domingo, 4 de março de 2012

Poder (1)

Escrevo hoje sobre algo que nos envolve cotidianamente e nas nossas diversas relações: a luta, aberta ou velada ou travestida, pelo poder. E, ao escrever sobre tal tema, vou tomar como referência os volumes que li e estou lendo das Crônicas de Fogo e Gelo, história que deu origem à série televisiva Game of Thronos, traduzida no Brasil como A Guerra dos Tronos.
O que prende a atenção na história escrita por George R. R. Martin e o que a torna um dos melhores enredos que eu já li é o fato de ser uma história absolutamente não linear, sem qualquer maniqueísmo, características tão frequentes nos filmes holydianos e novelas brasileiras, os quais têm invariavelmente a vitória do bem e a derrota do mal, ocasionando sentimentos de paz, de tranquilidade e, acima de tudo, de que a justiça foi feita; porém, a realidade é, realmente, mais imperfeita. É para a realidade de nossa vida que devemos nos voltar e, para isso, o ponto de partida de qualquer disputa pelo poder é que ela se encontra no terreno do imponderável, das contradições, das surpresas e, em síntese, do desconhecido.
O poder é disputado na forma de amizade, de amor, de cargos, de funções, de status, enfim, em suas formas humanas... O que quero dizer é que muitos amigos, namorados/cônjuges, colegas de trabalho lutam pela hegemonia de suas vontades, luta a maioria das vezes camuflada é verdade, mas não deixa de ser uma luta. Apenas para dar um exemplo comum do que estou tentando falar é o ciúme e a inveja; pois são sentimentos que denotam que um é propriedade do outro e que um não tem o direito de ser melhor ou ter mais do que outro. A luta pelo poder que se estabelece não permite inocência e nem ingenuidade, até porque elas são travestidas de respeito e de amor e, portanto, encobertas.
Os personagens criados por Martin revelam exatamente isso: aqueles que são justos, virtuosos, pecam pela inocência e ingenuidade de acreditar que a verdade deve, por si mesma, ser respeitada e cumprida por todos; e é exatamente o que não acontece. Quem consegue, na história, chegar e se manter no poder são aqueles que conhecem os meandros tortuosos e frágeis da alma humana, quase sempre corruptível e passível das paixões pelo status, pelo luxo, pela riqueza e, é claro, por ter hegemonia sobre pessoas, ou seja, ter parte, mesmo que pequena, no poder.
Não digo que todas as relações devem ter por base uma luta, mas afirmo que nas relações que se estabelecem e se mantém com base numa dissimulada luta pela hegemonia das vontades geralmente dizimam os mais fracos, que são os mais inocentes e ingênuos. Martin nos mostra que um pouco de astúcia e desconfiança sempre ajudam a se manter de pé, com dignidade.

Um comentário:

  1. Olá Célio

    Não há paz, não há justiça e nem tranquilidade.
    Há apenas seres perdidos, inteligentes o bastante para questionar este mundo louco, que não consegue explicar nada e ao mesmo tempo explica tudo, e ingênuos demais para entender a razão da vida.
    Esta busca incessante pelo poder, pelo sucesso, consiste num medo absurdo do desconhecido.
    Mas ainda assim, é incrível a capacidade de lutar que carrega consigo. Ainda que saiba que tudo chegará ao fim, a qualquer momento, não desiste de perseguir cada sonho plantado em sua alma. Tenta acreditar que tem uma alma...
    Quer se fortalecer para esperar o futuro, para enfrentar a morte.
    Pobre ser...deveria saber que seus dias estão contados...e que todo esforço será em vão...
    Mas não desiste. Procura explicação nas religiões...na ciência...
    E acaba por convencer-se de que realmente tem uma alma. Afinal, as almas são imortais...
    É preciso entender a essência do homem...
    Assim, será possível entender os seus motivos...os seus erros...

    Amei seu texto..muito reflexivo...
    Abraços, Nêgime.

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