Qual o sentido da vida? Em que ela deve se apoiar? O que, de fato, nos faz sentirmos a vida?
Está aí algo que já foi perguntado bilhões de vezes e já foi respondido, mental ou verbalmente, milhões de vezes, e já foi escrito, com certeza, pelo menos milhares de vezes. Mas, sempre é atual, pois quem pergunta o faz do seu estado de espírito que sempre é particular e atual. Então, será que são as pequenas coisas ou as grandes tarefas que temos ou, ainda, as duas juntas que nos fazem dar sentido à vida? Não querendo repisar definições ou citar incontáveis exemplos, creio que o sentido está na felicidade, mas naquela que está, por exemplo, na carta que Epicuro escreveu para seu discípulo Meneceu que, em síntese, é a felicidade que não depende do que nos é exterior, uma felicidade que está dentro de nós. Procurar a felicidade é viver com sentido. Uso como exemplo a carta de Epicuro não à toa, pois a tenho como uma das filosofias de vida que me acompanha e que me possibilita uma tentativa de autocrítica constante, uma espécie invertida (ou não) de superego... Afirma o filósofo, como alguns antes dele e muitos outros depois, que a verdadeira felicidade e, portanto a mais difícil, é aquela que construímos como legitimamente nossa, independendo de coisas ou pessoas, pois se depositamos a causa de nossa felicidade nas coisas ou nas pessoas, se elas nos faltam por algum motivo, a felicidade vai junto. A construção de tal felicidade coincide com a própria construção da individualidade e, portanto, não é algo que achamos na esquina ou que nos é inspirada de repente. A felicidade não é algo acabado mas algo constantemente construído (e, especialmente, reconstruído...). Claro que coisas e, especialmente pessoas, nos trazem um sentido de felicidade, pois nos fazem melhores e nos sentimos mais leves quando as temos por perto (tanto física como espiritualmente), e queremos sempre cultivar nossas boas e saudáveis relações, afinal, como já disse alguém que não me recordo mais, nós somos nós e as nossas relações; no entanto, depositar quase que exclusivamente nossa felicidade no que nos é exterior é abrir mão de nossa individualidade e de nossa identidade, o que é, sob todos os aspectos, uma espécie se suicídio inconsciente...
Este é o grande desafio e, também, o profundo problema!!
E aí volto a me perguntar: qual é mesmo o sentido da vida??
sábado, 25 de fevereiro de 2012
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Gentil
Escrever
alguma coisa sobre o Gentil é fácil e difícil ao mesmo tempo. Explico: fácil,
pois enquanto esteve entre nós, foi uma pessoa de fácil e gostoso convívio;
difícil, na medida em que ele tinha tantas qualidades que possivelmente
esqueceria alguma delas. Mas, me sinto impulsionado a tentar deixar, ao menos,
a minha impressão sobre aquela gentileza em pessoa, chamada Gentil José
Vidotti.
O conheci
em 1989 nas quadras do SESC, prá variar, jogando bola. A primeira impressão é
que aquele grandalhão, que tinha um chute tal qual um torpedo, se impunha pelo
seu tamanho e habilidade; pensei, inclusive: “como um marmanjão como aquele
poderia se chamar Gentil?”. Mas não! Logo, logo, percebi que, como falei (e não
fui o único) para ele várias vezes, o nome fazia jus à pessoa. Como tantos
outros, me senti acolhido por ele e me afeiçoei logo. Desconfio que foi amor à
primeira vista, ou, pelo menos, ao primeiro jogo ou primeira cerveja. Desde
então, sempre fomos amigos. E daquele tipo de amizade que não é necessário que
se encontre todos os dias ou que um vá a casa do outro no final de semana. Me
intrometi, talvez por santa inveja, na amizade entre ele e o Adley e tive o
topete de passar a chamá-lo de Zé.
Em todos
esses 20 anos de amizade, a admiração somente cresceu, pois mesmo em situações
extremas, desagradáveis na rotina da UEM, sempre a ponderação foi sua marca.
Mas não posso aqui correr o risco de passar uma imagem de alguém que era
passivo, muito ao contrário. Sua ponderação vinha sempre carregada de uma postura
crítica e, sempre, pautada em argumentos muito bem construídos. Não foi somente
o bom coração do Gentil que me causava admiração, mas sim sua inteligência
apurada, que carregava um senso de responsabilidade e de respeito pelos outros
que, confesso, me faltaram algumas vezes. Mas o mais admirável nisso tudo é que
o pano de fundo dos posicionamentos críticos do Gentil era, invariavelmente, a
nossa querida UEM, sua segunda casa, como todos sabemos. O orgulho de pertencer
a esta comunidade acadêmica e o senso de contribuir, sempre, com o seu
crescimento, foi uma marca indelével do nosso Gentil. Passou por vários cargos,
mas sempre, muito menos por vaidade, do que para atender ao chamamento de seus
colegas de departamento, de centro e de reitorias. Em todas as ocasiões que
tive a grata satisfação de conversar em ele sobre a UEM e de estar presente em
reuniões em que ele também estava, tive o prazer de presenciar uma sensatez
irreparável. Quem lê essas palavras agora pode estar pensando: mas ele nunca
errou na condução administrativa? Nunca cometeu injustiças em suas decisões?
Claro que ele errou, mas garanto a você, leitor, errou muito pouco; arrisco a
dizer que errou muito menos que nós; muito menos que eu, com certeza.
Mas quero
falar aqui de um Gentil que algumas pessoas tiveram o prazer de conhecer: o
boleiro. Atacante nato, goleador, um chute potente, cabeceador exímio, mas,
acima de tudo, um gentleman em campo.
É impossível medir o tempo em que joguei bola ao lado ou contra ele nesses 20
anos, mas é possível afirmar quantas vezes vi o Gentil discutir sério com
alguém em campo ou ser desleal em alguma jogada: nenhuma vez, e isso com
absoluta certeza. O companheirismo sempre esteve acima de tudo para ele e o
respeito humano se estendia ao campo de bola. Peço licença para contar duas
histórias para ilustrar isso tudo, uma envolvendo o Gentil e outra envolvendo eu
e ele. Na primeira, num jogo no Country Club, num dos inúmeros jogos dos
inúmeros campeonatos em que participou, ele estava muito irritado com o árbitro
do jogo que, em sua opinião, não estava apitando com justiça. Quando chegou ao
seu limite de tolerância com os seguidos erros, ele foi para cima do árbitro
com todo aquele tamanho e, quando todos pensavam que o Gentil o agrediria, ele
simplesmente beijou o rosto do árbitro e disse mais ou menos assim: “estou
saindo do jogo para não brigar com você”, e foi para o chuveiro. A outra
história é sobre uma discussão que eu tive com ele num jogo na quadra ao lado
do departamento de Educação Física. Eu o chateei de tal forma que ele foi
embora antes de acabar o jogo me dizendo que eu estava insuportável aquele dia.
Confesso, caro leitor, que não consegui dormir naquela noite, tal foi o remorso
que fiquei, pois eu havia conseguido discutir com o Gentil (imagina, eu havia
conseguido brigar com o Gentil!!). No outro dia, enquanto não falei com ele e
pedi desculpas, não consegui trabalhar. É claro que ele me desculpou e, dias
depois, rimos muito dessa história tomando nossas cervejas.
Gentil,
você foi para mim uma mistura de pai, conselheiro, exemplo, irmão mais velho,
que posso sintetizar como amigo. Estar presente naquele momento fatídico não
foi fácil, mas talvez tenha sido um presente, meio estranho, que a vida me deu.
Mas confesso que foi um dos momentos mais doloridos de minha vida, pois receber
a notícia, ainda no HU, de que você não estaria mais junto de nós, foi muito
difícil. Você vai fazer muita falta por aqui. As passarelas da UEM estão mais
tristes. O campo da ADUEM está mais triste. A UEM toda está mais triste. Quem
sabe nós, que tivemos o privilégio de conviver contigo por tanto tempo, não o homenageamos,
cotidianamente, sendo mais gentis uns com os outros.
Filosofia da Educação
Ao encerrarmos a disciplina Filosofia da Educação
I, aliás, pela última vez, pois o currículo novo começa em 2006, gostaria de
fazer algumas reflexões.
Em termos de conteúdo, nosso caminhar no decorrer
deste ano foi bastante intenso, pois “cobrimos” um período de tempo que vai
desde o século VII a.C. até o século XIII da nossa era. Vimos: a mitologia
grega, por meio da discussão sobre a peça trágica Prometeu Acorrentado,
de Ésquilo; pudemos acompanhar, de posse de uma síntese, o pensamento dos
chamados filósofos naturalistas ou pré-socráticos, acompanhando o seu
desenvolvimento em busca do que seria o verdadeiro arkhé; passamos
rapidamente por Sócrates, a quem é creditado o início do verdadeiro filosofar,
na medida em que ele focou no homem e nas coisas relativas a ele o objeto da
filosofia; nos detivemos um pouco mais no pensamento político de Platão e de
Aristóteles, aliás os dois filósofos que, sem os quais, não é possível pensar
em entender a filosofia e muito menos filosofar; vimos a filosofia pós-pólis,
a filosofia do homem individual, por meio da interessante Carta sobre a
felicidade, de Epicuro; finalmente, acompanhamos o nascimento de uma nova
filosofia, essencialmente diferente da grega, mesmo que em parte sua devedora,
que tinha por base a religião cristã, estudando o pensamento dos santos
Agostinho de Hipona, Anselmo de Aosta e Tomás de Aquino.
Paralelo aos autores e textos, sempre procuramos,
ao introduzi-los, fazer a devida contextualização histórica e cultural no
sentido de evitar um entendimento de que a filosofia poderia estar acima da sua
história. Se olharmos para trás, podemos observar que o caminho, apesar de
árduo, foi intensamente rico e especialmente proveitoso. É claro que quem lhes
fala aqui é o professor!
Peço licença para repetir aqui algumas coisas que
por algumas vezes falei durante o curso, mas creio ser necessário. Em primeiro
lugar, os autores trabalhados e os textos estudados apesar de importantíssimos
não podem nos passar a impressão que vimos tudo o que tinha de ser visto no que
diz respeito à filosofia ou, mais precisamente, às filosofias de cada período.
Na verdade, devido ao programa da disciplina e ao
tempo para realizá-lo, o que se fez foi escolher, com um certo critério, mas
não o único, o caminho mais proveitoso a seguir. O mesmo programa poderia ser
trabalhado escolhendo-se outros textos dos mesmos autores e até textos de
outros autores. Ah, como seria bom se fosse possível trabalhar com uma epopéia,
a Ilíada, por exemplo; estudar um poema de Hesíodo; ler e se apaixonar
por uma tragédia de Sófocles e uma de Eurípedes; se divertir com uma ou duas
comédias de Aristófanes; acompanhar o julgamento de Sócrates, por meio do
diálogo platônico Defesa de Sócrates; ler obras de autores gregos como
Xenofonte ou Demóstenes; ter a possibilidade de ler outros textos de Platão,
como Leis ou Górgias, apenas para citar dois exemplos; poder
adentrar um pouco mais no complexo mundo lógico de Aristóteles, lendo, quem
sabe, a Ética a Nicômaco; poder ler outras preciosas obras de Agostinho,
como As Confissões e Sobre o livre arbítrio; poder, enfim,
arriscar-se a compreender um pouco mais do profundo pensamento de Tomás de
Aquino, com a Suma Teológica ou De Magistro ou ainda os Sete
pecados capitais. Enfim, como as possibilidades são praticamente
ilimitadas, necessário se faz um recorte, uma escolha, e é o que foi feito,
acreditando piamente que foi, senão a melhor, uma das mais viáveis.
Independente da escolha feita, um critério que a
acompanhou e que de esteve presente na confecção do programa, é o de se dar
preferência, na medida do possível, às chamadas fontes primárias, ou seja, aos
textos diretamente escritos pelos autores estudados, relegando para um segundo
plano, o das leituras complementares por meio da disponibilização de textos
introdutórios ou interpretativos do pensamento dos autores estudados.
Dessa forma, por mais difícil que pareceram, e por
vezes o são mesmo, o contato com os textos originais é muito mais enriquecedor
e possibilita um maior amadurecimento de quem se encontra em um curso
universitário, preparando-se para fazer parte de uma elite intelectual no
Brasil. A leitura das fontes primárias dos autores considerados clássicos serve
como estímulo a que não nos contentemos com a leitura de intérpretes, os quais,
por mais interessantes e proveitosas que possam ser, jamais substituem os
originais. Assim, na nossa disciplina fizemos questão de que vocês tivessem contato
com escritos originais e penso que lê-los, que estudá-los, ajudou inclusive a
desmistificar que tais leituras seriam muito difíceis. Lendo estes autores
podemos perceber, inclusive, que as questões que os preocupavam eram questões
tão humanas, travestidas de sociais, políticas e epistemológicas, como as
nossas humanas questões.
Penso que um clássico é aquele que, entre outras
características, ajuda a entender o homem em seus múltiplos determinantes, pois
foram pessoas que conseguiram, mais do que outros, perscrutar a alma humana.
Lembrem-se, por exemplo, de Platão nos ensinando que o homem dito justo
provavelmente sucumbe às tentações de fazer o que quiser tendo posse de um anel
que lhe desse o poder da invisibilidade. Dessa forma, creio que a leitura e o
estudo de obras inteiras ou parte delas (Prometeu acorrentado, A
República, Política, Carta sobre a felicidade, Cidade de
Deus, Monológio e Súmula contra os gentios) possibilitou em
todos nós um acréscimo de nosso cabedal intelectual, o qual, aliás, é o único
que ninguém pode nos tirar.
O assunto de nossa disciplina foi filosofia e,
dessa forma, foi necessário definir com um pouco mais de precisão o que ela
seria e o que a diferenciaria de outras ciências. Partimos do conceito de que à
filosofia cabe estabelecer concepções de ser humano, de sociedade e de
natureza. Tais concepções dizem respeito, sempre, à perspectiva humana e,
portanto, a preocupação não é com o homem isolado, nem com qualquer tipo de
sociedade animal, por mais bem organizada que seja, e nem com a natureza no
sentido biológico ou físico-químico, e sim, a natureza como o espaço que é
ocupado ou pensado pela humanidade que define, inclusive, aquilo que é estável
em qualquer outra concepção.
Nesse sentido, quando procuramos mostrar que tipo de
homem os filósofos concebiam, também procuramos mostrar de que tipo de
sociedade e de que tipo de natureza eles estavam falando. Assim, se pudéssemos
resumir em frases curtas, buscando uma síntese acerca das concepções de homem
que nos deparamos, poderíamos arriscar a ter o seguinte: na tragédia de
Ésquilo, o homem é um ser livre que deve, principalmente, não esquecer de
valorizar sempre a liberdade a qual não foi dada e sim conquistada como
condição, inclusive, da manutenção da civilização; nos pré-socráticos, o homem
(ou os homens) naturalista é o que busca, pela razão, entender os princípios
fundamentais deste mundo; o homem platônico é o que deve reconhecer sua
ignorância e buscar a justiça individual e social; o homem aristotélico seria
aquele que deve conhecer a sociedade em que vive para exercer adequadamente sua
função política nela; o homem epicurista é aquele que busca a felicidade; e o
homem cristão é aquele que busca compreender sua missão na terra para merecer
sua vida eterna junto a Deus.
Mas nossa disciplina não é restrita à discussão
filosófica, pois ela é educacional também. Dessa forma, conjuntamente às
concepções de homem, sociedade e natureza, procuramos evidenciar as concepções
de educação correspondentes. A educação, que não é a escolar, mas aquela que
diz respeito a que tipo de homem que uma determinada sociedade quer formar
visando sua manutenção, agiu como um conteúdo transversal em toda a disciplina.
Acompanhar como os filósofos entendiam direta ou indiretamente a educação dos
homens de sua época é compreender que a educação nem sempre pode ser vista
institucionalmente, pois, por vezes, ela é pensada em seus aspectos mais
culturais e filosóficos do que escolares.
Assim, seguindo o método acima de expor
resumidamente as concepções da educação (e correndo os mesmos riscos das
sínteses apressadas), poderíamos concluir que tivemos a oportunidade de ver: a
proposta de uma educação para a liberdade, de uma educação para a investigação
científica, uma educação para a justiça, uma educação para a política, uma
educação para a felicidade individual e uma educação para a salvação da alma.
Ao mesmo tempo, não podemos deixar de apontar que todos esses “tipos” de
educação estão presentes, em graus diversos, em cada uma das concepções. Cada
período apresenta uma determinada característica, a qual podemos encontrar, por
vezes em contornos mais claros, nas concepções filosóficas desses mesmos
períodos.
A educação foi tratada ao longo do ano da mesma
forma que a apresentamos no primeiro dia de aula. Lembram-se do exemplo da
educação de Ciro, o grande rei persa que edificou o imenso império no Oriente?
Aquela educação, por mais obtusa e brutal que pareça aos nossos olhos hoje, foi
a base para a formação do homem guerreiro, conquistador, que construiu o império.
Bem, como recados finais da disciplina, gostaria
de deixar dois exemplos que podem ajudar tanto na continuidade do curso como na
vida profissional de vocês. Os dois recados são tirados dos dois principais
filósofos cristãos, os quais, por sua vez, buscaram nos dois principais
filósofos gregos os fundamentos racionais de suas propostas. Falo de Santo
Agostinho (Platão) e de São Tomás de Aquino (Aristóteles).
Na Cidade de Deus (vocês hão de
lembrar!), Agostinho empresta a divisão da filosofia feita por Platão,
acrescentando a Santa Trindade às finalidades da filosofia. O que acho que pode
ficar de lição prática para a profissão de professor, nossa profissão, está, de
certa forma relacionada às funções das partes da filosofia. Explico melhor: o
professor deve antes de tudo dominar o conteúdo do qual é responsável, ou seja,
deve procurar entender a fundo a matéria essencial daquela disciplina que vai
ministrar (física/natural); em segundo lugar, ele deve saber comunicar aquele
conteúdo de forma clara, de forma didática, para que os alunos possam apreender
a matéria e aprender sobre a matéria (lógica/razão); em terceiro lugar, o
professor deve ser responsável, na medida de suas possibilidades, em criar um
clima fraterno em sala de aula, para que aquele local seja um ambiente de
responsabilidade, de respeito e, principalmente, de exercício da cidadania
(ética/moral). Claro que não estou ligando a tarefa do professor à da Trindade
Cristã, apenas acho que como Agostinho aproveitou da divisão da filosofia feita
por Platão, nós podemos também fazer nossas apropriações. Então professores e
professoras, dominar o conteúdo, ter didática em comunicá-lo e criar um clima
amistoso e cordial na sala de aula é o mínimo (e quem sabe o máximo!) que se
exige de um bom profissional.
Finalmente, para o restante do curso de Pedagogia
e, quem sabe, para a vida toda, fica o ensinamento de São Tomás de Aquino,
visto na introdução à Súmula contra os gentios, de que por mais que algo
nos pareça difícil de ser apreendido e aprendido, não devemos desistir de
fazê-lo alegando a dificuldade. Não estou querendo que nos tornemos teólogos,
apenas penso que nos próximos anos do curso, conteúdos difíceis vão ser
apresentados a vocês, pois faz parte da formação acadêmica, e, portanto, não
desanimem, estudem, se esforcem para compreendê-los, pois assim vocês estarão
aproveitando ao máximo algo que pelo menos por enquanto é para apenas uma elite
nacional, ou seja, um curso universitário.
Deixem o curso de Pedagogia passar por vocês, não
passem, simplesmente, pelo curso. Espero, sinceramente, que o conteúdo da
disciplina Filosofia da Educação I tenha contribuído com a formação crítica e
profissional de vocês.
Valeu!!
Professor Célio.
Os jogos olímpicos voltam para sua casa!!
- Zeus, Zeus, vai se atrasar...
Vamos meu bem, com certeza será uma bela festa, digna dos áureos e numinosos
tempos!
- Não sei não Hera, será que vale a pena sair de nosso
eterno descanso para assistir a uma festa dos mortais? Além do mais, eles já
esqueceram de nós, os imortais...
- Pare de reclamar papai. Você se tornou um
velhinho muito resmungão e mau-humorado para quem já foi o rei de todos os
seres viventes. Nós sabemos, aliás já faz tempo, que nós, os deuses gregos,
caímos em desuso, pois os homens, em sua história, conceberam deuses diferentes
de nós. Mas, como somos imortais, devemos aproveitar os momentos em que, ao
menos, somos lembrados, não acha papai? Essa cerimônia de abertura dos Jogos
Olímpicos modernos promete ser muito bonita! Vamos lá papaizinho querido...
afinal, esta é a minha cidade...
- Está bem Atena, vou sim... o que
um pai não faz pela sua filha predileta. Aliás, vai ser bom rever os velhos
amigos e inimigos dos tempos em que nós éramos os seres mais importantes. Está
bem, está bem, não vou mais resmungar...
Ao cair da tarde grega daquele dia
13 de agosto de 2004, a atenção de aproximados quatro bilhões de pessoas no
mundo voltavam-se para o Estádio Olímpico de Atenas, onde mais de setenta e
cinco mil pessoas, entre expectadores, convidados, organizadores, atletas e
artistas estavam prestes a fazer e assistir o início dos XXVIII Jogos Olímpicos
da Era Moderna. Neste dia, com certeza, compareceu ao alto dos muros do Estádio
uma infinidade de deuses gregos que, invisíveis aos olhos e câmeras humanos,
esperavam, a maioria ansiosos, a tão esperada cerimônia de abertura. E não é
porque eles não foram vistos que não devemos registrar, dignamente, suas
presenças.
- Olá Zeus, quanto tempo velho
matreiro, cumprimentou Prometeu.
- Zeus, Hera, Atena, essa família
continua muito linda e elegante, falou o sempre lacaio Hermes.
- Boa tarde Zeus! Seja bem vindo
rei dos deuses! Foi o que mais os ouvidos divinos escutaram durante a entrada
do Luminoso e sua sempre e, inacreditavelmente fiel, esposa e filha. Oceano,
Ceos e Jápeto cumprimentaram cerimoniosamente seu sobrinho da mesma forma que
se cumprimenta um rei ainda no exercício de seu governo. Héstia, Deméter,
Posidon e Hades acenaram para seu irmão com um pouco mais de irreverência.
Perséfone, Astréia, Apolo, Ártemis, Hefesto e Ares foram abraçar, uns mais
formais do que os outros, seu pai. As musas estavam todas elétricas,
particularmente Clio, pois com certeza a História seria privilegiada naquele
momento. Até os filhos semi-deuses de Zeus estavam presentes: num canto menos
nobre dos altos muros do belo estádio estavam Heracles, Perseu, Dionízio,
Clitemnestra, Castor, dentre outros e, apesar da visível irritação de Hera,
fizeram questão de cumprimentar seu velho pai.
Somente em um momento, naquele
enternecedor entardecer, houve um certo desconforto, causado pela chegada de
dois casais de deuses: Urano e Geia e Crono e Reia. Obviamente que não vieram
juntos, mas, houve coincidência em sua chegada. Estavam presentes num mesmo
ambiente os três deuses que governaram, cada um ao seu tempo, o Olimpo.
- A única vantagem de ser imortal,
minha cara Reia, é que muito de vez em quando pode-se sair do esquecimento no
qual fomos jogados com a derrota. Realmente não foi má idéia ter vindo para cá,
afinal, também estamos na história grega e destes jogos que foram criados em
homenagem a nós todos, os numes.
- Tens razão Crono. É bom rever
nossos parentes, mesmo aqueles que se colocaram contra você outrora. Admiro a
coragem de Urano, nosso pai e de Geia, nossa mãe, por terem vindo, apesar da
velhice.
- Na verdade, minha cara Reia,
estamos todos velhos, mesmo Zeus, que sempre mostrou-se altivo e zeloso de sua
força e beleza, envelheceu. Aliás, na verdade estamos todos velhos e, o que é
pior, esquecidos. Todas aquelas lutas, conchavos, castigos, apadrinhamentos
etc., que marcaram sempre nossa vida no Olimpo e que foram eternizadas pelos
mortais através dos poemas e do teatro, não importam mais hoje em dia. O poder
não é exercido por mais ninguém. O poder dos deuses, minha cara, era dado, na
verdade, pelos homens.... Foi isso o que não entendemos.
De todos os seres luminosos que
chegavam para a festa Nike e Eros eram os mais entusiasmados. Nike por ter a certeza
de que seria lembrada por ser a deusa da vitória nos Jogos Olímpicos antigos.
Eros, sempre o menino matreiro, foi o único deus que espiou o ensaio geral da
cerimônia de abertura e sabia que “ele” teria uma participação especial.
Todos os deuses e semideuses
presentes no Estádio Olímpico de Atenas estavam ansiosos pela cerimônia de
abertura pois as notícias humanas ainda chegavam no Olimpo, além do mais, eles
tinham certeza de que os gregos fariam jus a eles em sua história.
A festa tem início e logo se
percebe que a emoção tomou conta não só do público mortal que assiste ao vivo
ou pela televisão, mas também dos imortais, nos quais, já era possível ver
surgirem algumas lágrimas que eram devidamente disfarçadas.
As primeiras cenas eram aplaudidas
pelos deuses, e de maneira efusiva pelas musas, pelas oceânides e pelas ninfas
presentes. Especialmente a representação do barquinho de papel com a criança a
dirigi-lo tocou muito os imortais que se viram, de certa forma, pertencendo
àquele mundo representado pela infância grega. A formação das ilhas gregas, a
partir da máscara foi acompanhada com um silêncio entre os numes, silêncio
produto de um certo transe coletivo provocado pela mimesis do passado, silêncio
continuado numa espécie de catarse provocada pela roda da história, roda da
vida, em que toda a história grega passou como um raio de luz, iluminando a
todos, diante de olhos mortais e imortais.
O ponto alto da festa para os
deuses foi, sem dúvida, a criação do mundo, da Via Láctea a partir do nascimento
de uma criança. E neste momento, apesar de trazer lembranças de mais uma
traição de seu esposo celestial, foi possível ver Hera, sempre tão séria, se
derramar em lágrimas ao lembrar que de seu leite maternal foi formado o céu no
qual os marinheiros gregos se guiavam.
De todos os deuses, com certeza o
mais satisfeito de todos, e não fazia questão de esconder seu orgulho paternal,
era Prometeu. O criador dos mortais e que deu de presente a eles o fogo, aquele
que enfrentou a fúria do terceiro comandante do Olimpo, mal conseguia conter a
alegria de acompanhar o que os seres mortais conseguiam fazer. Ele se sentia
presenteado e, não sem razão, foi o último a sair do estádio, retornando para
seu recôndito lugar, acompanho das musas e de algumas ninfas.
Quando as delegações dos paises começaram a desfilar alguns
deuses começaram a deixar o lugar retornado aos seus esquecidos lares. Crono e
Reia acompanharam e ajudaram Urano e Geia, e isso não sem o olhar atento e
curioso, e até porque não comovido, de vários deuses. Logo depois foi a vez de
Zeus e Hera saírem.
- Então meu querido, valeu a pena
vir aqui hoje?
- Sim Hera, não há como negar que
foi emocionante. Pena que todos aqueles mortais apenas se lembrem de nós nessas
ocasiões, pois nunca vou me acostumar com o fato de que não posso influenciar
mais a vida de ninguém. O que nós fizemos de errado, minha cara esposa? Não
devíamos ter dado tanta liberdade aos homens...
- Pare de se lamentar Zeus, os
homens progridem, se desenvolvem, e concebem divindades diferentes. Não somos
os únicos imortais esquecidos... Vejam nossos primos Thor, Odin, Friga e Freia,
e tantos outros que outrora brilharam, hoje são apenas lembrados e, ainda sim,
vez ou outra. O que importa, meu caro esposo, é que nós fazemos parte de suas culturas,
de suas tradições e, sem nós, eles ficam sem passado. Por isso eles têm sempre
que recorrer a nós, nos conhecer para conhecerem a eles próprios.
- Você sempre faz de tudo para me
manter animado Hera! Uma coisa aprendi nessa minha longa existência: quem nos
dá imortalidade são os homens e, se ainda existimos é porque eles assim o
desejam... Que durem para sempre esses benditos Jogos Olímpicos e que, vez ou
outra, eles se realizem na Grécia, na nossa pátria.
Poucos deuses estavam presentes
ainda no estádio quando a presidente do Comitê Organizador fez uso da palavra.
E este foi um momento que emocionou a todos, especialmente aos numes, quando
ela deu as boas vindas aos atletas do mundo todo dizendo que os Jogos estavam,
finalmente, de volta para sua casa.
Uma vez mais Prometeu se emocionou
e interiormente agradeceu muito estar ali até o encerramento, pois o ritual de
acender a Pira Olímpica foi um espetáculo impossível de esquecer
transformando-se numa lembrança que, com certeza, aqueceu os eternos sonhos de
um eterno ser.
A
cerimônia de abertura dos XXVIII Jogos Olímpicos da Era Moderna foi uma festa
digna de homens e de deuses.
Aviso sobre os próximos posts
Os próximos três posts tem o objetivo de levar os meus leitores (ainda acho isso um tanto pretensioso...rs) a me conhecer um pouco mais, e mais especificamente um lado menos acadêmico e mais alma, mais sensibilidade. São três textos que eu gostei muito de escrever e são dos poucos que quando eu os releio mais eu gosto deles. Portanto, para começar apresento um pouco daquilo que eu mesmo considero legal em mim...
O primeiro é um conto sobre os jogos olímpicos ocorridos em 2000 em Atenas, no qual tento fazer uma reflexão sobre a Mitologia Grega.
O segundo é um texto que elaborei quando do final de uma disciplina na graduação, em 2006, na tentativa de refletir sobre o conteúdo trabalhado e não trabalhado, sobre a finalidade da disciplina para o curso e, quem sabe, para a vida.
O terceiro foi uma homenagem a uma grande pessoa, tanto de corpo como especialmente de alma. Em 2009 faleceu o nosso amigo Gentil e o texto procurou resgatar um pouco do que eu via como sua essência.
Alerto, no entanto, que os textos são longos, mas, se tiverem paciência tenho a impressão de que vão gostar...
O primeiro é um conto sobre os jogos olímpicos ocorridos em 2000 em Atenas, no qual tento fazer uma reflexão sobre a Mitologia Grega.
O segundo é um texto que elaborei quando do final de uma disciplina na graduação, em 2006, na tentativa de refletir sobre o conteúdo trabalhado e não trabalhado, sobre a finalidade da disciplina para o curso e, quem sabe, para a vida.
O terceiro foi uma homenagem a uma grande pessoa, tanto de corpo como especialmente de alma. Em 2009 faleceu o nosso amigo Gentil e o texto procurou resgatar um pouco do que eu via como sua essência.
Alerto, no entanto, que os textos são longos, mas, se tiverem paciência tenho a impressão de que vão gostar...
Uma tentativa
Pretendo iniciar aqui um novo espaço de diálogo sobre tudo e nada ao mesmo tempo, por isso batizei-o como "Devaneios e outras reflexões"... Para caracterizar o que pretendo com este blog começo com o que ele não vai ser: um blog político, um blog de fofoca, um blog necessariamente autobiográfico... O que espero é refletir sobre literatura, filosofia, história, poesia, amor, paixão, ou seja, deixar correr do cérebro e do coração para este papel virtual as tintas da percepção, da experiência, da emoção, da crítica e, é claro, da razão.
Este espaço é pensado, também, para ser dialógico e, portanto, se alguém quiser comentar, acrescentar, criticar o que for postado fique a vontade, mas alerto, no entanto, que pretendo que ele tenha "vida própria", ou seja, independente se estiver agradando ou não, ele vai continuar....
E, só para iniciar, deixo algo bem autobiográfico fazendo uso das palavras de Clarice Linspector que, como poeta, consegue traduzir um pouco de todos nós:
"Tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras;
sou irritável e piro facilmente; também sou muito calmo e perdôo logo;
não esqueço nunca; mas há poucas coisas de que eu me lembre".
Este espaço é pensado, também, para ser dialógico e, portanto, se alguém quiser comentar, acrescentar, criticar o que for postado fique a vontade, mas alerto, no entanto, que pretendo que ele tenha "vida própria", ou seja, independente se estiver agradando ou não, ele vai continuar....
E, só para iniciar, deixo algo bem autobiográfico fazendo uso das palavras de Clarice Linspector que, como poeta, consegue traduzir um pouco de todos nós:
"Tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras;
sou irritável e piro facilmente; também sou muito calmo e perdôo logo;
não esqueço nunca; mas há poucas coisas de que eu me lembre".
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