- Zeus, Zeus, vai se atrasar...
Vamos meu bem, com certeza será uma bela festa, digna dos áureos e numinosos
tempos!
- Não sei não Hera, será que vale a pena sair de nosso
eterno descanso para assistir a uma festa dos mortais? Além do mais, eles já
esqueceram de nós, os imortais...
- Pare de reclamar papai. Você se tornou um
velhinho muito resmungão e mau-humorado para quem já foi o rei de todos os
seres viventes. Nós sabemos, aliás já faz tempo, que nós, os deuses gregos,
caímos em desuso, pois os homens, em sua história, conceberam deuses diferentes
de nós. Mas, como somos imortais, devemos aproveitar os momentos em que, ao
menos, somos lembrados, não acha papai? Essa cerimônia de abertura dos Jogos
Olímpicos modernos promete ser muito bonita! Vamos lá papaizinho querido...
afinal, esta é a minha cidade...
- Está bem Atena, vou sim... o que
um pai não faz pela sua filha predileta. Aliás, vai ser bom rever os velhos
amigos e inimigos dos tempos em que nós éramos os seres mais importantes. Está
bem, está bem, não vou mais resmungar...
Ao cair da tarde grega daquele dia
13 de agosto de 2004, a atenção de aproximados quatro bilhões de pessoas no
mundo voltavam-se para o Estádio Olímpico de Atenas, onde mais de setenta e
cinco mil pessoas, entre expectadores, convidados, organizadores, atletas e
artistas estavam prestes a fazer e assistir o início dos XXVIII Jogos Olímpicos
da Era Moderna. Neste dia, com certeza, compareceu ao alto dos muros do Estádio
uma infinidade de deuses gregos que, invisíveis aos olhos e câmeras humanos,
esperavam, a maioria ansiosos, a tão esperada cerimônia de abertura. E não é
porque eles não foram vistos que não devemos registrar, dignamente, suas
presenças.
- Olá Zeus, quanto tempo velho
matreiro, cumprimentou Prometeu.
- Zeus, Hera, Atena, essa família
continua muito linda e elegante, falou o sempre lacaio Hermes.
- Boa tarde Zeus! Seja bem vindo
rei dos deuses! Foi o que mais os ouvidos divinos escutaram durante a entrada
do Luminoso e sua sempre e, inacreditavelmente fiel, esposa e filha. Oceano,
Ceos e Jápeto cumprimentaram cerimoniosamente seu sobrinho da mesma forma que
se cumprimenta um rei ainda no exercício de seu governo. Héstia, Deméter,
Posidon e Hades acenaram para seu irmão com um pouco mais de irreverência.
Perséfone, Astréia, Apolo, Ártemis, Hefesto e Ares foram abraçar, uns mais
formais do que os outros, seu pai. As musas estavam todas elétricas,
particularmente Clio, pois com certeza a História seria privilegiada naquele
momento. Até os filhos semi-deuses de Zeus estavam presentes: num canto menos
nobre dos altos muros do belo estádio estavam Heracles, Perseu, Dionízio,
Clitemnestra, Castor, dentre outros e, apesar da visível irritação de Hera,
fizeram questão de cumprimentar seu velho pai.
Somente em um momento, naquele
enternecedor entardecer, houve um certo desconforto, causado pela chegada de
dois casais de deuses: Urano e Geia e Crono e Reia. Obviamente que não vieram
juntos, mas, houve coincidência em sua chegada. Estavam presentes num mesmo
ambiente os três deuses que governaram, cada um ao seu tempo, o Olimpo.
- A única vantagem de ser imortal,
minha cara Reia, é que muito de vez em quando pode-se sair do esquecimento no
qual fomos jogados com a derrota. Realmente não foi má idéia ter vindo para cá,
afinal, também estamos na história grega e destes jogos que foram criados em
homenagem a nós todos, os numes.
- Tens razão Crono. É bom rever
nossos parentes, mesmo aqueles que se colocaram contra você outrora. Admiro a
coragem de Urano, nosso pai e de Geia, nossa mãe, por terem vindo, apesar da
velhice.
- Na verdade, minha cara Reia,
estamos todos velhos, mesmo Zeus, que sempre mostrou-se altivo e zeloso de sua
força e beleza, envelheceu. Aliás, na verdade estamos todos velhos e, o que é
pior, esquecidos. Todas aquelas lutas, conchavos, castigos, apadrinhamentos
etc., que marcaram sempre nossa vida no Olimpo e que foram eternizadas pelos
mortais através dos poemas e do teatro, não importam mais hoje em dia. O poder
não é exercido por mais ninguém. O poder dos deuses, minha cara, era dado, na
verdade, pelos homens.... Foi isso o que não entendemos.
De todos os seres luminosos que
chegavam para a festa Nike e Eros eram os mais entusiasmados. Nike por ter a certeza
de que seria lembrada por ser a deusa da vitória nos Jogos Olímpicos antigos.
Eros, sempre o menino matreiro, foi o único deus que espiou o ensaio geral da
cerimônia de abertura e sabia que “ele” teria uma participação especial.
Todos os deuses e semideuses
presentes no Estádio Olímpico de Atenas estavam ansiosos pela cerimônia de
abertura pois as notícias humanas ainda chegavam no Olimpo, além do mais, eles
tinham certeza de que os gregos fariam jus a eles em sua história.
A festa tem início e logo se
percebe que a emoção tomou conta não só do público mortal que assiste ao vivo
ou pela televisão, mas também dos imortais, nos quais, já era possível ver
surgirem algumas lágrimas que eram devidamente disfarçadas.
As primeiras cenas eram aplaudidas
pelos deuses, e de maneira efusiva pelas musas, pelas oceânides e pelas ninfas
presentes. Especialmente a representação do barquinho de papel com a criança a
dirigi-lo tocou muito os imortais que se viram, de certa forma, pertencendo
àquele mundo representado pela infância grega. A formação das ilhas gregas, a
partir da máscara foi acompanhada com um silêncio entre os numes, silêncio
produto de um certo transe coletivo provocado pela mimesis do passado, silêncio
continuado numa espécie de catarse provocada pela roda da história, roda da
vida, em que toda a história grega passou como um raio de luz, iluminando a
todos, diante de olhos mortais e imortais.
O ponto alto da festa para os
deuses foi, sem dúvida, a criação do mundo, da Via Láctea a partir do nascimento
de uma criança. E neste momento, apesar de trazer lembranças de mais uma
traição de seu esposo celestial, foi possível ver Hera, sempre tão séria, se
derramar em lágrimas ao lembrar que de seu leite maternal foi formado o céu no
qual os marinheiros gregos se guiavam.
De todos os deuses, com certeza o
mais satisfeito de todos, e não fazia questão de esconder seu orgulho paternal,
era Prometeu. O criador dos mortais e que deu de presente a eles o fogo, aquele
que enfrentou a fúria do terceiro comandante do Olimpo, mal conseguia conter a
alegria de acompanhar o que os seres mortais conseguiam fazer. Ele se sentia
presenteado e, não sem razão, foi o último a sair do estádio, retornando para
seu recôndito lugar, acompanho das musas e de algumas ninfas.
Quando as delegações dos paises começaram a desfilar alguns
deuses começaram a deixar o lugar retornado aos seus esquecidos lares. Crono e
Reia acompanharam e ajudaram Urano e Geia, e isso não sem o olhar atento e
curioso, e até porque não comovido, de vários deuses. Logo depois foi a vez de
Zeus e Hera saírem.
- Então meu querido, valeu a pena
vir aqui hoje?
- Sim Hera, não há como negar que
foi emocionante. Pena que todos aqueles mortais apenas se lembrem de nós nessas
ocasiões, pois nunca vou me acostumar com o fato de que não posso influenciar
mais a vida de ninguém. O que nós fizemos de errado, minha cara esposa? Não
devíamos ter dado tanta liberdade aos homens...
- Pare de se lamentar Zeus, os
homens progridem, se desenvolvem, e concebem divindades diferentes. Não somos
os únicos imortais esquecidos... Vejam nossos primos Thor, Odin, Friga e Freia,
e tantos outros que outrora brilharam, hoje são apenas lembrados e, ainda sim,
vez ou outra. O que importa, meu caro esposo, é que nós fazemos parte de suas culturas,
de suas tradições e, sem nós, eles ficam sem passado. Por isso eles têm sempre
que recorrer a nós, nos conhecer para conhecerem a eles próprios.
- Você sempre faz de tudo para me
manter animado Hera! Uma coisa aprendi nessa minha longa existência: quem nos
dá imortalidade são os homens e, se ainda existimos é porque eles assim o
desejam... Que durem para sempre esses benditos Jogos Olímpicos e que, vez ou
outra, eles se realizem na Grécia, na nossa pátria.
Poucos deuses estavam presentes
ainda no estádio quando a presidente do Comitê Organizador fez uso da palavra.
E este foi um momento que emocionou a todos, especialmente aos numes, quando
ela deu as boas vindas aos atletas do mundo todo dizendo que os Jogos estavam,
finalmente, de volta para sua casa.
Uma vez mais Prometeu se emocionou
e interiormente agradeceu muito estar ali até o encerramento, pois o ritual de
acender a Pira Olímpica foi um espetáculo impossível de esquecer
transformando-se numa lembrança que, com certeza, aqueceu os eternos sonhos de
um eterno ser.
A
cerimônia de abertura dos XXVIII Jogos Olímpicos da Era Moderna foi uma festa
digna de homens e de deuses.
Muito legal a maneira que foi escrita ,sinceramente não conhecia metade desses nomes , agora começo a compreender um pouco mais que estudar o passado e necessário para entendermos o futuro .
ResponderExcluirMuito bom a história ,não conhecia muitos nomes aos pouco vou me familiarizando e entendendo a história dos deuses.
ResponderExcluirMuito bom a história ,não conhecia muitos nomes aos pouco vou me familiarizando e entendendo a história dos deuses.
ResponderExcluireu Vanda Messias ...um belo texto poético talvez, mas deuses que envelhecem não são deuses ...bom pelo menos são lembrados em marcas famosa de tênis ...
ResponderExcluirImagino a emoção de muitos em poder prestigiar este momento de volta à casa "Grécia", podendo relembrar os deuses de nossa história. Realmente fantástico!
ResponderExcluirlindo texto....
ResponderExcluirlindo texto....
ResponderExcluirMeu Deus!Meus Deuses!
ResponderExcluirAqui no Brasil!
Jogos Olímpicos!
Tocha Olímpica!
Vila Olímpica!
Meu Deus!
Meus Deuses!
Que vergonha!
Aqui no Brasil!!!
Assim diriam os Deuses kkk
ExcluirLendo o texto,é que fui conhecer a maioria desses nomes...muito interessante! mais eu acho que os deuses não envelhecem...ou envelhecem?
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