domingo, 17 de junho de 2012

Complexidade

Acho que uma das falácias que repetimos e uma das armadilhas que caimos constantemente é de que a "vida é simples, e somos nós que a complicamos"... Falácia por ser um raciocínio enganoso e armadilha por ser algo que parece uma coisa mas é outra, um engodo. A vida, decididamente é complexa, muito complexa. O ser humano não é simples, pois, parafraseando o velho Marx, ele é uma síntese de múltiplas determinações, algumas das quais se têm consciência e outras (muitas vezes as mais importantes) encontram-se no inconsciente ou subconsciente; aliás, a própria existência real desses dois níveis já é uma prova da complexidade humana.

Como somos seres que, normalmente, queremos nos preservar e viver da forma mais confortável possível, afastando temores, sustos, imprevisibilidades etc, temos uma tendência a reduzir as coisas a uma simplicidade aceitável, previsível, linear, por isso que são poucos, por exemplo, os que aceitam entrar em projetos realmente desafiadores, que exigem coragem, criatividade, persistência e tomada de decisões por vezes impopulares. A segurança que muitos buscam de forma arrefecida tende a camuflar as contradições inerentes à vida, por isso que a auto-consciência muitas vezes é um inferno, especialmente quando preferimos achar que, no máximo, os outros é que são nosso inferno...

Uma das máximas mais antigas que se têm conhecimento é aquela atribuída a Sócrates (mas que fazia parte da cultura grega) de que a verdadeira sabedoria deve partir do auto-conhecimento ("conhece-te a ti mesmo") e, então, do conhecimento dos outros ("decifra-me ou te devoro",  é o que a Esfinge falava àqueles que queriam entrar em Tebas, no mito de Édipo ).  Como não é tarefa fácil, pois senão não estariam colocados como fundamentais para a vida, tais pensamentos gregos revelam que as pessoas são seres complexos que dificilmente cabem em rótulos simples, como estamos muito acostumados a fazer tanto conosco mesmos quanto para com os outros. É muito mais fácil definir as pessoas e a nós mesmos do que empreender um esforço para adentrar muitas vezes em terreno perigoso que é o nosso interior e o das outras pessoas. Fazer isso sem a mediação do dinheiro, do poder, da submissão, da chantagem, do comodismo e, especialmente, daquilo que as pessoas chamam de amor e paixão, aí sim é que o caminho é muito mais difícil.

Se quisermos de fato nos conhecer é preciso, em minha opinião, partir do princípio de que somos seres complexos, que a vida é complexa e, que, portanto, as pessoas ao nosso redor também são complexas. É mais difícil, muito mais complicado, muito mais exigente, mas se não for assim, corremos o risco de viver uma vida auto-alienada e, portanto, longe de ser feliz!!!!


3 comentários:

  1. Célio,
    Admitir a complexidade da vida não é simples, mas talvez ela não seja tão complexa assim...
    Penso que cada um tem sua marcha, seu ritmo. E tocar a vida calmamente, sem complicar as coisas, buscando cada objetivo na medida certa e procurando dosar os próprios anseios, é uma forma de tornar a caminhada mais suave, e consequentemente, entender melhor a própria existência...provando assim, um pouquinho de felicidade...
    Abraços!!

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  2. A auto- alienação é um lugar profundo no qual a atual sociedade mergulhou, claro, na minha opinião. Pessoas que estão fora desse canyon, e eu me coloco assim, vivem de outra forma e as vezes o mundo alienado nos impede de seguir em frente. A alienação impõe certas coisas que te travam no meio do caminho. É aí que a paixão e o amor entram. É difícil manter esse fogo aceso, perante a essa realidade, mas nós (somos um grupo escasso, infelizmente) devemos sempre estar lá, lutando e essa luta é por nós mesmos!

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  3. Creio que a própria avaliação do que é o ser humano seja complexa. O ID contrastando com o Superego. O íntimo humano, mesmo com todas as definições e teorias existentes, é inacessível.
    Veja, vivemos em sociedade, pois o ser humano é incapaz de viver sozinho, enlouquece. Como dizia Hobbes: "O Homem é o lobo do Homem"; como compreender um ser assim? Instintivamente vivemos em uma cadeia no que se diz respeito às nossas necessidades como animais, mas quando se diz respeito à inteligência (e essa é a parte 'complexa') se mantém da mesma forma.
    O instinto difere da inteligência, do raciocínio, pois um é impensado, já o outro não. Como compreender um ser tão incompreensível? Tão ilógico?
    A questão não é nos conhecermos, e sim saber o que somos! Entender o que envolve aquilo chamado "humano"; e somente a partir daí, podemos tentar compreender o que somos quanto "pessoas". E nessa parte ficará ainda mais difícil, pois envolve o aspecto cultural. Ou seja, a sociedade nos molda, o meio que nos envolve acaba por definir e manipular aquilo que devemos pensar, como agir, como se portar. A verdadeira complexidade está no desejo de decifrar o ser humano.

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