segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Não entendo nada de política


Quero, aqui, fazer uma rápida avaliação da campanha para vereador na minha cidade, Maringá-PR, para explicar a(s) razão(ões) que me levam a concluir, hoje, que não entendo nada de política.

Como os meus leitores do blog sabem fiz campanha de vereador para uma mulher (não vou citar o nome dela aqui, pois não estou mais fazendo campanha e não quero que as pessoas confundam este post com um panfleto político). O projeto por ela liderado, e que expressava a sua visão de mundo, tinha por base, essencialmente, a discussão verticalizada acerca da necessidade do respeito às variadas identidades que compõem a nova sociedade. O combate ao machismo, pelo empoderamento feminino, a defesa intransigente das pessoas LGBT e dos negros, a necessidade de se pensar uma sociedade que se paute pela sustentabilidade, a cultura como algo que deve se espraiar para toda população como meio eficaz de combate à miséria humana, foram as marcas de uma bela campanha, que exigiu coragem da candidata e de todos os que estavam à sua volta para defender, com muita propriedade, profundidade e coerência um projeto, e não um pragmatismo.

Mas, por que este projeto não vingou como esperado, ou mesmo, por que ele não foi melhor acolhido em termos de quantidade de votos? Minha candidata alia teoria à prática, pois, como policial civil, se dedica aos crimes de violência doméstica contra as mulheres, e, nem assim, a campanha sensibilizou a maioria das mulheres, pelo menos as de esquerda. Quais os motivos? Alguns me ocorrem.

A campanha para vereador passa, ao que parece, por uma base. Seja uma base institucional (igrejas, universidades etc.), ou de movimentos, segmentos, bairros etc., e isto sem falar na cultura da venda de votos, que ainda faz parte, infelizmente, da nossa vida política. As pessoas têm uma identidade prévia com candidatos que as representam, mesmo que tais pessoas não demonstrem, objetivamente, ter condições teóricas e práticas para o exercício, "a plenos pulmões", da representatividade. É o que minha candidata tinha, e de sobra. O voto para vereador é muito mais "bairrista" do que eu imaginava. Parece que não importa, de fato, uma visão de mundo mais abrangente, que englobe demandas várias, pois os segmentos desconfiam de pessoas que não pertencem, de fato, a eles. A campanha de minha candidata "bombou" na internet, tanto no face como no whats, pois as postagens foram de muita qualidade e sensibilidade, especialmente os videos, o jingle (original) e a ideia do "diário de uma candidata", que mostrou a campanha por dentro e tocou em assuntos delicados com muita coragem. As postagens, fotos e videos, tiveram, em média, mais de duas mil visualizações, dando a impressão que a campanha havia "pegado"; doce ilusão!! A internet parece que não é o meio ideal de campanha para vereador (talvez seja para prefeito, governador e presidente), pois faltou a base... Faltou?? Acho que não!!! As "bases" não se abrem, ou dificilmente se abrem para visões de mundo mais complexas, mais abrangentes.

Todos os candidatos que se elegeram vereadores em Maringá o fizeram a partir de uma base; vide, por exemplo, o primeiro colocado, que se elegeu por representar o movimento nacional, e local, que deu sustentação para o impeachment da presidenta Dilma. Mas, muitos candidatos, e bons candidatos, não se elegeram pois seus segmentos não conseguiram se unificar em torno deles. Penso, no entanto, que se quisermos, de fato, pensar em uma nova forma de ver e fazer política, é necessário vermos as visões de mundo mais abrangentes, as visões de mundo que acolhem demandas setoriais, mas não ficam a elas restritas. Quem sabe da próxima vez consigamos ir além; avaliar pessoas profundas e complexas, que aliem teoria e prática, independentes de quais setores elas fazem parte. Mas, confesso aqui que minha desilusão com a política, pelo menos por ora, só aumentou...

Em tempo: em Maringá, minha cidade de adoção, que eu amo muito, nenhum dos 15 vereadores eleitos é mulher... estamos longe, ainda, de colocarmos em prática, de forma refletida e organizada, uma cultura que, por exemplo, combata o machismo...


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