terça-feira, 31 de maio de 2016

mulheres aladas


Ah, essas mulheres que têm asas!
São fortes, destemidas
São corajosas, valentes
Enfrentam os desafios,  jamais se entregam.

Ah, essas mulheres aladas!
Paradas não ficam
Dominadas não são
Medos não as paralisam
                   os enfrentam.

Ah, essas mulheres que têm asas!
Avançam sempre
Olhos adiante
Coração pulsante.

Ah, essas mulheres aladas!
Dominar não querem
Se expressar querem
Viver pedem
          intensamente

Subjugar essas mulheres aladas?
Jamais!
Dominar essas mulheres que têm asas?
Perda de tempo
Elas são assim:
Livres, decididas, amantes
Delicadas, firmes, independentes.

Mulheres assim são poucas
Por isso sofrem
Homens e outras mulheres
Invejosos de seus vôos
Querem cortar as suas asas
                        as asas da liberdade!!

Não se entreguem mulheres aladas!
Não se entreguem mulheres que têm asas!
Jamais desistam de ser quem são
Mostrem para todas
               para todos
Quem voa vê tudo sempre do alto!


quinta-feira, 12 de maio de 2016

Death Note (Livro da Morte)


Death Note é um mangá que foi produzido como anime e que está disponível no Netflix. Resumidamente, a história é sobre um jovem japonês que, sem querer, pega um livro que caiu na terra por descuido de um Shinigami, um deus da morte. O livro tem a característica de levar à morte quem tem seu nome escrito nele. O jovem começou a escrever nomes de criminosos, primeiramente japoneses, depois do mundo todo, adotando o apelido de Kira. Personagens cativantes como L, N e o próprio jovem Ligth Yagami, o Kira, que começou a matar muita gente por ser o "dono" do livro, são o cerne de uma história profunda, enigmática, com um ótima lógica interna e, acima de tudo, que leva a pensar sobre o que o poder pode fazer com as pessoas. Enfim, recomendo o anime, pois é uma história com 37 episódios de 20 e poucos minutos cada um, em que não tem nada que sobra, onde tudo tem sua razão de ser.

O grande lance de Death Note é que o personagem que possui o livro sente um poder inusitado, um poder de acabar com toda violência do mundo, colocando os nomes de todos os criminosos, dos mais perigosos aos mais simplórios, acabando com todos. E, com todo este poder, Ligth Yagami passou a se sentir um deus, um deus que iria construir uma nova era, nova era em que ele seria o protetor dos fracos e desprotegidos e seria, é claro, idolatrado por todos. Como um deus, ele esperava o reconhecimento de todos, e muita gente passou a defender Kira como aquele que estava trazendo a paz para todos. No entanto, a polícia, ajudada por experts (L e depois N), passou 6 anos procurando por Kira para prendê-lo. A discussão social que está presente no anime é sobre se Kira, ao matar os criminosos, muitos que aguardavam julgamento e/ou que estavam cumprindo suas penas, também era um criminoso ou uma espécie de salvador da pátria. O anime mostra que muita gente o achava um herói, mas a polícia e parte da população o achava um assassino cruel. O problema é que Kira passou a matar não somente criminosos, mas, também, pessoas que estavam no seu caminho. Não vou aqui contar o final para não estragar a surpresa dos que sentirem com vontade de assistir o anime, pois a parte final do enredo é de tirar o fôlego.

Mas, sem contar o final, é possível fazer uma reflexão a partir do anime. A reflexão, é claro, é sobre o poder. Acho mesmo que o Death Note é uma grande metáfora sobre o uso do poder. No caso do anime se trata de um poder quase que absoluto de vida e morte das pessoas, mas, podemos pensar em qualquer forma de poder. É atribuída a Solón, legislador ateniense dos séculos VII e VI a.C., uma das frases mais significativas da história: "O poder revela o homem", ou seja, só conhecemos de fato as pessoas quando elas têm alguma função de poder sobre seus semelhantes, pois ela pode, se for sua índole recôndita, usar, abusar, instrumentalizar as pessoas. Penso no poder não somente no sentido de cargos de responsabilidade sobre pessoas, mas, também, no poder de uma pessoa sobre outra, pois numa relação amorosa, por exemplo, um pode exercer um poder sobre o outro, um pode dominar o outro, pode usar, abusar e instrumentalizar o outro em seu benefício próprio, e, neste caso, tal forma de poder pode se revelar pelo famoso "mi, mi, mi...", pelo ciúme, pelo drama etc. Quem usa o poder da forma como o Death Note mostra, e como metaforicamente estou tratando aqui, tende a se sentir uma espécie de "deus", que não pode se sentir contrariado, pois, afinal de contas, a relação que ele tem com o(s) outro(s) é sempre como se o(s) outro(s) fosse seu(s) subordinado(s), uma relação desigual, tida por ele como naturalmente desigual.

Para terminar:
- assinar o Netflix: R$20,00 por mês
- comprar uma TV bacana para assistir o Netflix: R$3.000,00
- ver um anime que sua filha indicou e assistir com ela todos os episódios, comentando, se angustiando, rindo... NÃO TEM PREÇO

Este post eu dedico, é claro, à SOFIA FURLAN COSTA, minha filha da qual tenho um baita orgulho!!!

terça-feira, 3 de maio de 2016

Síndrome de Medusa







A história de Medusa é relativamente conhecida pelas pessoas em geral. Um breve resumo: ela era uma mulher extremamente bonita, virgem, que era sacerdotisa do templo de Atena e, portanto, deveria continuar com sua virgindade intacta; Poseidon, deus dos mares, um dia a possuiu contra sua vontade; Atena, a deusa, quando descobriu, ao invés de se vingar de Poseidon castigou Medusa transformando-a num ser abjeto, tenebroso, com cobras como cabelos e com o poder de transformar em pedra quem olhasse diretamente em seus olhos (para saber um pouco mais clique aqui). Penso que assim como outros tantos mitos gregos, este possibilita reflexões atuais, que eu, livremente, dou o nome de Síndrome de Medusa, e não tem a ver com a análise psicanalítica sobre a castração feminina e nem sobre cabelos quebradiços, mas tem a ver com uma ligação que quero fazer com a violência contra a mulher.

As mulheres que sofrem violência por parte de homens, especialmente física, como estupro por exemplo, têm sua vida marcada para sempre, pois elas acabam por carregar uma culpa que não deveria ser delas. Aqueles que estudam ou convivem com casos como esses sabem que a mulher estuprada sente vergonha pelo que aconteceu e geralmente têm dificuldade para falar sobre a violência que sofreram, sentindo-se, inclusive, intimidadas em denunciar seu agressor. E por que disso? A nossa sociedade é herdeira de uma cultura centrada no homem, uma sociedade que, no geral, acaba por culpar a mulher pela violência que sofreu. "Também, usando esta saia curta, queria o que?"; "Se usasse roupas mais apropriadas não seria violentada!"; "Quem mandou sair sozinha aquela hora!"; "Mulher que bebe como ela deveria saber que isto poderia ocorrer!". Estes são alguns poucos exemplos do que pessoas pensam (ou dizem!!) sobre os estupros que acontecem; ou seja, culpabilizam as próprias vítimas da violência. Por isso que as mulheres violentadas de alguma maneira se sentem culpadas, elas introjetam o que eu estou chamando de Síndrome de Medusa.

A Síndrome de Medusa leva as mulheres agredidas a achar que elas poderiam ter evitado a violência se elas tivessem "se comportado" adequadamente, ou seja, sendo "belas, recatadas e do lar". A Síndrome de Medusa leva as mulheres a baixar sua auto-estima no rodapé; leva as mulheres a se acharem feias, abjetas e, simbolicamente, monstruosas; se sentem não participando mais da sociedade, ou melhor, não merecendo fazer parte do convívio social. A violência sofrida pela mulher acarreta uma violência interna que se eterniza e que praticamente a impede de voltar a ser quem ela era, e isto pelo julgamento que dela é feito, e que ela sabe que as pessoas fazem. A própria Atena, uma deusa mulher, condenou Medusa ao suplício, a julgou como culpada pela violência de Poseidon.

Está na hora de encarar isto de frente para que não só a violência acabe, mas que a Síndrome de Medusa também desapareça. As mulheres precisam continuar mostrando sua força, precisam continuar a se empoderar e exigir respeito ao seu corpo, às suas roupas, à sua liberdade de saírem, de tomarem, se assim quiserem, suas bebidas, e não serem julgadas por isto. É necessário que as mulheres e aqueles que se sentem sensibilizados por esta situação enfrentem a cultura machista, centrada na figura masculina, que faz com que as mulheres violentadas continuem, elas próprias, a se violentarem quotidianamente, por se considerarem culpadas por aquilo que, de fato, não é sua culpa.