domingo, 7 de abril de 2013

padronização, mesmice e massificação



Recentemente resolvi assumir definitivamente minha parte no conflito de gerações. Fui a uma formatura  e não consegui passar da sexta música que a banda estava tocando. Apesar do ótimo jantar, da companhia agradável, das pessoas bonitas e elegantes, especialmente as formandas, quando o "baile" de fato começou a realidade me chocou como uma pedra na testa, pois, me desculpe quem gosta, mas esta onda do sertanejo universitário é difícil de suportar. A mesmice das letras é de uma pobreza poética chocante. Mas, como tenho a mania de ficar pensando a respeito das coisas da atualidade e me perguntar a razão delas, me ocorreu que uma das mudanças ocorridas nas festas em geral de hoje em dia em relação a um passado recente, é a padronização das músicas.

Como eu acho muito chato falar coisas como "no meu tempo as coisas eram assim" e "antigamente era assim", vou usar aqui uma espécie de eufemismo: há pouco tempo, quando da minha juventude, haviam três tipos de festas com músicas diferentes, as quais marcavam a distinção das festas: o carnaval, os bailes de formatura e as baladas em geral. No carnaval o que era característico eram as marchinhas e os sambas-enredo, em cujos bailes o que predominava era dançar solto e "pular" o carnaval; nos bailes de formatura havia uma mistura de ritmos, mas havia espaço para samba e para bolero, ritmos em que o casal dança junto; nas baladas, mais recentemente, se escutava e se dançava axé, sertanejo, música gaúcha, rock etc. Ultimamente, o que se observa é que independente do tipo do baile, são as mesmas músicas que predominam: o sertanejo universitário, o axé e o funk. 

Fico me perguntando quais as razões de tal padronização musical? Por que há uma mesmice nos momentos de festa da moçada hoje em dia? O que significa tal massificação de tão poucos estilos (?) musicais, especialmente do sertanejo universitário? A única resposta que encontro, pelo menos por ora, é que as festas expressam uma dinâmica social em que os comportamentos, os gostos, a moda tornaram-se padronizados, impulsionados por uma outra dinâmica que é a do consumismo. O consumo desenfreado é determinado pelo mecanismo da carência, a qual, uma vez instalada, cria uma necessidade de supri-la para ter a sensação do prazer. Tal mecanismo é facilitado quando há uma espécie de homogeneização das carências e, portanto, das necessidades. 

A música, numa sociedade de consumo, é uma mercadoria como qualquer outra, e, portanto, o investimento da propaganda musical é criar uma espécie de linha de consumo única, por meio da simplificação das letras, da padronização dos ritmos, numa espécie de  massificação de um produto. Para que a música seja bem consumida, as letras não são muito elaboradas, gerando uma identificação quase que imediata da vida do ouvinte com a história contada na música. Seja cantar a perda de um amor, a conquista de outro, a vingança da traição, a curtição da vida, por meio do prazer e do sexo, as letras dizem respeito, geralmente sem qualquer grande elaboração, à vida do sujeito, também vivida sem grandes elaborações. Num mundo em que somos cada mais impelidos a nos sentir cada vez mais carentes, as festas se tornam quase que essenciais para conhecermos pessoas, nos relacionarmos e, é claro, acharmos parceiros, e, como tempero nada melhor do que a música. 

Claro que existem festas, baladas, bares em que o jazz, blues, rock, MPB ainda tocam. Ainda bem, diga-se de passagem!! Mas, me parece que são eventos menos procurados, frequentados quase que por guetos. A maioria está em outra "vibe"; a maioria é levada, quase que imperceptivelmente, a consumir um produto fácil, barato, emotivo e renovado constatemente (quantas duplas sertanejas existem mesmo??). De minha parte, como escrevi no começo, assumo minha parte no conflito de gerações, pois a última vez que fui a um "baile" de carnaval tive que sair bem antes do final, quando a banda tocou uma moda sertaneja...



Um comentário:

  1. Concordo com as ideias e partilho dos sentimentos. Mas fico angustiado em saber qual a minha parcela de culpa neste processo? Em que momento a sociedade se perdeu nesta lógica do consumo e como tantas pessoas permitem e aceitam isto com naturalidade e conformismo.
    Marcos Dorigão

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