terça-feira, 1 de maio de 2012

Professor: vocação ou profissão??


Há alguns anos tenho me debatido (e expressado, sempre que possível) com a idéia muito corrente de que o trabalho de professor está ligado à uma vocação específica. Para mim, aí está uma das chaves para se compreender as razões da desvalorização do trabalho docente. No facebook, por exemplo, há um sem número de postagens mostrando que a remuneração é baixa, o desrespeito cada vez mais crescente, inclusive com piadinhas, na minha opinião, sem graça nenhuma, como uma em que o assaltante aborda uma professora, fica com pena ao saber, e acaba por dar dinheiro, ao invés de roubar, à pessoa. Lamentável tudo isso!! Parece haver, por trás das piadinhas peçonhentas, uma certa naturalização de que o trabalho docente é de segunda categoria na sociedade. Horrível isso tudo!!

Mas, mais do que constatar (o que é feito mais do que à fartura) a desvalorização do trabalho docente, especialmente aquele ligado à educação básica (pois na educação superior, apesar de tudo, a situação não é tão lamentável assim...), devemos investigar as suas razões. Como são várias as causas, me detenho aqui em uma, que é, digamos, intrínseca aos próprios professores, isto é, algo que eles próprios (nós!!) depõem contra si: professor por vocação!!

Vocação está ligado na nossa cultura não só às aptidões para algo, mas a uma finalidade quase que religiosa. Quem está vocacionado para algo o está para uma missão, para um trabalho de salvação, para uma espécie de sacerdócio e, portanto, se compromete, interiormente, com uma atividade em que pouco importa a remuneração, mas, sim, a uma ação que diz respeito à satisfação mística de contribuir para um mundo melhor. Esta noção está presente, por exemplo, em vários filmes, como Escritores da Liberdade, Ao Mestre com Carinho, Sorriso de Monalisa (apenas para citar alguns), pois a sensação que temos é o que os protagonistas conseguiram educar seus complicados alunos porque, diferente de seus colegas (que sempre estão presentes para exibir o contraponto), eles demonstram ter vocação para a docência. E a vocação se completa, ou se traduz na verdade, na concepção de que cabe à escola educar, no sentido mais amplo do termo, as crianças e jovens; não basta, simplesmente, instruir, ou seja, não é suficiente apenas passar para o aluno o conteúdo das matérias; cabe à escola transformar a criança em cidadão e, com isso, acaba sendo repassado à escola o papel que seria da família e de outras instituições da sociedade.

Um tanto desanimado, confesso, eu termino esta breve reflexão afirmando que enquanto os professores tratarem sua profissão como vocação, passando a ser psicólogos, nutricionistas, padres/pastores, assistentes sociais etc., deixando de se preocupar com o aprendizado contínuo daquilo que se refere à sua função, estaremos longe de ver a sociedade e, especialmente os governantes, respeitarem o professor como profissional e, a partir daí, como talvez o profissional mais importante para a sociedade.

8 comentários:

  1. Bela reflexão professor e mestre... costumo dizer a algumas colegas de trabalho que somos inspetoras de luxo.... isso porque o pedagogo na escola tem feito o trabalho de capturar os alunos que burlam as regras da escola o tempo todo.... e não me venham dizer que estou sendo grotesca ou ainda que isso talvez seja a minha realidade... professor pedagogo tem sido tratado como inspetor e seu trabalho pedagógico, de suporte tem ficado em segundo plano.... isso talvez surta um efeito de desabafo.... porém, mesmo contrariada pelas caras colegas pedagogas, que torcem o nariz para a crítica que faço, mantenho minha indignação... não fiz UEM para ser inspetora mas para realizar o trabalho que acredito e que é função da escola: disseminar conhecimento científico e contribuir para a educação deste país. Adorei Célio, como de praxe, uma aula de cidadania. Abraços.

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  3. Pois é, Célio. Nào é q ser professor possa ser o dois? Ou melhor, reunir as duas coisas no mesmo ser? Eu sinto (o ser prof) em mim como vocaçao ... Na verdade, minha vocaçao maior é estudar - estudar para depois "compartilhar" (palavrinha equivocada?) ou seja, ensinar... Mas nao admito que isso nao seja reconhecido como profissao (aliàs, a etimologia de profissào qual è? vou procurar...)eccolo: http://www.etimo.it/?term=professione; e vocaçao??? eccola: http://www.etimo.it/?term=vocazione - enfim: nòs professores, nos sentimos "chamados" (voc) a "ensinar" (prof)...

    Adorei saber que vc tem um blog!

    Ah - talvez nos States se deparem com o mesmo problema nosso? Que prof é vocaçao e implica em transformaçao do outro? - De qualquer forma è uma noçao melhor que a a italiana - que qualquer profissao ou vocaçao tem que ser recorrente de geraçao em geraçao, uma coisa horrivel!, e dà dò de ver isso atè na mais tenra criancinha! - a noçào do self-made man americana (preciosa!) nào è muito difundida por aqui... nào entre o street man (e muito menos com os detentores do poder seja ele qual for, principalmente artistico e intelectual...) - Val

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  4. Olá Prof. Muito Bom que pensemos assim!!

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  5. Olá Célio
    É pena mesmo que o professor seja tão desvalorizado... afinal, esta profissão tem uma importância imensurável... e o pior é que não é desvalorizada apenas em nosso país...
    O que acontece em minha opinião, é que a humanidade está, pouco a pouco, se deseducando e deseducando seus filhos. O acesso fácil das crianças ao mundo adulto, a falta de limites entre o certo e o errado,o amor ao dinheiro e o afastamento daqueles valores tão necessários que aprendemos na infância estão fazendo com que os pequeninos retrocedam no tempo. É como se estivessem numa máquina do tempo que viaja sem saber aonde chegar e de repente cai num mundo desconhecido em que tudo pode, que não há regras e leis...é assim que está acontecendo...
    Então, o professor, que se preparou para ensinar conteúdo científico, se depara com um ser totalmente despreparado para o aprender, e como você disse, passa a ser psicólogo, nutricionista, médico, mãe, pai...e assim por diante...evidenciando, claro, que só continua por amor à profissão. Aliás, se não fosse assim, te garanto Célio...não haveria mais professor...
    E quer saber...acredito que as tantas reflexões não irão nos levar a lugar algum...e continuaremos a ser apenas "missionários", sonhando com o milagre da valorização, afinal, não é a visão do professor que tem que mudar, e sim...o sistema...
    Você acredita que isso possa acontecer?
    Quem sabe né...o ser humano é tão imprevisível...
    Abraços...

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  6. Olá professor Célio, muito boa a reflexão.

    É verdade, muitas piadinhas acabam ainda mais com a imagem do professor. O que acontece as vezes, é que o próprio profissional se desvaloriza. A profissão merece sim melhor valor e gratidão, mas enquanto isso não acontece, temos de lutar e realizar o que compete a função.
    A sociedade brasileira precisa ver nos professores, profissionais capacitados e importantes para todo o país. Sem a educação não conseguimos nada...
    Quem sabe chegue logo o dia em que o professor seja valorizado...

    Abraço!!

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  7. Célio,
    Concordo com você na representação social a respeito do Professor e de como o próprio Professor se posta na reprodução da imagem do "dom" da "vocação". Contraditoriamente lutam por melhores salários - nada mais que justo mas se é "vocação"..... e claro isso leva a desvalorização do Profissional Professor.
    Abraços,
    Mororó

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  8. Existe um ponto adicional, Celio, que me irrita um tanto. Quando a comparação do brasil se faz com a Coreia do Sul...comparação batida. Vejo, somando ao seu devaneio, dois pontos importantes: professor não é o "procurador apoderado bastante" dos pais (pais é uma coisa professor outra), educação é algo muito serio que nem o Estado, nem a sociedade tem levado a serio. Todos temos que ter vocação para que fazemos (porem vocação não é algo empirico que resulta das estrelas) mas antes de mais nada, professor é profissão e se nāo tratarmos desta forma...num futuro breve nāo teremos professores (e o mercado estará cheio de bons samaritanos que podem fazer um estrago gigante - os bonzinhos). Bjo

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