domingo, 8 de junho de 2014

(parte 3 e última) A fratura brasileira: pequenos ensaios sobre a copa


Dando continuidade e ao mesmo tempo terminando estes pequenos ensaios, passo a refletir o que significa, em minha opinião, uma divisão tão grande entre os que são favoráveis e os que são contrários à realização da copa do mundo de futebol no Brasil.

Em uma pesquisa recente de opinião do jornal local de maior circulação 51% eram contrários e 49% eram favoráveis ao mundial em nosso país. Mesmo levando em conta que tal pesquisa pode não ser precisa e nem exatamente representativa da opinião geral, o seu resultado revela uma diferença pequena de opinião o que indica que este assunto tornou-se realmente polêmico. Mais do polêmico, tal assunto revela, em minha opinião uma verdadeira fratura no tecido social brasileiro. Aquilo que era, talvez, a única coisa que representava uma identidade nacional já não mais comunga como antes. Penso que uma nação que quer progredir, que realmente quer resolver seus problemas, que quer crescer em cidadania e que quer exigir que seus políticos representem, de fato, os interesses da população, deve ter um sentimento nacional que vá além de preferências pessoais. O Brasil deve estar acima de nós, individualmente; os interesses coletivos e sociais têm que ser mais importantes que os interesses particulares e os de grupos organizados. Para isso, um sentimento nacional deveria nos guiar. A seleção brasileira de futebol não é e nunca foi unânime, mas sempre representou, de certa forma, um espírito nacional que congregava a grande maioria dos brasileiros. Se nem ela mais consegue isso, e na falta de qualquer outra coisa que nos congregue nacionalmente, penso que a fratura exposta tende a se tornar, em breve, um verdadeiro desastre, com repercussões inimagináveis. Torço para que, no fundo, isso que seja simplesmente pessimismo de minha parte.

Como já escrevi no post anterior, desde que o Brasil foi escolhido para sediar o mundial, eu me senti muito orgulhoso de ser brasileiro, da mesma forma que me senti assim pela escolha da cidade do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. E me sentiria assim independente de quem governasse o Brasil, independente de qual partido estivesse no poder. E o fato de me sentir orgulhoso de ser brasileiro neste momento não me impede de ser critico de muitas coisas no Brasil, bastando, para isso, ver posts antigos e recentes deste blog. O que percebo é que o movimento de crítica à realização da copa foi, em boa parte, instrumentalizado politicamente para servir de desgaste aos que nos governam; é a cultura política no Brasil dos partidos de oposição que torcem sempre pelo pior, para que eles surjam como alternativas de poder. É o jogo da democracia? Jogo pobre e empobrecedor...

Vou torcer pela seleção como sempre torço, com muita emoção e entusiasmo... Mas, mesmo se não ganharmos o hexacampeonato continuarei sentido orgulho de que meu país, em plena era do padrão-fifa, conseguiu organizar a copa do mundo. Mas, depois que ela passar, seria democrático e republicano abrir as contas da construção dos estádios para que o brasileiro saiba realmente o total dos gastos e quem pagou a conta.

Um comentário:

  1. "... é a cultura política no Brasil dos partidos de oposição que torcem sempre pelo pior, para que eles surjam como alternativas de poder." Acredito que grande parte das críticas ao evento se enquadram nesta sentença. Abraços, professor. Osmar Nascimento

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