sábado, 24 de dezembro de 2016

Somos quem fomos!!!!


Nós somos somente o nosso passado!! É esta a ideia que vou apresentar hoje.

Se definirmos o passado como o que aconteceu e que, a rigor, não temos como mudar, o presente é um momento tão rápido, infinitesimal, que não conseguimos ter a consciência dele, pois tudo, absolutamente tudo, o que falamos, pensamos, vivemos se torna, imediatamente, passado. O que passou não pode ser mudado. Podemos, sim, fazer algo, falar algo que seja diferente do que foi falado ou feito, mas, efetivamente mudar o que já havia sido falado ou feito não é mais possível. A história pessoal é o registro do que já se foi.

Se não temos presente, será que temos futuro também? Enquanto projeção, sim; mas enquanto realidade, não. Como diz Epicuro, "o futuro não é nem totalmente nosso e nem totalmente não-nosso, para não desesperarmos se algo não acontecer e nem sermos obrigados a esperá-lo", ou seja, o futuro é algo, a rigor, não existente, mesmo coisas simples como pensar no almoço do dia-a-dia só se torna realidade quando estamos, de fato, almoçando; mas, enquanto estamos comendo, esse ato já se torna, imediatamente, passado.

É engraçado que achamos que vivemos no presente e no futuro. Não é à toa que estes dias que vivemos são tão significativos para nós, pois sempre desejamos para todos os amigos e familiares várias coisas boas para o próximo ano: paz, saúde, dinheiro, amor etc. Claro que os desejos são sempre legítimos e feitos de coração, mas, não passam de desejos e não de uma realidade em si. A passagem do ano não é, infelizmente, uma espécie de armário para Nárnia, como se, num passe de mágica, nos tornamos aquilo que não somos na realidade: reis, príncipes, guerreiros, destemidos, corajosos, bonitos, desejados, líderes... No dia 01 de janeiro continuamos sendo que nós somos: o nosso passado!!

Mas, esta constatação não é pessimista; é apenas uma realidade. Talvez, se tivéssemos em conta que não passamos do que fomos, iríamos valorizar mais aquilo que chamamos de presente, para não termos que tentar, quase sempre e quase inevitavelmente, mudar o passado com atos que passam, também, a compor o nosso vastíssimo passado. Os gregos antigos valorizam a justa-medida (ou o meio-termo, presente na Ética de Aristóteles), ou seja, evitar os radicalismos. Tolo é tanto o covarde quanto o valentão, pois ambas atitudes são temerárias, são motivadas pelo fígado e não pela razão; o corajoso é o desejado, pois baseado na razão. A justa-medida se estende para praticamente todos os nossos atos, pensamentos e palavras.

Somos nosso passado!! Presente e futuro não existem!! Portanto, pensemos nas nossas palavras e ações para que no nosso passado, ou seja, na nossa vida, tenhamos mais coisas a comemorar do que se envergonhar. E, assim, cheguemos no final de 2017 e possamos dizer: tive um ótimo 2017 e minha vida vale a pena de ser vivida!!!!

Assim, feliz 2016 a todos!!!!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Chapecoense: futebol, tragédia, emoção, solidariedade


Antes de mais nada, acho que tudo o que já foi dito sobre a recente tragédia envolvendo o time da Chapecoense é mais do que suficiente para entendermos e sentirmos o que aconteceu. No entanto, eu gostaria de tornar público aqui o que ficou para mim de tudo isto.

Qualquer tragédia envolvendo acidentes aéreos é sempre comovente, pois são muitas vidas que se perdem de repente. No caso do desastre com o avião que levava jogadores, comissão técnica e jornalistas para a final da Copa Sulamericana não poderia ser diferente. Ficamos chocados, tristes, angustiados mesmo com a morte de tantos trabalhadores. Confesso que chorei muito esses dias, com as reportagens sobre o assunto, especialmente quando os corpos chegaram ao Brasil para os seus respectivos velórios.

Mas, para mim, o que mais impressionou foi o fato de que o bom, velho e um tanto desrespeitado futebol emociona muito mais as pessoas do que eu imaginava. Foi emocionante ver todas as homenagens que foram feitas ao time da Chapecoense mundo afora, inclusive fora dos campos de futebol, como o basquete americano, grupos de rock etc. E, convenhamos, apesar do recente sucesso do time no campeonato brasileiro, a Chapecoense é um time de, no máximo, terceira grade de importância no futebol brasileiro (os primeiros são os chamados grandes de São Paulo, Rio, Rio Grande do Sul e Minas Gerais; depois os times médios mais tradicionais, como Coritiba, Atlético, Avaí, Figueirense, Bahia, Sport etc; e só depois os times no meio dos quais a Chapecoense se encaixa). E isto torna a solidariedade de todo o mundo algo mais comovente ainda. Na minha opinião, foi o futebol que mobilizou as pessoas e instituições. E isto, para quem é boleiro como eu e torce muito para meus times e pela seleção canarinho, é muito significativo.

O futebol já foi taxado como o novo ópio do povo, como algo alienante e que, por isso mesmo, deveria ser dado bem menos importância para ele. Reconheço, é claro, as mazelas atuais do futebol, especialmente o brasileiro. Torcidas organizadas, dirigentes corruptos, desrespeito aos torcedores com estádios sujos e desconfortáveis, são alguns exemplos. Sei que, como torcedor, a última coisa que devo é achar que o jogador do meu time é torcedor do meu time; ele é um empregado e, como tal, se outro time pagar melhor e oferecer melhores condições de trabalho é claro que ele vai mudar de patrão, opa, de time; mas isto para mim, hoje, não é problema, pois enquanto ele for jogador do meu time vou torcer muito por ele.

Algumas pessoas que me conhecem já me ouviram falar que, para mim, talvez a única coisa imutável na vida de uma pessoa é o time que ela escolheu para torcer, pois muda-se de profissão, de religião, de partido político, de cônjuge, de sexo, menos o time de futebol. O exemplo que gosto de dar é da torcida do Santa Cruz que, em um ano que não me recordo mais, vendo o time na quarta divisão do brasileiro foi a recordista de público em todas as quatro divisões do nosso futebol.

Por isso, o trágico acidente ocorrido com o time da Chapecoense me fez ter a certeza de que, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, o casamento entre o povo brasileiro e mundial com o futebol não vai morrer nunca. Por isso é que os bravos jogadores que perderam suas vidas na Colômbia também serão para sempre lembrados!!!