terça-feira, 3 de abril de 2012

BBB

Na contramão do pensamento de inúmeras pessoas, inclusive amigos meus, me atrevo a escrever sobre o Big Brother Brasil sem condenar o programa, seus diretores e a emissora. Há muito tempo que acredito que a televisão não é vanguarda de hábitos e comportamentos tidos, geralmente, como inadequados. As novelas, por exemplo, sempre acompanharam os tempos e se elas se mostram mais liberais em assuntos morais, é porque a própria sociedade passou a encarar as relações e comportamentos de forma diferenciada. Lembro que quando era adolescente, o namoro mostrado nas novelas não era sinônimo da existência de sexo entre o casal, pois a própria sociedade agia dessa forma, ou seja, a virgindade (sempre feminina, diga-se de passagem) ainda era algo a ser valorizado e, por conseqüência, o sexo era reservado apenas para depois do casamento. Se hoje a novela mostra que o sexo faz parte do namoro é porque a própria sociedade assim o entende. As novelas, ainda no exemplo, expressam massissamente o que já é aceito e praticado socialmente, no entanto, o fato de serem veiculadas num meio de comunicação abrangente acabam, daí sim, estimulando e conformando comportamentos.

Com o BBB acontece a mesma coisa. Quem se lembra dos primeiros programas deve notar que o físico bonito e sensual era estimulado, mas bem menos do que nos últimos programas, pois me parece que o estímulo visual e sexual que está presente em músicas, baladas, academias etc., passou como necessidade de mercado para o visual do BBB. De qualquer forma, eu encaro o programa como uma metáfora da sociedade aqui fora, onde se luta, e de forma desesperada com o passar do tempo, por um prêmio que garanta ao vencedor tanto uma estabilidade financeira, como uma projeção social. Na luta, inicialmente todos são amigos, pois é necessário conhecer cada oponente, se revelar um pouco esperando que o outro se revele mais ainda, especialmente suas fraquezas. Com o tempo, as pessoas vão se agrupando em torno de objetivos comuns (grupos que, aliás, sabiamente são estimulados pelos organizadores) e passam a se degladiar como hordas ordeiras, pois a violência não pode ser admitida (ainda!) em público. Quando o programa vai se afunilando a percepção é de que a solidão vai se tornando maior e a única forma de se manter vivo no jogo é focá-lo. No meio disso tudo, há os estravazamentos sentimentais, as formas de sanar as carências e, é claro, o exercício de domínio e status que daí advém.

O que se percebe, pelo menos eu percebo, é que as relações que começam necessariamente superficiais, continuam a ser com o passar do programa, pois todos sabem, especialmente os participantes, que se trata de um jogo que vale muito. Ou seja, não é diferente das várias sociedades das quais as pessoas fazem parte. Se há, e parece que sempre há, um poder em jogo, este passa a ser o fim, o objetivo, e os meios são apenas os meios...

Mas, como acontece com qualquer programa de televisão, a ficção também faz parte, e ela entra nos paredões, ou seja, nós os espectadores temos a chance de eliminar aqueles considerados chatos, mau-humorados, enganadores, aproveitadores etc. Basta para isso lembrar dos ganhadores do BBB: Kleber Bambam, Rodrigo Caubóy, Dhomini, Cida, Jean, Mara, Diego Alemão, Rafinha, Max, Marcelo Dourado, Maria Melilo e Fael. Todos eles bons moços, alguns ingênuos, alguns espertos na medida certa (sem prejudicar ninguém), alguns bonitos,  mas todos bons sujeitos. Esta é a ficção, e aí acaba a metáfora. No fundo, como temos a oportunidade de interferir, especialmente no final, continuamos acreditando que os bons são os melhores e que eles merecem chegar ao prêmio...

Pena que a realidade é sempre mais imperfeita!!!!

4 comentários:

  1. Excelente reflexão! Livre de hipocrisia! Concordo plenamente com seu texto, que nos remete a compreender melhor a sociedade e como ela se expressa. Muitas vezes pior que não aceitar a realidade, é sentir superioridade negando-se assistir programas que reforçam o senso comum e destilam banalidades. Claro que não precisamos perder tempo com esse tipo de entretenimento, se considerarmos ler um livro, passear com as crianças, ir ao cinema como melhores opções. Mas para um bom filósofo ou cientista social, tudo vira fonte de estudo, observação e pesquisa! Aprendemos com nossos mestres, nos quais esse meu querido professor Célio Juvenal Costa se destaca!! Bjs e obrigada por compartilhar conosco!

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  2. Caramba...e olha que já ouvi uma amiga minha dizer que samba não é cultura e que novela e BBB é coisa de quem não tem o que fazer...Bem, acho que esse comentário seu, por sinal, excelente e bem elaborado esclarece muito bem o que penso sobre a mídia e sobre a importância de observar a realidade via ficção, fato que constantemente muitos acreditam ser apenas "mentiras", diria uma mentira verdadeira, que acontece diariamente em nossa vida! Acontecimentos que norteiam a sociedade atual, que circundam o dia a dia de cada um, porém com uma maquiagem mais bem feita...Perfeito Célio, acho que é para isso que serve o conhecimento crítico, afinal, para ser usado!!!

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  4. Não concordo com esse programa pelo seguinte fato : enquanto estao brincando de fique em pé tanto tempo e ganhe um carro ou entao acerte cestas de basquete e vamos ver quem vai brincar de seja o lider neste exato momento a vidas humanas suplicando por um pedaço de pão pensem nisso e vamos ver a realidade por outro lado .

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