quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Sobre a série "13 Reasons Why"...


A série da Netflix "13 Reasons Why" (numa tradução livre: "13 motivos do porquê") causou, recentemente, muitos comentários, especialmente pelo tema tratado. Vi críticas e vi elogios. Críticas ao enredo tido como fraco, à caracterização da personagem como egoísta demais, à espetacularização do tema; elogios à forma como a série tratou o tema, à coragem de tocar em algo tão sensível na sociedade, ao realismo e intimismo do enredo.

A história trata do suicídio de uma menina de 17 anos, cujos motivos foram relatados por ela mesma em fitas cassetes, envolvendo 13 pessoas, que representaram os 13 motivos de sua trágica decisão.  Confesso que assisti com muito receio, pois o tema do suicídio é muito polêmico; é tão sensível que existe um acordo, no Brasil, entre a imprensa e a polícia de não divulgar suicídios pelo fato de que alguém que está pensando seriamente em tirar a própria vida acaba se encorajando ao saber que outra pessoa o fez. Mas, a série me mostrou que é necessário pensar no assunto e tentar conhecer os sinais de que alguém próximo a nós pode estar pensando seriamente cometer tal ato. A série me mostrou que não devemos julgar as pessoas que estão passando por isto e muito menos quem acaba concretizando. Os motivos são vários e geralmente profundos. O que devemos fazer é, na verdade, tentar antecipar, naquilo que depender de nós, os sinais.

É preciso, no entanto, contextualizar a série. Ela retrata a sociedade americana,  a vida dos jovens de classe média e a escola de ensino médio (a High School). A sociedade estadounidense é, como sabemos, extremamente competitiva, e isto se revela no seu sistema de ensino, pois todas as escolas, de ensino fundamental, médio e as universidades têm seus times de esportes os mais variados, predominando o basquete, o futebol americano e o beisebol (esportes nacionais de maior audiência). É uma sociedade que respira competição desde a mais tenra idade. E, por isso, a escola americana é sempre retratada em filmes dividida entre os que praticam esportes, cultura, as cheerleaders e os nerds; os que não se encaixam em nenhum desses grupos são excluídos pelos demais. A série mostra a High School, do ponto de vista dos alunos, como uma instituição dura, em que as relações são muito precárias e sem afetos duradouros e machismos, além do bullying, é claro. Esta é a síntese do ambiente que levou a personagem a cometer o suicídio.

No Brasil a sociedade é diferente e, por consequência, a escola também. Alerto que não estou aqui comparando a competência das escolas, porque acho que o esporte poderia, se bem direcionado, contribuir com a escola pública brasileira. No entanto, o fato de que aqui não haver tanta competição não significa que não haja relações precárias, machismos, violências e, especialmente, o bullying. Apesar das diferenças de sociedade e de escola, aqui também podemos ter criado espaços que facilitem ou induzam jovens a tirar suas próprias vidas. Não sei das estatísticas da violência aqui, mas nos Estados Unidos o suicídio é a segunda causa de morte entre as adolescentes.

Enfim, recomendo a série, especialmente para pais, parentes e professores. O assunto é sério e é necessário não varre-lo para debaixo do tapete da sociedade. Só um aviso final para em for assistir: não deixem de ver o vídeo da pós-produção, pois ele explica muita coisa sobre os personagens e sobre a temática tratada com realismo, por vezes, assustador.

Um comentário:

  1. Interessante seu post...
    Infelizmente esse tema ainda é pouco discutido...
    Então cabe a nós discutirmos...sempre bom lembrar que sempre que conhecemos alguém nesse estado faz se necessário encaminhar para os profissionais especializados... :)

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