sábado, 18 de agosto de 2012

Bolívia

Acho que passei pela experiência de um verdadeiro choque cultural em menos de um mês: depois de conhecer Portugal, fui para a Bolívia, no interior, na região dos povos chiquitanos. Não vou mentir aqui afirmando, demagogicamente, que as experiências foram as mesmas e os sentimentos iguais. Por vários motivos, pessoais e de trabalho, Portugal me proporcionou muito mais emoções positivas do que a Bolívia, no entanto, não é possível viajar para lá sem escrever sobre esta verdadeira aventura.


Eu e o Nando (e eu acho que a grande maioria dos participantes do congresso) fomos meio que precavidos de que coisas estranhas poderiam acontecer, viajamos com a consciência de que poderíamos provar coisas inusitadas e, portanto, acabamos por preparar nossos espíritos para encarar tudo da forma mais normal e esperada possível. E acho que conseguimos, tanto é que somente depois da viagem é que apresentei alguns problemas de saúde, talvez relacionados à minha estadia por aquelas paragens.

A impressão que se tem é que se trata de um volta ao passado num ambiente de filme mexicano antigo: estradas e ruas sem asfalto; comidas, incluindo carnes, expostas ao tempo nos mercados; baixas condições de saneamento básico; motos circulando com uma, duas ou mais pessoas, inclusive crianças e bebês, todas sem capacete; ônibus (todos brasileiros aliás) sem banheiro e sem ar-condicionado e em condições mecânicas sofríveis, que levou a uma parada não solicitada de três horas à beira de uma estrada poeirenta; desorganização no evento com os CD dos anais e os certificados de apresentação de trabalhos; enfim, coisas para as quais, como já informei, estava com o espírito preparado e, portanto,  encarei da melhor forma possível, sem stress.

Por outro lado, seria muito injusto com os bolivianos que nos receberam tão bem destacar somente o exótico da viagem. As pessoas são muito amáveis e bonitas; a cultura chiquitana é preservada e os descendentes das etnias são incentivados a cultivar a arte da música, do canto e do teatro; as igrejas das antigas missões jesuíticas muito bem preservadas, com altares barrocos magníficos; uma apresentação de música barroca de tirar o fôlego;  apesar dos motociclistas e passageiros sem capacete, não vi nenhum acidente; hoteis com uma boa infraestrutura; comida em abundância e variada. Enfim, coisas boas que compensaram os previsíveis imprevistos.

Valeu a pena conhecer o interior da Bolívia. Muita coisa naquele país continua desconhecida, especialmente os lugares do altiplano (La Paz, Lago Chichicada, Salar de Uyuni etc.), mas estes lugares são, por excelência, turísticos, o que ainda não é o caso da região de Chiquitos, cujo único turismo é o cultural...


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