terça-feira, 10 de abril de 2012

O branco que incomoda

Depois que uma faculdade particular se estabeleceu em Maringá, ofertando cursos na área da saúde, tornou-se comum encontrarmos vários estudantes andando de branco pela cidade. Sempre que via e vejo tais estudantes me intrigava e continua me intrigando as razões deles usarem o branco nas aulas. Saem de casa, pegam ônibus, vão de carro ou de moto para a faculdade, sempre usando seus uniformes brancos. Fico pensando, sempre, se eles também vão aos hospitais, postos de saúde, fazer seus estágios de branco. Tudo isso me causa um incômodo. Porque?

O branco numa cidade como Maringá é bem mais fácil de aparecer a sujeira, especialmente na forma de pó. Ora, não me parece cabível que se entre num ambiente hospitalar ou mesmo clínico com a roupa que se usa no cotidiano da vida escolar, especialmente nos dias atuais em que a prevenção às doenças está sempre na pauta. Como gosto muito dos seriados americanos que mostram a rotina médica de hospitais (como House e Grey's Anatomy), sempre noto que os médicos e enfermeiros raramente usam roupas brancas, preferindo usar jalecos que também não são brancos.

Mas, acreditando que nossos futuros profissionais da saúde sabem dessas coisas, ou que pelo menos seus mestres  os ensinem as regras básicas de higiene, fica ainda uma intrigante questão: porque o uniforme deles é branco? Porque eles têm que usar (ou usam porque querem) diariamente os uniformes? Concluo que é para que todos saibam que eles estão fazendo um curso na área da saúde, entre os quais, sabemos, estão aqueles mais concorridos em vestibulares de universidades públicas; portanto, me parece que é uma questão de status. Se não usassem os uniformes brancos, como saberíamos que eles estão fazendo um curso naquela área? Então, é necessário deixar explícito o fato. O status é anunciado ao longe, é carregado quase como uma segunda pele, distintiva da primeira, é claro.

E qual o motivo de querer dar vistas ao status? Aí vem o mais me incomoda: parece se tratar de um traço da formação cultural brasileira que, de uma época em diante, viu as pessoas passaram a ter vergonha de terem sido colonizados pelos portugueses e gostariam de o ser pelos ingleses, franceses ou outros povos desenvolvidos. Isso criou uma espécie de complexo de inferioridade que se revela na razão inversa do que aparece. Nos orgulhamos de ter a maior usina hidrelétrica do mundo, de ter o mais estádio de futebol do mundo, de não termos terremotos, e, quase que de forma hilária, nos orgulhamos de vestir nossos uniformes brancos para que todos saibam que nós não somos inferiores como os outros, confirmando, tão-somente, a nossa inferioridade.

Os novos ricos agem da mesma forma: fazem questão de que todos saibam que eles têm dinheiro e o que eles podem comprar com ele. O problema é que dificilmente se compra bom-gosto; dificilmente se compra a base de uma boa educação, pois quando temos necessidade de mostrar o que temos para impressionar o outro, deixamos de se preocupar em sermos, de fato, autênticos, sem a necessidade da aprovação e da bajulação do outro.

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