domingo, 6 de maio de 2012

Dois lados da mesma moeda: Capitão James Kirk, liderança e comando

Ao assistir novamente a versão original de Jornada nas Estrelas, produzida entre 1966 (por coincidência, ano que nasci) e 1969, mas que teve muito sucesso na década de 1970, me deparei com um episódio muito interessante e, como metáfora, muito atual. Trata-se do quinto episódio da primeira temporada intitulado The Enemy Within, algo como Inimigo Íntimo. Na história, durante o teletransporte (aliás, algo que eu continuo sonhando em presenciar...) do capitão James T. Kirk, após uma falha no sistema, foi gerada uma cópia sua, mas com um grave problema: a versão criada era do seu lado mal, do seu lado egoísta, cruel, racional ao extremo. O mais interessante é que quanto mais a versão má do capitão Kirk se desenvolvia, mais a versão original perdia sua capacidade de liderar e de tomar decisões difíceis no comando da nave Enterprise. Na continuidade da história o Senhor Spock (lendário meio humano e meio vulcano por sua capacidade lógica e racional) descobre que as duas versões de Kirk eram, na verdade, os dois lados dele mesmo, e que por detrás da gentileza que era sua característica, o seu lado mau era o que permitia que ele tomasse decisões rápidas, difíceis e impessoais. E, mais ainda, que se a cópia fosse morta, ele também morreria, pois ele não conseguiria viver somente com metade de sua personalidade.
Bem, creio que a história pode ser usada como uma metáfora bem interessante para nossa vida em geral. Tentarei explicar. Há pessoas que parece que têm uma habilidade natural para a liderança, seja no âmbito familiar, de amizade, de trabalho etc. Pessoas com liderança geralmente acabam desenvolvendo uma habilidade política e passam a ocupar cargos ou funções de chefia, o que é muito natural. Ocupar posições de comando representa o exercício da autoridade e, por consequência, ter os bônus e os ônus de tal situação. Pois bem, é aí que eu acho que o episódio pode nos ajudar. 

Exercer o comando de algo, representa, geralmente, o comando de pessoas, representa tomar decisões as mais das vezes impessoais, representa  desagradar portanto. E está aí o que de mais difícil há no exercício da autoridade, pois agradar as pessoas atendendo sempre o que elas pedem é fácil; ser respeitado pelo fato de que ninguém fica decepcionado com suas decisões é igualmente fácil; ser sempre simpático e não colocar os limites que devem ser respeitados numa relação em que um exerce algum tipo de comando sobre alguém é, de novo, fácil. O difícil é aguentar os ônus das decisões, das chamadas de atenção, de distinguir amizade e camaradagem para ter que definir as coisas de forma impessoal.

Voltando à metáfora, usar somente o lado bonzinho para exercer o comando, ter autoridade, é correr o risco de enfraquer-se na função, é correr o risco de se tornar marionete nas mãos de outros. O lado "mau" nos completa, nos faz inteiros, mesmo que, por vezes, as pessoas nos vejam como cruéis, desumanos, autoritários etc. Mas é assim que os principais líderes construíram seus comandos e foram respeitados. O comando é para gente forte, que tem coragem, inclusive, de assumir seu lado extremamente racional; claro que ser líder com humanidade, ser democrático, ser atencioso é sempre preferível (assim como o capitão Kirk o era), mas ser apenas um líder bacana e legal, isso é para fracos.

Ah (1), qualquer semelhança com o exercício da autoridade paterna, materna e docente, não é mera coincidência!!!

Ah (2), acho que cuspi para cima, pois a sensação que me ocorre é que estou distante do líder que descrevi como o mais difícil e, portanto, o melhor...

Um comentário:

  1. Olá Célio, descobri seu blog por acaso e esta postagem chamou minha atenção pq. estava justamente num momento em que precisava exercer minha liderança da forma mais "cruel" como vc. descreveu e infelizmente falhei pq. deixei o coração falar mais alto... e aí fiquei me perguntando se é bom ser ruim ou se é ruim ser bom... Bem, só gostaria de parabenizá-lo pelo blog e dizer que apesar de não gostar muito de "navegar" vou visitá-lo com frequência.
    Abraços
    Maria Bernadete

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