sábado, 9 de junho de 2018

Bons Casmurros - um convite à leitura


Há pouco mais de sete meses faço parte de um grupo de leitura intitulado Bons Casmurros. Sob a liderança do Victor Simião, este grupo se reune a cada três semanas no Café Literário, perto da UEM, para debater vários tipos de livros, desde clássicos até os mais modernos romances, ficções, poesias, teatros, biografias, e até histórias em quadrinhos. Cerca de trinta pessoas gravitam em torno do grupo, variando a idade de 15 a 60 anos, mas umas quinze pessoas efetivamente participam. Eu estava com vontade de fazer parte dos Bons Casmurros há uns dois anos, mas só tive a oportunidade concreta de fazê-lo no final do ano passado (obrigado à Maria!!). Agora, além de ser mais um participante, estou tendo o prazer de fazer novas amizades e reaver outras antigas.

Quero refletir aqui sobre o que significa fazer parte de um projeto com tais características, mais do que ficar fazendo uma descrição das suas atividades. Todas as discussões que fiz parte até agora foram ricas, foram profundas e se  tornaram, especialmente, momentos de aprendizagem de minha parte. É muito interessante ver como cada pessoa lê o mesmo livro; como cada indivíduo faz a sua apreciação e as suas críticas; como cada ser ali presente submerge na história e, depois, emerge diferente, tocado pelo enredo e pelos personagens. A literatura tem dessas coisas: é uma subjetividade que escreve e que dialoga com cada subjetividade que lê. Alguém já disse que o que escrevemos deixa de nos pertencer e passa a fazer parte da vida daqueles que nos leem e nos interpretam. Concordo!! Se nos escritos acadêmicos isto acontece, na literatura é uma realidade plena e contundente. Afinal, o que seria de Shakespeare, Cervantes, Dante, Machado de Assis, Dostoiévski, Balzac, se não fossem seus leitores?? O que seria de Shirley Jackson, John Green, Misha Glenny, Helena Ferrante, Hilda Hilst, Luiz Rufatto, se não fossem as pessoas que os leram e comentaram com outras pessoas que seus livros eram muito bons? Eu jamais leria autores modernos se não fosse por este grupo, pois minha formação e gosto pessoal sempre me levaram em direção aos clássicos. Mas, a experiência de ler autores atuais tem sido gratificante. Já li livros que não gostei muito, outros que simplesmente gostei e outros que gostei mais...

Mas, talvez a característica mais gratificante do grupo e que eu quero destacar aqui é que todas as discussões até agora têm um alto nível de crítica. Crítica no sentido de que as pessoas dialogam de verdade com os autores, porque dialogam com a vida. Crítica no sentido de avaliar com recursos pessoais de profundidade e não apenas repercutir o que os outros pensam. A visão crítica para com os livros se estende, naturalmente, para uma visão crítica com relação à sociedade de forma geral, com suas instituições, suas ideologias e suas idiossincrasias. Eu que sou do mundo acadêmico partilhei  por um tempo de um preconceito que faz parte deste mundo: a criticidade se faz dentro dos muros da universidade. Ledo engano!! O espírito crítico se forja, especialmente mas não de forma exclusiva,  na leitura de bons livros, que trazem histórias que dialogam com a vida do leitor, que o faz sair de seu mundinho umbilical e o faz levantar a cabeça e buscar ser uma individualidade neste mundo tão ausente delas. Individualidade é diferente de individualismo e de coletivismo; é um meio-termo em que o indivíduo se fortalece, toma consciência de que ele é social, mas que também deve forjar a sua forma de pensar o mundo, sem se deixar levar por interesses mesquinhos e nem ser como gado em curral sendo levado de um lado ao outro por "tocadores de mentes".

Em um mundo como o nosso, em um tempo como o nosso, em que muitas coisas estão acontecendo rapidamente e ao mesmo tempo; em que vivemos as "dores do parto" de algo novo; estarmos atentos criticamente para não sermos meros reprodutores de ideias e ideais é uma necessidade de sobrevivência. Ler é uma ótima e poderosa vacina que nos imuniza ou, o que também é salutar, nos deixa mais "malucos beleza" num mundo que não pode ser levado tão a sério!! Ler é preciso; ler bons livros é fundamental!! E o Bons Casmurros está aí para contribuir!!

Obrigado a todas as pessoas que integram o grupo e que me permitem crescer cada vez que nos encontramos! É muito bom estar com vocês, seja no Café Literário ou nos bares da vida! Termino aqui pois tenho que adiantar a leitura de O Conto da Aia, de Margaret Atwood, nosso próximo livro...