segunda-feira, 23 de abril de 2012

Gibis, Televisão, Infância e Violência?

Ao ler uma crônica do meu amigo Reginaldo Dias, escrita em 18 de abril passado, no jornal O Diário de Maringá, resolvi aprofundar o tema e me colocar num debate que continua mobilizando as pessoas e profissionais ligados a educação. A questão gravita sobre a influência dos meios de comunicação nas atitudes das crianças, neste caso, a influência de gibis, games e desenhos da televisão.

É comum encontrarmos análises acadêmicas procurando demonstrar que o perfil de certos heróis infantis, os valores veiculados, os conceitos e preconceitos que são instigados, objetivam reproduzir nas crianças comportamentos ideologicamente planejados. Ou seja, tornou-se um tanto comum, especialmente no meio acadêmico, a idéia de que existe uma conexão mais ou menos direta entre o conteúdo exibido pelos gibis e desenhos da TV com o comportamento das crianças. Exemplo disso é o fato de que hoje em dia as armas de brinquedo deixaram de ser tão procuradas como presentes para as crianças, com a justificativa de que elas incitam a violência nas crianças e, com isso, acabam por criar adultos violentos.

Pois bem, uso este espaço para, novamente, me colocar na contramão das análises sobre a relação entre gibis, televisão, infância e violência. Assim como o Reginaldo, eu também li todos os gibis do Tio Patinhas na minha época de infância e adolescência e acho que não fui tomado pela suposta ideologia do American way of life que alguns críticos concluíram estar presente no mundo de Patópolis. Li outros gibis com personagens caricaturais (como a Turma da Mônica), assisti um sem número de desenhos nos quais a violência estava sempre presente (como Tom e Jerry) e assisti outro sem número de séries cujos episódios também estavam recheados de violência, intrigas e caricaturas (como Perdidos no Espaço); sem esquecer que também tive armas de brinquedo e que, também, participei de brincadeiras estúpidas. Nada disso, no entanto, me tornaram um adulto embotado, ideologicamente submisso ao sistema e, especialmente, não me tornei um adulto violento. E tenho a impressão de que isto não ocorreu apenas comigo e com meu amigo Reginaldo. De todos os meus antigos amigos do período da puberdade, poucos, muito poucos se tornaram adultos violentos.

Meu ponto de partida, ou princípio de análise, não sei ao certo, é de que as crianças e adolescentes, quando bem orientadas, especialmente em casa, conseguem separar o que pertence ao mundo do simbólico, do fantástico, da ficção, do que aquilo que é próprio da realidade; neste ponto me ocorre que talvez uma das características da educação das crianças hoje, seja na família ou na escola, é a subestimação da inteligência delas, o que pode ser resultado da infantilização dos hábitos e comportamentos dos próprios adultos.

Tenho dificuldade em acreditar que existe um planejamento ideológico por parte dos editores dos gibis, dos idealizadores dos desenhos na televisão, dos criadores dos games, enfim, dos próprios veículos de comunicação. Me parece que uma planificação deste tipo é coisa muito grande e tem que funcionar perfeitamente para dar certo. No entanto, se existe isso, a minha outra dificuldade reside em aceitar que há um repasse, quase que automático, entre a mensagem veiculada e a mentalidade do receptor. Para mim há uma distância  entre o que a criança e adolescente lêem, jogam e assistem, do que aquilo que forma e enforma sua vida.

No entanto, a distância pode ser pequena ou grande, dependendo da família, dos amigos e instituições em que são forjados nossos futuros adultos. O exemplo real e concreto de pessoas reais, concretas e, especialmente queridas e respeitadas, forja muito mais um futuro espírito crítico.




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