domingo, 5 de maio de 2013

Academia



NO PAIN, NO GAIN! Isto estava escrito num cartaz na academia que estou frequentando. É isso mesmo!! Para quem me conhece um pouco sabe a aversão que eu nutria por este espaço para malhação, mas, com o peso aumentando acima do esperado, tomei tal decisão radical e agora sou um daqueles que passa uma hora por dia em esteiras, bicicletas e aparelhos de musculação. E o pior, estou tomando gosto pela coisa...


Mas, como não poderia ser diferente, uso o espaço da academia não apenas para os exercícios, mas, também, para observar o comportamento das pessoas que a frequentam, sejam os professores sejam os alunos. A primeira impressão quando cheguei na academia pela primeira vez, com meu corpinho, digamos, diferente da grande maioria daquelas pessoas, é que somente eu estava iniciando a academia e que todos sabiam disso, ou seja, parecia que todos estavam observando o gordinho se ralando ali. E mais, a segunda impressão é que iria rolar uma aposta para ver quantos dias eu iria aguentar tal desafio. Ou seja, me senti um verdadeiro out-sider na academia. Depois de alguns dias passei a perceber que as impressões iniciais tinham um "q" de narcisismo, pois, na verdade, cada um está ali para fazer os seus exercícios, pouco se lixando com os outros. É impressionante como as pessoas, no geral,  não se cumprimentam, não falam bom dia etc. para os outros, mesmo para aqueles que frequentam o mesmo espaço há algum tempo. Esta foi minha terceira impressão, e é a que tenho até agora, pelo menos até que eu chegue a uma conclusão diferente.

Existem vários tipos de pessoas na academia: os iniciantes, que fazem de tudo para não parecer que o são (assim como eu...); aqueles que já estão adaptados; e aqueles que já são "bombados", e isso é percebido pela variedade dos aparelhos que são usados e pelo peso que são carregados, puxados, levantados. Os professores, como deveria ser mesmo, são exemplos de corpos bem definidos e, alguns pelo menos, acabam exibindo seus dotes físicos. Há outra possibilidade de diferenciar os frequentadores da academia: aqueles que ficam meio que escondidos, não querendo chamar a atenção, seja por vergonha ou por jeitão mesmo; aqueles que ficam "puxando" muito peso, mas que fazem isso sem chamar muita atenção para si; e aqueles que fazem questão de que os outros percebam a sua dura malhação e o seu corpo bem definido. Na verdade, a academia parece um desfile de egos, e os corpos definidos dos professores e dos alunos mais antigos e "aplicados" acabam por ser o objetivo dos outros.

É muito interessante como a lógica do corpo bem feito, bem torneado, sarado, parece que acaba sendo incorporado pelos frequentadores da academia. Há uma competição, muito velada, para ver quem chega primeiro ao objetivo. Há, nisso tudo, uma espécie de neurose coletiva que transparece nos rostos suados e cheios de caretas quando se está levantando peso. A neurose fica clara, ainda mais, quando o rosto, depois de mostrar tanto sofrimento, exibe um sorriso (quase sempre disfarçado) de satisfação. Afinal, no pain no gain!! (sem dor não há ganho!!). De minha parte, quero, sim, perder peso e adquirir uma vida mais saudável, mas procuro desde já me vacinar contra a neurose do belo corpo, pois nem imagino perder totalmente a barriga que custei mais de vinte anos para conquistar!!!


4 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkk oi Célio, parabéns pelo texto, dei boas risadas. Parecia que te via lá. Tenha certeza que os frequentadores não conseguiriam ir tão longe em fazer uma anáslise desta natureza e suponho eu, escrever umas duas linhas....De certa forma me vi em vc: Detesto o ambiente da academia, assim como salão de beleza (talvez tenham pontos em comum academia e salao de beleza, vou pensar sobre isso),embora esteja precisando e muito, fico pensando em caminhar sistemáticamente, mas tenho que admitir (tenho uma preguiça para isso que me mata).De qualquer forma, sei que utilizará o espaço sem deixar-se contaminar pela neurose, sabendo o valor para além de um copo saradão.abç Meire Calegari

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    1. então vc supõe que frequantadores de academia não são capazes de refletir ou escrever duas linhas? Comentário ao meu ver carregado de preconceito. A grande maioria de seus frequentadores não vivem em função de ter um corpo saradão, e mesmo que alguns busquem tal objetivo, não significa que o exercicío físico limite a capacidade de reflexão das pessoas. Você generalizou, creio que desnecessariamente.

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    2. Olá ANÔNIMO, concordo com vc no aspecto que as generalizações são perigosas. Mas pelo sentimento que o Célio descreveu tão realisticamente, e que também já tive a oportunidade de presenciar nos vários momento de começos e recomeços nas academias, é que tal comportamento é bem maior do que se supõe, por isso minha identificação com o post. Podemos exemplificar isso claramente ao se reportar a fala dele: “Depois de alguns dias passei a perceber que as impressões iniciais tinham um "q" de narcisismo, pois, na verdade, cada um está ali para fazer os seus exercícios, pouco se lixando com os outros. É impressionante como as pessoas, no geral, não se cumprimentam, não falam bom dia etc. para os outros, mesmo para aqueles que frequentam o mesmo espaço há algum tempo”. Como já disse, estas tb são as minhas impressões. Para que tal comportamento se efetive, é preciso convir que não há efetivamente uma reflexão a respeito inclusive sobre a tal qualidade de vida, tão propalada pelos professores, que ao meu inclui, para além de uma boa alimentação, exercícios físicos, bons hábitos enfim, uma certa convivência com o outro, aquele que está ao nosso lado na esteira, para mim isto faz parte da qualidade de vida (social, física etc)....reflexão que permita, não se deixar contaminar pela “ neurose do belo corpo” , a ponto de ter, talvez sem muita clareza, os comportamentos descritos e que sabemos isto acontece de fato. O post do Célio e seu comentário me fez refletir outras questões: Estou co-orientando um aluno do curso de Educação Física em seu TCC e tenho muitos amigos professores no referido curso tb, levarei esse assunto para eles e para meu co-orientando, que amanhã certamente está a frente de uma academia, e pode contribuir ou não para a mudança deste modelo, a partir sim de reflexões que vão além do cotidiano narcisista que cerca tal ambiente. Talvez fosso o caso, que durante a formação dos alunos existem uma clara disposição em mudar este “modelo” de academia, pois penso que os professores além de fazerem seu papel, deveriam estimular hábitos realmente envolvem a qualidade de vida entre elas a saudável convivência entre as pessoas, quem sabe teríamos mais frequentadores nas academias....Meire Calegari




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  2. As academias são também espaços de reflexões, desabafos e troca de experiências e conselhos sobra a vida, filhos, família... isso entre as mulheres é o que eu observava e também fazia quando frequentava academia e natação. Depois com o tempo descobri que não precisava de academia para me manter bem fisicamente, mentalmente e hoje incorporei atividades físicas diárias em casa e uma vez por mês junto à natureza. Parabéns pela iniciativa em cuidar do corpo e pelo belo texto que ajuda as pessoas a refletirem e com certeza a também despertarem o observar.

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