quinta-feira, 18 de julho de 2013

O líder e o chefe - parte 1: na gestão

Conversando esses dias com uma amiga sobre um amigo em comum ela me falou das diferenças entre o líder e o chefe e que tal se tratava de algo presente em teorias de administração. O tema me atraiu e me fez refletir por alguns dias e, mesmo não consultando as autoridades sobre a teoria, me atrevo a expressar alguns pensamentos sobre o assunto, muito como resultado de minha experiência como gestor e da observação de outras experiências.

Para começar, uma  definição e a consequente distinção. A autoridade do líder é reconhecida e não imposta; o líder trabalha e estimula o trabalho em equipe, atribuindo responsabilidades e delegando funções; ele ouve com atenção os outros, especialmente sua equipe; estabelece uma relação burocrática impessoal; e, especialmente, não tem ciúmes dos seus subordinados, não os vendo como competidores em potencial. O chefe, ao contrário, impõe sua autoridade, sempre que se vê ameaçado; tem dificuldade de trabalhar em equipe, pois desconfia da sua competência; dificilmente atribui responsabilidades e quase nunca delega funções, com medo de que as pessoas tenham um desempenho tão bom que tomem o seu lugar; o chefe é centralizador e, por consequência, pessoaliza as relações, estimulando e cobrando futuras faturas da política do balcão.

As duas espécies de comando se encontram tanto na iniciativa privada como, especialmente, nas instituições públicas. O comando feito por um líder, com ou sem carisma (se bem que geralmente o líder é uma pessoa carismática), acaba parecendo mais natural, sendo que as pessoas no geral o respeitam. O comando do chefe soa mais artificial, pois é imposto e, portanto, os subordinados mais o temem do que o respeitam. O chefe dificilmente reconhece o trabalho de seus subordinados e, quando isso acontece, é porque a tarefa feita apenas reforça a sua imagem. Aliás, a preservação da imagem é uma preocupação constante do chefe, sendo que nada pode arranhá-la, tanto a imagem pessoal, como a da própria chefia em si, pois a imagem é tão importante quanto a função. Já o líder não se preocupa tanto com a imagem pessoal, pois o que importa é se o trabalho está sendo bem realizado; mais do que os meios, os fins da sua função são preocupação constante do líder.

É claro que a autoridade nem sempre é pura, ou seja, as pessoas podem mesclar um pouco de chefia e um pouco de liderança. É claro, também, que o desejoso, pelo menos para mim, é que tivéssemos comandos de líderes e não de chefes. É claro, também, que a gestão de um líder pode resultar em fracasso e a gestão de um chefe em sucesso. Mas, se considerarmos, também, que toda forma de autoridade revela uma forma educativa, o tipo líder é muito mais proveitoso para todos. Uma forma simples, penso, de verificar qual tipo de comando temos é verificar se o gestor é ou não democrático; se o for, um líder se revela, caso contrário, é um chefe, o qual tem que impor sua autoridade.

É preciso reconhecer, no entanto, que geralmente é difícil encontrar na realidade os tipos teoricamente definidos, pois a realidade sempre é mais imperfeita. Mas é um exercício no mínimo curioso a gente perceber que tipo de comando exercemos e, especialmente, de que tipo gostamos mais, pois não será surpresa nos percebermos gostando justamente do tipo chefe. Finalmente, há, também, aqueles gestores que não são líderes e nem conseguem ser chefes... esses são os piores!!!!


sábado, 6 de julho de 2013

Reforma Política - boa, mas tímida


Tenho uma convicção, que acabou se tornando uma espécie de pessimismo crônico pessoal,  de que não deveria ser necessário um plebiscito para promover uma reforma política no Brasil. Gosto e confio na presidenta Dilma, votei e provavelmente votarei nela novamente, mas confesso que esperei, com muita ansiedade que, logo após 2002, haveria um clima para se mudar algumas coisas que favorecem o coronelismo e o currarialismo políticos que continuam se modernizar em terras tupiniquins. Acalentei a esperança de que haveria, especialmente no âmbito legislativo, uma necessária reforma republicana no Brasil. Mas as mudanças não vieram por decorrência de uma vontade e de uma articulação políticas... que venham, agora, como resultado da pressão popular.

No entanto, apesar de concordar com os cinco pontos propostos da reforma política, acho que ela é muito tímida, não tocando em alguns aspectos que dizem respeito ao que considero privilégios que os políticos desfrutam em contraste com a realidade brasileira. Os pontos que serão, se tudo der certo, objeto de plebiscito para valer já para as próximas eleições, são: sistema eleitoral, financiamento público de campanha, suplência de senador, coligação partidária e o voto secreto no parlamento. Os pontos que faltam, na minha opinião, são: fim da re-eleição para todos os cargos, com mandato de seis anos; fim da aposentadoria especial para o legislativo, executivo e tribunais especiais; fim da obrigatoriedade do voto.

Com o mandato de seis anos para todos os cargos, tanto no executivo como no legislativo, o que já está sendo ventilado no Congresso Nacional, a consequência lógica é impedir a re-eleição para todos os cargos. No caso do Legislativo chega a ser vergonhoso o fato de que políticos estão no seu terceiro, quarto, quinto ou mais mandatos seguidos, havendo uma espécie de "feudalização" dos cargos de deputado e senador. Ser político não deveria ser profissão, pois desta forma há um apego exagerado com aquilo que, por definição, deveria ser um serviço à comunidade.

É vergonhoso, na minha opinião, que deputados, senadores e conselheiros de tribunais de contas possam se apontar tendo contribuído com seus respectivos fundos de pensão por seis, dez, quinze anos apenas. Os próprios fundos de pensão são pagos pelo povo, por nós, à medida em pagamos os gordos salários que os políticos em cargos desses níveis recebem. Os fundos de pensão deveriam ser apenas para funcionários concursados do Congresso Nacional, assembléias legislativas e tribunais de contas. Os políticos, se quiserem, podem pagar previdências privadas, cujas contribuições certamente não afetarão muito a totalidade de seus ganhos. Os funcionários que não são concursados devem se enquadrar na previdência oficial brasileira.

Em uma democracia madura, em que os cidadãos não são tutelados como se crianças fossem, como é o caso dos Estados Unidos, a liberdade de voto é uma realidade. Um voto que não é obrigatório tende a ser mais consciente, e aqueles que optarem por não exercerem seu direito saberão que estão delegando para os outros a eleição dos representantes de todos os cidadãos. Fico imaginando quantos currais eleitorais deixariam de existir simplesmente pelo fato de que as pessoas não seriam obrigadas a exercer um direito.

A reforma política e bem-vinda, mas continuo com a convicção (pessimista) de que ela não tocará em assuntos fundamentais. Pois, além do que defendi aqui, ainda teriam que ser derrubados certos privilégios como passagens, mordomos, combustível, motorista, telefone... indiscriminados e sem limites... Mas, como não se paga para sonhar, ainda anseio por uma reforma que seja, verdadeiramente, republicana!!