sábado, 23 de maio de 2015

Fotos, selfies e egocentrismo



Hoje quero escrever sobre algo que vem me incomodando desde a chegada da era das fotos digitais, e que se tornou mais agudo com a chegada dos smartphones e paus-de-selfie: em eventos públicos, como casamentos, batizados, primeiras comunhões etc., as pessoas estão passando do limite do razoável comportamento que se espera de gente educada.

Antes do advento das câmeras digitais (os mais antigos vão lembrar!!) utilizavam-se os filmes, de 12, 24 e 36 poses (fotos), e, como havia um duplo custo, o do próprio filme e o da revelação posterior das fotos, quem possuía câmeras tinha que se conter mais para aproveitar os melhores ângulos e ter o mínimo de certeza de que a foto tinha ficado ao menos razoável, ou seja, tinha que ter certeza que não tinha tirado foto do chão, do teto, fotos em movimento etc. Consequentemente, não havia tantas pessoas tirando tantas fotos ao mesmo tempo nos eventos sociais. Mesmo nas viagens de turismo, tinha-se que escolher bem os locais, ângulos, pessoas, para não desperdiçar dinheiro. Com o advento da tecnologia digital e o seu barateamento, muitas pessoas passaram a ter tais dispositivos e, consequentemente, a usá-los com muito mais freqüência, pois o custo se reduziu ao próprio equipamento e, quando muito, à revelação somente daquelas fotos que se escolheu.

A máquina digital foi um avanço tecnológico muito bacana, servindo para muitas coisas além da própria diversão. No entanto, alguns inconvenientes surgiram... Quem tinha, nessa época, crianças em pré-escolas, vai se lembrar das festas de fim de ano ou das festas juninas em que pais, tios, avós se acotovelavam para tirar fotos de suas crianças, ficando na frente dos outros e impedindo as pessoas, especialmente aquelas que não poderiam se levantar, de assistir plenamente as apresentações. Mesmo a iniciativa das escolas de contratar profissionais para tirar fotos não impedia que alguns "desavisados", individualistas e egocêntricos, continuassem a ficar na frente da platéia para tirar fotos dos filhos, que, vendo o exemplo dos pais e parentes, possivelmente se tornaram, também, egocêntricos.

O passo seguinte na tecnologia digital foi os celulares com câmeras e, depois, os smartphones  acoplando a máquina fotográfica com as redes sociais para que se publique, quase que instantaneamente, as fotos tiradas. Até aí tudo ótimo, pois realmente é uma brincadeira legal tirar uma foto e imediatamente publicar nas redes, além do que pode ser utilizado de forma séria, como ajudas públicas, em diferentes circunstâncias. No entanto, novamente os inconvenientes surgiram e, porque não dizer, aumentaram. Agora não só em festas em escolas de Educação Infantil, mas, também, em igrejas, parece que as pessoas não conseguem se conter em, deliberada e egoisticamente, atrapalhar as pessoas que teimam em ficar sentadas e serem educadas. Dois casos que me permito contar aqui que eu vivenciei: um casamento de uma amiga em que uma convidada estava com um pau-de-selfie e não se constrangia em tirar fotos da família toda, e isto dentro de uma igreja que deveria ser um local, talvez um dos últimos, a ser respeitado; e na primeira comunhão de minha filha em que na hora dela receber a hóstia uma mãe de outra criança entrou na minha frente (eu estava sentado!!) e me impediu de ver. Não duvido que, em plena igreja, estas pessoas resolveram enviar para as redes as fotos recém-tiradas, tipo o "em cima do lance"!! Nos casamentos em geral parece que todos os convidados resolvem erguer seus celulares para tirar sua fotos das núpcias. Fico me perguntando se quem assim procede consegue ver as cerimônias de um ponto de vista, digamos, holístico, ou só prestam atenção no detalhe que mais interessa para a foto??

O que me preocupa é o quanto deste comportamento é revelador da sociedade com um todo. Ainda estamos sendo, com a desculpa de que queremos e temos liberdade de registrar os fatos, egoístas, mal-educados e egocêntricos. Que exemplo estamos passando para a próxima geração? Que o espaço público deve ser usado de forma privada? Poderia apostar que as pessoas que agem desta maneira nas cerimônias, com seus celulares de última geração,  o fazem também no trânsito, nas calçadas, em todo o espaço público. Acho que temos muito ainda a caminhar na direção de um verdadeiro pacto social...


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