quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Amor e liberdade


O vocábulo amor é tão complexo, tão cheio de significados e pode se referir a diferentes aplicações que os gregos criaram três palavras diferentes: eros,  philia e ágape. Três palavras para sentimentos que têm muita coisa em comum, mas para públicos diferentes. Para nós, ou na língua portuguesa, utilizamos amor de forma indistinta, tanto para namoro, como para amigo, familiares, pessoas desconhecidas etc. De qualquer forma, a palavra amor remete a um tipo especial de ligação, que não desenvolvemos por qualquer pessoa, mas para aquelas que passam a ser especiais.

Para o sentimento que envolvia atração física, sexo, intimidade, os gregos usavam a palavra eros. O amor erótico, o amor erotizado, que nós por vezes interpretamos como algo quase pornográfico. Revistas de mulheres nuas ou homens nus são vendidas como eróticas; sites que veiculam filmes de sexo explícito são tidos como sites eróticos, e assim por diante. Eros, na verdade, diz respeito ao prazer, diz respeito à fertilidade e à propagação da espécie.

Para o sentimento familiar, de amizade, de aconchego, eles usavam philia. Tanto que a própria palavra filosofia tem origem na junção de sophia, sabedoria, com philia, amizade, sendo o filósofo aquele que é amigo da sabedoria.  A diferença da philia para o eros parece óbvia, mas há uma semelhança, pois os dois sentimentos são dirigidos para pessoas específicas: o primeiro para o outro amado, o segundo para o familiar ou para o amigo. Philia sentimos por pessoas que estão na nossa vida por laços de sangue, um amor quase instintivo, pois há uma cultura que praticamente torna este amor obrigatório, e há aquele sentimento que desenvolvemos por pessoas que escolhemos amar, como os amigos.

Agora, para o sentimento de amor por uma situação ou por pessoa(as) os gregos usavam ágape, que é um sentimento desprovido de interesse individual, um sentimento que poderíamos traduzir aproximadamente por solidariedade. Atualizando ágape, desenvolvemos tal sentimento quando nos indignamos com alguma situação e nos estimulamos para resolver; quando olhamos o outro, especialmente aquele que está abaixo de nós na escala sócio-econômica, com sentimento de igualdade, de respeito e de atenção; o outro, o diferente, o despossuído, o reprimido são tratados de forma igual; mesmo o arrogante, o chato, aquele que incomoda são vistos com clemência. De certa forma, o amor-ágape é aquele que se estende pela humanidade.

Agora, para que todos os três tipos de amor se desenvolvam em plenitude é necessário a contrapartida, que é a liberdade. Sem ela qualquer amor se torna uma forma de escravidão. Se eros é acorrentado, o amado passa a ser propriedade do amante; o amor-philia é aprisionado quando, por exemplo, a mãe superprotege o filho ou quer vê-lo realizar os seus projetos frustrados, e quando um amigo se aproveita do outro ou tem por ele inveja por algum motivo; o ágape não se realiza quando há qualquer forma de sujeição, de desrespeito e de sentimento de superioridade, ou quando a atitude solidária mascara, na verdade, algum ganho individual de visibilidade da ação.

Amor, seja de qual tipo for, só se realiza, de fato, com liberdade. As pessoas devem ser e se sentir livres para amar e serem amadas. Sem liberdade há tudo, menos amor. Penso que hoje há muito sentimento que as pessoas chamam amor, mas que não são cultivados pela liberdade e, por isso, tornam-se sentimentos aprisionados. Talvez por isso é que encontramos cada vez menos o amor mais puro, o mais desprendido de todos, que é o amor-ágape...


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Eleições na UEM: quando perder não significa ser derrotado...


Neste ano tivemos as eleições para a reitoria da UEM. Passados os dois meses entre a homologação das quatro chapas concorrentes e a realização do segundo turno, a comunidade acadêmica escolheu a dupla que vai conduzir a nossa universidade de 10 de outubro de 2014 a 09 de outubro de 2018. Prentendo, aqui, fazer uma análise do processo eleitoral, destacando, especialmente, o trabalho da chapa 1. Mas, antes disso, quero parabenizar os professores Mauro Baesso e Julio Damasceno pela vitória nas urnas, vitória que indica que a comunidade acadêmica toda - pois eles ficaram em primeiro lugar nos três segmentos no segundo turno - quer mudanças na UEM.

Bem, a campanha da chapa 1, dos professores Mário Azevedo e Paulo Fernando, da qual participei como um dos coordenadores, foi uma das melhores que já me envolvi na UEM. Campanha limpa, propositiva, inclusiva; campanha que agregou, desde o início, muitos apoiadores; campanha cujo conteúdo programático foi pensado e executado coletivamente; campanha que teve muita adesão nas redes sociais; mas, especialmente, uma campanha que, desde o início, teve uma mote, uma espécie de mística que nadou contra a corrente da política em geral: nunca tivemos medo de perder.

Os princípios discutidos e acordados coletivamente nunca foram objeto de negociação para fins pragmaticamente eleitoreiros. A defesa da EAD, de que os alunos votassem eletronicamente, pois é tratando desigualmente os desiguais que se atinge a isonomia; a defesa pública e inequívoca da paridade nas eleições para reitoria, entendendo que a comunidade é constituída de segmentos igualmente importantes para decidirem os destinos da instituição; a não negociação e o loteamento antecipados de cargos de primeiro escalão, entendendo que a adesão a uma proposta não pode ser movida com fins egoístas e interesseiros. Enfim, o que mais me chamou a atenção e me fez apoiar com convicção a chapa 1 foi a tentativa de mudar a forma de se fazer política, implementar uma forma desprendida de interesses eleitoreiros, uma forma que recusou estabelecer um projeto de poder, e sim, um projeto realmente coletivo para a universidade.

Assim, tenho a convicção de que a perda nas urnas no primeiro turno não significou a derrota de um projeto. Pelo contrário, o projeto da chapa 1 era, claramente, uma alternativa ao atual estado da gestão universitária, uma alternativa de descontinuidade com o que se está praticando na UEM nos últimos quatro anos. Assim, a vitória da chapa 2 mostra que a comunidade quis, sim, a mudança; mostra que a comunidade quer outra opção de comando que desvincule a gestão da política de balcão, que desvincule a gestão de projetos absolutamente pessoais. A vitória da chapa 2 mostra, para mim, que o projeto da chapa 1 teve acolhida numa UEM que quer mudanças.

Há a necessidade de que projetos coletivos e individualmente desinteressados continuem sendo discutidos na UEM. Tenho certeza que o grupo (aliás, que belo grupo!!) que se uniu sem medo de perder, sem negociar princípios, vai querer continuar discutindo a UEM, vai querer burilar e aprimorar um projeto para toda a universidade. Assim é necessário, pois, se viver não é preciso, cada um pode fazer algo e JUNTOS PODEMOS, sempre, MAIS!!!