quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Férias, cidadania e pessimismo...



Todo fim de ano quando saio de férias e faço as habituais viagens para São Paulo, Campo Largo e para a praia, volto com a sensação de que o Brasil não tem jeito mesmo. Explico: o trânsito nas nossas rodovias é um caos cada vez maior, e o mais impressionante, ou trágico, é que cada ano que passa o aumenta o número dos motoristas que se acham os espertalhões do pedaço. Torna-se cada vez mais comum ver carros ultrapassando pela direita, quando a regra do trânsito estipula, por uma questão de segurança, que as ultrapassagens devem ocorrer somente pela esquerda; torna-se cada vez mais comum ver carros transitando pelos acostamentos quando o trânsito está parado, quando a regra diz que acostamento é somente para casos de emergência ou para paradas rápidas. Enfim, é um festival de absurdos que vemos em nossas rodovias.

Eu sempre me pergunto o que motiva os espertalhões a fazerem isto? Eu acho que é a sensação de tirar vantagem dos bobões que teimam em respeitar as regras porque as consideram racionais e seguras. Talvez seja a sensação do poder, de estar acima da lei quando não há policial presente para fazer respeitá-la na marra. O Brasil parece que é mesmo o país dos que levam vantagem sobre os outros. É a famosa Lei de Gérson, criada em 1976 pelo jogador da seleção brasileira da copa de 70 que, ao fazer campanha para uma marca de cigarro, dizia que "gosto de levar vantagem em tudo, certo! Leve vantagem você também!". Adoramos tirar proveito das situações; adoramos nos sentir superiores; adoramos a sensação de impunidade; adoramos ter a sensação do poder.

O problema é que enquanto agirmos assim não há, na minha opinião, a menor chance de construirmos um pais de verdadeiros cidadãos, para os quais e pelos quais as regras, no caso as do trânsito, sejam espontaneamente cumpridas. É por isso que eu não acredito em campanhas de educação no trânsito; acho que é dinheiro público jogado no lixo, pois se as campanhas realmente valessem as crianças pequenas, por exemplo, iriam em cadeiras próprias para as escolinhas, e não vão!, bastando para comprovar isso ficar nos horários de chegada e saída das escolas e dar uma olhada dentro dos carros.

É chato começar o ano um tanto pessimista, mas não há como ser otimista em relação à cidadania começando o ano viajando de férias e vendo verdadeiras barbaridades no trânsito.  Talvez este seja o mal... viajar de férias em época errada...


3 comentários:

  1. Viajo na segunda e fico a imaginar o que me aguarda. Penso que realmente o trânsito nas rodovias estará pior, ainda mais agora que o número de carros aumentou absurdamente no país, devido a campanha do IPI reduzido... Quando voltei de Pt, senti o trânsito de Maringá bem diferente. Tem mais carros rodando agora e vejo que o exibicionismo toma conta dos ânimos. Como você diz, é o poder. O homem se apodera da máquina e faz dela seu manto de transgressão, sua arma, sua passarela. Ele se sente na vitrine... e se expõe como um mero objeto... um fetiche da mercadoria, no qual quebrar as rédeas da lei pode lhe trazer certo prazer e poder... Enfim, estamos bem longe da cidadania. Jani Moreira

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  2. Célio, é mesmo interessante essa mania que o brasileiro tem em querer levar vantagem em tudo. Durante minhas férias conheci uma jovem que mora na Suíça, e ela me disse que a grande diferença entre viver lá e aqui é que lá as pessoas são disciplinadas, comprometidas com regras, ou seja, mais evoluídas...
    Mas sou otimista, acredito que num determinado momento o brasileiro também evoluirá, entendendo assim, que seguir regras não o torna fraco ou vulnerável às vontades alheias, apenas mostra o quanto a vida quando organizada pode ser leve, sem precisar atropelar o tempo, afinal, chegar à frente, muitas vezes não significa tanto assim...abraços....

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  3. Concordo com você. A maioria das mortes no transito ocorre graças aos espertalhões que não respeitam as regras de trânsito por pura idiotice. Nos EUA, cada Estato estabelece suas leis de transito. Tem Estado que é permitido ultrapassar pela direita e pela esquerda. Se você sair de um Estado para o outro, o motorista tem o dever conhecer e respeitar a regra do Estado onde está trafegando. A colega tem razão, na Alemanha, Austria, Suiça e Inglaterra as pessoas são disciplinadas. São países que tiveram grandes filósofos. Embora contesto algumas regras disciplinares, concordo com Kant ao defender a disciplina do corpo e do espírito como a primeira educação da criança. Lamentavelmente, aqui no Brasil, considera-se esse tipo de educação uma coisa ultrapassada.
    Se a disciplina não se ensina na infância, quando será ensinada? Na fase adulta? quando já se tornada um estúpido e ignora os princípios básicos da cidadania? abç. Teresa

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