quinta-feira, 26 de junho de 2014

Crônicas da Copa: primeira fase


Encerrada a primeira fase da Copa do Mundo de futebol no Brasil, quero compartilhar minhas impressões e previsões. Claro que muito do que vem a seguir outros (talvez muitíssimos outros) já tenham falado ou vão falar, mas para mim não importa, pois são as minhas impressões.

- Avaliação geral: a copa está sendo um sucesso. Sucesso de gols (136 marcados), com uma média das mais altas da história (2,83 por partida). Sucesso de público, pois em quase todos os jogos, praticamente a capacidade máxima dos estádios foi ocupada. Sucesso de turismo, pois milhares de estrangeiros vieram para o Brasil sem mesmo irem aos estádios.

- Estádios: a grande maioria muito bons. Boa estrutura, gramados muito bons, talvez com excessão da Arena da Amazônia e do Pantanal. O mais bonito em minha opinião é o de Brasília, o mais feio o de São Paulo. Problemas existiriam, especialmente no que diz respeito à falta de alimentos e o preços exorbitantes.

- Decepções: ninguém esperava que a Espanha saísse na primeira fase. Poucos esperavam que a Itália decepcionasse. Se esperava mais de Portugal e da Rússia. Para mim surpresa mesmo foi a Espanha, pois a Itália jogou em um grupo em que sua queda era possível mesmo. Já Portugal não foi surpresa total, pois o time depende do Cristiano Ronaldo que não foi bem, pois veio visivelmente machucado para a copa. Rússia jogou como sempre e perdeu como sempre.

- Surpresas: inegavelmente quem mais surpreendeu foi a Costa Rica, pois ninguém, nem mesmo os costarriquenhos esperavam a classificação, ainda mais em primeiro lugar no grupo da morte. A Argélia foi uma boa surpresa também. A Colômbia e o Chile não chegaram a ser surpresas, pois têm ótimos times e tradição em frequentar os mata-matas das copas.

- Melhores: na ordem, as seleções que mais encantaram até aqui foram a França, a Holanda, Alemanha, Argentina e Colômbia. França e Holanda com futebol mais vistoso e prá frente. Colômbia jogando muito bem. Argentina do meio para frente e com Messi se destacou, mas tem a defesa devassável sem muito esforço. A Alemanha, para mim, é o melhor time até agora, mesmo com o empate com Gana, pois tem o melhor esquema tático e o melhor conjunto.

- Brasil: jogou bem, mesmo contra o México. Mas está aquém do que nós brasileiros gostaríamos. Mostrou eficiência na marcação e na finalização, graças, é claro, ao gênio de Neymar. No entanto, o conjunto está devendo e o meio de campo não está tomando conta dos jogos. Sinal amarelo para o time!

- Previsão: os jogos das quartas de final, para mim, serão: Brasil x Colômbia, França x Alemanha, Holanda x Grécia e Argentina x Estados Unidos. É apenas uma previsão, considerando que em minha opinião para ganhar a copa os critérios são: 60% de competência, 20% de sorte e 20% de camisa/tradição.

De resto, torço para que, independente de quais seleções forem adiante,  a Copa continue sendo o sucesso que foi até aqui... e que o Brasil seja campeão, é claro!!!!


domingo, 22 de junho de 2014

(Des)Confiança...

Nave Enterprise

Acabei de assistir um dos últimos episódios da última temporada de Jornada nas Estrelas - a Próxima Geração, que foi ao ar no Brasil de 1987 a 1994. A trama da história reside na autogeração de uma nova forma de vida que começa a se desenvolver na nave Enterprise  e que, aos poucos, vai tomando conta de tudo. Como é um organismo em crescimento, suas atitudes, em um primeiro momento, se parecem com uma criança que vai descobrindo seu corpo, no caso, a própria nave, e do que ele (ela) é capaz de fazer. A primeira iniciativa dos tripulantes da nave foi de destruir o organismo, no entanto, como a missão deles era descobrir, interagir e respeitar desconhecidas e novas formas de vida, o Capitão Jean-Luc Picard  interviu no sentido de que se procurasse entender a nova criatura e, se fosse o caso, ajudá-la a se desenvolver. O problema é que a nova forma de vida estava aprendendo a viver se espalhando pela nave, a dominando e a controlando, colocando em risco as outras vidas. Quando a forma de vida estava quase formada, a tensão residiu se ela iria se instalar definitivamente na Enterprise, ou se ela de lá sairia. Se ficasse colocaria em risco a vida de mais de mil tripulantes entre humanos, betazóides, klingons, e outras raças do universo Star Trek; se fosse embora a criatura teria aceitado a ajuda e entendido as boas intenções de todos na nave. É claro que a última opção foi escolhida. Mas, o que me chamou a atenção foi um diálogo final entre o Tenente Comandante Data e o Capitão Picard, que se deu mais ou menos assim:

Data - Capitão, como o senhor sabia que a criatura deixaria a nave?
Picard - Eu não sabia Data. Mas se a criatura se alimentava da Enterprise, ela também se alimentava de nós, de nosso trabalho, de nossa cultura, de nossas expectativas, de nossos sonhos. Na verdade, fizemos uma aposta em nós mesmos, e mostramos que podemos ser confiáveis.

Fiquei pensando se hoje somos realmente confiáveis. Fico imaginando se uma criatura dessas aparecesse em algumas instituições nossas se poderíamos apostar que ela nos compreenderia. Aliás, fico imaginando se a primeira tentativa nossa não seria eliminar a criatura sem procurar entendê-la e respeitá-la como uma forma de vida diferente, mas igualmente importante. Confesso que hoje, nesta absurda hipótese, eu sou mais pessimista. No entanto, o episódio me parece, no fundo, uma grande metáfora do otimismo para com a raça humana. Na dúvida, talvez seja melhor, ainda, ficar com o Capitão Jean-Luc Picard!!!!


domingo, 8 de junho de 2014

(parte 3 e última) A fratura brasileira: pequenos ensaios sobre a copa


Dando continuidade e ao mesmo tempo terminando estes pequenos ensaios, passo a refletir o que significa, em minha opinião, uma divisão tão grande entre os que são favoráveis e os que são contrários à realização da copa do mundo de futebol no Brasil.

Em uma pesquisa recente de opinião do jornal local de maior circulação 51% eram contrários e 49% eram favoráveis ao mundial em nosso país. Mesmo levando em conta que tal pesquisa pode não ser precisa e nem exatamente representativa da opinião geral, o seu resultado revela uma diferença pequena de opinião o que indica que este assunto tornou-se realmente polêmico. Mais do polêmico, tal assunto revela, em minha opinião uma verdadeira fratura no tecido social brasileiro. Aquilo que era, talvez, a única coisa que representava uma identidade nacional já não mais comunga como antes. Penso que uma nação que quer progredir, que realmente quer resolver seus problemas, que quer crescer em cidadania e que quer exigir que seus políticos representem, de fato, os interesses da população, deve ter um sentimento nacional que vá além de preferências pessoais. O Brasil deve estar acima de nós, individualmente; os interesses coletivos e sociais têm que ser mais importantes que os interesses particulares e os de grupos organizados. Para isso, um sentimento nacional deveria nos guiar. A seleção brasileira de futebol não é e nunca foi unânime, mas sempre representou, de certa forma, um espírito nacional que congregava a grande maioria dos brasileiros. Se nem ela mais consegue isso, e na falta de qualquer outra coisa que nos congregue nacionalmente, penso que a fratura exposta tende a se tornar, em breve, um verdadeiro desastre, com repercussões inimagináveis. Torço para que, no fundo, isso que seja simplesmente pessimismo de minha parte.

Como já escrevi no post anterior, desde que o Brasil foi escolhido para sediar o mundial, eu me senti muito orgulhoso de ser brasileiro, da mesma forma que me senti assim pela escolha da cidade do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. E me sentiria assim independente de quem governasse o Brasil, independente de qual partido estivesse no poder. E o fato de me sentir orgulhoso de ser brasileiro neste momento não me impede de ser critico de muitas coisas no Brasil, bastando, para isso, ver posts antigos e recentes deste blog. O que percebo é que o movimento de crítica à realização da copa foi, em boa parte, instrumentalizado politicamente para servir de desgaste aos que nos governam; é a cultura política no Brasil dos partidos de oposição que torcem sempre pelo pior, para que eles surjam como alternativas de poder. É o jogo da democracia? Jogo pobre e empobrecedor...

Vou torcer pela seleção como sempre torço, com muita emoção e entusiasmo... Mas, mesmo se não ganharmos o hexacampeonato continuarei sentido orgulho de que meu país, em plena era do padrão-fifa, conseguiu organizar a copa do mundo. Mas, depois que ela passar, seria democrático e republicano abrir as contas da construção dos estádios para que o brasileiro saiba realmente o total dos gastos e quem pagou a conta.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

A fratura brasileira: pequenos ensaios sobre a copa (parte 2)


Dando continuidade à reflexão anterior quero, inicialmente, esclarecer que a intenção do post anterior foi comparar dois momentos em que a seleção brasileira de futebol e a copa do mundo são criticadas por motivos políticos e não comparar dois governos políticos do Brasil, pois é inegável, é incomparável mesmo relacionar um governo ditatorial como o militar, em que a democracia foi atacada em seus fundamentos, e um governo eleito democraticamente.

Voltando à discussão sobre a fratura social que eu identifico, quero refletir sobre os motivos apresentados pelos brasileiros para que o Brasil não sediasse a copa. Basicamente, o que se critica é o fato de que o dinheiro usado para construir os estádios deveria ser canalizado para outras necessidades básicas da população, como saúde, habitação e educação. Claro que é impossível discordar, se se tiver um mínimo de sensibilidade social, que o Brasil necessita, e muito, de mais investimentos sociais; também é inegável constatar que os estádios reformados ou construídos para os jogos do mundial custaram além do que poderiam custar se tivéssemos um planejamento e uma execução realmente sérias no Brasil; e, mesmo com gastos exorbitantes, alguns estádios somente ficaram prontos às vésperas do torneio, como o de São Paulo e o de Curitiba. No entanto, fico me perguntando qual o país hoje, no mundo, que não precisa de investimentos sociais; quais países no mundo que não têm suas crises sociais e que, caso se candidatassem para realizar o mundial, não receberiam críticas de sua população? O que se passa, em minha opinião, é que as críticas, independente da realização ou não da copa no Brasil, continuariam a ser feitas, pois não me parece, com toda a sinceridade, que o futebol é a causa de todos os males, mas, sim, um pretexto para se achar e se crucificar aqueles que são considerados os responsáveis pelas mazelas sociais. Desta forma sou levado a pensar que a copa do mundo em terras brasileiras expõe ou é expressão de uma fratura social muito séria.

O brasileiro, que se acostumou a se orgulhar de ter algumas coisas maiores do mundo, como a hidrelétrica de Itaupu e o estádio do Maracanã (que deixou de ser o maior do mundo após a primeira grande reforma anos atrás, quando retirou-se a arquibancada das gerais) parece que sofre, na verdade, de um complexo de pobre, que talvez derive de seu processo colonizador, cujo rompimento foi feito de cima para baixo, sem efetiva participação popular. Há uma espécie de psicologia da pobreza que introjeta na pessoa despossuída de bens evitar, por exemplo, certos lugares tidos como próprios para os ricos, como os grandes e caros shopping-centers. Me parece que tal sentimento se estende por grande parte da população que acha que o Brasil, por ser um país ainda com mazelas sociais, não pode sediar a copa do mundo, fato este que deveria ser reservado apenas para os países ricos.  O México, por exemplo, sediou a copa duas vezes, se bem que antes, ainda, do famoso padrão-fifa de qualidade, e a África do Sul sediou a última copa, já obedecendo tal padrão. Ficaram piores do eram? Poderiam ter melhorado sem a copa? Sinceramente, eu responderia negativamente às duas questões.

Penso que a copa do mundo não deve ser utilizada politicamente para encobrir nossos reais e complexos problemas sociais, econômicos e políticos. Penso, também, que a copa no Brasil não deveria servir de pretexto para fazer dela, ou mais propriamente, das críticas à sua realização, um instrumento político de fundo eleitoral. De minha parte, tenho muito orgulho da realização da copa do mundo novamente em terras brasileiras. Acho que o padrão-fifa de qualidade nos estádios é excelente para o conforto dos torcedores que não podem ser tratados com desrespeito (como, por exemplo, aconteceu na final do campeonato paranaense de futebol recentemente aqui em Maringá, quando mais de dois mil torcedores que já haviam comprado ingresso ficaram de fora do estádio porque não cabia mais pessoas, as quais, em sua maioria, estavam apinhadas e sentados em um cimento duro e sujo nas arquibancadas); será que não merecemos mais?? Será que não está na hora de exigirmos ser tratados como os torcedores são tratados nos estádios, pequenos ou grandes, da Europa?

Paro por aqui enquanto vou amadurecendo a terceira parte desta reflexão...


domingo, 1 de junho de 2014

A fratura brasileira: pequenos ensaios sobre a copa (parte 1)


Me proponho aqui a apresentar algumas reflexões sobre o contexto atual que envolve a realização da Copa do Mundo da Fifa no Brasil. Conversando com amigos, creio que é necessário se posicionar sobre a realização da copa aqui em terras tupiniquins, pois para fazer isto é necessário pensar sobre outros pontos que acabam por ser correlatos. Adianto que sou favorável a que o Brasil promova o principal evento esportivo do planeta. Mas, inegavelmente, a sua realização expõe uma fratura no tecido social brasileiro que pode ter consequências complicadas para nosso país.

O que ocorre hoje não me parece diferente do que ocorreu na década de 1970, especialmente no início, quando o Brasil, em meio ao regime militar, conquistou o tri-campeonato mundial de futebol, apresentando uma seleção tida como uma das melhores da história, com Pelé, Tostão, Gerson, Rivelino etc. As pessoas que ou militavam ou simplesmente eram contrárias a ditadura falavam que torcer para o Brasil em gramados mexicanos era colaborar com os militares, contribuindo ideologicamente com o governo repressor e de direita no Brasil. Eu, que comecei a militar na política em meados da década de 1980, que já era fanático por futebol, que tive o prazer e a dor de ver a seleção brasileira na copa da Espanha em 1982 (a melhor seleção brasileira que eu vi jogar), por vezes me vi impelido a controlar minhas pulsões futebolísticas e condenar o campeonato mundial conseguido no México, porque, para muitos companheiros de luta, vibrar com os lances reprisados na TV  (inesquecíveis) da final contra a Itália, era deixar de ser de esquerda e, por consequência, se tornar alienado. Confesso que tive crises internas, mas, ao final de contas, consegui separar as coisas em meu coração e mente e assumi meu gosto futebolístico, especialmente pela seleção brasileira, a qual sempre me inspirou um nacionalismo que eu gosto de cultivar, sem perder o senso crítico.

Mas, a questão que quero refletir aqui é sobre uma fratura social que, na minha opinião, a discórdia sobre a realização da copa representa para nós brasileiros. O Brasil, como muitos autores já descreveram, não tem um espírito nacionalista, como vemos, por exemplo, no EUA e no México (me lembro que quando passei o ano novo no México uma vez, em que meus cunhados convidaram amigos mexicanos para a festa em sua casa, as rádios tocaram o hino nacional mexicano à meia-noite). Aqui, talvez porque nossa nacionalidade foi resultado de articulações e ações de uma elite e nunca do povo em geral, como a Independência e a República, talvez por que nossas revoluções foram de cima para baixo e não o contrário, não desenvolvemos um espírito nacionalista, ao contrário, no geral o que percebo é uma certa vergonha de ser brasileiro. O futebol talvez tenha sido, desde a segunda metade do século XX, uma das únicas instituições que unia as pessoas em torno de um sentimento nacional (Airton Senna foi, com certeza, uma excessão à regra, pois nos sentíamos orgulhosos com as vitórias e demonstrações de nacionalidade típicos dele). Bem ou mal, o futebol fazia este papel, de união das pessoas, em determinados momentos, para além das divisões políticas, sociais e econômicas.

Paro por aqui hoje pois é apenas um início de uma reflexão. Além do mais, como algumas pessoas me recomendaram, quando criei meu blog, que as postagens não deveriam ser longas, o que procuro sempre seguir.