domingo, 24 de junho de 2012

(segunda parte) Complexidade


Continuando a reflexão anterior, gostaria agora de referir-me à complexidade no sentido social e histórico. No post passado, em resumo, eu afirmei que o ser humano é complexo, e é assim que ele deve enxergar a si mesmo e aos outros. Penso que, como consequência lógica, a sociedade e a história devem ser analisadas e avaliadas, também, em suas complexidades.

Efetivamente, as instituições sociais estão longe de serem simples. A política, a escola e a família, apenas para referir-me a algumas das mais importantes, têm uma complexidade interna que não comporta definições acabadas e tranquilas. Em política, por exemplo, como dizia um político, a água sobe a cachoeira..., ou seja, querer uma linearidade no jogo e nos arranjos políticos é se perder em uma pureza que não leva em conta a dinamicidade do processo e as variadas estratégias utilizadas na luta pelo poder. Pode-se  criticar alguns conchavos, mas achar, de forma  pueril, que a política não pode compreender novas alianças com velhos inimigos é ser, no mínimo, ingênuo. No que diz respeito à escola e à família acontece o mesmo, pois é muito comum minimizar a complexidade das relações inerentes a elas e, com isso, propor resoluções dos problemas que passam, simplesmente, pela mudança na forma dos comportamentos (do marido, da mulher, dos filhos, dos estudantes, dos professores), estabelecendo papeis que deveriam ser naturais. Tanto a família como a escola são instituições que são determinadas para além daquilo que lhes são específicos e, por isso, simplificar as análises e resoluções de possíveis problemas acaba por dar, como diziam os antigos, "com os burros na água", ou seja, respostas ingênuas para análises simplórias.

No que diz respeito à história, é muito comum professores, pesquisadores, estudantes etc., analisar a história a partir de conceitos generalizadores, tais como Idade Média, Humanismo, Renascimento, Mercantilismo, Iluminismo, dentre inúmeros outros. Tais conceitos são sempre construídos posteriormente para identificar determinadas características do passado. No entanto, corre-se o risco de, ao usar permissivamente os conceitos, eles acabam virando rótulos nos quais adapta-se e resume-se a realidade, correndo o risco de fazer uma espécie de radiografia do passado, de se congelar a história, simplificando as relações humanas individuais e sociais, retirando, portanto, toda a dinamicidade própria de qualquer sociedade do passado. O ser humano individual e em sociedade é sempre complexo e, por consequência, o passado também é complexo, dinâmico, contraditório e, se não se estiver atento a isso, corre-se um sério risco de retirar do passado o que lhe é mais rico: os seres humanos de carne, osso, sangue e alma que construíram suas vidas com a intensidade que lhes era inerente.

A consciência de que as sociedades, atual e do passado, são coisas simples é gerada, em minha opinião, por uma visão religiosa-maniqueísta do ser humano e da realidade. A atitude mais simplificadora é aquela que julga as pessoas, instituições e outras coisas como boas ou más e, portanto, a resolução dos problemas também passa pela solução maniqueísta de condenar os maus e enaltecer o bons. Bondade e maldade são tão relativos quanto a própria vida; bom e mau são tão não-lineares como o é a própria história...



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