quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

UFC


Todos os que viram se impressionaram muito com a perna quebrada do Anderson Silva na sua luta no final do ano passado na tentativa de recuperar o título mundial do MMA (Artes Marciais Mistas, em português). No entanto, o sangue no rosto dos lutadores em geral dessa modalidade parece não incomodar, ou, pelo menos, parece não impressionar, ao contrário, parece ser exatamente uma espécie de chamariz de audiência. O fato é que o MMA, ou os torneios de UFC (Campeonatos de luta), têm cada vez mais um público cativo, torcedores que esperam a madrugada para ver as lutas, e o sangue. Mas, fico me perguntando as causas de num momento da vida social em que a violência é execrada (violência dos pais, dos professores, dos maridos, dos policiais...) um esporte em que a violência é a tônica seja tão popular.

De certa forma, se formos buscar na história, as lutas, seja num ringue ou em um tatame, ao se tornarem esportes, passaram a compor o que o sociólogo alemão Norbert Elias chama de processo civilizatório, pois as lutas deixaram de terminar com a morte de um dos oponentes, tal como o que ocorria com os gladiadores romanos, por exemplo. O fato de, na atualidade, também contarem com juízes, faz as lutas se tornarem confrontos com regras, as quais, se desobedecidas, implicam na eliminação do lutador tido como desonesto. Há, portanto, sem dúvida, uma evolução grande nos combates e, penso, o UFC é expressão disso. No entanto, apesar de regras, tempo, árbitros, a exposição da violência é contínua. O sangue, no UFC, é farto.

Me pergunto que mecanismos psicológicos são acionados no espectador para que ele sinta prazer com a violência dos lutadores. A hipótese mais amena que me ocorre é que o desejo de dar porrada nos outros, de brigar no trânsito etc., é substituído pela violência institucionalizada no esporte. No entanto, não consigo deixar de pensar que pode haver um certo prazer neurótico em acompanhar e torcer para que uma determinada pessoa sofra nas mãos de outra. Me pergunto, também, se os fanáticos torcedores do UFC não são os mesmos que sentem um prazer camuflado de ver acidentes e de fotografar pessoas feridas ou mortas em seus carros batidos ou estendidas nas estradas.

Enfim, apesar de ser um esporte, e muito lucrativo diga-se de passagem, confesso que toda vez que vejo um lutador ensangüentado em uma luta de UFC eu não consigo deixar de ficar constrangido. Acho, sinceramente, que a sociedade já chegou em um patamar de civilidade em que tais cenas poderiam deixar de existir. Ou não, talvez eu seja, afinal de contas, um mero puritano mesmo...


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