram praticamente iguais, diferenciando-se pelas siglas que os candidatos deram aos seus projetos. Como não havia diferenças substanciais nas propostas, o convencimento dos eleitores passou pela confiança que supostamente passavam como administradores capazes, honestos e sensíveis na condução da coisa pública. E nisso também acabou por resultar numa certa equalização. O que restou: o peso dos apoiadores, a experiência pessoal, o visual... Ou seja, estamos em uma época em que parece não haver mais ideologia, importando, sim, chegar ao poder, mesmo que, para isso, a campanha esconda certos símbolos que marcam uma determinada ideologia. Esquerda e direita parecem não mais importar para o público, até porque,  a ideologia parece pouco importar para os dirigentes das campanhas, para os marqueteiros de plantão. Quando os partidos não passam de siglas de nomes bonitos o personalismo se torna a marca da campanha.

Impossível não lembrar da democracia eleitoral dos Estados Unidos, o qual, sempre insisto, tem muito a nos ensinar. Voto facultativo; empresas, inclusive de comunicação, escolhendo e defendendo os seus candidatos; mas, o que é mais significativo, dois grandes partidos com ideologias claras, opostas, cujos candidatos têm dever com seus respectivos programas. Creio que é isso que falta, ainda, no Brasil. Acho mesmo que aqui o eleitor é tutelado pelo Estado, e, portanto, a falta de uma maturidade eleitoral gera campanhas muito mais personalizadas do que ideológicas. Claro que as pessoas são importantes, claro que um candidato tem que ter carisma, competência e seriedade, mas tornar essas qualidades independentes de uma ideologia é, na minha visão, problemático.

Finalmente, falando ainda das campanhas, é impressionante como quanto mais quente for a campanha, mais um certo maniqueísmo toma conta dos militantes e simpatizantes das candidaturas. Discussões, convencimentos, argumentos são normais, mas o problema são as agressões, pois algumas delas acabam se estendendo para depois da eleição. As agressões, as intolerâncias tem como base o princípio de que um está a favor do bem e o outro está com o mal; um faz política com o coração e o outro com o bolso, e por aí vai... Penso que a política deve ser feita com o coração sim, mas não com o fígado, afinal, como já disse alguém, em política a água sobre a cachoeira....


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Professor Osmar

(Este texto foi feito a pedido da comissão organizadora da Semana da Pedagogia da UEM - 2012 - para homenagear o professor Osmar José Klock, por ocasião de sua aposentadoria)




Quem não se lembra de ter entrado em alguma sala de aula do curso de Pedagogia e sentido um cheiro forte de álcool, ter perguntado, um tanto preocupado, o motivo daquele odor, e ter descoberto que se tratava de uma prova rodada no mimeografo, e isso em plena época das impressoras? Quem não se lembra de algum relato feito em reunião departamental, datilografado em máquina escrever, e isso em um tempo em que o computador já era algo comum em nossas vidas? Sim, estou falando do prof. Osmar José Klock e sua rebeldia contra a massificação da tecnologia. Talvez o mimeografo e a máquina de escrever tenham sido, para ele, duas metáforas de valores que eram cultivados naturalmente pela sociedade e que não deveriam ser perdidos.

Osmar sempre foi muito respeitado pelos alunos e pelos colegas de trabalho, por aquilo que deveria ser absolutamente natural, ou seja, pelo seu compromisso com a ciência e com a universidade pública. Seriedade, pontualidade, camaradagem, solidariedade foram as marcas do profissional Osmar, pois são atributos da pessoa Osmar. Talvez ele seja um dos últimos de uma era do curso de Pedagogia daqueles que o construíram, da Era dos Edificadores... ele se junta ao Balduíno, ao Jean, à Lízia, à Guara, à Zélia, dentre outros tantos; ele se junta a todos aqueles que devem ser sempre homenageados por nós que, em meio a competências, conflitos, objetivos em comum, continuamos seu trabalho.

Um sinal de respeito em muitas culturas é uma pessoa se curvar diante de outra em virtude da competência e do que ela representa. Professor Osmar José Klock, neste momento o que podemos fazer de mais significativo é fazer a nossa reverência a você. Obrigado!!!!


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Fio de Ariadne

Conta o mito que Teseu, príncipe de Atenas, se colocou como voluntário para ir até a ilha de Creta, onde jovens atenienses eram entregues a um terrível ser, metade touro e metade homem, o Minotauro, que morava num imenso e intrincado labirinto, que os devoraria, compondo uma espécie de rito religioso. Ariadne, jovem princesa cretense, filha do rei Minos, se apaixonou por Teseu e lhe entregou uma espada e um novelo de fio para que, depois de matar o Minotauro, o herói pudesse achar a saída do labirinto, desenrolando o novelo e achando o caminho de volta. E, assim se deu, graças ao fio de Ariadne o herói Teseu conseguiu encontrar a saída depois de acabar com o monstro.

Pois bem, quantas vezes na vida não nos achamos metaforicamente em um labirinto imenso no qual andamos, andamos, passamos pelos mesmos lugares, e não encontramos saída? E, quantas vezes nesse intricado labirinto não encontramos um igualmente metafórico monstro que nos parece terrível e que nos quer devorar, quer tomar conta de nosso corpo e de nossa alma? O Minotauro da lenda é touro da metade para cima e homem da metade para baixo, ou seja, no lugar da razão, do cérebro humano, está o irracional, pronto para devorar aquilo que para ele é incompreensível. Quantas vezes convivemos com labirintos e monstros e temos a sensação de não encontrar saída? E, nesses momentos, como desejamos algo que nos ajude, que nos auxilie a voltar a viver, como queremos, metaforicamente, um Fio de Ariadne para nós, simples mortais que de heróis, que de Teseu, temos tão pouco!!

Alguém sempre pode nos ajudar dando-nos um pouco de si, dos seus conselhos, dos seus ombros, dos seus ouvidos, mas penso que poucos são aqueles que nos podem fornecer o nosso Fio de Ariadne. Amigos; pessoas mais vividas e, portanto, com mais experiência de vida; terapeutas etc., podem ser aqueles que nos devolvem à razão e nos dão coragem para enfrentarmos nossos monstros irracionais e nossas confusões mais íntimas e anímicas. Mas eles não podem e nem devem entrar no nosso Labirinto e enfrentar, por nós, nosso Minotauro, pois se admitirmos isso, estaremos "terceirizando" a resolução dos nossos problemas e, a rigor, não os estaremos resolvendo no nosso íntimo. Certas lutas têm que ser travadas solitariamente, por nós mesmos, sem recorrer a "muletas". Nossas crises, nossos medos, nossas culpas têm que ser resolvidas por nós mesmos, mas, para isso, devemos contar, sempre, com Ariadnes que nos emprestam sua razão, seu senso e, especialmente, sua distância, necessários para nos ajudar a enxergar os contornos e a dimensão dos nossos problemas.

Ariadne deu o estratagema, deu o instrumento, deu o Fio... Mas, quem teve coragem de entrar no Labirinto, do qual ninguém antes havia escapado, quem teve coragem de enfrentar o monstro devorador de carne humana jovem, quem se manteve destemido e calmo suficiente para ir desenrolando o Fio para voltar ao caminho da saída foi Teseu... sem sua coragem não adiantaria o Fio... Temos amigos,  terapeutas e outras pessoas para ajudar, mas somos nós que temos que enfrentar a nós mesmos, enfrentar nosso Labirinto e nosso Minotauro interior. Só assim, a sensação da vitória será plena... até, pelo menos, entrarmos em novas confusões e nos depararmos com novos monstros a serem enfrentados.


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sujeira...


A greve dos funcionários da UEM me levou, nos últimos dias, a uma reflexão que apesar de não ser nova, vem bem a calhar: trata-se da limpeza dos espaços públicos da nossa universidade. Não sei ao certo se por herança do trabalho escravo no Brasil ou pela cultura de que o que é público não é de ninguém, mas o fato é que corredores, salas de aula e, especialmente, banheiros da UEM têm muita sujeira. É impressionante o fato de que se entra numa sala de aula limpa e depois de 3 horas e meia ela está suja!!

Fico me perguntando, não hoje, mas há tempos, porque se suja uma sala de aula? Porque se joga papeis no chão, se entra com calçados sujos, se arrastam as carteiras e não as voltam ao lugar? Porque vemos tantos papeis e sujeira nos corredores? Porque vemos pedaços de papel higiênico e água no chão de nossos banheiros? A resposta me parece incrivelmente simples: porque tem alguém que vai limpar depois. Eu não me incomodo de sujar a sala de aula, o corredor e o banheiro porque tem a pessoa da zeladoria que vai limpar; afinal, não é o serviço dela mesmo?? Eu sujo porque tenho uma empregada que limpa. Me pergunto adicionalmente: em casa é a mesma coisa??

Me lembro a primeira vez que andei de metrô em São Paulo e fiquei impressionado com a limpeza nas estações e nos trens (o que ocorre até hoje, diga-se de passagem...) e um colega paulistano me disse que a lógica era manter sempre o local limpo, pois isso acarretava um efeito psicológico nas pessoas de não ser a primeira a sujar. Será que uma lógica dessa não poderia ser aplicada nos espaços públicos? Se conseguíssemos deixá-los sempre limpos e asseados isso não controlaria a pulsão das pessoas em sujar ainda mais o ambiente em que se trabalha e estuda??

Será que podemos confiar em algo assim? Será que ainda resta otimismo suficiente para que as pessoas mudem certos hábitos em prol do coletivo e da preservação do que é público? Será que tais reflexões encontram eco não apenas em concordância com a tese, mas, efetivamente, em colaborar com ambientes mais limpos?

Sinceramente, não sei... (ando meio pessimista ultimamente) só sei que vou tentar fazer minha parte... vou me auto-vigiar , mas poupar meu estômago de cuidar dos outros...


domingo, 26 de agosto de 2012

Pequenas ditaduras na democracia



Bem, sei que vou mexer num vespeiro, que talvez seja incompreendido e receba muitas críticas, mas me sinto com liberdade suficiente para expressar minha opinião. Tem um tipo de postagem no facebook que anda me irritando e preocupando profundamente: "se você é a favor de acabar com o sofrimento dos animais compartilhe", "se você tem orgulho de ter amigos negros compartilhe", "se você tem orgulho de ter amigos homossexuais compartilhe", "se você ama sua mãe e sua família compartilhe"... e coisas que o valha... Fico me perguntando (1) se as pessoas que postam estas coisas estão entendendo que se seu "amigo" do face não partilhar, ele não concorda com aquilo?,  e (2) há uma espécie de tentativa de patrulhamento ideológico daquilo que se pretende ser o pensamento mais avançado?

Acho que reside aí, para mim, o grande problema. O chamado multiculturalismo, na atualidade, criou versões  que pretendem ser as ideologicamente mais revolucionárias, como, por exemplo, a defesa da igualdade de gênero, igualdade de raça, e a mais radical de todas, a concepção de que os animais são iguais (ou superiores!!) aos homens e que, portanto, comer defuntos de animais é uma atitude condenável. Defender tais visões de mundo, tais ideologias, para mim não é problema, e, em muitos casos são socialmente úteis. O problema, acho, é que tais concepções passam a ser a tônica da atualidade, passam a ser o crivo para julgar quem é avançado e quem é conservador, quem deve ser salvo e quem deve ser condenado. Pensar uma sociedade qualitativamente diferente, que supere a atual, não passa mais por uma discussão de classes, de apropriação coletiva de certos meios de produção, mas passa, agora, pela militância ambiental, de gênero e de raça.

O facebook parece ser, em parte, expressão da tônica atual, pois quando se colocam as coisas de maneira que quem não partilha das mesmas opiniões decididamente é tido como conservador, reacionário, e se pede ainda para quem for favorável compartilhar a mensagem, me parece que acaba resultando num verdadeiro e deplorável patrulhamento ideológico. Daí parece que estamos a um pequeno passo de uma ditadura do que se considera a verdade, ditadura do que se considera o bom, pois aquele que discorda está do lado da mentira e do mal. Assim como parece que estamos no tempo da ditadura da felicidade, podemos estar, também, no tempo da ditadura do que se considera multicultural.

Defendo, de forma intransigente, a opinião das pessoas, mesmo que contrárias às minhas. Condeno, igualmente de forma intransigente, qualquer forma de violência real ou simbólica, condeno qualquer forma de buling e qualquer forma de fundamentalismo radical. Tenho amigos gays, tenho amigos negros, mas não se tornaram meus amigos pela sua cor ou pela sua opção sexual, mas sim pelas pessoas humanamente atraentes que são...

Ah, (1)  amo minha mãe e minha família, mas não vejo necessidade de, por isso, tornar público algo que, para mim, já é público...
Ah, (2) não sou e nem pretendo ser vegetariano e, por favor, não me sinto menos humano por isso...


sábado, 18 de agosto de 2012

Bolívia

Acho que passei pela experiência de um verdadeiro choque cultural em menos de um mês: depois de conhecer Portugal, fui para a Bolívia, no interior, na região dos povos chiquitanos. Não vou mentir aqui afirmando, demagogicamente, que as experiências foram as mesmas e os sentimentos iguais. Por vários motivos, pessoais e de trabalho, Portugal me proporcionou muito mais emoções positivas do que a Bolívia, no entanto, não é possível viajar para lá sem escrever sobre esta verdadeira aventura.


Eu e o Nando (e eu acho que a grande maioria dos participantes do congresso) fomos meio que precavidos de que coisas estranhas poderiam acontecer, viajamos com a consciência de que poderíamos provar coisas inusitadas e, portanto, acabamos por preparar nossos espíritos para encarar tudo da forma mais normal e esperada possível. E acho que conseguimos, tanto é que somente depois da viagem é que apresentei alguns problemas de saúde, talvez relacionados à minha estadia por aquelas paragens.

A impressão que se tem é que se trata de um volta ao passado num ambiente de filme mexicano antigo: estradas e ruas sem asfalto; comidas, incluindo carnes, expostas ao tempo nos mercados; baixas condições de saneamento básico; motos circulando com uma, duas ou mais pessoas, inclusive crianças e bebês, todas sem capacete; ônibus (todos brasileiros aliás) sem banheiro e sem ar-condicionado e em condições mecânicas sofríveis, que levou a uma parada não solicitada de três horas à beira de uma estrada poeirenta; desorganização no evento com os CD dos anais e os certificados de apresentação de trabalhos; enfim, coisas para as quais, como já informei, estava com o espírito preparado e, portanto,  encarei da melhor forma possível, sem stress.

Por outro lado, seria muito injusto com os bolivianos que nos receberam tão bem destacar somente o exótico da viagem. As pessoas são muito amáveis e bonitas; a cultura chiquitana é preservada e os descendentes das etnias são incentivados a cultivar a arte da música, do canto e do teatro; as igrejas das antigas missões jesuíticas muito bem preservadas, com altares barrocos magníficos; uma apresentação de música barroca de tirar o fôlego;  apesar dos motociclistas e passageiros sem capacete, não vi nenhum acidente; hoteis com uma boa infraestrutura; comida em abundância e variada. Enfim, coisas boas que compensaram os previsíveis imprevistos.

Valeu a pena conhecer o interior da Bolívia. Muita coisa naquele país continua desconhecida, especialmente os lugares do altiplano (La Paz, Lago Chichicada, Salar de Uyuni etc.), mas estes lugares são, por excelência, turísticos, o que ainda não é o caso da região de Chiquitos, cujo único turismo é o cultural...