quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Mororó


Carlos Alberto Mororó da Silva, o nosso Mororó, um ser-humano realmente singular, faleceu hoje, dia 27 de novembro de 2014. Depois de lutar contra um câncer na próstata há alguns anos atrás, foi diagnosticado recentemente com um outro câncer, leucemia, que, desta vez, infelizmente o venceu. Nós da UEM, particularmente do Departamento de Fundamentos da Educação, perdemos um colega, e a EaD, o curso de Pedagogia a distância, perdeu um dos seus primeiros coordenadores e atualmente o coordenador de TCC. Eu perdi um companheiro inestimável de trabalho. Claro que o Mororó, como todos nós, tinha seus defeitos, suas idiossincrasias, mas, eles e elas se foram com ele. O que sobra é a memória daquilo que ele mais nos marcou: sua exuberância de vida. É sobre isto que eu quero falar.

Me aproximei dele em 2009 quando ele assumiu a coordenação adjunta e coordenação de Tutoria do curso de Pedagogia a Distância do qual eu já era coordenador. De lá prá cá foram inúmeras reuniões, viagens, conversas para gerir um curso que requereu de nós dois um compromisso diário, atenção, criatividade e cumplicidade num projeto novo que envolvia mais de 800 pessoas, entre alunos, tutores, professores e técnicos. Desenvolvemos uma sintonia que facilitou muito nosso trabalho. Viajamos muito aos polos, e foram nestas viagens que pudemos nos conhecer um pouco melhor, que eu tive o privilégio de me tornar um pouco mais íntimo de uma pessoa cheia de vida. A vida pulsava no Mororó, desde suas roupas extravagantes, com seus chapéus Panamá coloridos (que ele me ensinou que, apesar do nome, eles são feitos no Equador e que Panamá é uma fibra da qual se faz o chapéu mais famoso do mundo), suas camisas coloridas e floridas, suas bermudas e chinelos, passando pelos seus relacionamentos, e chegando em suas inúmeras viagens. Ele é a única pessoa que eu conheço que já foi, literalmente, do Oiapoque ao Chuí; conheceu a Europa e a América; um dia me disse que estava em casa e viu na TV uma placa que dizia "Ushuaia fin del mundo" e decidiu que iria lá conhecer e tirar uma foto junto à placa, resultado: seis meses depois estava ele na Patagônia argentina e tirou a foto. Seu jeito bonachão, paraibano que não abandonou suas ricas raízes, lhe trouxeram críticas, mas, também, admiradores do seu jeitão desprendido, intencionalmente chocante, que desprezava certas regras sociais tidas como de urbanidade. Ele se lixava para convenções sociais, e suas roupas eram uma demonstração clara.  Ele era atencioso e desprendido (duas das suas melhores qualidades). Lembro da festa de formatura dos alunos do polo de Flor da Serra do Sul, ano passado, em que ele doou um dos seus inestimáveis chapéus que foi sorteado a um aluno.

Em uma de nossas viagens, conversando sobre aposentadoria, Mororó me disse que o projeto dele era se aposentar, vender sua casa, seu carro e suas coisas em Maringá, e usar o dinheiro para viajar pelo mundo. Ele queria viver os anos finais de sua vida visitando lugares que ele já conhecia (muitos lugares, diga-se de passagem) e conhecendo outros tantos. Vocês conhecem uma pessoa assim? Eu conheci uma, o Mororó. Cheio de vida, cheio de vida intensa, curtindo as experiências, de um roteiro inquieto e inquietante. É meu amigo, não deu para realizar seu projeto de aposentadoria; mas tenha certeza de que, para mim e para muitos, você sempre será lembrado pela forma como você viveu: literalmente, vivendo!!!!!


sábado, 15 de novembro de 2014

México









Pela quarta vez visitei o México. E pela quarta vez amei estar naquele país. A primeira vez em 1994, a segunda em 1995 a terceira e a quarta este ano. Tirando a terceira vez, em maio deste ano, quando, em função de um cálculo renal retirado três dias antes da viagem, passei a maior parte dos quatro dias com muita dor, todas as outras vezes foram extremamente agradáveis. De todas as coisas que me chamam a atenção no México, quero aqui destacar algumas.

Em primeiro lugar as pessoas. No geral, claro que com excessões (o que só confirma a regra), os mexicanos são muito atenciosos, amáveis, simples e gostam muito de nós brasileiros. Os taxistas são, para mim, um parâmetro para esta consideração, especialmente quando tocamos no assunto futebol, pois aí, sim, vemos a admiração que eles continuam tendo por nós, pela nossa seleção e, especialmente, por Pelé, que tanto os encantou em 1970 e até hoje é idolatrado.

A preservação da memória histórica é outro ponto que me chama a atenção sempre. Talvez pelo fato de que os monumentos toltecas, maias e astecas são abundantes e enormes, criando uma cultura material riquíssima, os mexicanos no geral têm noção de sua história pré-hispânica e valorizam um passado que sintetizou-se numa espécie de sincretismo cultural, o qual permite que um povo católico (talvez o mais católico do mundo) conviva com uma herança politeísta e mitológica sem negá-la. O dia dos muertos, que tive a felicidade de presenciar desta vez, é um dos maiores exemplos daquele sincretismo.  É flagrante a diferença que contatamos quando pensamos no  Brasil. O sincretismo religioso que aqui se estabeleceu foi com a cultura africana e não com a indígena, talvez pelo fato de que não há uma cultura material tão imponente como a dos astecas e suas pirâmides por exemplo.

O último aspecto que quero considerar diz respeito à consciência política daquele povo. As manifestações no Zócalo (a praça principal da Cidade do México e uma das maiores do mundo) são constantes, especialmente em relação ao desaparecimento dos 43 estudantes normalistas em 26 de setembro deste ano. A comoção e a revolta são flagrantes e mobilizam milhares de pessoas como, por exemplo, a UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México) paralisou suas atividades durante três dias em protesto contra o ocorrido. Penso que tal mobilização, pelo motivo que se deu, dificilmente seria visto por nossas terras tupiniquins.

Enfim, por tudo isto e por muito mais (que ficaria muito extenso relatar aqui) é que cada vez que vou ao México fico com um gosto forte na alma de querer retornar àquela bela e amigável terra.

Uma última palavra. O evento que me levou desta vez ao México, o XV Congresso Internacional Norbert Elias, foi um dos melhores que eu participei, tanto pela qualidade dos trabalhos apresentados como pelo clima fraternal que é sua marca registrada. Obrigado a todos os organizadores e todos os participantes pelos ricos momentos acadêmicos. Como disse em minha fala final: o México, os mexicanos e os participantes do evento ficarão para sempre marcados em minha cabeça e, especialmente, em meu coração!!!