segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Natal e Ano Novo


Meus amigos, colegas e demais leitores, escrevo para desejar a todos vocês um Feliz Natal e um ótimo 2015!!

O Natal que comemoramos todo 25 de dezembro é uma festa cristã, mas cada vez mais as pessoas pensam menos no seu significado histórico cultural e mais no sentido comercial. Penso que para além da óbvia religiosidade que marca o natal, ele pode ser encarado como uma espécie de renovação, já que todo ano nós comemoramos esta data. Época de renovar esperanças religiosas para alguns, relembrando o nascimento de Jesus Cristo, época, para outros, de trocar presentes, incentivados pela figura do Papai Noel (figura, aliás, que a sociedade consumista agradece imensamente), o natal emociona a todos. Mas, como ia dizendo, acho que todos podemos ver esse dia especial como um momento de renovação daquilo que de melhor nós somos, e hora de compartilhar essa renovação com nossas famílias e amigos. Presentes são (ou deveriam ser) homenagens, agradecimentos aos outros por partilharem de nossa vida.

A passagem de ano, por sua vez, sempre me passa a impressão de que podemos mudar alguma coisa em nós. Mais do que renovação, é época de invenção, época de tentarmos ser melhores do que somos. Por isso é muito comum fazermos promessas de mudanças pessoais. Porém, mais do que isso, acho que é tempo de refletir sobre o que foi o ano que passou e o que poderá ser no que está começando. Por isso, a passagem de ano é de comemoração também. Sou da opinião (concordando com House) de que as pessoas não mudam o que são na sua essência, não mudam o que a personalidade delas as definem, mas podemos mudar algumas atitudes, alguns ideais, enfrentar algumas coisas. Podemos tentar projetar nossa vida de forma que ela valha mais a pena ser vivida.

Desta forma, a todos os meus leitores, família, amigos (velhos e novos), colegas, conhecidos, pessoas que passaram a fazer parte da minha vida neste ano, pessoas que, por algum motivo, se afastaram de mim este ano, pessoas que se tornaram mais íntimas, enfim, especialmente a todos aqueles que fizeram parte, mesmo que pequena, da minha vida neste 2014, desejo que tenham um ótimo Natal, com presentes, mas, especialmente, com presenças, e um 2015 repleto de saúde, trabalho, dinheiro, de bons projetos e com ótimas oportunidades de se tornarem ainda melhores.

E, para terminar, deixo a vocês um poema de Fernando Pessoa que ilustra o tão esperado período de férias (menos para meus orientados que vão passar as férias terminando seus trabalhos, é claro... kkkk):

LIBERDADE

Ai que prazer 
Não cumprir um dever, 
Ter um livro para ler 
E não fazer! 
Ler é maçada, 
Estudar é nada. 
Sol doira 
Sem literatura 
O rio corre, bem ou mal, 
Sem edição original. 
E a brisa, essa, 
De tão naturalmente matinal, 
Como o tempo não tem pressa... 

Livros são papéis pintados com tinta. 
Estudar é uma coisa em que está indistinta 
A distinção entre nada e coisa nenhuma. 

Quanto é melhor, quanto há bruma, 
Esperar por D.Sebastião, 
Quer venha ou não! 

Grande é a poesia, a bondade e as danças... 
Mas o melhor do mundo são as crianças, 

Flores, música, o luar, e o sol, que peca 
Só quando, em vez de criar, seca. 

Mais que isto 
É Jesus Cristo, 
Que não sabia nada de finanças 
Nem consta que tivesse biblioteca... 


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Mororó


Carlos Alberto Mororó da Silva, o nosso Mororó, um ser-humano realmente singular, faleceu hoje, dia 27 de novembro de 2014. Depois de lutar contra um câncer na próstata há alguns anos atrás, foi diagnosticado recentemente com um outro câncer, leucemia, que, desta vez, infelizmente o venceu. Nós da UEM, particularmente do Departamento de Fundamentos da Educação, perdemos um colega, e a EaD, o curso de Pedagogia a distância, perdeu um dos seus primeiros coordenadores e atualmente o coordenador de TCC. Eu perdi um companheiro inestimável de trabalho. Claro que o Mororó, como todos nós, tinha seus defeitos, suas idiossincrasias, mas, eles e elas se foram com ele. O que sobra é a memória daquilo que ele mais nos marcou: sua exuberância de vida. É sobre isto que eu quero falar.

Me aproximei dele em 2009 quando ele assumiu a coordenação adjunta e coordenação de Tutoria do curso de Pedagogia a Distância do qual eu já era coordenador. De lá prá cá foram inúmeras reuniões, viagens, conversas para gerir um curso que requereu de nós dois um compromisso diário, atenção, criatividade e cumplicidade num projeto novo que envolvia mais de 800 pessoas, entre alunos, tutores, professores e técnicos. Desenvolvemos uma sintonia que facilitou muito nosso trabalho. Viajamos muito aos polos, e foram nestas viagens que pudemos nos conhecer um pouco melhor, que eu tive o privilégio de me tornar um pouco mais íntimo de uma pessoa cheia de vida. A vida pulsava no Mororó, desde suas roupas extravagantes, com seus chapéus Panamá coloridos (que ele me ensinou que, apesar do nome, eles são feitos no Equador e que Panamá é uma fibra da qual se faz o chapéu mais famoso do mundo), suas camisas coloridas e floridas, suas bermudas e chinelos, passando pelos seus relacionamentos, e chegando em suas inúmeras viagens. Ele é a única pessoa que eu conheço que já foi, literalmente, do Oiapoque ao Chuí; conheceu a Europa e a América; um dia me disse que estava em casa e viu na TV uma placa que dizia "Ushuaia fin del mundo" e decidiu que iria lá conhecer e tirar uma foto junto à placa, resultado: seis meses depois estava ele na Patagônia argentina e tirou a foto. Seu jeito bonachão, paraibano que não abandonou suas ricas raízes, lhe trouxeram críticas, mas, também, admiradores do seu jeitão desprendido, intencionalmente chocante, que desprezava certas regras sociais tidas como de urbanidade. Ele se lixava para convenções sociais, e suas roupas eram uma demonstração clara.  Ele era atencioso e desprendido (duas das suas melhores qualidades). Lembro da festa de formatura dos alunos do polo de Flor da Serra do Sul, ano passado, em que ele doou um dos seus inestimáveis chapéus que foi sorteado a um aluno.

Em uma de nossas viagens, conversando sobre aposentadoria, Mororó me disse que o projeto dele era se aposentar, vender sua casa, seu carro e suas coisas em Maringá, e usar o dinheiro para viajar pelo mundo. Ele queria viver os anos finais de sua vida visitando lugares que ele já conhecia (muitos lugares, diga-se de passagem) e conhecendo outros tantos. Vocês conhecem uma pessoa assim? Eu conheci uma, o Mororó. Cheio de vida, cheio de vida intensa, curtindo as experiências, de um roteiro inquieto e inquietante. É meu amigo, não deu para realizar seu projeto de aposentadoria; mas tenha certeza de que, para mim e para muitos, você sempre será lembrado pela forma como você viveu: literalmente, vivendo!!!!!


sábado, 15 de novembro de 2014

México









Pela quarta vez visitei o México. E pela quarta vez amei estar naquele país. A primeira vez em 1994, a segunda em 1995 a terceira e a quarta este ano. Tirando a terceira vez, em maio deste ano, quando, em função de um cálculo renal retirado três dias antes da viagem, passei a maior parte dos quatro dias com muita dor, todas as outras vezes foram extremamente agradáveis. De todas as coisas que me chamam a atenção no México, quero aqui destacar algumas.

Em primeiro lugar as pessoas. No geral, claro que com excessões (o que só confirma a regra), os mexicanos são muito atenciosos, amáveis, simples e gostam muito de nós brasileiros. Os taxistas são, para mim, um parâmetro para esta consideração, especialmente quando tocamos no assunto futebol, pois aí, sim, vemos a admiração que eles continuam tendo por nós, pela nossa seleção e, especialmente, por Pelé, que tanto os encantou em 1970 e até hoje é idolatrado.

A preservação da memória histórica é outro ponto que me chama a atenção sempre. Talvez pelo fato de que os monumentos toltecas, maias e astecas são abundantes e enormes, criando uma cultura material riquíssima, os mexicanos no geral têm noção de sua história pré-hispânica e valorizam um passado que sintetizou-se numa espécie de sincretismo cultural, o qual permite que um povo católico (talvez o mais católico do mundo) conviva com uma herança politeísta e mitológica sem negá-la. O dia dos muertos, que tive a felicidade de presenciar desta vez, é um dos maiores exemplos daquele sincretismo.  É flagrante a diferença que contatamos quando pensamos no  Brasil. O sincretismo religioso que aqui se estabeleceu foi com a cultura africana e não com a indígena, talvez pelo fato de que não há uma cultura material tão imponente como a dos astecas e suas pirâmides por exemplo.

O último aspecto que quero considerar diz respeito à consciência política daquele povo. As manifestações no Zócalo (a praça principal da Cidade do México e uma das maiores do mundo) são constantes, especialmente em relação ao desaparecimento dos 43 estudantes normalistas em 26 de setembro deste ano. A comoção e a revolta são flagrantes e mobilizam milhares de pessoas como, por exemplo, a UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México) paralisou suas atividades durante três dias em protesto contra o ocorrido. Penso que tal mobilização, pelo motivo que se deu, dificilmente seria visto por nossas terras tupiniquins.

Enfim, por tudo isto e por muito mais (que ficaria muito extenso relatar aqui) é que cada vez que vou ao México fico com um gosto forte na alma de querer retornar àquela bela e amigável terra.

Uma última palavra. O evento que me levou desta vez ao México, o XV Congresso Internacional Norbert Elias, foi um dos melhores que eu participei, tanto pela qualidade dos trabalhos apresentados como pelo clima fraternal que é sua marca registrada. Obrigado a todos os organizadores e todos os participantes pelos ricos momentos acadêmicos. Como disse em minha fala final: o México, os mexicanos e os participantes do evento ficarão para sempre marcados em minha cabeça e, especialmente, em meu coração!!!


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Sobre o resultado das eleições presidenciais

Todos os que acompanham meu blog e meu face sabem que declarei meu voto na Dilma e, portanto, claro que fiquei feliz com a sua vitória no último domingo. Mas, não posso me furtar a fazer aqui uma análise da campanha e, também, do que nos espera nos próximos quatro anos.

Começo pela campanha. O segundo turno foi marcado muito mais por trocas de acusações morais do que, propriamente, uma discussão, um cotejar de dois projetos para o Brasil. Em síntese, tirando a declaração do candidato Aécio de quem seria seu ministro da economia (Armínio Fraga), o que para uma minoria que entende de economia se tornou um diferencial, o restante das propostas da petista e do tucano não se diferenciavam: ambos proporam combater a inflação, gerar mais empregos, ampliar os programas sociais etc etc etc. Não foi possível, portanto e de fato, diferenciar dois projetos que, ideologica e partidariamente, deveriam ser diferentes. Para quem realmente queria ver diferenças restou comparar o passado mesmo, ou seja, para quem tem mais de 30 anos pôde cotejar o que foi o governo FHC com o governo Lula. Sobrou, para desqualificar o adversário, acusações e mais acusações de corrupção, imoralidade, fraquezas. E, por isso mesmo, a campanha dos partidários dilmistas e aecistas, especialmente nas redes sociais, também foi, igualmente, marcada por denúncias de corrupção, imoralidade, fraquezas, e, como conseqüência, um clima alarmista de ambos os lados marcou também as respectivas campanhas. Com o resultado das eleições, o clima da campanha continuou, uns lamentando o ocorrido anunciando uma espécie de apocalipse para o futuro e outros enaltecendo a vitória da justiça e da verdade, quase num clima de ufanismo. Com isso, foi natural, na minha opinião, ver os preconceitos escancarados por parte dos perdedores, especialmente com os pobres, nordestinos e, equivocadamente, com os comunistas. Aliás, julgo muito interessante ver pessoas destilando abertamente seus preconceitos nas redes sociais num mundo cada vez mais politicamente correto; é curioso perceber que, apesar de pensarmos que algumas coisas mudaram, os preconceitos de classe, de cor, de sexo ainda estão fortemente presentes. Neste sentido, o que percebo é que ainda temos muito a caminhar na direção de uma verdadeira solidariedade e na derrubada definitiva dos preconceitos.

Agora reflito sobre o futuro próximo. A presidente Dilma tem uma tarefa muito árdua pela frente, pois não podemos tapar os olhos, a boca e os ouvidos (como os famosos macacos), de que estamos diante de uma grave crise no Brasil. A previsão de crescimento da economia nacional é de menos de 1% para 2014, sendo que os países desenvolvidos deverão crescer em torno de 2% e os emergentes em torno de 4%. A inflação é uma forte ameaça. A dívida pública aumenta cada vez mais. A falta de infra-estrutura é cada vez maior. Aliado a isto, é urgente depurar o próprio Partido dos Trabalhadores, pois o envolvimento de seus quadros com a corrupção ameaça, cada vez mais, por em xeque as origens do partido que mudou a cara do Brasil. Enfim, a tarefa da presidente Dilma é, de fato, hercúlea, o que ficou claro, aliás, quando ela, no discurso da vitória, conclamou todas as forças políticas do Brasil para um entendimento nacional sobre as reformas necessárias. Dilma vai ter que ter coragem de implementar medidas que serão vistas como impopulares, mas que serão absolutamente necessárias, mesmo que isto coloque em risco o projeto do PT de governar o país; aí, sim, poderemos ver se o seu partido tem um projeto de Brasil ou, como atacou Aécio na campanha, tão-somente um projeto de poder...

Confio na presidente Dilma!! Confio que as políticas públicas sociais não serão sacrificadas na sua nova gestão a frente do Brasil. Continuo confiando na sua sensibilidade de perceber que o governo deve favorecer a que mais pessoas possam ter condições de uma vida minimamente digna para viver com decência. Mas, estarei alerta para que, como apontei logo acima, um projeto de nação, um projeto de Brasil se sobreponha a um projeto de poder que coloque em risco a economia nacional.




domingo, 12 de outubro de 2014

Eu votaria no Aécio se

Sinceramente, eu não acho que expor a opção do voto para presidente aqui no blog ou no face faça diferença, no sentido de convencer alguém de alguma coisa. O que vejo no face, por exemplo, é quase um diálogo de surdos entre os que irão votar na Dilma e os que irão votar no Aécio. Eu, de minha parte quero tornar público meu voto e expor as razões, mas sem a pretensão de mudar a opinião daqueles que já se decidiram. Mas vou fazê-lo de forma diferente, vou expor aqui as razões pelas quais eu votaria no Aécio.

Bem, vamos lá. Eu votaria no Aécio:

1. se eu não concordasse com o aumento do número de carros nas cidades, afinal, de alguns anos para cá, mais pessoas passaram a comprar carros, novos ou usados, e isso inchou o tráfego em nossas pacatas e elitistas cidades burguesas;
2. se eu não concordasse com um maior número de pessoas, jovens e adultos, fazendo cursos superiores e técnicos pelo Brasil afora, afinal, por que mais universidades públicas, mais cursos técnicos para os pobres? Eles deveriam se contentar, no máximo com seus cursos médios;
3. se eu não concordasse com a Educação a Distância pública no Brasil em que pessoas de várias idades puderam fazer cursos universitários sem precisar viajar ou sair de suas regiões, pois porque dar chance para estas pessoas, se, de fato, elas deveriam cursar somente os cursos presenciais?
4. se eu não concordasse com políticas inclusivas, tipo bolsa-família, pois por que ficar assistindo as pessoas que deveriam, por mérito próprio, conseguir emprego e salário?
5. se eu não concordasse com os auxílios para os universitários em instituições privadas e com as bolsas que os alunos recebem para estagiar no exterior, pois, afinal de contas, cada um que se vire em pagar e custear seus estudos e sonhos;
6. se eu não quisesse ver tantas empresas serem abertas e tantos trabalhadores que se tornaram donos de seus próprios negócios, afinal empresário nasce empresário e este negócio de empregado querer se tornar chefe não dá certo;
7. se eu não gostasse de ver tanta gente viajando de avião, entupindo os aeroportos de farofeiros, pois avião deveria ser reservado para pessoas chiques e que pertencem à elite;
8. se eu não me importasse que os crimes de corrupção fossem apurados pelos órgãos competentes, afinal, corrupção sempre existiu e se o dinheiro público não fosse desviado para os pobres não faria diferença se fosse roubado um pouco.

É isso aí, quem concorda com tudo isso que vote no Aécio. Eu, de minha parte, como acredito exatamente no contrário disso tudo, voto na DILMA!!!

Sei que o país está passando por sérios problemas, como déficit público aumentando demais, expectativa pífia de crescimento, inflação voltando a assustar, enfim, problemas sérios que precisam ser resolvidos. Mas fico aqui pensando, para a decisão do meu voto, que o custo social da resolução dos problemas não pode ser com o aumento da desigualdade, com a redução de investimentos nos setores sociais, especialmente com a educação.

O meu voto é crítico, mas ainda é de confiança na DILMA, torcendo para que ela seja a grande liderança petista que faça um expurgo do próprio PT, para que ele não se afaste dos seus ideais iniciais, como algumas de suas lideranças vêm fazendo.




sábado, 4 de outubro de 2014

Eleições 2014


Estamos, nós brasileiros, mais uma vez na véspera de um momento que deveria ser um dos mais importantes, senão o mais, do exercício da cidadania. Afinal, é o presidente da república e o governador do estado que elegeremos, mesmo que não seja definitivo agora, pois poderemos ter segundo turno, o voto de amanhã é o mais decisivo, e além disso, elegeremos nosso legislativo federal e estadual.

Mas, porque será que ao invés da euforia de outros momentos eu me encontro um tanto desanimado com este processo? Talvez porque eu não seja militante de nenhum partido e, por isso, não me interesse a manutenção ou mudança pela expectativa de manter ou angariar empoderamentos? Talvez pelo fato de que eu não consiga ver, de fato, muitas diferenças nos discursos daqueles que estão lutando para chegar aos cargos? Talvez porque as campanhas eleitorais se mostraram novamente enfadonhas, repetitivas, algumas até cínicas e praticamente indiferenciadas? Talvez pelo fato de que, eleição pós eleição, parece de fato não haver vontade política dos eleitos em fazer uma reforma política no Brasil que moralizasse o uso da coisa pública? De fato, talvez seja a soma disso tudo, mas o fato é que o desânimo existe e parece só aumentar.

O problema é que se fosse somente eu a desanimar não seria problema. Pior é que parece que se trata de um sentimento meio que generalizado na sociedade brasileira. Queria muito, muito mesmo que o voto não fosse obrigatório, para saber realmente quantos brasileiros iriam às urnas. Posso estar errado, mas calculo, apressadamente, que nesta hipótese, menos da metade dos eleitores votariam amanhã.

Apesar do meu pessimismo crescente, já escolhi meus candidatos a presidente e governador (os quais acho que não preciso revelar, não porque o voto é secreto, mas porque o objetivo aqui não é fazer campanha). Mas não significa que votarei iludido que se eleitos eles contribuirão, como eu gostaria, para que os políticos deixassem de ser responsáveis - pois o são - pela descrença cada vez maior da população com relação à política.

Torço para tenhamos segundo turno tanto para governador do meu estado, o Paraná, como para presidente. Gostaria muito de ver dois projetos diferentes serem debatidos, com todas as suas consequências, para o Paraná e para o Brasil. Gostaria de ver o debate entre projetos que fossem realmente políticos, com propostas razoáveis, consequentes e exequíveis. Partidos e candidatos são diferentes, tanto ideologica quanto pessoalmente; que mostrassem as diferenças e deixassem propostas populistas e meramente eleitoreiras de lado. Os brasileiros estão cansando... e isto deveria servir de alerta!!!

No mais, tenho amigos e outras pessoas que admiro na disputa pelo Brasil afora. A eles desejo sucesso e, caso sejam eleitos, confio que tentarão mudar o perfil político, tão desgastado, no Brasil.


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Amor e liberdade


O vocábulo amor é tão complexo, tão cheio de significados e pode se referir a diferentes aplicações que os gregos criaram três palavras diferentes: eros,  philia e ágape. Três palavras para sentimentos que têm muita coisa em comum, mas para públicos diferentes. Para nós, ou na língua portuguesa, utilizamos amor de forma indistinta, tanto para namoro, como para amigo, familiares, pessoas desconhecidas etc. De qualquer forma, a palavra amor remete a um tipo especial de ligação, que não desenvolvemos por qualquer pessoa, mas para aquelas que passam a ser especiais.

Para o sentimento que envolvia atração física, sexo, intimidade, os gregos usavam a palavra eros. O amor erótico, o amor erotizado, que nós por vezes interpretamos como algo quase pornográfico. Revistas de mulheres nuas ou homens nus são vendidas como eróticas; sites que veiculam filmes de sexo explícito são tidos como sites eróticos, e assim por diante. Eros, na verdade, diz respeito ao prazer, diz respeito à fertilidade e à propagação da espécie.

Para o sentimento familiar, de amizade, de aconchego, eles usavam philia. Tanto que a própria palavra filosofia tem origem na junção de sophia, sabedoria, com philia, amizade, sendo o filósofo aquele que é amigo da sabedoria.  A diferença da philia para o eros parece óbvia, mas há uma semelhança, pois os dois sentimentos são dirigidos para pessoas específicas: o primeiro para o outro amado, o segundo para o familiar ou para o amigo. Philia sentimos por pessoas que estão na nossa vida por laços de sangue, um amor quase instintivo, pois há uma cultura que praticamente torna este amor obrigatório, e há aquele sentimento que desenvolvemos por pessoas que escolhemos amar, como os amigos.

Agora, para o sentimento de amor por uma situação ou por pessoa(as) os gregos usavam ágape, que é um sentimento desprovido de interesse individual, um sentimento que poderíamos traduzir aproximadamente por solidariedade. Atualizando ágape, desenvolvemos tal sentimento quando nos indignamos com alguma situação e nos estimulamos para resolver; quando olhamos o outro, especialmente aquele que está abaixo de nós na escala sócio-econômica, com sentimento de igualdade, de respeito e de atenção; o outro, o diferente, o despossuído, o reprimido são tratados de forma igual; mesmo o arrogante, o chato, aquele que incomoda são vistos com clemência. De certa forma, o amor-ágape é aquele que se estende pela humanidade.

Agora, para que todos os três tipos de amor se desenvolvam em plenitude é necessário a contrapartida, que é a liberdade. Sem ela qualquer amor se torna uma forma de escravidão. Se eros é acorrentado, o amado passa a ser propriedade do amante; o amor-philia é aprisionado quando, por exemplo, a mãe superprotege o filho ou quer vê-lo realizar os seus projetos frustrados, e quando um amigo se aproveita do outro ou tem por ele inveja por algum motivo; o ágape não se realiza quando há qualquer forma de sujeição, de desrespeito e de sentimento de superioridade, ou quando a atitude solidária mascara, na verdade, algum ganho individual de visibilidade da ação.

Amor, seja de qual tipo for, só se realiza, de fato, com liberdade. As pessoas devem ser e se sentir livres para amar e serem amadas. Sem liberdade há tudo, menos amor. Penso que hoje há muito sentimento que as pessoas chamam amor, mas que não são cultivados pela liberdade e, por isso, tornam-se sentimentos aprisionados. Talvez por isso é que encontramos cada vez menos o amor mais puro, o mais desprendido de todos, que é o amor-ágape...


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Eleições na UEM: quando perder não significa ser derrotado...


Neste ano tivemos as eleições para a reitoria da UEM. Passados os dois meses entre a homologação das quatro chapas concorrentes e a realização do segundo turno, a comunidade acadêmica escolheu a dupla que vai conduzir a nossa universidade de 10 de outubro de 2014 a 09 de outubro de 2018. Prentendo, aqui, fazer uma análise do processo eleitoral, destacando, especialmente, o trabalho da chapa 1. Mas, antes disso, quero parabenizar os professores Mauro Baesso e Julio Damasceno pela vitória nas urnas, vitória que indica que a comunidade acadêmica toda - pois eles ficaram em primeiro lugar nos três segmentos no segundo turno - quer mudanças na UEM.

Bem, a campanha da chapa 1, dos professores Mário Azevedo e Paulo Fernando, da qual participei como um dos coordenadores, foi uma das melhores que já me envolvi na UEM. Campanha limpa, propositiva, inclusiva; campanha que agregou, desde o início, muitos apoiadores; campanha cujo conteúdo programático foi pensado e executado coletivamente; campanha que teve muita adesão nas redes sociais; mas, especialmente, uma campanha que, desde o início, teve uma mote, uma espécie de mística que nadou contra a corrente da política em geral: nunca tivemos medo de perder.

Os princípios discutidos e acordados coletivamente nunca foram objeto de negociação para fins pragmaticamente eleitoreiros. A defesa da EAD, de que os alunos votassem eletronicamente, pois é tratando desigualmente os desiguais que se atinge a isonomia; a defesa pública e inequívoca da paridade nas eleições para reitoria, entendendo que a comunidade é constituída de segmentos igualmente importantes para decidirem os destinos da instituição; a não negociação e o loteamento antecipados de cargos de primeiro escalão, entendendo que a adesão a uma proposta não pode ser movida com fins egoístas e interesseiros. Enfim, o que mais me chamou a atenção e me fez apoiar com convicção a chapa 1 foi a tentativa de mudar a forma de se fazer política, implementar uma forma desprendida de interesses eleitoreiros, uma forma que recusou estabelecer um projeto de poder, e sim, um projeto realmente coletivo para a universidade.

Assim, tenho a convicção de que a perda nas urnas no primeiro turno não significou a derrota de um projeto. Pelo contrário, o projeto da chapa 1 era, claramente, uma alternativa ao atual estado da gestão universitária, uma alternativa de descontinuidade com o que se está praticando na UEM nos últimos quatro anos. Assim, a vitória da chapa 2 mostra que a comunidade quis, sim, a mudança; mostra que a comunidade quer outra opção de comando que desvincule a gestão da política de balcão, que desvincule a gestão de projetos absolutamente pessoais. A vitória da chapa 2 mostra, para mim, que o projeto da chapa 1 teve acolhida numa UEM que quer mudanças.

Há a necessidade de que projetos coletivos e individualmente desinteressados continuem sendo discutidos na UEM. Tenho certeza que o grupo (aliás, que belo grupo!!) que se uniu sem medo de perder, sem negociar princípios, vai querer continuar discutindo a UEM, vai querer burilar e aprimorar um projeto para toda a universidade. Assim é necessário, pois, se viver não é preciso, cada um pode fazer algo e JUNTOS PODEMOS, sempre, MAIS!!!


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Educação a Distância na UEM - momento de luto


As pessoas que me conhecem sabem que estou apoiando a chapa 1 para as eleições para reitoria da UEM neste ano de 2014, por acreditar que os professores Mário e Paulo são as melhores opções para administrar nossa universidade nos próximos 4 anos. No entanto, não escrevo aqui como apoiador de uma chapa, mas sim, como alguém que acredita na Educação a Distância (EaD) na UEM e que, desde 2008, vem trabalhando na coordenação do curso de Pedagogia nesta modalidade.

O que ocorre é que na segunda-feira passada, dia 04/08/2014, o Conselho Universitário (COU) decidiu que, diferentemente da eleição de 2010, os alunos da EaD não votarão eletronicamente nas eleições para reitor e vice-reitor da UEM. A decisão significa que os alunos da EaD terão que votar presencialmente em Maringá. O COU simplesmente alijou os alunos da EaD da votação, pois como são estudantes que frequentam polos, na grande maioria dos casos, em cidades distantes de Maringá, será praticamente impossível que eles venham para cá para exercerem seu direito ao voto. A Comissão Eleitoral, por sua vez, no dia de hoje (07/08), não acatou uma solicitação da chapa 1 de que os alunos pudessem votar, então, nos seus polos, pois ela entende que os alunos são ligados ao Núcleo de Educação a Distância e, como tal órgão fica em Maringá, os alunos são matriculados na sede e, portanto, reverberando a decisão do COU, decidiram que os alunos da modalidade EaD devem votar, presencialmente, em Maringá.

É um momento triste para a EaD da UEM; é um momento de luto!! É um retrocesso histórico a demonstrar que existem pessoas que ainda não acreditam na eficiência e eficácia desta modalidade. Infelizmente!! Tivemos que vencer muitos desafios e muitas críticas para institucionalizar a EaD na UEM e pensávamos que os maiores obstáculos já haviam sido vencidos. Parece que estávamos enganados. Vozes insensíveis se levantaram novamente. Parece que temos ainda muito a batalhar pelo reconhecimento da EaD. E uma das pautas é mostrar que, assim como foi na eleição para reitoria no ano de 2010, os alunos que frequentam cursos numa modalidade que não seja presencial têm o direito a votar eletrônicamente, ou que, pelo menos, que sejam colocadas urnas nos polos para que eles votem nos locais onde realizam as atividades presenciais.

Antes da decisão do COU, duas outras chapas (a 2 e a 3), das quatro que concorrem à reitoria nesta eleição, entraram com pedido no COU para que os alunos da EaD não votassem eletronicamente, alegando que se tratava de isonomia, de igualdade com os outros alunos. Ora, o que as chapas não entendem (ou não querem interessadamente entender) é que a melhor forma de se conseguir a igualdade é tratar desigualmente os desiguais.

É preciso reafirmar que o ataque que a EaD está sofrendo agora está ligado às eleições para reitoria da UEM e que, portanto, é preciso, também, que meus eleitores saibam que a única chapa que fez algo de concreto para defender os alunos desta modalidade foi a chapa 1, pois as chapas 2 e 3 expuseram seu preconceito publicamente e a chapa 4 não moveu uma palha em apoio da EaD da UEM.


sábado, 19 de julho de 2014

Amigos

Aquele era o dia,
O dia do encontro,
Do encontro de todos,
De todos aqueles
Amigos.

No começo
Boas conversas.
Depois,
Abertura e confidências.
Intimidade
Entre aqueles
Amigos.

Cada um se abrindo
Aos outros.
Especialmente,
Suas loucuras.
Assim eles foram,
Aos poucos,
Se tornando grandes
Amigos.

Contaram seus dramas,
Sem medo de serem
Julgados e censurados.
Conselheiros mútuos,
Assim se tornaram
Aqueles
Amigos.

Acho que amizade é isto.
Gostar de estar junto,
Aceitar-se mutuamente,
Refletir sobre a vida,
Dar força
Em momentos de crise.
Assim fazem,
Sempre,
Aqueles grandes
Amigos.

Cada um com seu
Jeito,
Cada um com seus
Gostos,
Cada um com sua
Loucura,
Cada um com sua
Beleza.
Mas,
Cada um se reconhecendo,
Um pouco,
Em cada outro.

Assim se tornaram
Grandes
Amigos.
Que assim continue.
Pois amizade assim,
Tem que ser mesmo
Para
sempre
!!!




domingo, 13 de julho de 2014

Crônica da Copa: finais


A melhor seleção ganhou a Copa do Mundo de futebol. Parabéns para a Alemanha!!!! O jogo foi digno de uma final: lutado, aguerrido, com entrega de todos os jogadores, oportunidades de gol, faltas duras e dois times com esquema tático bem definido, ocupando os espaços e procurando não dar espaço para o adversário. Uma Copa como a do Brasil merecia, sem dúvida nenhuma, uma final grandiosa. Parabéns também para a Argentina!!, pois mereceu estar na final e, por falta de precisão de seus atacantes, não fez gol primeiro. 

O jogo de sábado entre Holanda x Brasil acho que nem vale a pena comentar. A ressaca da derrota para a Alemanha ainda não tinha passado e, uma vez mais, revelou a fragilidade tática, técnica e emocional da nossa seleção. Tomar 10 gols em dois jogos é deprimente!!

O maior engodo, e talvez a razão direta, do fracasso da seleção brasileira na copa de 2014 é, na minha opinião, o clima que se seguiu à copa das confederações de 2013: o melhor time, o que fez mais gols e, principalmente, a vitória histórica de 3x0 sobre a então atual campeã mundial, a Espanha. Pois bem, vejamos como se saíram os adversários do Brasil naquela copa agora na copa do mundo:
- Japão: ficou em último lugar no seu grupo da fase classificatória
- México: caiu nas oitavas de final
- Itália: ficou em terceiro no seu grupo da fase classificatória
- Uruguai: caiu nas oitavas de final
- Espanha: ficou em terceiro no seu grupo na fase classificatória.
Alemanha, Holanda e Argentina nem jogaram a Copa das Confederações, mas ficaram em primeiro lugar nos seus grupos nas eliminatórias e estão aí como os três melhores times da Copa do Mundo.
E, em se tratando de futebol, desprezamos as "maldições", e uma delas em particular: nunca a seleção que foi campeã da Copa das Confederações foi, em seguida, campeã mundial...


A Copa do Mundo do Brasil foi um sucesso, sem dúvida nenhuma. Sucesso de público, de gols (171 igualando a copa da França de 1998), de organização, dos estádios e, especialmente, revelou para o mundo a hospitalidade e a cordialidade do brasileiro. Mas, confesso aqui, ainda meio anestesiado, sem compreender de fato o que aconteceu, que sonhei muito em ver a seleção brasileira levantando a taça.

A melhor de todas as copas com o pior time brasileiro dos últimos tempos!! 
Comemorar de um lado e chorar de outro!!
Ainda bem que daqui quatro anos estaremos todos, de novo, esperançosos do hexa. Quem sabe não será na Russia!!!!


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Crônicas da Copa: semi-finais


Errei feio!! Não acertei nenhum dos dois palpites. Alemanha e Argentina vão decidir a copa e Brasil e Holanda o terceiro lugar. Merecidas as classificações? Sim. Da Alemanha, sem dúvida alguma; a Argentina também mereceu porque foi melhor nos penaltis, só por isso. Quem realmente jogou bem foi a Alemanha; a Argentina fez um jogo burocrático contra a burocrática Holanda, e qualquer uma que ganhasse teria merecido. Holanda decepcionou por não conseguir sair da marcação argentina, mas também não deixou ela jogar. Pouco a se comentar sobre esse jogo.

Agora, falar do jogo do Brasil ainda é difícil. Torpor foi o que senti ao ver o massacre alemão na seleção brasileira. Primeiro o sentimento de indignação com o primeiro gol, pois foi um lance primário, um erro que não admitimos nem na pelada da segunda. Depois pareceu algo inacreditável o segundo gol (e logo do Klose!!); como assim, 2x0 já?? Agora, com o terceiro, o quarto e o quinto gols fiquei entorpecido, senti como tendo tomado uma anestesia geral que estava aos poucos fazendo efeito; fiquei quase sem reação, com uma vontade de dormir sem parar. Os últimos gols nem foram tão sentidos, somente o sentimento de vergonha que ia aumentando; o vexame que aumentava.

Como pode a seleção tomar uma goleada daquelas? Numa semi-final da copa do mundo? E em casa? Ainda custo a acreditar... Culpados? Sempre os achamos: jogadores ruins, sem experiência, despreparados emocionalmente; técnico arrogante, que criou uma família (família Scolari), mas não um time de fato, que convocou jogadores parceiros, mas não os melhores, com um esquema tático atrasado; cartolas brasileiros mais interessados no dinheiro do que no futebol, que não investem nas categorias de base dos clubes; enfim, vários culpados. Penso que a culpa deve ser repartida entre todos; todos devem se envergonhar, não pela derrota, mas pela forma como ela ocorreu. Acho que nem com Neymar e Thiago Silva venceríamos o jogo, mas, quem sabe, conseguiríamos levar para os penaltis e, assim, como a Argentina, chegar a final. Do jogo em si, talvez o culpado mesmo tenha sido o técnico, que não admitiu a inferioridade brasileira e não armou o time de forma defensiva mesmo.

A Alemanha, como venho escrevendo aqui, é realmente a melhor seleção do mundial, independente do resultado da final. Uma seleção da qual lembramos de pelo menos seis jogadores como ótimos, diferente das outras em que lembramos dois ou três de cada, é a melhor de todas. Um futebol vistoso, de conjunto, com um esquema tático definido e moderno, com um meio de campo que joga o tempo todo, esta é a Alemanha. Lembra o Brasil de outros tempos!!

Vou torcer pela Alemanha, ainda mais contra a Argentina, e este é meu palpite. Que venha mais um tetracampeão mundial. Se for assim, vai ser merecido. Se los hermanos ganharem, também merecerão, pois ganharão da melhor seleção do mundial. Pena que estaremos jogando no sábado e não do domingo, mas, devo aqui reconhecer, como, aliás, venho escrevendo, que não mereceríamos estar na final pelo fraco futebol apresentado até aqui. Que pena!!!


sábado, 5 de julho de 2014

Crônicas da Copa: quartas de final

Novamente deu a lógica. As quatro seleções mais fortes, com mais tradição chegaram às semi-finais. Vai ser um espetáculo assistir Brasil x Alemanha e Argentina x Holanda. De certa forma é um grand finale para uma copa do mundo que superou todas as expectativas até agora.

Mas, falando dos jogos, na minha opinião o único que realmente foi bem jogado pela duas equipes, com emoção, chances de gol e belas jogadas foi Brasil x Colômbia. Nossos hermanos sul-americanos não se intimidaram e procuram jogar bola, com excessão, é claro, da lamentável e criminosa jogada contra o Neymar.

Os outros jogos não foram bonitos. Foram bons jogos, aguerridos, com emoção, mas apenas uma das equipes realmente resolveu jogar. Alemanha jogou e a França não conseguiu criar praticamente nada para tentar ultrapassar a muralha germânica; nem Benzema foi o mesmo. A Argentina jogou e a Bélgica também praticamente não incomodou; aliás eu já havia comentado que a Bélgica ainda não tinha me convencido e realmente eu estava certo, pois ela chegou com ares de forte concorrente ao título. Resta para franceses e belgas a certeza de que seus times são ainda novos, como muitos jogadores jovens, e que, por isso, têm tudo para fazerem uma próxima copa como a Alemanha está fazendo agora. A Costa Rica também praticamente não jogou contra a Holanda e, quando tentou fazê-lo quase fez um gol no final da prorrogação; os pênaltis brindaram o melhor time. Apesar de serem derrotadas, a Colômbia e a Costa Rica fizeram história aqui no Brasil. Portanto, venceram os times que procuram o gol, times que jogaram para frente e, com isso, mereceram estar na próxima fase.Vão ser os únicos a jogar sete jogos, ainda bem para a torcida que gosta de ver times jogando para fazer gols e não para se defender.

O Brasil jogou melhor que os outros jogos anteriores; isso é fato!! Mas, ainda temos problemas, ainda temos uma falta de criatividade no meio de campo que preocupa. Agora, então, sem Neymar, o jogo de equipe tem que sobressair. Temos ótimos jogadores além do Neymar, temos condições de formar um time que mostre que não pode existir dependência de um jogador. Todos lamentamos a ausência dele, mas temos confiança no grupo. Vai ser um jogo que deve entrar para a história do futebol.

Meu palpite para a grande final: Brasil x Holanda. Acertei os palpites para as semi-finais. Espero e torço muito para que meu palpite se concretize. Não tem mais favorito, mas não queria que o Brasil jogasse contra a Argentina a final, não por medo, mas porque torço, desde 1986, sempre por três seleções: Brasil, é claro, depois Holanda e França, pois são duas seleções que sempre me encantaram por seu futebol bonito, preciso e para frente; gosto da Holanda e da França porque sempre apresentam (ou procuram) apresentar um futebol muito parecido com o nosso, do Brasil.

Que venha Alemanha, a melhor seleção até agora no mundial!! Se conseguirmos passar por ela seremos, sem sombra de dúvida, favoritos tanto contra Holanda como contra Argentina...


terça-feira, 1 de julho de 2014

Crônicas da Copa: oitavas de final

Deu a lógica. Pela primeira vez desde que a copa do mundo tem o formato com 32 seleções divididas na primeira fase em oito grupos, que nas oitavas de final o campeão de cada grupo ganha seu jogo de oitavas de final e avança para as quartas de final. Os melhores seguem no campeonato. Mas foi uma lógica que se cumpriu a custo de muita emoção!!

Os jogos Brasil x Chile, Alemanha x Argélia e Argentina x Suiça mostraram que os favoritos tiveram que suar muito, pois fizeram partidas duríssimas e por alguma sorte não ficaram no meio do caminho. A Alemanha quando achou que tudo estava finalmente decidido levou um gol e teve que se segurar. A Argentina, depois de fazer seu gol aos 13 minutos da prorrogação, levou uma bola na trave que deve ter paralisado corações portenhos. Sobre o Brasil comento ao final.

A Costa Rica continua surprendendo, mas não conseguiu demonstrar contra a Grécia o mesmo jogo encantador da primeira fase, venceu nos pênaltis, com competência, mas mostrou falhas. A Colômbia continua brilhante, venceu seu jogo com autoridade e futebol de conjunto e prá frente; talvez tenha sido a partida de oitavas mais fácil, pois pegou um Uruguai fragilizado pela tolice do Luisito Soares, o mesmo time que perdeu feio para a Costa Rica na primeira fase. A Colômbia, além disso, brinda os fãs do futebol com o craque da copa até aqui, James Rodriguez.

França e Holanda tiveram jogos duros, mas conseguiram passar pelos seus adversários, Nigéria e México, ainda no tempo normal. A Holanda conseguiu seu primeiro gol na segunda parte do segundo tempo e a Holanda virou o jogo contra o México, de forma heróica, no final do jogo. Os dois times continuam entre os favoritos.

A Bélgica continua, para mim, uma incógnita. Jogou bem contra os EUA, mas precisou da prorrogação para vencer o bom time americano. A Bélgica chegou como uma candidata a ganhar a copa correndo por fora, mas ainda precisa mostrar tal força no próximo jogo. Por enquanto não me inspira confiança de poder ganhar da Argentina.

O Brasil... ah a seleção brasileira!! Nos deu um susto enorme e, para mim, mostrou mais fragilidades do que força. Terá uma ótima oportunidade para mostrar a que, realmente, "veio". Temos ótimos jogadores, temos Neymar, tão bom que ainda não encontraram adjetivo para ele, mas parece que não temos um time ainda. Temos emoção de sobra, mas demonstramos contra o Chile que carecemos de um esquema tático que faça jogar o que sempre tivemos de melhor, o meio-de-campo. Não aguento mais ver Júlio Cézar, Thiago Silva e David Luiz mandando a bola direto para o ataque... Estamos com uma neymardependência preocupante. Mas, temos ótimos jogadores, temos tradição, temos camisa e temos um técnico experiente para reverter a situação e recolocarmos a confiança na ordem do dia e, principalmente, estamos jogando em casa.

Para meus palpites para as semi-finais vou no óbvio: Brasil x Alemanha e Argentina x Holanda. Dos palpites que dei para as quartas de final errei duas seleções. Tenho a impressão que das quatro seleções que aposto agora, é bem possível que uma fique pelo caminho. Se for para ser, que seja qualquer uma, menos o Brasil...


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Crônicas da Copa: primeira fase


Encerrada a primeira fase da Copa do Mundo de futebol no Brasil, quero compartilhar minhas impressões e previsões. Claro que muito do que vem a seguir outros (talvez muitíssimos outros) já tenham falado ou vão falar, mas para mim não importa, pois são as minhas impressões.

- Avaliação geral: a copa está sendo um sucesso. Sucesso de gols (136 marcados), com uma média das mais altas da história (2,83 por partida). Sucesso de público, pois em quase todos os jogos, praticamente a capacidade máxima dos estádios foi ocupada. Sucesso de turismo, pois milhares de estrangeiros vieram para o Brasil sem mesmo irem aos estádios.

- Estádios: a grande maioria muito bons. Boa estrutura, gramados muito bons, talvez com excessão da Arena da Amazônia e do Pantanal. O mais bonito em minha opinião é o de Brasília, o mais feio o de São Paulo. Problemas existiriam, especialmente no que diz respeito à falta de alimentos e o preços exorbitantes.

- Decepções: ninguém esperava que a Espanha saísse na primeira fase. Poucos esperavam que a Itália decepcionasse. Se esperava mais de Portugal e da Rússia. Para mim surpresa mesmo foi a Espanha, pois a Itália jogou em um grupo em que sua queda era possível mesmo. Já Portugal não foi surpresa total, pois o time depende do Cristiano Ronaldo que não foi bem, pois veio visivelmente machucado para a copa. Rússia jogou como sempre e perdeu como sempre.

- Surpresas: inegavelmente quem mais surpreendeu foi a Costa Rica, pois ninguém, nem mesmo os costarriquenhos esperavam a classificação, ainda mais em primeiro lugar no grupo da morte. A Argélia foi uma boa surpresa também. A Colômbia e o Chile não chegaram a ser surpresas, pois têm ótimos times e tradição em frequentar os mata-matas das copas.

- Melhores: na ordem, as seleções que mais encantaram até aqui foram a França, a Holanda, Alemanha, Argentina e Colômbia. França e Holanda com futebol mais vistoso e prá frente. Colômbia jogando muito bem. Argentina do meio para frente e com Messi se destacou, mas tem a defesa devassável sem muito esforço. A Alemanha, para mim, é o melhor time até agora, mesmo com o empate com Gana, pois tem o melhor esquema tático e o melhor conjunto.

- Brasil: jogou bem, mesmo contra o México. Mas está aquém do que nós brasileiros gostaríamos. Mostrou eficiência na marcação e na finalização, graças, é claro, ao gênio de Neymar. No entanto, o conjunto está devendo e o meio de campo não está tomando conta dos jogos. Sinal amarelo para o time!

- Previsão: os jogos das quartas de final, para mim, serão: Brasil x Colômbia, França x Alemanha, Holanda x Grécia e Argentina x Estados Unidos. É apenas uma previsão, considerando que em minha opinião para ganhar a copa os critérios são: 60% de competência, 20% de sorte e 20% de camisa/tradição.

De resto, torço para que, independente de quais seleções forem adiante,  a Copa continue sendo o sucesso que foi até aqui... e que o Brasil seja campeão, é claro!!!!


domingo, 22 de junho de 2014

(Des)Confiança...

Nave Enterprise

Acabei de assistir um dos últimos episódios da última temporada de Jornada nas Estrelas - a Próxima Geração, que foi ao ar no Brasil de 1987 a 1994. A trama da história reside na autogeração de uma nova forma de vida que começa a se desenvolver na nave Enterprise  e que, aos poucos, vai tomando conta de tudo. Como é um organismo em crescimento, suas atitudes, em um primeiro momento, se parecem com uma criança que vai descobrindo seu corpo, no caso, a própria nave, e do que ele (ela) é capaz de fazer. A primeira iniciativa dos tripulantes da nave foi de destruir o organismo, no entanto, como a missão deles era descobrir, interagir e respeitar desconhecidas e novas formas de vida, o Capitão Jean-Luc Picard  interviu no sentido de que se procurasse entender a nova criatura e, se fosse o caso, ajudá-la a se desenvolver. O problema é que a nova forma de vida estava aprendendo a viver se espalhando pela nave, a dominando e a controlando, colocando em risco as outras vidas. Quando a forma de vida estava quase formada, a tensão residiu se ela iria se instalar definitivamente na Enterprise, ou se ela de lá sairia. Se ficasse colocaria em risco a vida de mais de mil tripulantes entre humanos, betazóides, klingons, e outras raças do universo Star Trek; se fosse embora a criatura teria aceitado a ajuda e entendido as boas intenções de todos na nave. É claro que a última opção foi escolhida. Mas, o que me chamou a atenção foi um diálogo final entre o Tenente Comandante Data e o Capitão Picard, que se deu mais ou menos assim:

Data - Capitão, como o senhor sabia que a criatura deixaria a nave?
Picard - Eu não sabia Data. Mas se a criatura se alimentava da Enterprise, ela também se alimentava de nós, de nosso trabalho, de nossa cultura, de nossas expectativas, de nossos sonhos. Na verdade, fizemos uma aposta em nós mesmos, e mostramos que podemos ser confiáveis.

Fiquei pensando se hoje somos realmente confiáveis. Fico imaginando se uma criatura dessas aparecesse em algumas instituições nossas se poderíamos apostar que ela nos compreenderia. Aliás, fico imaginando se a primeira tentativa nossa não seria eliminar a criatura sem procurar entendê-la e respeitá-la como uma forma de vida diferente, mas igualmente importante. Confesso que hoje, nesta absurda hipótese, eu sou mais pessimista. No entanto, o episódio me parece, no fundo, uma grande metáfora do otimismo para com a raça humana. Na dúvida, talvez seja melhor, ainda, ficar com o Capitão Jean-Luc Picard!!!!


domingo, 8 de junho de 2014

(parte 3 e última) A fratura brasileira: pequenos ensaios sobre a copa


Dando continuidade e ao mesmo tempo terminando estes pequenos ensaios, passo a refletir o que significa, em minha opinião, uma divisão tão grande entre os que são favoráveis e os que são contrários à realização da copa do mundo de futebol no Brasil.

Em uma pesquisa recente de opinião do jornal local de maior circulação 51% eram contrários e 49% eram favoráveis ao mundial em nosso país. Mesmo levando em conta que tal pesquisa pode não ser precisa e nem exatamente representativa da opinião geral, o seu resultado revela uma diferença pequena de opinião o que indica que este assunto tornou-se realmente polêmico. Mais do polêmico, tal assunto revela, em minha opinião uma verdadeira fratura no tecido social brasileiro. Aquilo que era, talvez, a única coisa que representava uma identidade nacional já não mais comunga como antes. Penso que uma nação que quer progredir, que realmente quer resolver seus problemas, que quer crescer em cidadania e que quer exigir que seus políticos representem, de fato, os interesses da população, deve ter um sentimento nacional que vá além de preferências pessoais. O Brasil deve estar acima de nós, individualmente; os interesses coletivos e sociais têm que ser mais importantes que os interesses particulares e os de grupos organizados. Para isso, um sentimento nacional deveria nos guiar. A seleção brasileira de futebol não é e nunca foi unânime, mas sempre representou, de certa forma, um espírito nacional que congregava a grande maioria dos brasileiros. Se nem ela mais consegue isso, e na falta de qualquer outra coisa que nos congregue nacionalmente, penso que a fratura exposta tende a se tornar, em breve, um verdadeiro desastre, com repercussões inimagináveis. Torço para que, no fundo, isso que seja simplesmente pessimismo de minha parte.

Como já escrevi no post anterior, desde que o Brasil foi escolhido para sediar o mundial, eu me senti muito orgulhoso de ser brasileiro, da mesma forma que me senti assim pela escolha da cidade do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. E me sentiria assim independente de quem governasse o Brasil, independente de qual partido estivesse no poder. E o fato de me sentir orgulhoso de ser brasileiro neste momento não me impede de ser critico de muitas coisas no Brasil, bastando, para isso, ver posts antigos e recentes deste blog. O que percebo é que o movimento de crítica à realização da copa foi, em boa parte, instrumentalizado politicamente para servir de desgaste aos que nos governam; é a cultura política no Brasil dos partidos de oposição que torcem sempre pelo pior, para que eles surjam como alternativas de poder. É o jogo da democracia? Jogo pobre e empobrecedor...

Vou torcer pela seleção como sempre torço, com muita emoção e entusiasmo... Mas, mesmo se não ganharmos o hexacampeonato continuarei sentido orgulho de que meu país, em plena era do padrão-fifa, conseguiu organizar a copa do mundo. Mas, depois que ela passar, seria democrático e republicano abrir as contas da construção dos estádios para que o brasileiro saiba realmente o total dos gastos e quem pagou a conta.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

A fratura brasileira: pequenos ensaios sobre a copa (parte 2)


Dando continuidade à reflexão anterior quero, inicialmente, esclarecer que a intenção do post anterior foi comparar dois momentos em que a seleção brasileira de futebol e a copa do mundo são criticadas por motivos políticos e não comparar dois governos políticos do Brasil, pois é inegável, é incomparável mesmo relacionar um governo ditatorial como o militar, em que a democracia foi atacada em seus fundamentos, e um governo eleito democraticamente.

Voltando à discussão sobre a fratura social que eu identifico, quero refletir sobre os motivos apresentados pelos brasileiros para que o Brasil não sediasse a copa. Basicamente, o que se critica é o fato de que o dinheiro usado para construir os estádios deveria ser canalizado para outras necessidades básicas da população, como saúde, habitação e educação. Claro que é impossível discordar, se se tiver um mínimo de sensibilidade social, que o Brasil necessita, e muito, de mais investimentos sociais; também é inegável constatar que os estádios reformados ou construídos para os jogos do mundial custaram além do que poderiam custar se tivéssemos um planejamento e uma execução realmente sérias no Brasil; e, mesmo com gastos exorbitantes, alguns estádios somente ficaram prontos às vésperas do torneio, como o de São Paulo e o de Curitiba. No entanto, fico me perguntando qual o país hoje, no mundo, que não precisa de investimentos sociais; quais países no mundo que não têm suas crises sociais e que, caso se candidatassem para realizar o mundial, não receberiam críticas de sua população? O que se passa, em minha opinião, é que as críticas, independente da realização ou não da copa no Brasil, continuariam a ser feitas, pois não me parece, com toda a sinceridade, que o futebol é a causa de todos os males, mas, sim, um pretexto para se achar e se crucificar aqueles que são considerados os responsáveis pelas mazelas sociais. Desta forma sou levado a pensar que a copa do mundo em terras brasileiras expõe ou é expressão de uma fratura social muito séria.

O brasileiro, que se acostumou a se orgulhar de ter algumas coisas maiores do mundo, como a hidrelétrica de Itaupu e o estádio do Maracanã (que deixou de ser o maior do mundo após a primeira grande reforma anos atrás, quando retirou-se a arquibancada das gerais) parece que sofre, na verdade, de um complexo de pobre, que talvez derive de seu processo colonizador, cujo rompimento foi feito de cima para baixo, sem efetiva participação popular. Há uma espécie de psicologia da pobreza que introjeta na pessoa despossuída de bens evitar, por exemplo, certos lugares tidos como próprios para os ricos, como os grandes e caros shopping-centers. Me parece que tal sentimento se estende por grande parte da população que acha que o Brasil, por ser um país ainda com mazelas sociais, não pode sediar a copa do mundo, fato este que deveria ser reservado apenas para os países ricos.  O México, por exemplo, sediou a copa duas vezes, se bem que antes, ainda, do famoso padrão-fifa de qualidade, e a África do Sul sediou a última copa, já obedecendo tal padrão. Ficaram piores do eram? Poderiam ter melhorado sem a copa? Sinceramente, eu responderia negativamente às duas questões.

Penso que a copa do mundo não deve ser utilizada politicamente para encobrir nossos reais e complexos problemas sociais, econômicos e políticos. Penso, também, que a copa no Brasil não deveria servir de pretexto para fazer dela, ou mais propriamente, das críticas à sua realização, um instrumento político de fundo eleitoral. De minha parte, tenho muito orgulho da realização da copa do mundo novamente em terras brasileiras. Acho que o padrão-fifa de qualidade nos estádios é excelente para o conforto dos torcedores que não podem ser tratados com desrespeito (como, por exemplo, aconteceu na final do campeonato paranaense de futebol recentemente aqui em Maringá, quando mais de dois mil torcedores que já haviam comprado ingresso ficaram de fora do estádio porque não cabia mais pessoas, as quais, em sua maioria, estavam apinhadas e sentados em um cimento duro e sujo nas arquibancadas); será que não merecemos mais?? Será que não está na hora de exigirmos ser tratados como os torcedores são tratados nos estádios, pequenos ou grandes, da Europa?

Paro por aqui enquanto vou amadurecendo a terceira parte desta reflexão...


domingo, 1 de junho de 2014

A fratura brasileira: pequenos ensaios sobre a copa (parte 1)


Me proponho aqui a apresentar algumas reflexões sobre o contexto atual que envolve a realização da Copa do Mundo da Fifa no Brasil. Conversando com amigos, creio que é necessário se posicionar sobre a realização da copa aqui em terras tupiniquins, pois para fazer isto é necessário pensar sobre outros pontos que acabam por ser correlatos. Adianto que sou favorável a que o Brasil promova o principal evento esportivo do planeta. Mas, inegavelmente, a sua realização expõe uma fratura no tecido social brasileiro que pode ter consequências complicadas para nosso país.

O que ocorre hoje não me parece diferente do que ocorreu na década de 1970, especialmente no início, quando o Brasil, em meio ao regime militar, conquistou o tri-campeonato mundial de futebol, apresentando uma seleção tida como uma das melhores da história, com Pelé, Tostão, Gerson, Rivelino etc. As pessoas que ou militavam ou simplesmente eram contrárias a ditadura falavam que torcer para o Brasil em gramados mexicanos era colaborar com os militares, contribuindo ideologicamente com o governo repressor e de direita no Brasil. Eu, que comecei a militar na política em meados da década de 1980, que já era fanático por futebol, que tive o prazer e a dor de ver a seleção brasileira na copa da Espanha em 1982 (a melhor seleção brasileira que eu vi jogar), por vezes me vi impelido a controlar minhas pulsões futebolísticas e condenar o campeonato mundial conseguido no México, porque, para muitos companheiros de luta, vibrar com os lances reprisados na TV  (inesquecíveis) da final contra a Itália, era deixar de ser de esquerda e, por consequência, se tornar alienado. Confesso que tive crises internas, mas, ao final de contas, consegui separar as coisas em meu coração e mente e assumi meu gosto futebolístico, especialmente pela seleção brasileira, a qual sempre me inspirou um nacionalismo que eu gosto de cultivar, sem perder o senso crítico.

Mas, a questão que quero refletir aqui é sobre uma fratura social que, na minha opinião, a discórdia sobre a realização da copa representa para nós brasileiros. O Brasil, como muitos autores já descreveram, não tem um espírito nacionalista, como vemos, por exemplo, no EUA e no México (me lembro que quando passei o ano novo no México uma vez, em que meus cunhados convidaram amigos mexicanos para a festa em sua casa, as rádios tocaram o hino nacional mexicano à meia-noite). Aqui, talvez porque nossa nacionalidade foi resultado de articulações e ações de uma elite e nunca do povo em geral, como a Independência e a República, talvez por que nossas revoluções foram de cima para baixo e não o contrário, não desenvolvemos um espírito nacionalista, ao contrário, no geral o que percebo é uma certa vergonha de ser brasileiro. O futebol talvez tenha sido, desde a segunda metade do século XX, uma das únicas instituições que unia as pessoas em torno de um sentimento nacional (Airton Senna foi, com certeza, uma excessão à regra, pois nos sentíamos orgulhosos com as vitórias e demonstrações de nacionalidade típicos dele). Bem ou mal, o futebol fazia este papel, de união das pessoas, em determinados momentos, para além das divisões políticas, sociais e econômicas.

Paro por aqui hoje pois é apenas um início de uma reflexão. Além do mais, como algumas pessoas me recomendaram, quando criei meu blog, que as postagens não deveriam ser longas, o que procuro sempre seguir.


domingo, 25 de maio de 2014

A política e os políticos


Quero refletir sobre a política e os políticos a partir de duas notícias que li no jornal hoje pela manhã. A primeira é sobre o recesso que o Congresso Nacional fará depois da copa do mundo de futebol; a notícia se completa com o fato de que, durante a copa, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal deverão fazer apenas uma sessão semanal  e, a partir de agosto, as campanhas para as eleições de outubro já começam; ou seja, a partir de 12 de junho nossos nobres políticos deverão trabalhar menos do que já fazem. A segunda notícia é sobre o ex-governador do Paraná, Roberto Requião, que, fazendo seus planos para ser candidato ao governo estadual mantém um escritório em Curitiba com mais de 20 pessoas que trabalham praticamente de forma exclusiva para a sua candidatura; a notícia se completa com o óbvio: quem paga o salário dos "funcionários" do seu escritório somos nós, povo brasileiro, pois é o Senado quem paga esta fatura com as verbas de representação. Mas não vou aqui tomar o senador Requião como bode expiatório, pois, na verdade, todos os deputados e senadores têm sua verbas de representação.

Para quem tem algum ideal republicano, como eu, tais notícias causam indignação e levam ao pessimismo. Conseguir se eleger para algum cargo representativo em nível estadual ou nacional é um excelente negócio para quem quer fazer carreira política, para quem quer se tornar político profissional, pois a rotina estabelecida em nossos parlamentos privilegiam o trabalho para a re-eleição ou para a eleição para outro cargo. Tanto o fato de que há muitos dias em que os políticos são desobrigados a comparecer no que deveria ser seu verdadeiro ambiente de trabalho, como o dinheiro que eles recebem para pagar pessoas que vão trabalhar exclusivamente para eles, visando a recondução aos cargos dos seus patrões, são mecanismos que foram naturalizados na política brasileira, e que, é óbvio, eles, os políticos, jamais vão romper. Nós, brasileiros, com parte dos impostos que recolhemos, financiamos a trajetória individual de pessoas que se eternizam na rotatividade de cargos. É o público que financia o particular.

Para quebrarmos com esta perniciosa ciranda defendo, há algum tempo, duas reformas na política brasileira: acabar com a re-eleição para qualquer cargo eletivo e o cumprimento até o final dos mandatos para os quais as pessoas foram eleitas. Sem possibilidade de recondução aos cargos, especialmente os legislativos, talvez os políticos trabalhem exclusivamente para os mandatos para os quais foram eleitos e as pessoas a serem contratadas para seus escritórios passariam a ser uma extensão de um serviço público e não de uma agência particular. Cumprir os mandatos até o final, proibindo-se a candidatura para qualquer cargo enquanto sua gestão não terminar, talvez, também, faça da agenda dos políticos o presente de todos e não o futuro deles próprios, esforçando-se para cumprir, de fato, o programa de governo que foi aprovado pelas urnas.

Meus leitores podem me chamar de utópico, para o que serei forçado a concordar. Quando o que se propõe se parece com uma utopia é inevitável que o pessimismo se aproxime de forma contundente, no entanto, se não cultivarmos utopias corremos o risco de enfiar nossa indignação terra a baixo e deixar que o publico continue sendo um terreno para, inclusive, locupletagens particulares.  Termino esta postagem com uma parte do discurso pronunciado em 1848 por Alexis de Tocqueville na Câmara dos Deputados da França, o qual, apesar da distância do tempo e do espaço, ainda me parece, tragicamente, atual:

"Temo, senhores, que atribuindo o mal que se confessa às causas que se indicam, não se está levando em conta a enfermidade, mas o sintomas. Por mim, estou convencido de que a enfermidade não se acha ali; é mais geral e mais profunda. Essa enfermidade, que é preciso curar a todo preço e que, podeis bem crê-lo, nos levará a todos, ouvi bem que digo todos, se não nos cuidarmos disso, é o estado em que se encontram o espírito público, os costumes públicos. Eis onde se acha a enfermidade; é para este ponto que desejo chamar vossa atenção. Creio que os costumes públicos, o espírito público, acham-se num estado perigoso; creio, mais, que o governo [classe política] contribuiu e contribui da maneira mais grave para aumentar este perigo."




terça-feira, 29 de abril de 2014

O papa e os santos papas


O papa Francisco decretou nesta semana a santidade dos papas João XXIII e João Paulo II. Dois papas recentes que entram para o rol dos mais de 10 mil santos da Igreja Católica. O interessante é que depois do ano 1.300 somente quatro papas foram santificados, um no século XVI e os outros três atuaram no século XX. Mas, o mais significativo, em minha opinião, foi o fato da dupla canonização recente ter se dado no mesmo dia. Tenho para mim (e não sou original em minha análise) que o papa Francisco quis dar um recado claro para a Igreja toda.

João Paulo II, sem dúvida, foi um papa muito popular, talvez o mais popular em muitos séculos. Falava dezenas de línguas e fez centenas de viagens para todos os cantos do mundo, além de ter contribuído com a derrocada do comunismo, fato que agradou boa parte do mundo católico que tinha no modelo soviético um ateísmo militante e muito perigoso. João XXIII é tido pela tradição recente como um papa Bom, que dialogava com outras religiões, mas que foi alvo de críticas de setores conservadores da Igreja que o julgavam excessivamente moderno. João Paulo II governou a Igreja por quase 27 anos, sendo conhecido como moderno em questões sociais, mas conservador em questões dogmáticas e doutrinárias. João XXIII esteve a testa do catolicismo por quase 5 anos apenas, tendo sido escolhido para um pontificado de transição.

Mas, fica a questão das razões pelas quais os dois papas foram canonizados no mesmo dia. Creio que não foi à toa a decisão de Francisco. O maior legado de João Paulo II foi o diálogo com o mundo; o maior legado de João XXIII foi ter aberto as portas (aberto é pouco, ele as escancarou) para a maior reforma da Igreja em sua história. Assim como o Concílio de Trento, que ocorreu de 1545 a 1563, o Concílio Vaticano II, acontecido de 1962 a 1965, procedeu uma reforma eclesiológica e pastoral profunda. João XXIII não viu o desfecho do concílio porque faleceu em 1963. Creio que o recado do papa Francisco é muito claro: João Paulo II pode fazer um pontificado significativo para a Igreja porque um seu antecessor, João XXIII, possibilitou que a Igreja se abrisse para o mundo, revendo a rígida hierarquia (que separava com um fosso intransponível o clero do povo), adotando a língua dos países para as celebrações (desobrigando a missa em latim) e colocando o padre de frente (e não de costas) para os fiéis na missa. Além disso, a partir de Vaticano II, a Igreja se abriu para seus compromissos sociais, criando pastorais setoriais, possibilitando, inclusive, a formação da Teologia da Libertação, a qual, por sinal, quase foi enterrada por João Paulo II. O povo católico pedia, quase uníssono, a santificação de João Paulo, e o papa o colocou ao lado de um hoje quase não lembrado João XXIII. João Paulo, o papa da mídia; João, o papa que teve a coragem, de poucos, de antenar a Igreja com o mundo atual.

O recado do papa Francisco é da necessidade premente que a Igreja passe por uma nova reforma interna, que a aproxime ainda mais do povo, em especial dos pobres, e, para isso, é preciso que o clero, especialmente, os bispos, dêem exemplo de caridade e de pobreza. Estou afastado da militância da Igreja, mas confesso que estou gostando cada vez mais do papa Francisco; e não apenas pelo fato de ele ser jesuíta (meu tema de estudo desde o doutorado), mas pela sua coragem e exemplo de que é preciso que a Igreja não esteja somente presente na mídia, mas se aproxime cada vez mais deste mundo moderno, caótico, plural, complexo e tão cheio de carência que vivemos.

Por último: gostaria de ver canonizado também o papa Paulo III, que também teve muita coragem para iniciar a reforma da Igreja no século XVI, ao convocar o Concílio de Trento. Quem sabe Francisco não "mexe seus pauzinhos" e se lembre de que foi aquele papa que também autorizou a existência da Companhia de Jesus... Devaneio, puro devaneio...