segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Curso de Pedagogia a distância da UEM



Com este poema, talvez um dos mais famosos do mestre lusitano Fernando Pessoa, inicio uma mensagem dedicada aos alunos, tutores presenciais, tutores a distância, coordenadores de polo, pessoal da secretaria, professores, coordenação do curso,  enfim, a todas as pessoas que participaram dos quatro anos da turma 2009 do curso de Pedagogia a distância da UEM. Primeira turma a se formar, cujas colações de grau ocorreram neste início de ano (vejam as fotos no meu face). 

O percurso que fizemos juntos nestes longos, e ao mesmo tempo curtos, quatro anos podem simbolicamente se equiparar à aventura que nossos patrícios portugueses fizeram no final do século XV por mares nunca d'antes navegados. Assim como para eles aquele foi um empreendimento grandioso, desafiante, com medos e temores, imensamente trabalhoso, tanto que muitos nautas nem retornaram para suas casas, ocasionando o choro de mães e noivas, a ponto do poeta acrescentar o sal de suas lagrimas ao sal do mar, para nós também foi algo inédito, um desafio que enfrentamos sem menos receios e que custou suor e lágrimas. 

Mas, assim como os portugueses homenageados pelo poeta, também nós conseguimos atravessar, não sem perdas (trinta por cento de desistentes), nosso próprio mar desconhecido, pois para muitos de nós a modalidade EaD não era de toda sabida e, por isso, tivemos que alterar rotas, procurando outros ventos para empurrar nossa nau. Quisemos e passamos além do nosso "Cabo Bojador" e, com isso, fizemos nosso caminho para as nossas "Índias". E porque o fizemos? Como conseguimos? Por que nossa alma não é pequena, nosso entusiasmo e a certeza de que esta viagem faria diferença em nossas vidas nos fez ir adiante, enfrentar os perigos, readquirir ânimos, prosseguir sempre em frente. Cada desafio foi encarado como uma etapa e não como o fim da viagem. Nos recusamos a fazer a volta sem alcançar o objetivo. E, por isso mesmo, os perigos e desafios e problemas foram enfrentados como se neles estivessem refletidos o ânimo, a coragem e, especialmente, a beleza de tudo isto, a beleza de fazer um curso de qualidade!!

Concluímos o curso. Fizemos a viagem. Retornamos diferentes de quando entramos na nossa caravela, diferentes porque melhores, mais maduros, mais experientes e, porque não, mais belos. Beleza que vem com o tempo, com as cicatrizes que adquirimos, beleza ornada com as riquezas que adquirimos. Valeu a pena?? Se fizer parte da história da UEM é valer a pena, a resposta está dada... VALEU A PENA PORQUE NOSSA ALMA NUNCA FOI PEQUENA!!!


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A renúncia do papa


Toda vez que começo meu curso de Filosofia da Educação Medieval, o qual principia pelo Cristianismo, eu sempre falo para meus alunos que, independente se eles são ou não crentes em Deus e se participam de alguma igreja, toda religião é, por essência, uma instituição humana, pois ela foi criada pelos homens e é por eles dirigida. Portanto, como instituição humana, ela é, em sua essência, política. E isto não é uma crítica à religião e nem àqueles que a praticam, cada um deve buscar aquilo que o faz feliz, pois uso o termo político tal como na sua origem grega, ou seja, algo que pertence à coletividade humana, à cidade, à organização social. No entanto, ainda, política tem a ver com grupos, com poder (direção), com acordos, com decisões legais e, especialmente, com a definição da ideologia a ser definida e seguida.

Como tudo isto é claro para mim, fico com a sensação de que as pessoas de forma geral são muito ingênuas em se tratando de acreditar que não há qualquer política por detrás da renúncia do papa Bento XVI. Só o fato de que o último pontífice a ter se retirado foi Gregório XII no longínquo 1415, indica que as relações entre os grupos no Vaticano estão seriamente tensas. Apesar de ter sido um gesto digno em termos da pessoa Joseph Ratzinger, demonstrando humildade e desapego, a sua saída representa, de fato, uma insustentabilidade de seu governo frente a Igreja Católica. E, como consequência, a escolha do próximo papa estará (ou já está) imersa em uma disputa muito grande entre grupos, ou, no caso de buscar-se uma união, a eleição será, necessariamente, a de um comandante que tenha como maior habilidade a busca da conciliação.

A Igreja Católica, e isso não se pode negar, tem um poder de se atualizar que impressiona, pois com várias dissensões internas, com inúmeras criticas e oposições, com tanto misturar-se com assuntos nada religiosos ou espirituais em sua longa história de dois mil anos, ela consegue manter um senso de imaculada que chega a ser incrível. Por exemplo, vejamos o assunto papado. Se formos procurar em qualquer site na internet sobre a história dos pontífices, vai aparecer como o primeiro sendo Pedro, depois vem Lino, Anacleto e outros duzentos e sessenta papas até hoje. No entanto, se pensarmos que o  papa representa a cabeça (Pai) de uma organização altamente hierarquizada, com sua sede na cidade de Roma (Vaticano, desde 1929), e que é escolhido em um conclave absolutamente secreto formado por cardeais, a história só registra esta possibilidade depois de Constantino, imperador romano, ter se convertido ao cristianismo no início do século IV. A partir daí, a Igreja se plasmou no Império Romano e praticamente copiou a sua organização. A rigor, somente a partir daí é que a Igreja passou a usar as dignidades bispo, arcebispo, cardeal e, especialmente, papa. E, assim, a rigor, ainda, o primeiro papa teria sido Silvestre, que governou a Igreja de 314 a 335.

Os católicos, em geral, acreditam que a sucessão do papa é obra do Espírito Santo. Creio que os cardeais podem até se sentir inspirados por ele quando dos seus votos, mas, de fato, a escolha do pontífice é resultado de muita análise, discussão, muitos acordos, conchavos, enfim, de muita política. O que não consigo entender são as razões pelas quais a Igreja mantém o conclave em segredo absoluto, alimentando o mito de que naquela reunião não há qualquer discussão política. Tenho prá mim que se trata de uma desconfiança milenar na maturidade da religiosidade dos católicos em geral. A hierarquia parece tratar sempre com tutela os leigos em geral. Acho uma pena, mas, quem sou eu perante a bimilenaridade da Igreja? Pensando bem, talvez seja exatamente este o segredo da sua longevidade...


sábado, 9 de fevereiro de 2013

Zé Maria

Conheci José Maria de Paiva em 1999 em uma visita ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Unimep, em Piracicaba, e no ano seguinte eu me tornei seu orientando no doutorado. Passei na seleção com um projeto que pretendia pesquisar a Escolástica e acabei fazendo uma tese sobre a atuação dos jesuítas, no século XVI, no Império Português. O tema me foi sugerido pelo Zé Maria, que pretendia, dessa forma, criar um grupo de pesquisa sobre a formação cultura, histórica e educacional do Brasil, no período colonial (o que de fato aconteceu). Mas, não é sobre meu doutorado que escrevo aqui, e sim sobre aquele que mesmo depois do curso, se tornou meu grande amigo.

Desconheço alguma pessoa que tenha conhecido o Zé Maria e não tenha gostado dele. Mesmo aqueles que discordam da sua teoria, passam a respeitá-lo e apreciar sua companhia. Ele é assim, uma pessoa de fácil trato, simples no seu jeito de viver, mas profundo em todas as suas relações. É uma mente que está sempre em ebulição, nunca se contenta com as conclusões a que chega em suas pesquisas; cada artigo ou livro, mais do que um ponto de chegada, é um ponto de partida para novos incômodos e novas reflexões.

Mas o que mais me fascina no Zé Maria é a forma como ele compreende o processo histórico de formação da sociedade moderna. Ele sempre insiste que mais do que conceitos, o que devemos procurar entender é a forma como os homens vivem e, como seres viventes, como eles organizam suas vidas. Mais do que entender o que a historiografia produziu  para definir certos momentos da história (como Humanismo, Renascimento, Absolutismo etc), o que realmente importa é como os homens se relacionavam e as opções feitas que resultaram numa determinada forma de organização social. E, mais do que isto, ele entende que a cultura é a forma que a sociedade assume, incluindo, aí, todos os aspectos da vida.

A sua erudição é algo evidente por si só; mas não é uma erudição vazia, enciclopédica, mas algo que revela um profundo conhecimento das letras, das teorias e dos autores que fizeram e fazem parte do seu arcabouço teórico. A sua evidente maturidade e autonomia no trato das questões teóricas faz com que ele (como me falou algumas vezes) tome a crítica como primeira reação ao ler qualquer autor. A discordância é a base do diálogo, como sempre ele afirma; é no encontro de perspectivas distintas que pode fazer uma síntese e se aprender de fato com o que os outros escrevem.

Já são quase quatorze anos que tenho o privilégio da companhia do Zé Maria. Uma pessoa com a qual se aprende teoria, mas se aprende também sobre a vida. Aliás, vida e teoria não são duas coisas separadas para o Zé Maria, nem na história do passado e muito menos na do presente. Con-viver com ele é ter a oportunidade de aprender e, dessa forma, de se tornar melhor do que somos. Tenho este privilégio; tenho a sua confiança e seu carinho. Parte do que sou hoje devo, sem dúvida, ao meu amigo Zé Maria!! Espero que tenhamos muitas bancas, reuniões, palestras, enfim, muito trabalho pela frente...