quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Farmácias: templos de consumo...


Há algum tempo eu gostaria de escrever sobre as farmácias hoje em nossas cidades. Me chama atenção de como elas se tornaram verdadeiros templos de consumo, e não só de medicamentos. O exemplo mais exuberante para mim é uma farmácia recém inaugurada em Maringá que reproduz um templo budista (não vou citar o nome da farmácia para não fazer propaganda aqui). As construções que abrigam as farmácias, no caso as mais novas e que fazem parte de redes, são amplas, com pé-direito alto (uns 3 ou 4 metros), super bem iluminadas, que vendem doces, salgados, bebidas, cosméticos e, é claro, remédios também. As farmácias hoje são espaços convidativos para o consumo. Mas, só para mim parece estranho e sinal de preocupação esta relação com aquilo que deveríamos ficar contentes de não usar: remédios?

No começo do ano passado estive em Montevideo, em um congresso da minha área de atuação. Para além de conhecer um pouco do Uruguai pela primeira vez, e de ver coisas bonitas e interessantes, me chamou a atenção as farmácias que vi: prédios pequenos, acanhados, meio sombrios, tal como eram as farmácias há alguns anos aqui. Ir naquelas farmácias não dá prazer nenhum, muito ao contrário; ir nas nossas farmácias/templos hoje é um passeio normal. Em uma pesquisa realizada em 2018 pela plataforma Consulta Remédios concluiu-se que praticamente metade dos brasileiros se automedicam regularmente e que quase 80% da população já havia se automedicado naquele ano. Em artigo da revista Super Interessante de 2016, intitulado Viciados em Remédios, informa-se, de início que "A máquina de propaganda da indústria farmacêutica, a irresponsabilidade de muitos médicos e a ignorância dos usuários criaram um novo tipo de vício, tão perigoso quanto o das drogas ilegais: a farmacodependência".  O artigo mostra que no Brasil havia, em 2016, uma farmácia para cada 3 mil habitantes, simplesmente o dobro do que recomenda a Organização Mundial da Saúde; havia mais farmácias/drogarias (54.000) no Brasil do que padarias (50.000). Estamos muito mais hipocondríacos, conclui o artigo.

Eu penso que uma sociedade hipocondríaca é uma sociedade que cria cada vez mais doentes. Assim como o hipocondríaco enxerga riscos à sua saúde em qualquer coisa, a nossa sociedade cria as doenças e a indústria farmacêutica cria os remédios. A pessoa que é viciada em remédios é vítima de seus medos e da sua própria imaginação, tão vitima que tem prazer em acompanhar os últimos lançamentos farmacêuticos e não vê a hora de comprá-los. Mas, a pessoa hipocondríaca, assim como qualquer viciado, não tem consciência do seu vício e não se assume como viciada; ela acha que está no controle de sua vida e que só toma remédio para se proteger. A sociedade, cada vez mais doentia como a nossa, naturaliza a relação com os remédios e, para isto, transformou as farmácias de prédios sisudos em templos do consumo, em locais em que se entra com prazer e se compra um remédio assim como se compra um creme para as mãos, um chocolate ou um refrigerante. A alopatia cresceu exponencialmente nos últimos tempos, se tornou, como tantas outras coisas na nossa vida, uma mercadoria vasta, mais barata e de fácil acesso (vide, por exemplo, os remédios genéricos).

Longe de ser saudosista das tantas ervas e plantas que quando eu era criança minha mãe me dava para muitos males da época, acho mesmo que a tecnologia farmacêutica e terapêutica produziu remédios eficazes para muitas doenças hoje em dia. O problema, ao meu ver, é a confiança excessiva de que o uso de  remédios vai resolver os problemas de saúde atualmente. Muitos dos males que hoje afligem as pessoas estão ligados ao estilo de vida de hoje, em que se propala a meritocracia como ideologia de vida por um lado e a impossibilidade de conseguir se realizar plenamente por outro, porque o que nos define e nos limita é muito maior do que a nossa vontade individual.

Mas, o maior problema na minha opinião é que o novo formato das farmácias favorece um consumo desenfreado e prazeroso de algo que não deveria ser agradável em nossa vida. No entanto, como mercadoria que o remédio se transformou, seus agentes de consumo, as farmácias, se parecem, descaradamente, muito mais com lojas de shopping center do que, de fato, drogarias...

PS: me lembrei de uma história que uma amiga me contou de que ela e amigas estavam em um congresso anos atrás e uma delas, hipocondríaca, bateu em seu apartamento do hotel para pedir um remédio para dor de cabeça. Como minha amiga não tinha, ela perguntou se tinha algo para dor de estômago. Diante da segunda negativa, ela perguntou se havia algum remédio para enjoo. Ainda sem conseguir algum remédio ela perguntou se a minha amiga não tinha nada de remédio com ela. Minha amiga respondeu: "bem, de remédio, remédio, eu só tenho este colírio aqui". A viciada em remédios não se fez de rogada: "então, pinga duas gotas em cada olho por favor...".



terça-feira, 27 de novembro de 2018

A pressão do PAS sobre nossos estudantes


Se não me engano, o Processo de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) foi criado em 2008 ou 2009. Eu era, à época, pró-reitor de graduação da UEM quando as discussões tiveram início com a gestão da reitoria de 2006/2010. A ideia, em princípio, me parecia interessante e dei meu apoio, pois vislumbrava-se baixar a pressão do vestibular e estender o processo de entrada na universidade ao longo dos três anos do ensino médio, em que os candidatos não escolheriam o curso de início e, depois, com a soma da pontuação das provas iriam escolher, caso tivessem sucesso na seleção, o curso que iriam fazer. Enfim, a ideia era suavizar o disputado processo de ingressar na UEM. No entanto, com o passar do tempo, o que se verifica, na minha opinião, é que o PAS/UEM resultou num efeito exatamente o contrário: ele é responsável hoje pelo aumento exponencial da pressão sobre os estudantes do ensino médio.

Só fui me dar conta do efeito contrário do PAS/UEM quando minha filha, a Sofia, entrou para o ensino médio neste ano. Aliás, tem coisas na vida que só nos damos conta de verdade, só vemos seus reais efeitos, quando nos envolvemos diretamente. Hoje, alunos do ensino médio têm, na prática, pelo menos três vestibulares ao invés de um. Quem, não sendo professor e nem aluno diretamente interessados, já teve a curiosidade de ler a prova do PAS para ter a noção do que se cobra e da forma como se cobra (questões somatórias), verá que o que se exige é um conteúdo para além do que o estudante médio, normal, está acostumado. O nível de complexidade da prova da primeira fase (que corresponde ao primeiro ano do ensino médio) desse vestibular chamado, eufemisticamente, de processo de avaliação seriada, é muito alto, exigindo, dos alunos, uma dedicação que está muito além do comparecimento deles em sala de aula e do estudo para as provas regulares. Portanto, o nível de pressão aumenta muito pelos resultados que se espera.

Duas outras coisas que acontecem como repercussão do PAS e que aumenta a pressão sobre os alunos: a expectativa dos pais e a competição entre as escolas. Sobre o primeiro aspecto não há novidade, a não ser o fato de que a pressão resultante da expectativa dos pais para a entrada de seus filhos em cursos concorridos, como, por exemplo, medicina, arquitetura e direito,  no mínimo triplica, e os alunos que têm esse tipo de "motivação" passam a se exigir muito, muito mais... Sobre os colégios, especialmente entre os particulares, criou-se cursinhos preparatórios para o PAS, as provas das disciplinas, em grande parte, já são aplicadas com o formato somatório e, especialmente, dirige-se as disciplinas para o vestibular seriado. Como estamos numa sociedade capitalista, em que a educação também é uma mercadoria (aliás, valiosa!!), a competição entre os colégios começa pelo marketing de quantos alunos seus foram aprovados pelo PAS/UEM, o que, na prática, aumenta o valor da mercadoria que o colégio vende. Os colégios fazem este tipo de propaganda justamente porque acreditam (e devem estar certos!) que os pais matriculam os filhos naqueles colégios que conseguem mais aprovar seus alunos nos exames de ingresso para as universidades. Ou seja, na prática, tudo no colégio passa girar em torno do PAS, que aliado, ou decorrente, da expectativa dos pais, aumenta, como escrevi acima, de forma exponencial a pressão sobre nossos jovens. Os colégios públicos, por não terem necessidade de concorrer no mercado educacional, não têm cursinhos preparatórios, mas, com certeza, seus alunos já sentem também a pressão desde o primeiro ano do ensino médio.

As estatísticas mostram que, infelizmente, nossos jovens estão atentando contra a vida de forma alarmante. A pressão que eles têm na vida, pressão de várias origens, faz com que muitos se sintam incapazes de responder e ficam doentes. O período da vida que vai dos 14 aos 17 anos nunca foi fácil, pois é um período de crises, de amadurecimento e de, aos poucos, decidir o que vai fazer em sua vida de adulto. Mas, por outro lado, sempre foi um período de descobertas, do lúdico, de uma certa tranquilidade na vida para aqueles que não tinham que ir para o mercado de trabalho precocemente. O ensino médio que deveria, na minha opinião, focar na aprendizagem útil para a vida concreta de nossos alunos, fazer com que eles se interessassem, por si só, pelos conteúdos das disciplinas com liberdade e fossem amadurecendo aquilo que a gente chama de "vocação", agora insere-os num ambiente de pressão precoce.

Confesso que me me culpo de não ter pensado à poca em que discutíamos o PAS na UEM nas consequências que hoje, na nossa sociedade capitalista e competitiva, me parecem óbvias. Quem sabe eu poderia ter interferido ou problematizado mais a inciativa, Aquilo que eu achava que aliviaria a pressão sobre os alunos só fez aumentá-la. E, neste mundo com cada vez mais motivos para adoecer, os nossos jovens não deveriam ter mais um mecanismo, que se torna quase cruel, de pressão.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Eu votaria no Bolsonaro se...






Eu votaria no Bolsonaro se:






- eu achasse que o Brasil precisa de um Salvador da Pátria para resolver os seus problemas;
- eu não concordasse com um Estado laico em que a religião deve ser prática individual ou coletiva em igrejas e não um projeto político para um país;
- eu achasse que para o bem público, num regime democrático e republicano, deve-se colocar Deus acima de tudo e de todos;
- eu acreditasse que existe uma única concepção de Deus; pois, como há várias e diferentes "versões" de Deus, quem adquire poder são aqueles que se julgam o intérprete do Deus verdadeiro. Ou seja, num Estado Laico, que deve respeitar a diversidade religiosa em seu território e não deve censurar nenhuma religião, colocar Deus acima de tudo e de todos pode acarretar uma sociedade baseada em uma única interpretação de quem é Deus e do que ele quer de nós;
- eu não concordasse com uma sociedade plural, em que a crítica faz parte do cotidiano de nossas vidas;
- eu acreditasse que para ser presidente bastam bravatas e basta incitar o medo da população para com o seu concorrente direto;
- eu acreditasse que não é necessário expor concretamente quais as propostas que se tem para solucionar os problemas do Brasil;
- eu aceitasse que uma campanha no rádio e televisão deveria ser feita apenas nas críticas ao adversário; afinal, é preciso saber quais as propostas para acabar com a violência, para aumentar o número de empregos, para retomar a economia, para melhorar a educação e a saúde pública, para resolver o problema da dívida pública, da previdência etc.;
- eu acreditasse que apenas a qualidade da honestidade fosse suficiente para o cargo público de maior poder e responsabilidade do Brasil, pois, se assim o fosse, não precisaríamos de eleição, mas de um concurso público para descobrir a pessoa mais honesta do Brasil;
- eu acreditasse que fosse normal uma pessoa que passou 27 anos de sua vida em cargo público de relevância no Brasil não ter apresentado nada de relevante e nunca ter querido passar pela experiência de um cargo executivo, para o qual, aliás, está  se candidatando;
- eu considerasse que não é necessário participar de debates com o adversário para expor para a nação  as propostas e mostrar porque sua candidatura é melhor que a outra; o debate faz parte da essência da democracia, ainda mais quando se está num segundo turno em que restam apenas dois dos candidatos;
- eu acreditasse que o período militar de 1964 a 1985 trouxe realmente estabilidade para o Brasil, que naquele período não houve corrupção e que as pessoas tinham liberdade para se organizar e criticar o governo;
- eu achasse que a corrupção no Brasil é uma prática de dois ou três partidos e não algo praticamente endêmico na política brasileira; partidos pequenos, como o PLS em eleições anteriores, foram "alugados" por partidos grandes, recebendo dinheiro para servir de "aríetes políticos"; aliás, Bolsonaro foi filiado a 9 partidos, a maioria deles sem nenhuma relevância ou expressão política para o Brasil;
- partilhasse dos preconceitos de gênero, raça e sexo;
- acreditasse que a família tradicional brasileira não está cheia de hipocrisia, de submissão da mulher, de dupla jornada de trabalho da mulher e de homens que vão à igreja em um dia e ao puteiro no outro;
- enfim, eu não quisesse que minha filha vivesse num país com liberdade, com respeito, com valorização das diferenças e com esperança num futuro melhor.

No entanto, quero aqui deixar claro que meu voto em Haddad, neste momento, é porque vejo nele alguém que vai, pelo menos, andar pelos caminhos da democracia e do republicanismo e, com ele, não corremos o risco da instalação de um conservadorismo moral persecutório no Brasil. Como diz um amigo meu, prefiro votar alguém que pode, futuramente, ser acusado de ladrão, porque se assim o fizer podemos prendê-lo, do que votar em alguém que pode, futuramente, tornar-se um ditador, pois aí é ele que pode me prender simplesmente pelo fato de eu criticá-lo.
Mas, com toda a sinceridade, não gostaria de estar entre essas duas opções, por isso votei no Ciro no primeiro turno. O PT ainda deve ao Brasil um reconhecimento de que a corrupção atuou em parte do seu esquema partidário. O PT deve parar de endeusar o Lula como, também, uma espécie de salvador da pátria. O PT deve, a meu ver, deixar uma arrogância de que é a melhor opção de esquerda e de governo e deve dialogar, em pé de igualdade, com todas as forças republicanas neste nosso país.
Torço pela vitória de Haddad, mas torço também que ele possa fazer, de fato, um expurgo no PT e que ele seja cabeça de um projeto de governo e não de um projeto de poder.



quarta-feira, 3 de outubro de 2018

E se as eleições de hoje fossem há 100 anos atrás?


Estes dias estão sendo de muita reflexão sobre a atual conjuntura política brasileira. Procuro entender a quantidade expressiva de votos que o candidato Bolsonaro deverá ter no próximo dia 07 de outubro. Procuro entender as motivações de pessoas esclarecidas, estudadas, em optar por um salvador da pátria como o próximo presidente do Brasil.

Creio que há duas grandes frentes  de votos para ele (que podem ser subdivididas em outras, mas não vou fazer este exercício aqui) a primeira, mais fiel, de uma parcela declaradamente conservada em termos morais, que vêem em Bolsonaro, por ser abertamente contra a ideologia de gênero, ser abertamente homofóbico e machista, um defensor dos valores supostamente perdidos da família brasileira. O conservadorismo existe e sempre existiu na história da humanidade, pois diante de novidades das gerações mais novas, a geração anterior normalmente atribui a isto um desvio perigoso do desejado  comportamento humano, especialmente dos mais jovens; além disso, a religião sempre é usada como justificativa para que não haja mudanças que coloquem em xeque aquilo que, segundo os lideres das igrejas, Deus quer de nós.  Outra parcela reune em sua grande maioria o movimento antipetista, com um discurso contra a corrupção. No entanto, este segundo grupo é composto, também, pelas pessoas que se deludiriam com a política e que, diante de um vazio gerado pela ausência da polarização PSDB x PT, optam por um candidato supostamente novo e, também, supostamente não atrelado à corrupção política brasileira. Diante deste quadro, no entanto,  estou fazendo, por esses dias, um exercício mental-imaginativo-fantasioso que talvez contribua para pensarmos, efetivamente, o que seria um possível governo do Bolsonaro no Brasil: imaginemos  se as eleições deste ano fossem há 100 anos atrás e se o Bolsonaro fosse candidato?

No início do século XX o Brasil vivia um momento de entrada na era republicana e muitos líderes advogavam a necessidade de formar um cidadão que contribuísse para que o Brasil se desenvolvesse e se tornasse social, econômica e politicamente tão grande quanto o seu território. Nesse movimento tivemos importantes avanços sociais que repercutem até hoje. Avanços que foram conseguidos mediante muita luta e, especialmente, em lideranças políticas que assumiram bandeiras sociais importantes e colocaram parte de seus mandatos a serviço do enfrentamento do conservadorismo. Vejamos, hipoteticamente (mas, sem sombra de dúvida, bastante real), naquele quadro social, uma plataforma política do candidato Bolsonaro do passado:

- pelo restabelecimento da escravidão no Brasil, pois os negros, sendo uma raça inferior, não têm como arranjar empregos decentes e só vão fazer aumentar a pobreza e a violência no Brasil;
- pela manutenção do voto para aqueles que possuem propriedades, pois as pessoas comuns, destituídas de boa educação, não podem influenciar no futuro do país;
- pela manutenção dos votos somente para homens, pois o lugar das mulheres, por sua constituição física, é o lar, cuidando dos seus filhos e maridos, e, por isso, elas não tem maturidade racional para exercer o seríssimo direito ao voto;
- pela redução das áreas destinadas aos índios, pois eles não precisam de grandes áreas para viver, pois, além de preguiçosos, eles são indolentes e as áreas destinadas a eles devem ser repassadas para os nossos capitalistas agrários para produzirem os alimentos para os brasileiros;
- pela tipicação  do homossexualismo como crime contra a humanidade e a religião, pois subverte, demoníacamente, a sagrada família brasileira, pois Deus, em sua infinita sabedoria, criou o homem e a mulher somente. Os crimes de homossexualismo devem ser punidos com a prisão e a castração química e, na reincidência, com a morte;
- pena de morte para todos os criminosos, independente se forem simples ladrões ou assassinos. Os policiais estarão liberados para primeiro atirar e depois perguntar;
- pelo retorno imediato do Brasil cristão, devendo ser proibida qualquer religião que contrarie os dogmas da Santa Madre Igreja.

O que nos parece hoje este tipo de plataforma política? Horrível, atrasada, perniciosa, criminosa?? Sim, tudo isto e muito mais... mas, atualizando o discurso do Bolsonaro e sua plataforma política hoje, não seria a mesma coisa?? O Brasil se tornou democrata e republicano enfrentando os discursos acima, pois sempre teve gente (as vezes menos, as vezes mais) que defenderam todos aqueles pontos e outros mais, numa atitude conservadora e reacionária diante do que acreditavam ser pernicioso para a família, para a religião e para o país. Imagine se "ele" tivessem vencido? Mulheres, negros, índios, homossexuais, democracia, espírito republicano, liberdade religiosa... todos os avanços não teriam acontecido...

E agora a pergunta fatal: o que será se o Bolsonaro ganhar agora??

PS: sou a favor de qualquer opinião sobre qualquer coisa; acho que a democracia pressupõe que a ninguém deva ser cercado seu direito a expressar-se. Portanto, não tenho nenhum problema com as opinões conservadoras, pois o conservadorismo sempre fez e sempre fará parte da sociedade; meu problema é quando o conservadorismo se torna projeto político que coloca em risco os avanços sociais que foram conseguidos a duras penas...


domingo, 23 de setembro de 2018

O coiso... ele...


Alguns amigos e algumas amigas podem discordar do que segue aqui, mas sei que como tais, amigos e amigas, me conhecem para saber as minhas motivações e minha visão de mundo. Desde o ano passado tenho conversado com algumas pessoas sobre as eleições presidenciais que se aproximam, e disse para todos que eu não tinha um candidato definido, nem à época e nem agora, mas que tinha apenas uma campanha a fazer: contra o Bolsonaro. E é sobre o atual clima das eleições presidenciais que me motivo a escrever aqui: me causa estranhamento ver em postagens de amigos e amigas, especialmente no facebook, referências ao Bolsonaro como "coiso", "ele", negando-se a pronunciar o nome do candidato. Mesmo sabendo que o facebook possa usar os algoritmos que acabam por evidenciar o nome dele, ainda assim me causa estranhamento.

Me perguntava porque isto me incomoda? Depois de pensar um pouco me veio que não querer sequer pronunciar o nome dele parece quase como uma atitude religiosa, parecido com o costume antigo(?) de não pronunciar o nome do demônio para que os maus agouros não o trouxesse, ou mesmo, o medo de pronunciar o nome do diabo (ou belzebu, ou lúcifer, ou tinhoso...), pelo fato de que o simples fato de falar tal nome já despertasse na entidade um desejo de "conhecer" a pessoa que, de certa forma, o invocou. Me lembro quando criança, adolescente e, mesmo na juventude, pessoas não pronunciarem o nome da doença câncer, falavam "aquela doença ruim", porque não queriam, não sei exatamente porque, assustar as pessoas, mas desconfio que era a mesma lógica de não pronunciar a palavra demônio, para que se afugentasse o mal da pessoa que estava falando.

Pelo clima maniqueísta criado há algum tempo na política brasileira, potencializado pelas redes sociais, a luta pela verdade ganhou quase que contornos religiosos. Pessoas de um grupo chamando as pessoas de outro grupo de corruptos, comunistas, petralhas, coxinhas, conservadores, hipócritas etc. Os dois grupos se xingam mutuamente, um defendendo que está quase como "ungido" da verdade e que, por consequência, o outro está afundado na mentira. O caminho para a salvação passa pelos candidatos que  os grupos defendem, também quase que de forma religiosa, como carismáticos salvadores da pátria. Eu acho que se recusar a chamar pelo nome o candidato que se está atacando reverbera em uma ação política que pode estar pautada numa militância quase que religiosa. O Brasil não precisa, para seu amadurecimento político, de salvadores da pátria, e sim de pessoas comprometidas com uma visão de conjunto dos problemas reais brasileiros e que sejam capazes de apontar, com seriedade, com sobriedade e com realismo, as possíveis saídas para a crise. A solução dos problemas não depende de simplismos e promessas mágicas, pois a crise em que o Brasil se encontra é muito mais profunda do que podemos imaginar.

Estamos em um momento muito sério no Brasil, em que temos que pensar e participar da política de forma sóbria, ponderada e (infelizmente) pragmática. Assim, o meu candidato nunca vai ser o Bolsonaro porque ele representa, na minha visão, exatamente o que eu não quero para o futuro do Brasil: violência, misoginia, racismo, homofobia, arrogância do colonizador, a economia nas mãos de técnicos sem a ponderação das políticas públicas e, especialmente, bravatas de quem está há quase três décadas na política e não fez absolutamente nada para mudar, ou seja, eu não quero o oportunismo político como critério de escolha para nossos governantes.  Alguém que prega a superioridade racial, a de gênero, a de pessoas armadas, não pode ser a minha escolha. Alguém que pode colocar em risco a democracia com seu discurso de violência e de exaltação à ditadura militar no Brasil, não pode ser meu candidato. Alguém que pode, em um eventual governo, criar milícias a paisana no Brasil para controlar e cercear a liberdades garantidas constitucionalmente para todos, não pode ser meu candidato. Alguém que pode colocar em risco a estabilidade social, política e econômica que tanto o Brasil precisa nos próximos anos não pode ser minha escolha.

Faço campanha, sim, contra o Jair Messias Bolsonaro!! Porque tenho convicção de que com ele, como presidente, o Brasil piorará sensivelmente em seus padrões republicanos, democráticos e civilizatórios. Todas as suas bravatas serão desmascaradas, porque a conquista da liberdade humana é irreversível, com todas as suas dores e delícias. A duras penas o Brasil se tornou um país oficialmente laico, em que a liberdade religiosa é garantida; corrermos o risco de, em nome de uma religião, retrocedermos na história é, com toda a certeza, abrir a possibilidade concreta de reativarmos os tribunais da inquisição... por isso que a apologia à violência é uma marca do Bolsonaro...

sábado, 9 de junho de 2018

Bons Casmurros - um convite à leitura


Há pouco mais de sete meses faço parte de um grupo de leitura intitulado Bons Casmurros. Sob a liderança do Victor Simião, este grupo se reune a cada três semanas no Café Literário, perto da UEM, para debater vários tipos de livros, desde clássicos até os mais modernos romances, ficções, poesias, teatros, biografias, e até histórias em quadrinhos. Cerca de trinta pessoas gravitam em torno do grupo, variando a idade de 15 a 60 anos, mas umas quinze pessoas efetivamente participam. Eu estava com vontade de fazer parte dos Bons Casmurros há uns dois anos, mas só tive a oportunidade concreta de fazê-lo no final do ano passado (obrigado à Maria!!). Agora, além de ser mais um participante, estou tendo o prazer de fazer novas amizades e reaver outras antigas.

Quero refletir aqui sobre o que significa fazer parte de um projeto com tais características, mais do que ficar fazendo uma descrição das suas atividades. Todas as discussões que fiz parte até agora foram ricas, foram profundas e se  tornaram, especialmente, momentos de aprendizagem de minha parte. É muito interessante ver como cada pessoa lê o mesmo livro; como cada indivíduo faz a sua apreciação e as suas críticas; como cada ser ali presente submerge na história e, depois, emerge diferente, tocado pelo enredo e pelos personagens. A literatura tem dessas coisas: é uma subjetividade que escreve e que dialoga com cada subjetividade que lê. Alguém já disse que o que escrevemos deixa de nos pertencer e passa a fazer parte da vida daqueles que nos leem e nos interpretam. Concordo!! Se nos escritos acadêmicos isto acontece, na literatura é uma realidade plena e contundente. Afinal, o que seria de Shakespeare, Cervantes, Dante, Machado de Assis, Dostoiévski, Balzac, se não fossem seus leitores?? O que seria de Shirley Jackson, John Green, Misha Glenny, Helena Ferrante, Hilda Hilst, Luiz Rufatto, se não fossem as pessoas que os leram e comentaram com outras pessoas que seus livros eram muito bons? Eu jamais leria autores modernos se não fosse por este grupo, pois minha formação e gosto pessoal sempre me levaram em direção aos clássicos. Mas, a experiência de ler autores atuais tem sido gratificante. Já li livros que não gostei muito, outros que simplesmente gostei e outros que gostei mais...

Mas, talvez a característica mais gratificante do grupo e que eu quero destacar aqui é que todas as discussões até agora têm um alto nível de crítica. Crítica no sentido de que as pessoas dialogam de verdade com os autores, porque dialogam com a vida. Crítica no sentido de avaliar com recursos pessoais de profundidade e não apenas repercutir o que os outros pensam. A visão crítica para com os livros se estende, naturalmente, para uma visão crítica com relação à sociedade de forma geral, com suas instituições, suas ideologias e suas idiossincrasias. Eu que sou do mundo acadêmico partilhei  por um tempo de um preconceito que faz parte deste mundo: a criticidade se faz dentro dos muros da universidade. Ledo engano!! O espírito crítico se forja, especialmente mas não de forma exclusiva,  na leitura de bons livros, que trazem histórias que dialogam com a vida do leitor, que o faz sair de seu mundinho umbilical e o faz levantar a cabeça e buscar ser uma individualidade neste mundo tão ausente delas. Individualidade é diferente de individualismo e de coletivismo; é um meio-termo em que o indivíduo se fortalece, toma consciência de que ele é social, mas que também deve forjar a sua forma de pensar o mundo, sem se deixar levar por interesses mesquinhos e nem ser como gado em curral sendo levado de um lado ao outro por "tocadores de mentes".

Em um mundo como o nosso, em um tempo como o nosso, em que muitas coisas estão acontecendo rapidamente e ao mesmo tempo; em que vivemos as "dores do parto" de algo novo; estarmos atentos criticamente para não sermos meros reprodutores de ideias e ideais é uma necessidade de sobrevivência. Ler é uma ótima e poderosa vacina que nos imuniza ou, o que também é salutar, nos deixa mais "malucos beleza" num mundo que não pode ser levado tão a sério!! Ler é preciso; ler bons livros é fundamental!! E o Bons Casmurros está aí para contribuir!!

Obrigado a todas as pessoas que integram o grupo e que me permitem crescer cada vez que nos encontramos! É muito bom estar com vocês, seja no Café Literário ou nos bares da vida! Termino aqui pois tenho que adiantar a leitura de O Conto da Aia, de Margaret Atwood, nosso próximo livro...



quarta-feira, 11 de abril de 2018

Merlí - e os peripatéticos



Ficar muito tempo sem publicar algo aqui me gerou dúvidas quanto a sobre o que escrever. Pensei em rascunhar alguma coisa sobre a atual situação que rola no Brasil, em termos políticos, mas ficará para outra oportunidade. Hoje vou aproveitar que terminei mais uma série da Netflix para sobre ela escrever: Merlí. Uma série catalã basicamente centrada em um professor de Filosofia do Ensino Médio de uma escola pública que dá o nome à série.

Merlí é uma série que tem três temporadas, as duas primeiras com treze episódios cada uma e a terceira, e última, com quatorze episódios. É uma série que foge do padrão "hollywoodiano", como House of Cards, Homeland, Breaking Bad, ou mesmo Game of Thronos. Ela é produzida pela TV3 da Catalunha, e tem atores pouco conhecidos, como o protagonista  Francesc Orella, que fez inúmeros filmes, programas de TV e peças de teatro, mas que pouco chegam até nós. Aliás, é uma inciativa muito bacana da Netflix que compra e disponibiliza séries fora do circuito comercial, como,  em outro exemplo, Rita , uma série dinamarquesa também sobre uma professora de escola pública.

Talvez diferentemente de outras pessoas que assistiram a série penso que a sua grande virtude é construir uma trama complexa com personagens igualmente complexos. É verdade que o mote é um professor de Filosofia que, numa didática diferente do convencional, consegue fazer com que seus alunos (os seus peripatéticos, como ele chama a turma, em clara referência a Aristóteles) passem a ser questionadores do atual estado social, cultural, religioso, econômico e político. A Filosofia se torna, como sempre deverá ser, instrumento para tornar as pessoas críticas, com o passeio que o professor Merlí Bergeron faz de seus alunos com Platão, Aristóteles, Agostinho, Plotinho, Marx, Hegel, Nietzsche, Smith, Sartre, Zizek, Baumann, dentre outros. Eu, como sou formado em Filosofia e trabalho as disciplinas Fundamentos Filosóficos da Educação na Antiguidade e Medievalidade no curso de graduação em Pedagogia, posso atestar que a forma como os filósofos são apresentados faz jus aos seus pensamentos. E, mais, o planejamento de Merlí, um tanto anárquico, não apresenta os filósofos em uma ordem cronológica, ele os introduz de acordo com o tema que quer trabalhar; assim, de Platão ele vai a Maquiavel, depois a Baumann, volta para Epicuro, avança para Heidegger, volta a Socrátes... de uma forma muito bem elaborada e com um sentido lógico. Mas, o mais interessante é que, independente do filósofo,  o professor sempre faz a relação do seu pensamento com as questões da atualidade, pois, dessa forma, os alunos conseguem dialogar com diferentes filosofias e, essencialmente, dialogar com eles mesmos.

Merlí é um personagem humano, pois ele não é idealizado como senhor das virtudes, pois apresenta vários defeitos, pelos quais, inclusive, as vezes paga preço alto. Seus alunos vivem, cada um, vidas complicadas, com várias experiências e famílias que dão um toque por vezes dramático ao enredo. Foi muito bonito e emocionante acompanhar a vida deles e de como cada um, a sua maneira, foi tentando resolver seus problemas. Questões próprias da nossa sociedade no que diz respeito à juventude são tratadas de forma aberta, como drogas, sexo, homossexualismo, racismo, mãe solteira, suicídio, morte etc.. A escola pública, bem como os problemas das pessoas que dela dependem, também são mostrados de forma bem realista, apresentando que, num mundo dominado pelo capital, dominado pelos interesses políticos de grupos que têm projetos de poder e não de governo, quem sofre são os despossuídos e as instituições que do governo dependem, e isto em um país de primeiro mundo.

Enfim, recomendo esta série a todos aqueles que querem passar várias e várias horas assistindo um enredo cheio de nuances, que foge ao maniqueísmo, com personagens fortes, com histórias pessoais que se entrelaçam em outras histórias e que nos faz rir, ficar com raiva, torcer e chorar. O último episódio é particularmente emocionante, mas não vou aqui dar spoiler.

"Me llamo Merlí... y quiero que la filosofía os haga 'trempar' (se excitar)"



sábado, 11 de novembro de 2017

Celso



Conheci o Celso em 1992, durante o Josuem (jogos dos servidores da UEM), em que eu jogava futebol pelo CCH (Centro de Ciências Humanas) e ele jogava pelo time da PRH (Pró-Reitoria de Recursos Humanos). De lá para cá trabalhamos juntos na gestão dos professores Souza e Neuza, de 1994 a 1998, eu na chefia de gabinete e ele na chefia do cerimonial; ele morou em casa um tempinho (me falha a memória quando foi), pois tinha quebrado a perna e estava estudando para um concurso; fui padrinho de casamento dele com a Sandra, em 2000 ou 2001; mas, o mais importante é que fomos amigos, no sentido mais profundo e bonito deste substantivo, especialmente desde 1994. Ao mesmo tempo que é difícil escrever algo para o Celso como minha última homenagem a ele, por causa da dor de sua partida, é muito fácil dele lembrar e sobre ele escrever.

O Celso fez Direito na UEM e começou a trabalhar na mesma universidade antes de mim, ou seja, antes de 1989. Pela sua formação, pela sua articulação política, pela sua liderança e pela sua capacidade de diálogo, ele ocupou cargos de relevância na nossa universidade. Além da já citada chefia do cerimonial, em que pode desenvolver uma de suas habilidades, que era falar em público, ele foi, sucessivamente, Diretor de Pessoal, de 1998 a 2002, Procurador Jurídico, de 2002 a 2006, Presidente do Sinteemar (Sindicato dos servidores da UEM) de 2013 a 2016. Além disso ele foi o representante dos servidores técnicos no Conselho de Administração da UEM, função que lhe rendeu a liderança e o respeito dos seus pares, pois ele os representou muito bem, especialmente em momentos decisivos da carreira dos servidores. É impossível separar a história pessoal dele de sua atuação, intensa e significativa, na UEM.

O Celso foi uma das melhores almas que conheci. Como disse o Erivelto, nosso amigo em comum, hoje de manhã, sempre foi fácil estar perto dele. Pessoa tranquila, raramente perdia a serenidade, bom de conversa, especialmente sobre música e futebol. Claro que o Celso tinha defeitos, mas, sinceramente, não estou nem aí para deles falar, pois os seus defeitos o tornavam humano, só isto!! É interessante que apesar de sermos amigos-irmãos, nem sempre estivemos no mesmo lado político na UEM. Na campanhas para reitor de 2002 e 2006 (campanhas, no geral, que nós dois tivemos participação intensa) estivemos em lados diferentes; ele levou uma e eu outra; empatamos! Mas, em nenhum momento nossa amizade sequer balançou, ao contrário, o respeito mútuo somente cresceu. Para não ficar excessivamente longo este depoimento/homenagem, uma história e uma sua característica.

A história: no início de 1997 ele, como chefe do cerimonial, organizou a colação de grau dos alunos da UEM no ginásio Chico Neto, e eu, como chefe de gabinete, ou seja, como seu chefe imediato, tinha que aprovar tudo. Ele veio com uma ideia de fazer algo diferente ao final da cerimônia, que era realizada em dois dias: fazer um letreiro escrito "Parabéns aos graduados da UEM", escrito com pólvora que, ao final, com as luzes desligadas, seria aceso e proporcionaria um visual deslumbrante. Fizemos sem comunicar o reitor Souza, para não estragar a surpresa. Foi lindo! Todos aplaudiram! No entanto, como diz a lei da física que a fumaça quente sobe a fria desce, depois de cinco minutos a fumaça toda desceu e cobriu todos (umas três mil pessoas ao todo), quase causando um alvoroço. Bombeiros foram chamados, mas, descobriram que nem sempre onde há fumaça há fogo. Ainda bem! Resultado: levamos um senhora de uma bronca do reitor e, claro, não repetimos no outro dia. (estou rindo sozinho aqui lembrando de tudo...).

A característica: Celso foi o palmeirense mais entusiasmado que conheci; muito mais do que eu, que sou palmeirense.  Se pedirem para as pessoas que o conheceram lembrar dele certamente o farão vestido com a camisa ou agasalho do Palmeiras. Ele sempre comprou todas as camisas do time, as de jogo (primeira, segunda e terceira camisas) e as de treino; os calções; as meias; as camisas de goleiro, de manga curta e longa; os agasalhos. Quando não estava vestido com uniforme do Palmeiras ele estava, geralmente, de terno (outro tipo de roupa de que gostava muito), ou seja, sempre estava muito elegante! Mas, apesar de todo o entusiasmo ele não era fanático, como tantas vezes as pessoas assim o qualificaram, pois fanatismo significa intolerância com o diferente. Ele sempre respeitou os torcedores dos outros times, mesmo os corinthianos!! Eu posso afirmar com segurança que nunca vi o Celso discutir seriamente com alguém por causa de futebol; nem nos campos em que ele jogava (aliás, um ótimo centroavante), nem nas resenhas, bares, churrascos, com ou sem bebida alcoólica. Ele sempre foi assim, um torcedor ardoroso, mas nunca colocou o glorioso Palmeiras acima das amizades. Por isso sempre foi muito fácil estar com ele.

É isso meu amigo!! Um pouco de quem você foi e é, pois seu corpo se esvaiu, mas sua memória sempre vai estar comigo. Você me fez muito bem sempre!! Foi um baita privilégio conviver contigo por tantos anos!! Você fará muita falta na vida de muita gente, especialmente seus familiares e amigos mais próximos, mas saiba que sua presença, palavras e seu jeito de ser contribuíram para muitos de nós sermos melhores. Especialmente eu!!!!!!

domingo, 1 de outubro de 2017

Vaidade e (im)produtivismo...

(Microconto livremente inspirado em Machado de Assis)


Recentemente foi encontrado um manuscrito antigo, de autoria desconhecida, que relata a vida em uma sociedade bem diferente desta nossa em que vivemos. Pelo manuscrito não se sabe que época é retratada nem exatamente o local, mas sabe-se que eram seres humanos vivendo de forma organizada e, em princípio, racionalmente. Provavelmente em algum ilha razoavelmente grande de algum imenso oceano. Perto da ilha de Utopia? Quem sabe... restam apenas especulações, até porque esta sociedade deixou de existir há muito tempo... Bem, vamos a uma síntese do que está no pergaminho.

Aquela sociedade se organizava em torno da luta, ou melhor dizendo, da pugna, com regras bem claras, e, com o passar do tempo, cada vez mais regrada. No começo as pessoas lutavam porque gostavam, porque diziam que era saudável para o corpo e para o espírito e, especialmente, porque poderiam passar as técnicas de luta para pessoas mais jovens. Assim, criaram uma espécie de programas de treinamento para passar as técnicas, tanto práticas como teóricas, para aqueles que passaram a ser os alunos. E, como aferição dos resultados, os alunos teriam que desenvolver novas técnicas e formas de lutas e apresentarem perante uma banca. Como, pelo que se pode apreender do pergaminho, aquela sociedade era razoavelmente grande, dividida em distritos, uns mais centrais e ricos e outros mais periféricos e pobres, logo começou a existir uma forma de ranking entre os programas. E, por uma decorrência que só afeta os seres humanos em toda a sua longa história, a vaidade começou a tomar conta de algumas pessoas. Aqueles que estavam no topo do ranking se sentiam como que aristocratas da sabedoria e aqueles que não estavam no cume faziam de tudo para lá fincar seus "pés".

A partir de então, como vaidade que se presta não pode ser para todos, aquela sociedade passou a expandir suas regras, tanto horizontalmente como verticalmente, ou seja, mais regras para os alunos e seus tutores e mais regras para os programas. O curioso, pelo menos para nós que não cultivamos essas coisas, é que as regras passaram a restringir o acesso de programas e, consequentemente, de professores e seus alunos, aos estágios mais destacados. Quanto mais programas coletivos conseguiam atender as regras, no ano seguinte se elevavam os patamares a serem atingidos. No começo da organização das pugnas bastava aprender as técnicas e apresentá-las em festivais de lutas; os professores também faziam suas apresentações; existia festivais o ano todo em todos os recantos daquela sociedade. No entanto, as novas regras que foram surgindo disciplinava os eventos; estabeleceu-se, também, um ranking dos festivais de 1 a 10, sendo 1 o mais qualificado e 10 o menos. Eventos categorias 1, 2 e 3 eram bem poucos e, portanto, concorridos, e para conseguir ser aceito para lutar neles era algo para poucos, somente os aristocratas na verdade; os outros, especialmente os de categorias 8 a 10 eram mais e mais acessíveis, porém, contavam bem pouco.

O manuscrito relata que poucas pessoas questionavam as regras estabelecidas, pois criou-se toda uma racionalidade lógica para provar que as categorias e, por consequência, os rankings eram impassíveis de crítica; "só se estabelecia quem tinha qualidade", era o que afirmavam; e isto tornou-se uma espécie de dogma. E assim, desta forma, passou-se vários anos... No entanto, continua o manuscrito, algumas pessoas faziam críticas àquela racionalidade. Diziam elas que as lutas tinham perdido o sentido de pugnas; um número cada vez menor de pessoas iam assistir as lutas; os alunos não estavam mais sendo preparados com tempo suficiente para treinar bem suas técnicas, pois tinham que lutar o mais cedo possível e na maior quantidade possível;  os programas estavam demitindo gente que não lutava o suficiente em prol do seu programa... enfim, aquele modelo adotado não era unânime, mas era hegemônico. O manuscrito termina relatando tentativas dos descontentes de criarem uma espécie de liga separada e autônoma, mas que não tiveram muito sucesso. A organização original seguiu produzindo cada vez mais festivais, cada vez mais lutas e... cada vez mais vaidades...

É preciso ser justo com meus leitores e informar que existe uma pequena possibilidade do manuscrito ser forjado. Se esta hipótese for verdadeira, resta perguntar quem inventou isso tudo e por que motivos. Eu, de minha parte, acredito que o manuscrito é verdadeiro... ah, e como é!!



domingo, 17 de setembro de 2017

"It", a Coisa, ou, os medos e as culpas do dia-a-dia....



Assisti o filme It, a Coisa, uma refilmagem do clássico livro de Stephen King. O livro foi publicado em 1986 e a primeira versão para as telonas foi de 1990. Confesso que fui ao cinema convidado pela Sofia, minha filha, pois, por um histórico de problemas com filmes de terror (ver meu post Demônios), nunca me liguei muito a enredos em que aparecesse qualquer ser sobrenatural que atormenta as pessoas. Fui, portanto, ver o filme sem ter visto nada antes; sabia apenas que se tratava de um palhaço que encarnava o mal e que assustava pessoas. Resultado: passei medo, tive sustos, mas, depois de uma noite de sono, parece que consegui fazer uma relação do filme com algo mais concreto e cotidiano na nossa vida, o medo. O filme, como eu já imaginava, em se tratando de Stephen King, é uma metáfora.

O palhaço do filme, o It ou a Coisa, Pennywise, é um ser que se alimenta do medo das crianças e adolescentes. Eu ainda não entendi, no contexto do filme, como a Coisa surgiu e porque ela tem tantos poderes. Mas, o que fica claro é que o combustível dela, que vem buscar de tempos em tempos, é composto do maior medo que as pessoas mais frágeis na pequena cidade americana têm, ou seja, as crianças e os adolescentes. Medo de levar bronca do irmão mais velho e ídolo; medo do pai abusador; medo da mulher deformada no quadro; medo de ficar doente; medo do fogo que matou os pais; medo da solidão; medos, medos... O medo é a porta de entrada da Coisa no mundo dos personagens, os Losers (fracassados) da escola; o medo é que permite que eles sejam perseguidos e quase mortos pela Coisa. Melhor não adentrar em maiores detalhes para não fazer spoiler importante aqui...

O medo mostrado no filme não é aquele que nos protege, como o medo de saltar de paraquedas ou de asa delta, não é, portanto, o que podemos chamar de medo positivo. O medo, no filme, é o que paralisa a pessoa, é o que a torna fraca e, com isso, presa fácil de situações e de pessoas dispostas a explorar nosso medo em benefício próprio. O medo faz a pessoa "flutuar", sair da realidade e se entregar ao seu "sequestrador". E esse tipo de medo é resultado, em sua grande maioria, da culpa. No filme: a culpa por desobedecer o irmão; a culpa por ter sido abusada pelo pai; a culpa por não se esmerar o suficiente para se tornar um judeu adulto, ainda mais sendo filho de um rabino; a culpa por ser o causador do seu estado de saúde débil; a culpa por não ter ajudado os pais quando a casa pegou fogo; a culpa por não ser merecedor da atenção e amizade dos outros; culpas, culpas... Quando os adolescentes protagonistas do filme conseguem superar seu medo da Coisa eles a enfrentam; enfrentam, metaforicamente, seus próprios medos; conseguem enfrentar suas próprias culpas e passam a se libertar dos dois sentimentos que os paralisavam.

Todos temos nossos medos, uns mais visíveis e outros mais recônditos. Portanto, temos nossas culpas motivadoras dos medos, umas mais visíveis e outras bem mais escondidas. Enfrentar o medo é enfrentar as culpas, reconhecê-las e perceber que talvez elas não são nossas, mas, que por processos os mais variados e complexos, elas foram introjetadas por nós, mas que não somos suas causas. E, mesmo que as culpas sejam nossas, é preciso saber relativizar sua importância e assumir, quem sabe, a nossa parte do pagamento. Só assim, creio, é possível ver nossos medos cara a cara e enfrentar nosso monstro particular, nosso palhaço que nos atormenta e, especialmente, vencê-lo. A fortaleza do monstro é nossa fraqueza; a nossa coragem é a fragilidade da Coisa.

Ah, o filme é muito bom e muito bem dirigido, bem atuado, mantendo um enredo eletrizante. Recomendo!! O problema é que, mesmo tratando de medos, quem sabe, alheios, ficamos preocupados de nos depararmos com o Penywise por aí....


sábado, 26 de agosto de 2017

O estalo de Vieira


Contam os biógrafos de Antonio Vieira que o Imperador da Língua Portuguesa, na definição de Fernando Pessoa, quando era estudante do Real Colégio da Bahia, na época dirigido pelos jesuítas, era um aluno medíocre, que tinha muitas dificuldades em se adaptar àquela instituição. Certo dia, no entanto, enquanto ia para mais um dia árduo de escola ele, como costumava fazer todo dia, estava rezando na Sé em construção e teve uma fortíssima dor de cabeça, como se tivesse recebido um golpe em sua cabeça, chegando a acreditar que iria morrer. Não somente não morreu como, mais tarde já no colégio, passou a entender tudo o que os professores ensinavam. Se tornou o melhor aluno e quando foi convidado para ser professor de Filosofia, e depois Teologia, produziu um curso de Filosofia próprio, e depois um de Teologia, destacando-se nas Letras da época. O episódio da intensa e repentina dor de cabeça passou para a história como "O Estalo de Vieira".

Desde a primeira vez que li sobre esse momento da vida de Vieira, e pensando no grande intelectual e orador em que ele se transformou, confesso o meu pecado da inveja. Gostaria muito de ter tido, na minha adolescência, alguns estalos. Gostaria muito de ter tido facilidade para aprender química, biologia e física, inglês e francês e, depois, na faculdade, queria muito ter tido estalo para entender melhor Kant e Hegel. Mas, infelizmente não tive tais estalos... a duras penas consegui entender um pouco de inglês e francês... Parece que estalos são reservados para poucos mesmo, acho que somente para aqueles que estão mais próximos de Deus.

Mas, como sempre tento fazer relações para além dos termos em si, fico pensando, por exemplo, que tem muita gente por aí que talvez fique esperando um estalo em sua vida, evitando dedicar-se a aprender as coisas que, na maioria das vezes acontece de forma difícil, com dificuldade, que é resultado de muita dedicação e suor... No entanto, eu acho que quanto mais a gente se esforça para aprender as coisas, mais estamos perto de estalos, ou seja, de entendermos, finalmente, o que buscamos... Além disso, acho que o "estalo" pode ser as conexões, os links que conseguimos fazer, relacionando o que estamos aprendendo com outras coisas de nossa vida. Penso que quanto mais a gente perceber que qualquer coisa que aprendemos na escola ou na universidade tem sempre a ver com a nossa vida, quanto mais a gente perceber que teorias não estão distantes da vida, mais temos chance de fazer conexões e ampliarmos o nosso conhecimento, e mais, temos condição de criar nosso próprio pensamento, sermos autônomos e, assim, dialogar com maturidade com a vida e com os saberes acadêmicos. Talvez seja esta uma boa forma de entender o significado do "estalo", ou seja, algo que impulsiona, uma espécie de salto, em que passamos a fazer links que antes nos sentíamos incapazes...

Talvez o tal do Estalo de Vieira tenha sido nada mais do que um lampejo em que ele passou a fazer as conexões que não conseguia e, por isso, ia mal na escola. Quem sabe ele, pensando muito em tudo o que era passado no colégio, conseguiu fazer algum link que deixou claro a lógica e as ligações de todas as informações escolares e, por isso mesmo, tenha tido uma forte dor de cabeça; dores da descoberta!!! De qualquer forma, não resolve ficar parado esperando um "estalo"; quem sabe o "estalo" não é uma recompensa do esforço de querer aprender sempre mais!!!!



quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Sobre a série "13 Reasons Why"...


A série da Netflix "13 Reasons Why" (numa tradução livre: "13 motivos do porquê") causou, recentemente, muitos comentários, especialmente pelo tema tratado. Vi críticas e vi elogios. Críticas ao enredo tido como fraco, à caracterização da personagem como egoísta demais, à espetacularização do tema; elogios à forma como a série tratou o tema, à coragem de tocar em algo tão sensível na sociedade, ao realismo e intimismo do enredo.

A história trata do suicídio de uma menina de 17 anos, cujos motivos foram relatados por ela mesma em fitas cassetes, envolvendo 13 pessoas, que representaram os 13 motivos de sua trágica decisão.  Confesso que assisti com muito receio, pois o tema do suicídio é muito polêmico; é tão sensível que existe um acordo, no Brasil, entre a imprensa e a polícia de não divulgar suicídios pelo fato de que alguém que está pensando seriamente em tirar a própria vida acaba se encorajando ao saber que outra pessoa o fez. Mas, a série me mostrou que é necessário pensar no assunto e tentar conhecer os sinais de que alguém próximo a nós pode estar pensando seriamente cometer tal ato. A série me mostrou que não devemos julgar as pessoas que estão passando por isto e muito menos quem acaba concretizando. Os motivos são vários e geralmente profundos. O que devemos fazer é, na verdade, tentar antecipar, naquilo que depender de nós, os sinais.

É preciso, no entanto, contextualizar a série. Ela retrata a sociedade americana,  a vida dos jovens de classe média e a escola de ensino médio (a High School). A sociedade estadounidense é, como sabemos, extremamente competitiva, e isto se revela no seu sistema de ensino, pois todas as escolas, de ensino fundamental, médio e as universidades têm seus times de esportes os mais variados, predominando o basquete, o futebol americano e o beisebol (esportes nacionais de maior audiência). É uma sociedade que respira competição desde a mais tenra idade. E, por isso, a escola americana é sempre retratada em filmes dividida entre os que praticam esportes, cultura, as cheerleaders e os nerds; os que não se encaixam em nenhum desses grupos são excluídos pelos demais. A série mostra a High School, do ponto de vista dos alunos, como uma instituição dura, em que as relações são muito precárias e sem afetos duradouros e machismos, além do bullying, é claro. Esta é a síntese do ambiente que levou a personagem a cometer o suicídio.

No Brasil a sociedade é diferente e, por consequência, a escola também. Alerto que não estou aqui comparando a competência das escolas, porque acho que o esporte poderia, se bem direcionado, contribuir com a escola pública brasileira. No entanto, o fato de que aqui não haver tanta competição não significa que não haja relações precárias, machismos, violências e, especialmente, o bullying. Apesar das diferenças de sociedade e de escola, aqui também podemos ter criado espaços que facilitem ou induzam jovens a tirar suas próprias vidas. Não sei das estatísticas da violência aqui, mas nos Estados Unidos o suicídio é a segunda causa de morte entre as adolescentes.

Enfim, recomendo a série, especialmente para pais, parentes e professores. O assunto é sério e é necessário não varre-lo para debaixo do tapete da sociedade. Só um aviso final para em for assistir: não deixem de ver o vídeo da pós-produção, pois ele explica muita coisa sobre os personagens e sobre a temática tratada com realismo, por vezes, assustador.

terça-feira, 4 de julho de 2017

NOTA DE ESCLARECIMENTO PARA A COMUNIDADE DA UEM

Sou conselheiro do Conselho Universitário da UEM, representando o Departamento de Fundamentos da Educação e, devido à interpretação equivocada (quem sabe, maldosa...) da minha proposta feita ontem (03/07) na reunião do COU, senti necessidade de fazer o esclarecimento que segue.
A matéria em discussão ontem era o Regulamento para Eleição para Reitor e Vice-Reitor da UEM. Minha proposta foi de alteração da fórmula que foi utilizada nas eleições da UEM em que houve paridade (1990, 1994, 1998, 2002 e 2006). Em nenhum momento eu propus a volta à proporcionalidade (o sistema 70/15/15 - 70% dos votos para os professores, 15% para os servidores técnicos e 15% para os estudantes), que vigorou nas eleições de 2010 e 2014, ao contrário, minha proposta foi de reforçar, de fato, o sistema paritário, em que cada categoria tem 33,33% dos votos. A proporcionalidade foi substituída pela paridade em dezembro de 2014, e terá validade para as próximas eleições para reitoria em 2018.
Minha proposta foi usar a fórmula da proporcionalidade para aplicar na paridade. Explico: na fórmula da proporcionalidade, o total dos VOTANTES de cada categoria tinha os pesos proporcionais, e na fórmula da paridade o total dos ELEITORES tem 1/3 dos votos de cada categoria. Na prática acontece o seguinte:
- nas últimas eleições para reitoria da UEM, em 2014, no segundo turno, votaram 1300 professores, 1790 servidores técnicos e 4400 estudantes. Então, na prática, 1300 professores tiveram 70% dos votos, 1790 técnicos tiveram 15% e 4400 alunos tiveram também 15%;
- nas eleições de 2006, quando o sistema de escolha era paritário, votaram, no primeiro turno, 1130 professores, 1970 servidores técnicos e 4850 estudantes. Mas, como a paridade era atingida pelo números de ELEITORES, na prática o corpo docente teve algo em torno de 30% do peso, os técnicos 28% e os alunos 8%, pois a abstenção de votos foi maior entre os estudantes e os técnicos do que entre os docentes.
Se eu consegui ser claro, a fórmula da paridade requer, para se ter igualdade entre as categorias, que todos votem, mas, como o voto não é obrigatório na UEM (com o que eu concordo), a categoria que tem menos abstenção tem peso maior. É o que vai continuar acontecendo, se a tendência histórica se mantiver. A minha proposta foi, portanto, que os 33,33% de cada categoria fossem medidos pelos VOTANTES e não pelos ELEITORES, pois defendi que se deve valorizar aqueles que, de fato, votam.
É isto. Reitero que minha proposta não foi acabar com a paridade, muito pelo contrário, eu defendi o aprimoramento do sistema paritário para escolha de reitor e vice-reitor da UEM. No entanto, eu dou o assunto por encerrado pois somente eu votei na minha proposta (ironicamente, nem os estudantes votaram comigo) e, portanto, democraticamente o Conselho Universitário definiu a forma como a paridade vai ser retomada na UEM, e eu, como sempre, acolho a decisão da maioria.
Fiquei um tanto chateado pelo fato de pessoas distorcerem minhas falas e proposta feitas no COU, mas, pensando bem, agradeço a elas, pois me foi oportunizado esclarecer que defendi e defenderei o voto paritário para escolha do reitor da UEM.