domingo, 20 de outubro de 2013

Felicidade


Várias pessoas afirmam hoje em dia que uma das características da sociedade atual é a busca da felicidade, sendo que alguns dizem que, na verdade, hoje somos obrigados a ser felizes. Concordo com isso, mas me pergunto constantemente como e porquê isso acontece. É simplesmente uma marca do nosso tempo ou algo que vem constante e deliberadamente construído? Qual a extensão dessa busca, ou, como podemos perceber essa marca na sociedade? Qual(is) consequência(s) de tal busca?

Felicidade pode ser definida como um estado emocional e sentimental de prazer, de bem-estar, de gozo, que é individual. O estado feliz tem a ver, portanto, com um sentimento individual prazeroso, que pode ser tanto físico quanto espiritual. A felicidade parece ser, ainda, um estado de plenitude, que pode ser mais duradouro ou intensamente passageiro. O contrário disso tudo é dor, ausência, frustração, carência, tristeza, sofrimento. Portanto, é normal, absolutamente esperado que procuremos ser felizes e evitar a tristeza, que procuremos o prazer e evitemos o sofrimento.

Na nossa época, no entanto, a busca da felicidade parece que virou quase uma neurose, que envolve aproveitar intensamente cada momento de gozo, de prazer, mesmo que, depois se volte para um estado de tristeza profunda. O crescimento do consumo das drogas, especialmente o crack (mais barato e mais direto), está aí para dar um exemplo concreto e, é claro, dramático. Eu acho que está aí a grande síntese de nosso tempo: inúmeras oportunidades de momentos de prazer aliados a um constante efeito de sofrimentos. Parece que são dois lados da mesma moeda.

Mas, por hoje gostaria de indicar que a busca da felicidade como sentimento individual de prazer se estende por toda a sociedade, atingindo vários aspectos da vida. Destaco dois momentos, talvez distintos, que vêm da música: a, digamos, popular (sertanejo universitário, axé e funk), e a religiosa católica. Apesar de temas tão distintos, ambas músicas expressam, na minha opinião, a busca da felicidade, do prazer. Por um lado, nas músicas mais, digamos, mundanas, o que se encontra na letras é paixão, bebida, sexo, status, festa, mulheres, ou seja, temas que levam a uma identificação emocional, sentimental, individual. Nas músicas religiosas, há os temas como fé, emoção, devoção, religiosidade, mística,  também sentidos de forma individual que buscam um estado de prazer espiritual. Não é a toa que nós assistimos ao sucesso do sertanejo universitário e, também, assistimos ao sucesso dos padres cantores.

A busca da felicidade é individual. A emoção e os sentimentos são manifestações individuais, seja na relação com o outro ou com Deus. Somos impelidos para a felicidade hoje, porque somos impelidos ao individualismo cada vez mais exacerbado. O revés disso tudo é que a felicidade parece ser apenas um passo para a frustração. Assunto de nosso próximo post...


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