quarta-feira, 14 de março de 2012

A assim chamada sociedade pós-moderna

Recebi um e-mail (obrigado Paulo!!) que achei fantástico sobre os dilemas atuais da humanidade. Tomo licença para reproduzir aqui uma postagem de Duda Rangel:
"O homem pós-moderno já não se pergunta tanto se há vida após a morte. As grandes questões mudaram. Hoje, uma das principais dúvidas de muitas pessoas é: 'compro pão integral de 10 grãos ou de 12 grãos?', diz o psiquiatra Ricardo Semolina, do Hospital das Clínicas de São Paulo. 'A busca pelo bem-estar físico, em alguns casos, pode afetar a saúde mental.' Um de seus pacientes, que não teve o nome revelado, desenvolveu um grande transtorno após viver o dilema entre uma versão do pão com semente de girassol e quinoa e outra com amaranto e linhaça dourada. O terapeuta holístico Ado Santi concorda: 'Em tempos de gordura trans zero, ninguém mais questiona se Deus existe. As pessoas estão mais preocupadas em saber se é melhor tomar café com aspartame, sacarina ou sacralose', afirma. Há muitas outras perguntas ainda sem resposta, ressalta Santi, como 'ser vegetariano ou não ser?' e 'o ômega 3 traz a felicidade?'
Refletir sobre essas coisas é refletir, obviamente, sobre a nossa realidade que alguns dizem ser cada vez mais pós-moderna. E, de início, quero tentar evitar o que é muito comum quando alguém de uma geração passada, como eu, quer avaliar algo que tem muito a ver com a geração atual: achar que o mundo está perdido... Até porque, o comportamento dito pós-moderno está se reificando em parcelas da minha geração também.
Bem, porque as pessoas estão cada vez mais preocupadas com o seu bem-estar individual, chegando a neuroses como as descritas acima? Creio que vivemos uma época em que a existência precede a essência, ou seja, viver (de preferência intensamente) é mais valorizado do que pensar sobre a essência das coisas. Por isso é que a discussão em torno da existência ou não de Deus é coisa que parece bem de antigamente. Mas o que é ou o que impulsiona a época da existência? Individualismo, prazer, preocupação com a saúde, preocupação com a aparência, vacuidade, efemeridade, negação de qualquer tipo simbólico de luto... Enfim, as relações, com pessoas ou coisas, se formam e desaparecem de forma rápida, quase indolor. A substituição das coisas ou pessoas é rápida. A dependência de coisas ou pessoas quase inexiste. Hoje, por exemplo, existem tantas dietas que já nem é possível contá-las com os dedos das mãos e dos pés, e as pessoas vivem passando de uma para outra. A utopia agora é a busca da eterna juventude e da vida longa e saudável. 
Não há mais lugares para as velhas utopias: nem políticas, nem sociais, nem econômicas e nem amorosas. O que chama a atenção é que, de forma geral, as pessoas estão tão incrustadas em seus casulos, sejam emocionais, profissionais e relacionais, que qualquer preocupação com o coletivo desaparece. Não chama a atenção o fato de pessoas se preocuparem com quantos grãos o pão integral é feito e não se preocuparem com o fato de que existem milhões de pessoas que não tem qualquer tipo de pão para comer?? Não é alarmante o fato de que em Maringá, por exemplo, não haja uma preocupação coletiva, especialmente por parte dos jovens, com o futuro da cidade em termos de convivência urbana saudável? 
Vivemos uma época fantástica, em que muitas coisas foram revistas, por exemplo no que diz respeito ao papel da mulher na sociedade, elas que deixaram de ser coadjuvantes tanto em termos profissionais como emocionais. No entanto, o que preocupa muito no atual estado das coisas é que parece que o que liga as pessoas às outras e às coisas é a contínua insatisfação. A sociedade produziu mecanismos, talvez inéditos, de criar carências que são supridas pelo mercado, mas que uma vez supridas, voltam a se tornar carências com a inovação tecnológica rápida. Penso que esta lógica afetou, mais profundamente do que na aparência, as relações humanas também....

3 comentários:

  1. É triste saber que as pessoas estão contaminadas por uma frieza horrível, quase desumana, e não fazem nada para mudar...
    Já não existem grandes amores, grandes amizades ou grandes lutas idealistas...
    Existe sim, como você citou, pessoas preocupadas com a beleza, com a saúde e com a próxima compra. Que pena que a vida foi tão banalizada...
    Às vezes sinto saudades de um tempo que nem vivi...mas que por ter sido tão repleto de vida,
    plantou em mim um desejo forte de ter estado lá...
    Será que evolução é isso, racionalizar a magia que alimentou tantos sonhos e que nos tornou tão adoráveis?
    Quer saber de uma coisa...prefiro continuar acreditando em vida após a morte, comer aquele pão delicioso da minha mãe... bem quentinho e cheio de manteiga...e também continuar a ler romances de um tempo em que se morria por amor...
    E assim, quem sabe, mantenha viva a magia da vida...sem me contaminar pelo vírus da sociedade pós-moderna.
    Abraços Célio...Nêgime.

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  2. Célio, muito bom o seu texto, fico esperando a segunda parte! Se você permite filosofar um pouco sobre isso. Acho que essa individualização começa em 1968 e ganha força depois que cai o Muro de Berlim. Parece que com ele também caíram os grandes projetos políticos/sociais. E não estou pensando nem na questão de ser contra ou a favor o regime socialista, estou pensando nos projetos globais, sejam eles liberais ou não. Acho que ausência desses projetos "reflete" nessa individualização, pensamos em nós, ou melhor, eu penso em mim, no que eu gosto, eu, eu, eu, acho que por isso as pessoas estão tão perdidas, se perdem na utopia de "se bastarem", se eu me bastasse a mim mesmo na minha totalidade, eu seria um deus e não um ser-humano! Acho que, no fundo, perdemos a coragem de transformar as nossas vidas e, por consequência, o mundo, justamente, pela falta de coragem entregar nossa felicidade nas mãos de outra(s) pessoa(s). Ligo isso ao seu post sobre o poder. Hoje não existe um projeto que, passando pela utilização do poder, transforme a realidade, de qualquer forma; hoje, o projeto político é só tomar o poder, pelo poder! Sem mais, nem menos. Nossos projetos políticos dizem respeito a nós mesmos e se, por ventura, encontrarmos alguém, ótimo, se não, a vida é assim mesmo, diríamos! Talvez essa solidão mande a conta, na hora mais fundamentalmente importante de nossas vidas, a hora da morte.
    Parabéns novamente pelo post e pelo blog! Espero não ter dito muita bobagem!

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  3. A Célio, a figura escolhida diz td...tudo mercadoria, a busca constante do ter. grande abç meire

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