domingo, 23 de setembro de 2018

O coiso... ele...


Alguns amigos e algumas amigas podem discordar do que segue aqui, mas sei que como tais, amigos e amigas, me conhecem para saber as minhas motivações e minha visão de mundo. Desde o ano passado tenho conversado com algumas pessoas sobre as eleições presidenciais que se aproximam, e disse para todos que eu não tinha um candidato definido, nem à época e nem agora, mas que tinha apenas uma campanha a fazer: contra o Bolsonaro. E é sobre o atual clima das eleições presidenciais que me motivo a escrever aqui: me causa estranhamento ver em postagens de amigos e amigas, especialmente no facebook, referências ao Bolsonaro como "coiso", "ele", negando-se a pronunciar o nome do candidato. Mesmo sabendo que o facebook possa usar os algoritmos que acabam por evidenciar o nome dele, ainda assim me causa estranhamento.

Me perguntava porque isto me incomoda? Depois de pensar um pouco me veio que não querer sequer pronunciar o nome dele parece quase como uma atitude religiosa, parecido com o costume antigo(?) de não pronunciar o nome do demônio para que os maus agouros não o trouxesse, ou mesmo, o medo de pronunciar o nome do diabo (ou belzebu, ou lúcifer, ou tinhoso...), pelo fato de que o simples fato de falar tal nome já despertasse na entidade um desejo de "conhecer" a pessoa que, de certa forma, o invocou. Me lembro quando criança, adolescente e, mesmo na juventude, pessoas não pronunciarem o nome da doença câncer, falavam "aquela doença ruim", porque não queriam, não sei exatamente porque, assustar as pessoas, mas desconfio que era a mesma lógica de não pronunciar a palavra demônio, para que se afugentasse o mal da pessoa que estava falando.

Pelo clima maniqueísta criado há algum tempo na política brasileira, potencializado pelas redes sociais, a luta pela verdade ganhou quase que contornos religiosos. Pessoas de um grupo chamando as pessoas de outro grupo de corruptos, comunistas, petralhas, coxinhas, conservadores, hipócritas etc. Os dois grupos se xingam mutuamente, um defendendo que está quase como "ungido" da verdade e que, por consequência, o outro está afundado na mentira. O caminho para a salvação passa pelos candidatos que  os grupos defendem, também quase que de forma religiosa, como carismáticos salvadores da pátria. Eu acho que se recusar a chamar pelo nome o candidato que se está atacando reverbera em uma ação política que pode estar pautada numa militância quase que religiosa. O Brasil não precisa, para seu amadurecimento político, de salvadores da pátria, e sim de pessoas comprometidas com uma visão de conjunto dos problemas reais brasileiros e que sejam capazes de apontar, com seriedade, com sobriedade e com realismo, as possíveis saídas para a crise. A solução dos problemas não depende de simplismos e promessas mágicas, pois a crise em que o Brasil se encontra é muito mais profunda do que podemos imaginar.

Estamos em um momento muito sério no Brasil, em que temos que pensar e participar da política de forma sóbria, ponderada e (infelizmente) pragmática. Assim, o meu candidato nunca vai ser o Bolsonaro porque ele representa, na minha visão, exatamente o que eu não quero para o futuro do Brasil: violência, misoginia, racismo, homofobia, arrogância do colonizador, a economia nas mãos de técnicos sem a ponderação das políticas públicas e, especialmente, bravatas de quem está há quase três décadas na política e não fez absolutamente nada para mudar, ou seja, eu não quero o oportunismo político como critério de escolha para nossos governantes.  Alguém que prega a superioridade racial, a de gênero, a de pessoas armadas, não pode ser a minha escolha. Alguém que pode colocar em risco a democracia com seu discurso de violência e de exaltação à ditadura militar no Brasil, não pode ser meu candidato. Alguém que pode, em um eventual governo, criar milícias a paisana no Brasil para controlar e cercear a liberdades garantidas constitucionalmente para todos, não pode ser meu candidato. Alguém que pode colocar em risco a estabilidade social, política e econômica que tanto o Brasil precisa nos próximos anos não pode ser minha escolha.

Faço campanha, sim, contra o Jair Messias Bolsonaro!! Porque tenho convicção de que com ele, como presidente, o Brasil piorará sensivelmente em seus padrões republicanos, democráticos e civilizatórios. Todas as suas bravatas serão desmascaradas, porque a conquista da liberdade humana é irreversível, com todas as suas dores e delícias. A duras penas o Brasil se tornou um país oficialmente laico, em que a liberdade religiosa é garantida; corrermos o risco de, em nome de uma religião, retrocedermos na história é, com toda a certeza, abrir a possibilidade concreta de reativarmos os tribunais da inquisição... por isso que a apologia à violência é uma marca do Bolsonaro...